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agosto 15, 2018
Queermuseu na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Exposição será reaberta no Rio, em 18 de agosto, com 223 obras expostas nas Cavalariças do Parque Lage
A exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, fechada e censurada em 10 de setembro do ano passado (no Santander Cultural, em Porto Alegre), será reaberta no dia 18 de agosto, às 11h, nas Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). A aguardada remontagem no Rio contará com 223 obras de 84 artistas reconhecidos nacional e internacionalmente, como Adriana Varejão, Alair Gomes, Alfredo Volpi, Cândido Portinari, Efrain Almeida, Guignard, Leonilson, Lygia Clark, Pedro Américo, Sidney Amaral e Yuri Firmeza. A curadoria de Gaudêncio Fidelis reuniu trabalhos provenientes de coleções públicas e particulares, que percorrem um arco histórico de meados do século XX até a atualidade, formando um mosaico significativo da diversidade estética e geracional da produção artística no país. A Queermuseu é a primeira plataforma curatorial com abordagem exclusivamente queer já realizada no Brasil e a primeira da América Latina com tal envergadura.
A reabertura no Rio foi viabilizada através da mais bem sucedida campanha de financiamento coletivo do país, lançada em 31 de janeiro e coordenada pelo diretor da EAV, Fábio Szwarcwald. Em 58 dias, foram arrecadados um total de R$ 1.081.156, através de 1.724 doações provenientes de 1.659 colaboradores. A campanha contou com iniciativas históricas que impulsionaram o movimento, como um show de Caetano Veloso contra a censura (em 15 de março) e o Levante Queremos Queer, evento que atraiu mais de 2 mil pessoas ao parque num único sábado, em fevereiro deste ano. O valor captado vem sendo investido na operação e na montagem da exposição, na produção de um ciclo de debates, bem como na adaptação museológica das Cavalariças, já em fase de conclusão.
Em paralelo à mostra, como programa público, a EAV promoverá o Fórum Queermuseu. Discussões em torno das manifestações culturais periféricas, das diversas identidades de gênero e orientações sexuais pretendem reforçar o movimento contra a censura e a intolerância, além de reconhecer a pluralidade artística brasileira. A curadoria e coordenação do fórum estão a cargo de Ulisses Carrilho, curador da EAV Parque Lage. As mesas públicas devem acontecer sempre às terças, quintas e sábados, durante toda a temporada da exposição, que seguirá em cartaz até 16 de setembro de 2018. Entre os temas já pautados, estão: “a judicialização da arte”, “crenças e manifestações religiosas’, “o caso Queermuseu: entre a liberdade e a censura”, “arte e política”, “teoria queer” e “fake news”.
Se somará à plataforma o Núcleo de Ação Educativa - também curado por Ulisses Carrilho - pensado a partir de práticas e políticas queer, com o intuito de adensar os debates levantados pela comunidade LGBTI+ ao longo da exposição. “Cremos num pensamento de sociedade onde se entende os diversos modos de ser e de expressar-se como válidos, mas sobretudo no reconhecimento das singularidades e coletividades, daquilo que partilhamos e nos é comum. Manifestamente, preferimos compreender a diferença como uma possibilidade de encontro, em que cada corpo tem autonomia e liberdade para enunciar a sua experiência, elaborá-la e, caso queira, compartilhá-la”, afirma Carrilho.
Para tanto, o Núcleo de Ação Educativa da exposição está sendo pensado com um grupo plural de cerca de 20 pessoas, em que a representatividade de orientação sexual, identidade de gênero e racial compõem um discurso polifônico, diverso e plural. O material educativo não deve ser entendido como um guia preparatório, que explique a mostra, ou muito menos domestique as questões em torno do universo LGBTI+.
A Queermuseu no Rio contará ainda com apresentações musicais em todos os finais de semana da temporada, como aconteceu nos dois levantes promovidos pela direção da EAV. Uma edição da Feira Tijuana de Arte Impressa, a primeira feira de livros de artista organizada no Brasil, também integra a programação de abertura.
“Reabrir Queermuseu é reparar, em parte, o dano causado ao patrimônio cultural e artístico brasileiro, ocasionado pelo seu fechamento precoce e autoritário e o processo difamatório que se seguiu. A reabertura é também um ato político contra a censura e em favor da liberdade de expressão e de escolha”, afirma Gaudêncio, mestre em Arte pela New York University e doutor em História da Arte pela State University of New York.
De acordo com Szwarcwald, a reabertura da Queermuseu, que chegou a ser vetada pelo prefeito Marcelo Crivella em 2017, quando cogitada de vir para o Museu de Arte Rio, “é um fator de resistência da maior relevância à crescente onda ultraconservadora observada no Brasil. E o Parque Lage, por todo seu histórico e reconhecido compromisso artístico, é o espaço ideal pra receber essa grande mostra”.
A programação do dia 18
11h: Baque Mulher nos jardins em frente ao palacete
11h45 às 12h45: abertura oficial da exposição
13h: Dj Tatah Toscano
16h: Sarau Cuíer
18h: Laura Finocchiaro
19h: Jeza da Pedra
20h: Mariwô b2b Galo Preto (Rebola)
A história da exposição
A diferença é um dos fundamentos do queer, termo de origem pejorativa que teve seu significado transformado nos anos 1980 na luta por direitos civis e movimentos LGBTI+. Desde então, queer passou a designar a diversidade e o direito a uma existência fora da norma.
“Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira” explora a expressão e identidade de gênero, a diversidade e a diferença na arte brasileira por meio de um conjunto de obras que percorrem um arco histórico de meados do século XX até a atualidade.
Em sua primeira apresentação realizada no espaço Santander Cultural, em Porto Alegre, a exposição sofreu uma campanha difamatória em redes sociais de grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), na qual seus participantes afirmavam que a exposição fazia apologia à pedofilia, pornografia e à zoofilia, além de desrespeito à figura religiosa. Em função disso, ameaçaram boicotar o Banco Santander, que cancelou a exposição. Todas as acusações foram desmentidas pelo Ministério Público Federal, que se manifestou afirmando não haver crime de qualquer espécie, tendo recomendado a imediata reabertura da exposição, o que não ocorreu.
A exposição seria, então, realizada no Rio de Janeiro, pelo Museu de Arte do Rio, porém foi censurada por Marcelo Crivella, prefeito da cidade, que declarou em um vídeo que a exposição só aconteceria “no fundo do mar”.
Queermuseu se propunha a ser um museu provisório, de caráter metafórico, cujo objetivo seria propiciar um campo de investigação sobre o caráter patriarcal e heteronormativo do museu como instituição. Segundo o curador da mostra, Gaudêncio Fidelis, “é uma exposição fundada na democracia e na visão de um processo de inclusão”.