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abril 16, 2018
Mauro Restiffe no IMS Paulista, São Paulo
Em 2012, a convite da revista ZUM, o fotógrafo paulista Mauro Restiffe fotografou o bairro da Luz, região que abriga a famosa Cracolândia e que passava por controversa intervenção municipal e estadual. Em 2013, Restiffe foi convidado a estender o trabalho e registrar a transformação da cidade no período que antecedeu a realização da Copa do Mundo. A exposição São Paulo, fora de alcance, que abre em 14 de abril no IMS Paulista, é o resultado de muitas caminhadas diárias que o fotógrafo realizou durante cerca de três meses em bairros centrais e periféricos, como Brás, República, Pinheiros, Vila Congonhas e Itaquera. Conhecido pelas séries fotográficas que desenvolve em torno de questões urbanas de relevância histórica, política e arquitetônica, Restiffe produziu centenas de fotografias com a câmera Leica e o filme preto e branco de alta sensibilidade que fazem parte sua poética artística.
As 19 obras escolhidas para a exposição apresentam a cidade, o espaço urbano e seus habitantes. Longe de cartões-postais, as fotografias atualizam o repertório visual de São Paulo ao olhar para espaços públicos e construções importantes como o Itaquerão, o Templo de Salomão, a praça Roosevelt, o vão livre do Masp e o Museu do Ipiranga.
Os usos que os habitantes fazem da cidade e os diversos estágios de construção e conservação do patrimônio arquitetônico se combinam para narrar visualmente a experiência fragmentada que caracteriza a vida urbana. Nas imagens da exposição, os deslocamentos diários ou os passeios de fim de semana se misturam a fatos extraordinários, como o incêndio no Memorial da América Latina ou um dos vários protestos realizados em 2013. O preto e branco granulado também serve de metáfora para os conflitos temporais e a organização precária das cidades.
As obras de Restiffe, que variam de 60 centímetros a 2 metros de largura, são penduradas em painéis espalhados pelo espaço expositivo, em vez de estarem afixadas nas paredes, como numa exposição fotográfica tradicional. A montagem faz alusão ao percurso não linear das cidades e obriga o visitante a confrontar-se com as obras e contorná-las, construindo planos, perspectivas e bloqueios conforme caminha. O título da exposição também sugere a impossibilidade de representar uma cidade grande e complexa como São Paulo.
O projeto expográfico é de Martin Corullon, do escritório Metro Associados, e a identidade visual de Daniel Trench.
Publicado para acompanhar a exposição, o fotolivro São Paulo, fora de alcance exibe 50 fotografias de Mauro Restiffe e texto do curador Thyago Nogueira em 112 páginas e formato 22 x 29 cm (R$ 89,90).
Mauro Restiffe nasceu em São José do Rio Pardo, em 1970. Formou-se em cinema pela Faap e estudou fotografia no International Center of Photography e na New York University. Suas obras foram expostas, entre outros lugares, no MAC-SP (2011) e na 27ª Bienal de São Paulo. Seu trabalho faz parte de coleções importantes, como as da Tate Modern, do MoMA de São Francisco, de Inhotim e da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Foi indicado ao prêmio BES-Photo de 2011 e, em 2013, foi premiado pela Fundação Conrado Wessel. Expôs no Rio de Janeiro em 2006, na galeria Laura Marsiaj.