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abril 9, 2018
Exposição “5 + 5” - Anita Schwartz dez anos na Gávea, Rio de Janeiro
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta a partir de 4 de abril próximo, a exposição “5 + 5”, que dá início às comemorações de dez anos de seu espaço na Gávea. Cinco artistas da galeria – Arthur Chaves, Estela Sokol, Luiza Baldan, Nuno Ramos e Rochelle Costi – convidaram outros cinco, somando dez nomes da arte contemporânea. Arthur Chaves chamou Cadu; Estela Sokol, Marcelo Cipis; Luiza Baldan, Lenora de Barros; Nuno Ramos, Eduardo Climachauska; e Rochelle Costi, Fernando Limberger. As obras estarão no grande espaço térreo. No segundo andar, estarão obras de dois artistas históricos: Wanda Pimentel (Rio de Janeiro, 1943) e Abraham Palatnik (Natal, 1928), emblemáticos na história da galeria.
Quando foi inaugurado, em 2008, depois de um ano e meio de obras, o novo espaço da galeria Anita Schwartz na Gávea causou frisson no meio da arte do país, pelo ineditismo da construção – um prédio de três andares, com uma arquitetura generosa dedicada à arte contemporânea. Pela primeira vez se construía uma galeria com essas dimensões – um total de quase 800 metros quadrados – em que se destacava o “cubão branco”, o salão térreo, com mais de sete metros de pé direito e perto de 200 metros quadrados.
O projeto do arquiteto Cadas Abranches, que comentou, em seu recente livro lançado na galeria. “Gostei muito de fazer, pela simplicidade da arquitetura”, escreveu. Com fachada de ardósia cinza fatiada, o prédio parece flutuar em um espelho d’água, e a ponte de acesso ao prédio é de vidro. A reserva técnica, no segundo andar, tem uma grande janela voltada para o salão principal, para facilitar o manejo das obras de arte em exposição. O terceiro andar possui um terraço com um deque de madeira, com vista para o Corcovado, onde está um contêiner, com capacidade para vinte pessoas, usado pelos artistas para exibição de vídeos ou instalações.
Nascida em Recife, e radicada com a família no Rio de Janeiro desde 1973, Anita Schwartz inovou ainda conceitualmente, ao oferecer seu amplo espaço na Gávea para a livre criação dos artistas, que por muitas vezes transformaram o “cubão branco” praticamente em um laboratório de pesquisa, em exposições de cunho institucional. A ousadia deste gesto se tornou outra característica marcante da galeria.
BARCOS COBERTO COM SABÃO, E GLOBOS DA MORTE
Um exemplo emblemático desta atuação é Nuno Ramos. Na exposição “Mar Morto”, em 2009, Nuno Ramos colocou dois barcos pesqueiros no salão térreo, e os cobriu com sabão fabricado por ele dentro da própria galeria. No dia da abertura da exposição, caiu um temporal, e Nuno precisava usar guarda-chuva a cada vez que atravessava o terraço para chegar ao contêiner. A partir de então criou-se uma lenda, pois geralmente chove nas noites de vernissage... Em 2012, Nuno Ramos, em uma parceria com Eduardo Climachauska, faz exposição “O globo da morte de tudo”, em que cobriu de alto a baixo as quatro paredes do grande salão com prateleiras de aço, com mais de 1.500 objetos frágeis coletados por ele para este fim. Dois globos da morte, colocados perto um do outro, sugerindo a imagem de infinito, foram usados durante dois minutos por motociclistas profissionais em uma performance, criando uma tal trepidação que os objetos caíam e se espatifavam no chão. “Vou dizer, foi das montagens mais leves. Durante quinze dias os artistas, a Sandra (mulher de Nuno, também artista) coordenaram um mutirão. Foi maravilhoso”, lembra Anita Schwartz. “Quis abrir meu espaço para os artistas, já que eu podia oferecer um grande salão para que pudessem delirar, fantasiar, o que acabou sendo realidade”. Ela complementa: “talvez seja justamente esta matéria viva que é o artista o que me faz voar e me tirar um pouco os pés do chão, e realizar coisas que não são somente objetivas, materiais. Quando um projeto me encanta, eu viajo com os artistas”.
Outras marcas da galeria são a realização de conversas abertas sobre arte, e o programa “Trajetórias em Processo”, com curadoria de Guilherme Bueno, criado para dar visibilidade a jovens artistas. Realizado em várias edições anuais, com exposições coletivas, o programa se desdobrava em individuais no segundo andar da galeria, dos artistas que se destacavam. A artista Estela Sokol, que já ganhou três individuais na galeria, participou em 2009 deste programa.
MEU PROJETO DE VIDA
Foram 22 anos até Anita Schwartz chegar em 2008 ao espaço na Gávea, que chama de “meu projeto de vida”. Em 1986, Anita Schwartz passou a ocupar uma loja no Rio Design Center Leblon, shopping então recente, com um perfil voltado para arquitetura, decoração, antiquários e arte. Em 2000, abriu outra galeria no Rio Design Center Barra, mantendo os dois espaços até 2006, quando deixou a Barra, mantendo a loja do Leblon, já com planos de ter sua própria casa. “Procurei bastante no Rio, até achar o que queria na rua José Roberto Macedo Soares, na Gávea. Sabia que seria meu projeto de vida”, afirma. A casa que existia ali, com cômodos pequenos, era inviável para a ideia de um amplo espaço dedicado à arte contemporânea, e foi derrubada, para dar lugar ao prédio de três andares. “A Gávea é um bairro charmoso, agradável, gostoso de se passear, com que mantemos uma convivência muito boa”, diz. Tradicionalmente, a galeria abre suas exposições às quartas-feiras, dia menos agitado da região, mas os sábados também têm abrigado eventos. Outra novidade criada pela galeria foi oferecer nos vernissages pacotes de biscoito Globo, tradicional marca das praias cariocas.
Um fato curioso é que a galeria é vizinha de uma igreja evangélica e tem a sua frente uma sede da Perfect Liberty, uma religião de origem japonesa. No jardim da galeria foi plantada uma espada-de-São-Jorge, e, à entrada, vê-se o símbolo de proteção judaico, a mezuzá, comprada no bairro do Marais, em Paris, e abençoada pelo rabino Nilton Bonder. “Estou protegida por todos os lados”, brinca a galerista.
Com a exposição “5 + 5”, a galeria aponta para o futuro, e mais uma vez encara um desafio, já que os artistas tiveram liberdade de escolher seus pares. “Nunca sabemos de tudo. Estamos sempre em movimento, avançando. É uma profissão que demanda muita determinação e perseverança. Todo o trabalho é um desafio, e nos próximos dez anos vamos celebrar mais realizações, ainda com mais intensidade”, diz Anita Schwartz.
SOBRE A EXPOSIÇÃO “5 + 5”
Arthur Chaves (1986, Rio de Janeiro) mostrará uma obra deste ano, em técnica mista, com aglomerado de tecidos. De Cadu (1977, São Paulo) estarão dois desenhos de 2017, em óleo e grafite sobre papel. Arthur fala sobre Cadu: “O trabalho de Cadu é fruto do comprometimento impressionante em propor mecanismos que permitem o desvelamento de detalhes da natureza em si”.
Estela Sokol (1979, São Paulo) terá duas obras na exposição: uma em madeira, e a outra em granito e parafina pigmentada, ambas deste ano. Marcelo Cipis (1959, São Paulo) mostrará três pinturas de períodos variados, em acrílica e óleo sobre tela, e óleo sobre madeira. Estela Sokol fala sobre Marcelo Cipis: “ele transita entre o representado e o não representado, entre o onírico e uma realidade criada, com a liberdade que lhe é peculiar”.
Luiza Baldan (1980, Rio de Janeiro) participa com duas fotografias deste ano, enquanto Lenora de Barros (1953, São Paulo) mostra quatro trabalhos da série "Ping-Poems to Boris” (2000), em que homenageia o escritor russo radicado em São Paulo Boris Schneidermann, morto em 2016, aos 99 anos. Luiza Baldan fala sobre Lenora de Barros: “acompanho o trabalho da Lenora há muitos tempos, por quem tenho profunda admiração, e que considero uma das maiores artistas brasileiras, e é uma honra poder trabalhar com ela, lado a lado, em uma exposição. Será a primeira vez em que isso acontece, e acho que será muito legal”. As duas farão em abril uma performance juntas, em data a ser confirmada.
Dois trabalhos de Nuno Ramos (1960, São Paulo) estarão na exposição: “Algo mais espantoso ainda/ Na noite seguinte eu vou matá-la” (2006), uma escultura em mármore, cobre, vidro soprado, vaselina e vaselina líquida, e o desenho “Rocha de Gritos 28” (2017), em vários materiais sobre papel. Eduardo Climachauska (1958, São Paulo) mostra um conjunto de quatro caixas compostas por chumbo e mármore. Nuno Ramos é amigo e parceiro de longa data de Eduardo Climachauska (1958, São Paulo), e já compuseram juntos dez músicas e realizaram três filmes: “Iluminai os terreiros” (2007), “Casco” (2004) e “Para Nelson – Luz Negra” e “Duas Horas” (2002), os dois primeiros com o cineasta Gustavo Moura. Nuno Ramos fala sobre Climachauska: “Gosto de uma mistura perfeita de imaginação e rigor formal. Além do que, acho que o trabalho do Clima é um desses tesouros da arte brasileira, subdimensionado, ainda a ser descoberto. Quem achar, verá”.
Rochelle Costi (1961, Caxias do Sul, Rio Grande do Sul), artista radicada em São Paulo, vai mostrar duas fotografias em grande formato feitas em 2013, “Dentro” e “Fora”. Fernando Limberger (1962, Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul), também radicado em São Paulo, apresenta a obra “Abraçadinhos”, um conjunto com três cabaças pintadas em tinta acrílica. Rochelle fala sobre o artista: “Limberger lida com a natureza das coisas. Ao nos colocar diante do brotar de uma semente ou pondo cores onde não costumamos vê-las, nos mostra a força da natureza. Através de estratégias simples, mas extremamente cuidadosas, faz nos darmos conta de que há leis sutis, porém poderosas, regendo silenciosamente o que há de vivo ao nosso redor”.
No segundo andar, estarão obras de Wanda Pimentel (1943) e Abraham Palatnik (1918).