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setembro 1, 2016
Vik Muniz na Nara Roesler, São Paulo
Vik Muniz abre, no dia 2 de setembro, na Galeria Nara Roesler - São Paulo, a exposição Handmade, na qual retoma com força renovada caminhos e procedimentos que já havia trilhado no passado, investigando de forma aguda e sintética a tênue fronteira entre realidade e representação, entre o objeto original e sua cópia. São mais de 70 obras, nas quais deixa de lado qualquer recurso narrativo e torna explícito o esqueleto processual do trabalho, ao mesmo tempo em que brinca com as certezas do espectador.
“Sempre funciona das duas maneiras. O que você espera ser uma foto não é e o que você espera que seja um objeto é uma imagem fotográfica”, ironiza Vik. “Em uma época em que tudo é reprodutível, a diferença entre a obra e a imagem da obra quase não existe”, acrescenta.
Durante o processo de pesquisa de seu catálogo raisonné, lançado recentemente, Vik se deu conta de como havia deixado de lado um procedimento recorrente em sua produção no início de sua carreira, quando tinha menos envolvimento com o campo da fotografia: a manipulação da superfície fotográfica após a realização da imagem. Retomou então tais estratégias, refazendo e complementando as fotografias. O resultado é uma espécie de antologia, formada por projetos antigos e recentes, bastante estimulante em tempos de Bienal. “É como um cardápio das ideias que já usei, um compêndio de estratégias expostas de formas muito simples”, sintetiza Vik, que no momento também se dedica à cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos 2016, da qual será um dos diretores.
O público não verá em Handmade obras realizadas a partir de imagens conhecidas, tampouco referências a materiais mundanos – aspectos comuns no trabalho do artista. Vik alude aqui à vasta tradição da arte abstrata, destilando para isso suas fórmulas básicas na criação de maneiras inusitadas de meditar sobre a imagem e o objeto, sobre a ambiguidade dos sentidos e a importância da ilusão. Handmade traça a constante preocupação do artista em transcender as dimensões simbólicas da imagem.
Um exemplo de investigação que não se encerra com o ato de fotografar é Two Nails (1987/2016), uma espécie de trabalho-chave em Handmade e cuja primeira versão pertence à coleção do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York. Extremamente enxuta, a composição mostra uma folha de papel presa por dois pregos: um real, o outro fotografado, gerando um quadro tão ambíguo que se torna impossível identificar as diferenças por meio de uma reprodução fotográfica. “É necessário estar diante da obra. E mesmo assim você terá dúvidas”, ressalta Vik.
Além da paradoxal relação entre imagem e objeto e do recorrente uso de estratégias ilusionistas – “A ilusão é um requisito fundamental de todo tipo de linguagem”, diz –, esses trabalhos flertam com a arte conceitual e estabelecem um intenso diálogo com a arte abstrata, cinética e concreta. Sobretudo, segundo Vik, pelo interesse comum em relação às teorias da Gestalt, mais especificamente nos campos da psicologia e da ciência.
Repetição, ritmo, profundidade, espaçamento, uso das cores primárias ou gradações sutis de cinza e preto estão entre as questões caras à abstração e que compõem o alfabeto com o qual Vik lida em Handmade. Mas ele vai além disso. Lança mão do vocabulário construtivo para mais uma vez colocar em questão o estatuto da imagem no mundo contemporâneo. “A exposição mostra um artista diferente e que sou eu ao mesmo tempo”, conclui.
No dia da abertura, às 17 horas, o artista conversa com a curadora Luisa Duarte e o público, no espaço da galeria, sobre a exposição e seu processo de trabalho. Entrada franca.
Vik Muniz (n. 1961, São Paulo, Brasil) vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Nova York. Alcançou reconhecimento internacional como um dos artistas mais inovadores e criativos do século 21. Conhecido por criar o que ele descreve como ilusões fotográficas, Muniz trabalha com uma surpreendente variedade de materiais não convencionais – incluindo açúcar, diamantes, recortes de revista, calda de chocolate, poeira e lixo – para meticulosamente criar imagens antes de as registrar com sua câmera. Suas fotografias muitas vezes citam imagens icônicas da cultura popular e da história da arte, desafiando a fácil classificação e envolvendo de maneira divertida o processo de percepção do espectador. Seu trabalho mais recente utiliza microscópios eletrônicos e manipula microorganismos para revelar tanto o familiar quanto o estranho em locais que normalmente são inacessíveis ao olho humano.
Vik Muniz iniciou sua carreira artística ao chegar em Nova York em 1984, realizando sua primeira exposição individual em 1988. Desde então vem realizando prestigiadas exposições em instituições como o International Center of Photography, New York; Fundació Joan Miró, Barcelona; Museo d’Arte Contemporanea, Rome; Museu de Arte Moderna, São Paulo; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro; Tel Aviv Museum of Art e Long Museum, Shangai.
Suas exposições recentes incluem Vik Muniz (High Museum of Art, Atlanta, EUA, 2016); Vik Muniz: Verso (Mauritshuis, The Hage, Holanda, 2016); Escola Vidigal – 15a Mostra Internazionale di Architettura | La Biennale di Veneza (Veneza, Itália, 2016); Une Saison Brésilienne | Vik Muniz na Coleção Géraldine e Lorenz Bäumer (Maison Européenne de la Photographie, Paris, França, 2016); Lampedusa, 56a Bienal de Veneza, (Naval Environment of Venice, Itália, 2015) e Vik Muniz: Poetics of Perceptions (Lowe Art Museum, Miami, EUA, 2015).
Em dezembro de 2008, o MoMA sediou Artist’s Choice: Vik Muniz, Rebus, como parte de uma série de exposições com artistas convidados. Muniz também foi convidado da 49ª Bienal de Veneza; da edição do ano 2000 da Bienal de Whitney, no Whitney Museum of American Art; da 24ª Bienal Internacional de São Paulo; e da 46ª Corcoran Biennial Exhibition: Media/Metaphor, na Corcoran Gallery of Art em Washington, DC. Em 2011, Muniz foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da UNESCO.
Seus trabalhos fazem parte de coleções de arte públicas como a do Museum of Modern Art, Nova York; Guggenheim Museum, New York; Tate, London; e do Museum of Contemporary Art, Tokyo. Em 2001, Muniz representou o Brasil no Pavilhão da 49a Bienal de Veneza. O trabalho do artista também é tema do filme Lixo Extraordinário (Waste Land), indicado ao Oscar de melhor documentário em 2010.