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abril 5, 2016

Antonio Dias na Nara Roesler, São Paulo

Mostra de papéis do Nepal de Antonio Dias chega ampliada à Galeria Nara Roesler de São Paulo, depois de ser exibida no Rio de Janeiro

A exposição de papéis do Nepal de Antonio Dias, realizada entre agosto e setembro do ano passado na galeria do Rio de Janeiro, chega ampliada à Galeria Nara Roesler em São Paulo a partir de 2 de abril de 2016. Nesta Papéis do Nepal, a produção multifacetada de Dias ganha abordagem a partir desse segmento.

Nas palavras do historiador da arte italiano Sandro Sprocatti, o trabalho de Dias projeta "uma situação antiperspectiva por excelência, uma vez que nega a exclusividade de um ponto de vista não só devido à instabilidade representacional (ambiguidade substancial do signo e do espaço) mas, acima de tudo, porque implica a pluralidade das condições de fruição, ou seja, as condições existenciais que o observador tem em relação ao próximo".

Os trabalhos que figuram na exposição foram produzidos durante uma viagem de Dias ao Nepal em 1977, com a finalidade de aprender a manufatura de papéis artesanais. A fase do Nepal é uma ruptura na trajetória pregressa do artista, calcada fortemente no conceitualismo; na utilização de mídias então incipientes, como o vídeo; e na criação de um léxico visual que englobava elementos pop, planos geométricos definidos por cor e palavras.

Esse repertório, repetido sistematicamente e embaralhado entre si, questionava o caráter da convenção social e da instituição artística como produtora de significados codificados e estanques, validados por um sistema de inserção e representatividade internacional, a que o regional deveria se submeter - o que se tornava evidente pelos títulos em inglês das obras, como a famosa série The Ilustration of Art.

Mais do que serem suportes, os planos geométricos de papel artesanal são obras em si. Suas cores resultam da adição, durante a fabricação, de elementos naturais - como chá, terra, cinzas e curry -, incorporando o processo de produção como componente e significante dos trabalhos. Realizados em conjunto com artesãos de uma fábrica de papel nepalesa, subvertem a questão da unidade autoral tanto em sua gênese quanto em seus títulos, atribuídos por alguns dos trabalhadores, a exemplo de Niranjanirakhar.

Ou, como o próprio artista definiu em uma entrevista, "O que mais me interessa é a relação entre a produção desse trabalho e de seus produtores... Ao mesmo tempo que se empenhavam materialmente na produção, alguns deles também imprimiam uma leitura simbólica ao produto".

A palavra nepalesa Niranjanirakhar, que significa Nada, é uma boa síntese da ambivalência de sentidos desse grupo de obras. Se em sua premissa pós-conceitual e processual reiteram a necessidade de construção da significação pelo espectador, provocando a consciência e a postura ativa para além da superfície imagética, trazem um silêncio quase místico, por sua materialidade imperfeita e orgânica. Além da contaminação de significação pela territorialidade, tema caro ao artista.

Citando novamente Sprocatti: "Em ambos os casos, figuras 'importadas' da atuação anterior do artista adquirem novos significados em contato com a esfera cultural que testemunhou seu nascimento. Como resultado, a peça (também entendida como trabalho) ganha uma profundidade simbólica ao mesmo tempo improvável e exata. Do mesmo modo, a sintaxe pós-conceitual das instalações encontra novas razões de pertinência no interior de uma dimensão mística que tem pouco a ver com o Ocidente e sua história."

Antonio Dias nasceu em 1944 em Campina Grande, Paraíba. Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Milão. Seus trabalhos fazem parte de importantes coleções internacionais, tais como: MoMA, Nova York, EUA; Ludwig Museum, Colônia, Alemanha; Daros Collection, Zurique, Suíça; Städtische Galerie im Lenbachhaus, Munique, Alemanha; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina; e Centro Studi e Archivio della Comunicazione, Università de Parma, Itália, e renomadas coleções nacionais, tais como: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro; Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba; Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo; Itaú Cultural, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo; Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, Recife; e Museu de Arte Contemporânea de Niterói/Coleção Sattamini, Niterói.

Posted by Patricia Canetti at 4:32 AM