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novembro 12, 2014

Iberê Camargo: Século XXI - a grande celebração dos 100 anos do mestre

A Fundação Iberê Camargo abre a exposição comemorativa que reunirá 19 artistas contemporâneos para celebrar o centenário de nascimento do artista por meio de esculturas, fotografias, literatura, dança, livro, seminário, cinema e projeto educativo.

Iberê Camargo: Século XXI, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS - 19/11/2014 a 29/03/2015

Todas as faces e fases de Iberê Camargo estarão em exibição em Porto Alegre para comemorar o aniversário de 100 anos de nascimento de um dos maiores nomes da arte brasileira. Iberê Camargo: Século XXI abandona o formato convencional de exposições comemorativas, ordenadas cronologicamente. A exposição pretende demonstrar a potência poética do artista, estabelecendo diálogos, relações e tensões entre suas pinturas, gravuras e desenhos. Para isso, usará uma vasta coleção de linguagens, incluindo escultura, instalação, fotografia, literatura, dança, livro, seminário, cinema e projeto educativo. A abertura para convidados no dia 18 de novembro (terça-feira), às 19h.

Entre 19 de novembro a 29 de março, o público, que poderá acessar a mostra gratuitamente, irá sentir a densidade do trabalho de Iberê Camargo” na arte brasileira desde o lado de fora ao interior da rampas, passando pelo átrio, todos os espaços do prédio foram pensados como expositivos. Uma densidade que ultrapassou a própria vida do artista, morto em 1994, transpôs as linguagens que esse gaúcho de Restinga Seca praticou para ressoar no cenário artístico, desvelando questões profundas da existência humana e do modo de representá-las.

Para celebrar este grande momento de homenagens, a Fundação Iberê Camargo convidou 19 artistas brasileiros. De gerações diferentes, alguns são profundos conhecedores do trabalho do artista, outros não. Todos, porém, terão suas obras expostas em conjunto, dialogando ao mesmo tempo com as de Iberê, em cada canto do prédio erguido em sua homenagem, encravado às margens do Guaíba e projetado pelo arquiteto português Álvaro Siza. O conjunto de artistas é composto por Angelo Venosa, Arthur Lescher, Carlos Fajardo, Carmela Gross, Cia. De Foto, Daniel Acosta, Edith Derdyk, Eduardo Frota, Eduardo Haesbaert, Fabio Miguez, Francisco Kingler, Gil Vicente, Jarbas Lopes, José Bechara, José Rufino, Karin Lambrecht, Lenir de Miranda, Regina Silveira e Rodrigo Andrade. Ao todo serão 33 pinturas, seis gravuras e 30 desenhos de Iberê Camargo, que poderão ser vistas ao lado de outras 21obras dos artistas convidados. Ao longo do ano, o artista recebeu homenagens de diferentes instituições, entre elas o Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo (CCBBSP) e a Pinacoteca de São Paulo.

Integrante do Comitê Curatorial, Agnaldo Farias explica que os curadores optaram por fugir de homenagens nos moldes tradicionais, pois o artista já havia sido homenageado com uma retrospectiva na inauguração do edifício da Fundação Iberê Camargo, em 2008. " O segundo motivo deveu-se à concordância unânime sobre a necessidade de se sublinhar a data apontando ressonâncias diretas e indiretas da obra de Iberê Camargo sobre seus contemporâneos, sobre seus discípulos ou gente que lhe assistiu em sua faina cotidiana.O curador destaca que o centenário é uma oportunidade para mostrar a atualidade da obra de Iberê. "As obras dele são potentes, nos toca fundo. A mostra permite a atualização do passado através do presente e o presente através da leitura do passado. Não se pode esquecer o seu legado. Iberê é referência", ressalta.

Pinturas, desenhos e gravuras, pertencentes às séries “Ciclistas”, “Carretéis”, “Explosões”, “Espelhos”, “Fantasmas”, “Sombras” e “Manequins” irão preencher as salas em companhia de obras de artistas cuja proximidade, em alguns casos, poderá trazer à mente a ideia de sombra, enquanto o caráter profundamente diverso das obras de outros, ao contrário, provocará fricções, ingrediente fundamental para o desdobramento de novos planos de leituras. “A seleção foi bastante difícil pois temos um número grande de excelentes artistas que fazem obras de primeira linha. O que nós tentamos foi encontrar obras que dialogassem com as de iberê, com as suas temáticas e de Iberê abordou as sombras e o preto no seu trabalho, que foi extremamente ousado e denso. Por outro lado, também buscamos relações, mesmo não intencionais, de artistas mais jovens, da arte contemporânea. Além disso, há obras inéditas de Iberê que nunca foram mostradas, não só em Porto Alegre, mas no Brasil. O principal objetivo é fazer refletir, de mostrar uma atualidade da sua obra, que apesar de ter sido produzida em outro tempo, permanece moderna", aponta Icleia Cattani, também integrante do Comitê Curatorial.

"Na verdade, seria um erro descrever a obra de Iberê através da abordagem de seus temas. Radicalmente artista, essencialmente pintor, intimamente gravador e compulsivamente desenhista, Iberê Camargo não ilustra tema algum: ele vive o desenho, a gravura e a pintura como uma maneira de sobreviver em um mundo que é doloroso ao homem", destaca o terceiro membro da Comitê Curatorial da Fundação, Jacques Leenhardt.

Rampas ganham intervenções assinadas por Joel Pizzini

Convertidas em espaços expositivos, as rampas da Fundação Iberê Camargo foram entregues aos cuidados do premiado diretor de cinema Joel Pizzini, autor de O pintor, filme, de 1995, sobre a obra de Iberê Camargo, e de Enigma de Um Dia, curta-metragem inspirado na tela de mesmo título do artista italiano Giorgio de Chirico, mestre de Iberê no tempo em que viveu na Itália, final dos anos 1940.

Pizzini trabalhará com projeção de imagens em movimentos nos espaços que ligam os três andares do edifício. A primeira delas será reservada às projeções de imagens de ciclistas colhidas no Parque da Redenção, o mesmo de onde Iberê Camargo tirou as imagens inspiradoras de uma de suas mais famosas séries em pinturas, desenhos e gravuras.

A segunda rampa foi escolhida para abrigar parcelas da produção literária do artista, autor de livros de contos, textos de cunho autobiográfico, comentários sobre momentos da vida brasileira e, por fim, aqueles dirigidos à apresentação das suas referências estéticas e existenciais. "O fluxo de visitantes irá esbarrar constantemente em ilhas sonoras, uma seleção de excertos de textos lidos em voz alta, uma pausa no elenco de obras para serem vistas ou contornadas pelo corpo, em favor do contato por narrativas verbais, desencadeadoras de processos imaginativos de outra ordem", explica Agnaldo Farias, também curador da Fundação.

A terceira rampa funcionará como antessala das séries de fantasmas, sombras e manequins apresentadas no último piso. "Os seres espectrais, tomados pela loucura, pela estupidez, quando não aturdidos e exaustos, prostrados em paisagens, chega uma sucessão de excertos de alguns clássicos da filmografia, quase todos de extração expressionista, pertencentes ao acervo pessoal de Iberê Camargo", pontua Farias.

Carretéis de Eduardo Frota recepcionam os visitantes. No átrio,estudos originais do Painel de Genebra

Do lado de fora do prédio, o público, antes mesmo de entrar na mostra, será recepcionado por cinco grandes carretéis de madeira, assinados pelo artista cearense Eduardo Frota. Construídos em Porto Alegre, cada um deles tem 2,70 metros de altura, com diâmetros variando entre 60 e 85 centímetros. A opção por formas geométricas – cilindros, cones, círculos, anéis, carretéis – tem sido a tônica da obra de Frota. O artista percorreu os mais de três mil quilômetros que separam Fortaleza de Porto Alegre quatro vezes para orientar e acompanhar a equipe de técnicos que elaboram as obras. "Eu pego um dos elementos ícones da pintura, que são os carretéis, e transporto para a tridimencionalidade, como se eu cavasse aquelas telas, aquela pintura pastosa, movediça e escura, e recoloco isso no mundo. Não é mais uma representação, não é mais virtual. Com toda a modéstia, é como se eu atualizasse para a produção da arte conteporânea elementos da produção de Iberê", explica Frota.

Ao chegar ao átrio, o visitante será recebido pelo conjunto de 28 estudos criados por Iberê para executar o painel de 49 metros quadrados oferecidos pelo Brasil à Organização Mundial da Saúde, em Genebra, Suíça, em 1966, e pela reprodução da peça, em dimensões menores do que a original. "Se a reprodução é o único recurso para a exibição de uma obra impossível de ser removida do local onde está instalada, por outro lado expõe-se, pela primeira vez, o conjunto dos desenhos preparatórios, um documento precioso sobre os passos desenvolvidos e as opções assumidas pelo artista, aponta Agnaldo.

Documentário Magma e performance inspirada nos Carretéis

A Fundação Iberê Camargo também vai apresentar o documentário Magma, com roteiro e direção de Marta Biavaschi, fotografia de Bruno Polidoro e montagem de Bruno Carboni. Narrado pelo próprio Iberê com imagens e sons de arquivo, o filme, de 52 minutos, revela a paisagem da memória, as obras e a literatura do artista. De acordo com Marta, a produção é uma biografia estética através de seu gesto pictórico e na busca da matéria sonhada por ele. "Filmamos obras de diferentes fases do artista em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. A partir do universo de cada fase de sua obra pictórica acrescido da dramatização de parte do conto O Relógio, escrito por ele em 1959, criamos quadros vivos que dialogam com seus quadros e sua produção literária e evocamos a paisagem da memória do artista com filmagens realizadas em Restinga Seca, Jaguari, Santa Maria, Porto Alegre e Rio de Janeiro, lugares onde viveu, observou e transfigurou a realidade. A imagens e os sons de arquivo do acervo documental da Fundação Iberê Camargo foram utilizadas como narrativa no filme, o Iberê por ele mesmo", explica.

Segundo a diretora, entre pesquisa, filmagem, montagem e finalização foram quatro meses de produção. "Muito emocionada com o convite para a realização do documentário que celebra os cem anos do artista. Um mergulho na tradução de seu universo através do meu olhar sobre a sua obra".

No dia de abertura, os convidados poderão assistir à performance inspirada na série "Carretéis", assinada pela premiada coreógrafa e professora Eva Schul, uma das pioneiras da dança moderna no Brasil. "É um passeio entre o onírico e o lúdico sobre o objeto de memória do pintor e seus possíveis movimentos", destaca Eva. Serão nove bailarinos da Ânima Cia. de Dança, com coreografia de Eva e música de Celau Moreira, que tocará seu violoncelo acompanhado de Renato Camargo na flauta e de Paulo Callone no oboé e corne inglês, todos músicos da Ospa. Os adereços e figurinos são assinados por Elcio Rossini. "A performance acontecerá em vários andares da Fundação, que serão percorridos até finalizar no átrio", explica a coreógrafa.

Seminário sobre a vida e obra de Iberê Camargo e livro editado pela Cosac Naify

Paralelo à abertura da exposição , a Fundação promoverá um seminário sobre a vida e obra do artista entre os dias 19 e 21 de novembro, das 19h às 22h, no auditório da instituição. No primeiro dia, os convidados são Icleia Cattani, Luiz Camillo Osório e Regina Silveira, com mediação de Eduardo Veras; no segundo, Jacques Leenhardt, Carlos Martins e Karin Lambrecht, com mediação de Blanca Brites e no terceiro Agnaldo Farias, Lorenzo Mammì e José Rufino, com mediação de Ana Carvalho.

Também integra as comemorações o lançamento do livro 100 anos de Iberê da editora Cosac Naify, que ocorrerá no dia 19 de novembro, às 18h, no átrio da Fundação. Com 416 páginas, em português e inglês, a obra é uma retrospectiva dos trabalhos do artista com desenhos, gravuras e, principalmente, pinturas. Reproduz também 13 textos curatoriais, referentes a exposições de obras do artista realizadas pela Fundação Iberê Camargo. A organização conceitual do projeto é assinada pelo curador professor Luiz Camillo Osorio, que apresenta o texto inédito “Curadorias como Intervenção Crítica”. O projeto incluirá nova bibliografia do artista, como forma de criar um documento de referência.

Projeto Educativo e lançamento do filme Pare Olhe Escute

O Programa Educativo da Fundação Iberê Camargo realiza, no dia 22 de novembro, o Encontro para Educadores da exposição Iberê Camargo: século XXI. O evento tem como objetivo fornecer subsídios para que professores de diferentes áreas desenvolvam pesquisas e atividades com suas turmas antes ou depois de visitar a mostra. Com entrada gratuita, o encontro é voltado para educadores, estudantes e demais interessados. A programação terá início com a exibição do filme "Pare olhe escute", realizado pela Fundação Iberê Camargo com roteiro e direção de Marta Biavaschi. A seguir, serão realizadas conversas com os curadores Agnaldo Farias, Jacques Leenhardt e Icleia Cattani e uma visita à mostra. Ao final do evento, os participantes receberão o material didático Iberê Camargo: século XXI desenvolvido especialmente para a exposição. A publicação, composta por textos, imagens, sugestões de atividades e um acessório, aborda a obra de Iberê Camargo e de outros oito artistas.

O filme educativo Pare Olhe Escute foi desenvolvido com o intuito de apresentar a trajetória e a obra de Iberê Camargo para o público escolar. A partir do universo pictórico do artista, foram criados quadros vivos que dialogam com suas pinturas e memórias. Também com direção de Marta Biavaschi, a obra combina imagens e sons de arquivo com filmagens realizadas em Restinga Seca, Jaguari, Santa Maria, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

Exposições internacionais e no MAM Rio

Em 2015, destaque especial para a programação internacional, que inclui três exposições de Iberê Camargo na Itália, nos dias 20 e 21de maio de 2015. O Museo Marino Marini, em Florença (dia 20), dará foco à gravuras, o Museu de Arte Moderna de Florença (dia 20), mostrará recortes dedicados à produção do artista nos anos 60, enquanto o Museo Morandi, em Bolonha (dia 21), destacará as relações entre as obras de Iberê e do seu mestre Giorgio Morandi, com a apresentação de naturezas-mortas dos dois artistas. A curadoria é de Alberto Salvadori, diretor artístico do Museo Marino Marini.

Outro destaque do centenário em 015 será a exposição realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), em setembro, cidade onde o artista viveu por 40 anos.

Catalogação da obra para novas volumes do catalogos raisonnés

O vasto material produzido pelo grande artista Iberê Camargo está espalhado por vários pontos do mundo. A Fundação Iberê Camargo já mapeou cerca de 4 mil obras dos cerca de oito mil trabalhos que foram produzidos por Iberê em 55 anos de produção artística. O trabalho do setor de catalogação e pesquisa da instituição, coordenado pela professora Mônica Zielinsky, professora do Instituto de Artes da UFRGS, já lançou em 2006 o primeiro volume dos catálogos raisonnés de Iberê de gravuras do artista , com mais de 500 páginas, um livro raro no Brasil.

O desafio agora é produzir os outros volumes dos catálogos raisonnés com a obra completa do artista, uma atividade que está exigindo um meticuloso cuidado de coleta e organização dos dados, histórico das obras via exames de catálogos e da hemeroteca, assim como os estudos sobre a procedência das obras. A instituição espera que os colecionadores de Iberê Camargo possam participar da construção do processo de catalogação, fornecendo os dados de suas obras. Para isso, são convidados a registrá-los através do site da Fundação Iberê Camargo www.iberecamargo.org.br ou por contato direto ao setor, pelos telefones (51) 3247 8040 ou (51) 3247 8002, como também pelo e-mail.

A programação completa do centenário é apresentada pela Gerdau e Itaú.
A Fundação Iberê Camargo é patrocinada pela Gerdau, Itaú, IBM, Vonpar e Banco Votorantim.

Posted by Patricia Canetti at 2:43 PM