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março 28, 2014
Poder provisório no MAM, São Paulo
Mostra fotográfica poder provisório mescla registros históricos e obras conceituais do acervo do MAM
Poder Provisório, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP - 01/04/2014 a 15/06/2014
Com curadoria de Eder Chiodetto, exposição reúne 86 obras que se relacionam pela questão do poder e da hierarquização da sociedade; obras conceituais dialogam com fotos documentais do artista Mauro Restiffe, do coletivo Mídia Ninja e dos fotojornalistas Orlando Brito e Alcir da Silva,entre outros
De 31 de março a 15 de junho, o MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo recebe a mostra de fotografia poder provisório, com86 obras do acervo do museu, na sala Paulo Figueiredo. Poder provisório visa a discutir a instância do poder em diferentes esferas da vida social, através de imagens documentais e obras conceituais, em sua maioria de cunho político, que utilizam a fotografia como suporte. A curadoria é de Eder Chiodetto, que também é o curador do Clube de Colecionadores de Fotografia do museu.
A mostra é composta por obras realizadas nos últimos 50 anos, e busca provocar uma reflexão acerca das esferas de poder em contraponto aos problemas sociais históricos do Brasil.O recorte inclui registros como a queda das Torres Gêmeas- vistos como uma metáfora da intolerância entre culturas diversas e um ápice da crise do capitalismo -, do fotojornalista brasileiro Alcir da Silva, radicado nos EUA;uma extensa série de fotografias realizadas da década de 1970 a 1990, de Orlando Brito, que vão de imagens que revelam a ascensão de Lula, então metalúrgico,a imagens do presidente João Figueiredo no poder, guerrilha do Araguaia e a votação das diretas-já.
Também há fotos de Mauro Restiffe durante a posse de Lula, no primeiro mandato, em 2003; e até mesmo as manifestações do ano passado, registradas pelo coletivo Mídia Ninja.Permeando esses registros, há xerografias de Bené Fonteles (O dedo do metalúrgico e Corte), offset de Paulo Bruscky (Limpos e desinfetados), fotografias de Claudia Andujar (yanomamis, da série A casa), objetos de Iran do Espírito Santo (Ato único I e Ato único III), apenas para citar algumas.
Com projeto expográfico de Marta Bogéa, poder provisório é esteticamente inspirada no poema construtivo Cidade/City/Cité, de Augusto de Campos. Assim como no poema de Campos, as obras estarão dispostas numa linha contínua (não cronológica), sem espaços entre uma e outra, e com grande alternância de temas, séries e autores, colocando todas as obras e artistas em pé de igualdade. “É como uma ladainha. Uma aparente sucessão que na verdade é uma repetição enfadonha e um tanto sombria”, conta Chiodetto.
Para ver a mostra, o visitante deverá passar por um portal que dá espaço a um zigue-zague, diferente da concepção da sala original, dando lugar a uma outra arquitetura que convida a seguir a linha de fotos apresentadas, "reforçando a ideia de convulsão e entropia que salta das obras e se manifesta no espaço expositivo", diz o curador. A partir do portal, o ciclo abre e fecha com duas imagens de Alcir da Silva sobre a queda das Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos.
Uma das novidades do acervo do museu, apresentadas na mostra, são três fotos das manifestações realizadas em São Paulo, em 2013, registradas pelo coletivo Mídia Ninja, cuja atuação é uma alternativa à imprensa tradicional. As transmissões do grupo são realizadas em tempo real pela internet, por meio das redes sociais, apresentando uma cobertura que leva à reflexão sobre a idoneidade da mídia tradicional. “Um museu tem que estar atento a receber novos meios e reflexões sobre a circulação da imagem”, diz Chiodetto.
No texto de curadoria, que estará disposto abaixo das imagens, acompanhando a linha contínua das fotografias, Chiodetto parte das questões de poder levantadas para interpelar várias outras instâncias de poder: "Quem diz o que pode e o que não pode entrar no acervo do Museu? Quem tem o poder de legitimar o que é ou não é arte? Quanto o mercado de arte pode lucrar com uma exposição que pontua doenças crônicas do capital?O quão legítima pode ser a crítica de um curador ao poder, se a própria curadoria é também um exercício de poder? Os bastidores da política podem ser fotografados até que ponto? Se o poder da representação se escora em pontos de vistas subjetivos quem narra a história oficial?".