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março 25, 2014
Fabian Marcaccio na Casa Daros, Rio de Janeiro
Exposição abre início de temporada dedicada à pintura. Aobra de cerca de 100 metros de extensão por quatro de altura do artista argentino radicado em Nova York vai percorrer os espaços expositivos da instituição de Botafogo.
Fabian Marcaccio - Paintant Stories, Casa Daros, Rio de Janeiro, RJ - 29/03/2014 a 10/08/2014
A Casa Daros apresenta a partir de 28 de março de 2014para convidados, e do dia seguinte para o público, a exposição “Fabian Marcaccio – Paintant Stories”, com curadoria de Hans-Michael Herzog, que traz a obra homônima do artista nascido em 1963 em Rosario, Argentina, e radicado desde os 22 anos em Nova York. “Paintant Stories” (“Histórias Pintantes”), pertencente à Coleção Daros Latinamerica, de Zurique, Suíça, tem cerca de 100 metros contínuos de extensão e quatro metros de altura, nunca foi exibida nas Américas, e será montada de modo a percorrer sinuosamente os espaços expositivos do primeiro andar da Casa Daros. Em um dado momento, a obra “atravessará” a parede externa, e cruzará, suspensa, o pátio interno da instituição, tendo, neste trecho, dupla face, podendo ser vista tanto de dentro como de fora.
O artista chegará ao Rio duas semanas antes da abertura para fazer, na própria Casa Daros, esta parte da obra – cerca de 14 metros de comprimento por quatro de altura – que ficará visível para o espectador que estiver no pátio. “Para mim, acho que este será meu momento preferido, esta parte em que a peça salta para o pátio, porque você poderá vê-la através das janelas, e ao mesmo tempo ver as pessoas no pátio olhando para a obra. Gosto de pensar que esta será uma área comunal, como um anfiteatro, e estou muito animado por conta disso“, diz o artista.
A exposição “Fabian Marcaccio – Paintant Stories” inaugura uma temporada dedicada à pintura, com exposições que vão reunir artistas de diferentes gerações e países. Durante o período de exibição de “Paintant Stories”, a Casa Daros vai abrigar as mostras “Luiz Zerbini – Pinturas”, de 25 de abril a 25 de maio, “Guillermo Kuitca + Eduardo Berliner – Pinturas”, de 30 de maio a 29 de junho, e “Vânia Mignone + René Francisco – Pinturas”, de 4 de julho a 10 de agosto de 2014.
“Paintant Stories“, criada em 2000,se destaca na pesquisa que o artista chama de “environmental painting”, que ocupa uma presença no espaço, como uma instalação pictórica. Este trabalho envolve um complexo processo criativo, que une pintura digital – criada pelo artista no computador, a partir de uma impressionante coleta de imagens tanto na internet quanto com a digitalização de fotografias e objetos – com pintura feita com vários materiais, como polímeros, resinas e silicones, e diversos tipos de tinta. “Poderia dizer que é como se tricotasse um suéter, ponto por ponto, tricotando a imagem, os materiais, no computador”, compara ele como se criasse pixels, um a um, com as imagens que serão impressas diretamente na tela, no que ele chama de mapa digital. Depois, diretamente na tela já impressa e estruturada em madeira no local onde é esticada como uma pintura normal, algumas partes da obra serão trabalhadas pelo artista com pintura em silicone, a óleo, e polímeros. “Com os polímeros eu tenho um processo escultórico, pois faço um molde com diferentes cópias. Então o resultado está entre a pintura e a escultura”, diz. “Para mim, pintura é interessante porque pode combinar muitas coisas”, diz Marcaccio.
PINTURA EXPANDIDA
O processo de Marcaccio parte de uma pequena ideia, “que vai se desenvolvendo até ser uma ideia completa, uma história, mas sempre uma ideia em aberto”. “É como uma metáfora de um crescimento biológico, em que a partir de um ponto vai se se desenvolvendo, crescendo, dez metros, mais dez metros”, diz. Ele esclarece que sempre trabalha na proporção 1:1, em relação à peça que quer fazer. “Não é um blow-up, como os imensos anúncios na rua”. “Quero criar uma pintura tão rica e tão cheia de conteúdo como a internet mesma”, acentua. Ele diz ainda buscar “expandir as possibilidades próprias da pintura”.
Ele diz que uma das coisas de que mais gosta é “esta complexidade da pintura, a pintura na modernidade”. “As pessoas falam de formalismo, pintura conceitual, mas eu estou mais interessado no que gosto de chamar de complexidade da pintura. Nós estamos acostumados ao minimalismo, agora temos o macromalismo. A pintura tem que, neste século 21, realmente engajar o espectador, mais do que a pintura feita no passado.
HISTÓRIAS PINTANTES
Hans-Michael Herzog observa que em “Paintant Stories” um fato fascinante é que nenhum espectador será capaz de ver, de conceber, de entender a obra a partir de um único olhar. “Quando a vi na primeira vez, comecei a apreendê-la a uma distância, digamos, de três metros. Depois, eu a segui inteira, mas não pude ver tudo ao mesmo tempo e, terminado o percurso, encontrei-me de novo no ponto inicial. Eu me aproximo e leio outras partes. E pela terceira vez a olho de uma distância de dez metros e vejo uma obra totalmente diferente”, comenta. Por seu tamanho, sua densidade e riqueza de elementos, o curador brinca que quase se “poderia anunciá-la nos Recordes Mundiais do Guinness, como a maior da história da pintura”...
“As pessoas podem construir sua própria narrativa”, afirma Marcaccio. Ele ressalta, entretanto, que “não se trata de um mural histórico ou religioso em uma capela, onde se tenha uma clara linha narrativa, linear”. “É uma gama de possibilidades, onde se transita entre o micro e o macro, onde você constrói sua própria história. Neste sentido, ‘Paintant Stories’ é mais liberal, mais democrática do que um filme, que segue em movimento contínuo. Em minha pintura, você pode voltar um pouco, voltar até o começo, olhar um pequeno detalhe”. Para Marcaccio, este movimento do espectador passa a ser outro “leitmotiv”, o fio condutor do trabalho.
Hans-Michael Herzog vê também uma estrutura sinfônica no trabalho, e Marcaccio concorda, dizendo que há a “ideia do ritornello, de que um tema retorna, a ideia de eco, vibração, reverberação, amplificação”.
PAINTING LAB
Em uma sala, o público poderá ver o processo criativo do artista, em suas várias etapas, em mesas que conterão as partes de sua “pintura total”.
PROGRAMA DIÁLOGOS: FABIAN MARCACCIO
No dia 29 de março de 2014, o artista Fabian Marcaccio irá falar sobre seu trabalho em uma conversa aberta ao público, com entrada gratuita, às 17h, no auditório da Casa Daros, com retirada de senhas na recepção uma hora antes.
TRAJETÓRIA – DOCUMENTA DE KASSEL
Fabian Marcaccio tem uma extensa trajetória no circuito da arte, e já expôs em diversos lugares nos Estados Unidos, na Europa e na América do Sul. Em 2004, o Kunstmuseum Liechtenstein organizou uma retrospectiva de sua obra, no mesmo ano em que uma exposição individual foi montada no Miami Art Museum. Participou de diversas exposições coletivas, como a 44ª Bienal de Pintura Americana Contemporânea, Corcoran Gallery of Art, Washington, DC em 1995, Summer Projects no PS1 Contemporary Art Center, Nova York, em 2002, e Documenta 11, Kassel, Alemanha, em 2002. Ele expõe regularmente em galerias de Nova York, Los Angeles, Berlim, Paris, Colônia, e Barcelona.
No Brasil, fez apenas uma individual, em 1996, na então galeria Camargo Vilaça, em São Paulo, e participou de três exposições coletivas, “Camargo Vilaça BIS”, no Studio Segall, em São Paulo, também em 1996, “Grito”, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, em 1997, e “Rotativa”, na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, em 2001.
“Paintant Stories” foi exibida pela primeira vez em 2000, em Stuttgart, na Alemanha, onde teve uma montagem que circundava completamente o espectador. No mesmo ano, foi mostrada na cidade alemã de Colônia, em que a pintura saía e voltava para dentro do museu. Em 2005, no espaço expositivo que a Coleção Daros Latinamerica mantinha em Zurique, a obra ganhou, com curadoria de Hans-Michael Herzog, uma montagem que para Marcaccio foi “totalmente diferente, dinâmica, onde se podia fazer um circuito sinuoso, em todo o espaço”.