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janeiro 19, 2010
Com curadoria de Hugo Fortes, Urbi et Orbi traz ao Paço das Artes vídeos que partem das experiências de deslocamento do artista contemporâneo
A exposição apresenta vídeos de artistas brasileiros e estrangeiros com seus olhares multiculturais sobre as metrópoles contemporâneas. O filme Dinâmica da Metrópole (2005), baseado em roteiro de 1921 de Moholy-Nagy, destaca-se por atualizar o legado deste precursor da ideia de artista multimídia em trânsito
Os artistas Hugo Fortes e Síssi Fonseca partem de suas vivências em Berlim e trazem ao Paço das Artes, de 26 de janeiro a 04 de abril, a exposição Urbi et Orbi - Para a cidade e para o mundo, composta por 12 vídeos brasileiros e estrangeiros que se focam no olhar revelador do artista contemporâneo, um grande observador em constante mobilidade geográfica à procura de novos modos de ver e sentir. No dia 25 de janeiro, às 19h, ocorre palestra do curador Hugo Fortes seguida de visita guiada à exposição. A partir das 20h, a performance Trajetos da artista e assistente de curadoria Síssi Fonseca marca a abertura da exposição, em evento gratuito e aberto ao público.
Os vídeos descrevem os processos de deslocamento dos indivíduos no ambiente globalizado e transnacional da atualidade. Artistas de nacionalidades diversas usam cidades de vários países (Alemanha, Brasil, Colômbia, França, Japão e Índia) como ponto de partida para discutir a diluição de fronteiras temporais e espaciais que o mundo atual experimenta. Surgem desse processo tensões culturais entre local e global em situações que envolvem identificação e estranhamento, solidariedade e conflito.
Embora centrada na produção atual, Urbi et Orbi – Para a cidade e para o mundo apresenta o filme Dinâmica da Metrópole, experimento cinematográfico de 2005 feito a partir do estudo de um roteiro de 1921-22 do artista László Moholy-Nagy que não chegou a ser filmado à época. A realização ficou a cargo de um grupo de pesquisa da Universität der Künste Berlin coordenado por Andreas Haus, que mesclou imagens originais e atuais para retratar a movimentação da metrópole de Berlim com poéticas construtivistas, dadaístas e futuristas. László Moholy-Nagy, artista e professor da Bauhaus no começo do século XX, é um dos símbolos do espírito de uma época marcada pelas possibilidades trazidas pela eletricidade e pela indústria: viveu nas metrópoles de Berlim e Nova York e transitou por diversas mídias (pintura, fotografia, cinema e design).
“O fenômeno do ‘artista em trânsito’ é o foco principal da exposição. Cada vez mais os artistas contemporâneos desenvolvem suas poéticas a partir de viagens e residências internacionais, o que lhes confere novas visões de mundo e possibilidades de expansão criativa. A ideia da exposição surgiu a partir das nossas vivências por dois anos em Berlim, onde travamos contato com os artistas e trabalhos que serão exibidos.”, explicam Hugo Fortes e Síssi Fonseca.
Sobre o curador
Hugo Fortes é artista plástico, designer e professor da USP. De 2004 a 2006 viveu em Berlim como bolsista de doutorado do Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão (DAAD) e CAPES. Como artista já expôs no Brasil, Alemanha, França, Espanha, Dinamarca, Grécia, Chile, Venezuela, Marrocos, Armênia e Filipinas. Tem participado regularmente de festivais de vídeo como o Videobrasil, o Videoformes (França), a Kunstfilmbiennale (Alemanha), Athens Videoart Festival (Grécia). Entre suas últimas exposições estão Tierperspektiven, no Georg-Kolbe Museum (Berlim, Alemanha), Nouvelles de São Paulo, na École Nationale des Beaux-Arts (Paris, França), Deformes Bienal Internacional de Performance (Santiago, Chile) e Mostra Verbo, na Galeria Vermelho (São Paulo).
Artistas e obras exibidas
Andreas Haus (Alemanha) / Walter Lenertz (Alemanha) e grupo da Universität der Künste Berlin Dynamik der Großstadt, ein filmisches Experiment nach L. Moholy-Nagy (Dinâmica da Metrópole – um experimento cinematográfico a partir de roteiro de László Moholy Nagy)
Alemanha, 2005/6 , 14 min
A partir de um projeto original de 1921-22 do artista construtivista Moholy-Nagy, o grupo de pesquisa da Universität der Künste Berlin (Universidade das Artes de Berlim) realizou, em 2005, uma versão atual do filme Dinâmica da Metrópole, que nunca chegou a ser filmado pelo próprio Moholy-Nagy. Com uma estética embasada no Construtivismo, no Dadaísmo e no Futurismo, o filme retrata as energias formais e emocionais da grande cidade em movimento. A figura de Moholy-Nagy é emblemática na exposição, já que se trata de um dos artistas do início do século XX de grande trânsito internacional, tendo nascido na Hungria e vivido na Alemanha e nos Estados Unidos. Seu fascínio pelo movimento e pela metrópole e sua busca de um olhar inovador podem ser vistos neste filme.
Antje Engelmann (Alemanha) / Cyrill Lachauer (Alemanha)
Ein Kolonialfilm (Um filme colonial), 2008, 5 min
Em um ambiente rural na Colômbia, um casal se encontra para uma dança entre o sonho e a realidade. Incorporando os estereótipos de sul-americanos, o casal de artistas alemães assume uma nova identidade em uma narrativa irônica e aberta, que leva o espectador a questionar a representação dos papéis sociais e sexuais, suas relações de poder e dominação e as aparências.
Cao Guimarães (Brasil) / Rivanne Neuenschwander (Brasil)
Volta ao mundo em algumas páginas, Brasil/Suécia, 2002, 15 min
O vídeo mostra uma ação realizada pelos artistas em uma biblioteca de Estocolmo, Suécia. Os artistas inserem pequenos pedaços do mapa-mundi em meio a livros escolhidos aleatoriamente para serem encontrados por futuros leitores. Imagens de recordações de viagens são intercaladas entre as imagens dos livros, levando a uma reflexão poética sobre o transitar pelo mundo.
Carola Schmidt (Áustria)
Eine Zerstäubung in mehreren Posen (Uma pulverização em diversas poses), Alemanha, 2005, 13 min
Em um velho teatro, antigas atrizes revivem após um sono centenário e disputam uma vaga em uma audição. No porão do teatro, uma personagem limpa com vigor todo o pó do século, dissolvendo sua própria imagem. Outra figura misteriosa engole algodão, enquanto poemas sobre memória e culpa são lidos por várias vozes. Neste vídeo de impressionante resultado visual, a pulverização da história e seu apagamento são apresentadas de forma surreal e poética. O filme reúne atuações de artistas de origem alemã, inglesa, australiana, brasileira e austríaca. O acerto de contas com a pesada história dos países de língua germânica se dá através de um ambiente multicultural contemporâneo.
Hugo Fortes (Brasil)
Noturno, Alemanha, 2006, 5 min
Neva. É noite. Os últimos carros e transeuntes voltam para suas casas. Apenas os faróis continuam a piscar. Captado pela janela do próprio apartamento do artista em Berlim, o vídeo propõe um olhar sobre a melancólica paisagem noturna de Berlim, o tempo, o trânsito e o fluxo da vida.
Lina Kim (Brasil)
Stairs, Alemanha/Índia, 4 min. A artista brasileira, de origem coreana, que vive atualmente em Berlim, realiza este trabalho em sua viagem à Índia. Suas imagens poéticas mostram um homem lavando uma escada de uma rua em uma cidade indiana, onde tudo é trânsito, fluido e passagem.
Martyna Starosta (Polônia)
Pyromanic Exercises (Exercícios Piromaníacos), Alemanha, 2009, 11 min
O vídeo é uma espécie de parábola sobre poder, impotência e terrorismo. Nesta irônica videoperformance, a artista afirma ser capaz de provocar incêndios em lojas de departamento, shoppings centers e outros símbolos do capitalismo a partir de poderes telepáticos. Sua origem polonesa lhe fornece um olhar crítico sobre o capitalismo que invade Berlim cada vez mais.
Rabi Georges (Alemanha)
I fuck you, Alemanha, 2007, 4 min
Nesta videoperformance o artista desafia valores da sociedade, interagindo corporalmente e sensualmente com esculturas e monumentos públicos, em uma atitude iconoclasta e provocativa. Nascido na Alemanha, porém de origem árabe, o artista realiza frequentemente trabalhos em que questiona os choques culturais e os papéis sexuais tradicionais nas culturas ocidentais e orientais.
Rachel Rosalen (Brasil) / Marit Lindberg (Suécia)
Post-diaries (Pós-diários), Japão/Suécia/Brasil, 2008, 15 min
Uma artista brasileira e uma artista sueca reconstroem suas impressões sobre uma visita ao Japão realizada cinco anos antes da edição final do vídeo. As memórias e sensações que restaram dos momentos ali vividos são reelaboradas a quatro mãos, criando uma narrativa fragmentada feita de percepções sensíveis de uma cultura distante no espaço e no tempo.
Silvia Marzall (Brasil/Alemanha)
Moment: raised, videoinstalação com dois canais, Alemanha, 2007, 3 min
Nesta videoinstalação o movimento de um homem e de uma mulher em balanços é mostrado de forma a colocar em suspensão o poder da gravidade e a passagem natural do tempo. O momento do ápice da suspensão no ar ao balançar é estendido causando uma tensão, parecendo que os corpos dos personagens estão prestes a se soltar. As ideias de trânsito constante e fluidez estão expressas metaforicamente no vaivém dos balanços. Silvia Marzall é artista brasileira, crescida na Itália e vivendo na Alemanha. Este trabalho foi realizado em Berlim, em cooperação com o artista australiano Govinda Lange.
Síssi Fonseca (Brasil)
Trajetos, performance, 20 min, 2010
Nesta performance a artista circula entre os visitantes da exposição, caminhando de diversas formas, como diferentes pessoas em diversas situações nas ruas das metrópoles. Ela observa o gestual dos transeuntes e interage com o público. Ao final ela abre um imenso mapa imaginário de uma metrópole, sobre o qual circula e delineia seus passos.
Ulf Aminde (Alemanha)
Weiter (Continue), Alemanha, 2003, 10 min
Em um terreno abandonado, punks brincam de dança das cadeiras. Um comentário irônico sobre os costumes e os trânsitos sociais.
Wagner Morales
Les Bonnes Manières (As boas maneiras), videoinstalação com dois canais, França/Brasil, 2006, 8 min
A partir de uma residência realizada em Paris, o artista observa os costumes franceses, confrontando a imagem que se tem da França propagada em seus livros de boas maneiras com a realidade da vida diária encontrada no metrô e nas ruas desta metrópole europeia.