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novembro 12, 2009
Residentes LABMIS + Workshops
MIS apresenta a Mostra LABMIS, primeira coletiva de resultados do programa de residência artística do seu laboratório de novas mídias
A primeira Mostra LABMIS apresenta os trabalhos dos artistas selecionados pelo edital Residência LABMIS, Anaisa Franco, Claudio Bueno, Guilherme Lunhani e da dupla Felipe Sztutman e Rodrigo Bellotto. Conta também com a participação de Caetano Dias, Alexandre Fenerich e Paulo Meira, artistas convidados em 2008 para o desenvolvimento de obras inéditas, marcando o início das atividades do LABMIS, primeiro laboratório de novas mídias instalado em um museu público brasileiro e também pioneiro na seleção por meio de edital em uma instituição pública. Workshops com artistas residentes integram a programação
Com abertura em 17 de novembro e visitação de 18 de novembro de 2009 a 03 de janeiro de 2010, o MIS recebe em seu espaço expositivo a primeira mostra coletiva com os sete trabalhos realizados por meio da Residência LABMIS entre dezembro de 2008 e novembro de 2009. Com obras voltadas às linguagens contemporâneas de caráter tecnológico, a Mostra LABMIS apresenta projetos selecionados por meio de edital. Realizados durante residências artísticas, alinha-se a formas de fomento, criação e pesquisa artística implementadas em várias instituições internacionais.
O LABMIS, Laboratório de Novas Mídias do Museu da Imagem e do Som, é um espaço de reflexão, intercâmbio de conhecimento e experimentação em novas tecnologias. Atua na confluência entre arte, ciência e tecnologia, e oferece espaço para ações de difusão da cultura digital para artistas consagrados, emergentes, além de pesquisadores, estudantes e público não especializado.
A primeira edição da Residência LABMIS, realizada em 2009, contemplou Anaisa Franco, Claudio Bueno, Guilherme Lunhani e a dupla Felipe Sztutman e Rodrigo Bellotto. O júri dessa primeira edição contou com a participação da jornalista Juliana Monachesi e dos artistas Ruggero Ruschioni e Gisela Domschke na pré-seleção e da crítica Angélica de Moraes, da pesquisadora Priscila Arantes, da artista Rejane Cantoni e do músico Wilson Sukorski na seleção final. O LABMIS também convidou no início de suas atividades os artistas Caetano Dias, Alexandre Fenerich e Paulo Meira, cujas obras também serão expostas na Mostra LABMIS.
Ao longo dos três meses de residência no LABMIS, os artistas selecionados tiveram livre acesso à infraestrutura tecnológica do espaço. Também contaram com suporte de orientadores e técnicos especializados, para o aprofundamento de suas pesquisas. Além disso, receberam uma apreciação crítica de sua produção por parte de um especialista na área e participaram de encontros públicos de discussão dos projetos. Agora, as obras desenvolvidas na Residência LABMIS são exibidas nesta primeira Mostra LABMIS, que contará com a publicação de um catálogo da coleção MIS.
As obras
Anaisa Franco desenvolveu Realidade suspensa, instalação composta por um cilindro de acrílico, no qual está inserida uma máquina de fumaça programada. Sobre a fumaça que preenche seu interior, são projetados três vídeos sincronizados, acompanhados por um áudio. Nessa obra carregada de metáforas, a fumaça evoca uma nuvem trazida do céu. A artista busca colocar em evidência a posição do homem na sociedade, os seus objetos de consumo e a busca de ideias inatingíveis. A fim de transmutar espaços e limites, ela investiga projeções sobre esculturas imateriais, translúcidas e impalpáveis, e cria linguagem híbrida mesclando recursos virtuais ao suporte físico.
A residência artística de Claudio Bueno resultou em Estrelas Cadentes, uma instalação multimídia que parte de um “céu” composto por 150 pequenos balões pretos carregados com pó brilhante roxo. O público poderá enviar mensagens com supostos desejos para um celular específico. Ao receber a mensagem, o aparelho faz acender uma luz azul sobre um dos balões, que estoura, jorrando todo o pó contido dentro dele. Semelhante a uma estrela cadente, desaparece, deixando apenas um rastro de cor no chão do espaço expositivo, como vestígio das presenças, interações e desejos compartilhados pelos visitantes. Dentre outras aberturas, o trabalho reflete sobre a produção de espaços interativos a partir da utilização das chamadas mídias móveis.
Felipe Sztutman e Rodrigo Bellotto realizaram Objeto em forma de espaço, um ambiente imersivo com propriedades físicas controladas eletronicamente. No interior de um cubo negro suspenso no ar, dispositivos de luz, som e aroma criam uma experiência sensorial completa. Juntamente com o mecanismo luminoso, caixas acústicas e odorizantes são comandados por um banco de dados que cria variações múltiplas. Trata-se de uma colagem randômica de experiências combinadas e recombinadas que inserem o espectador em uma narrativa espacial. O visitante adentra um espaço imersivo singular, cujas informações visuais, sonoras e olfativas podem oferecer significações complexas, inesgotáveis.
Guilherme Lunhani apresenta Objeto - Partículas sonoras, obra que utiliza programação em PD (Pure-Data) SuperCollider e Processing. Compõe-se de uma mesa sensível ao toque sobre a qual serão projetadas pequenas circunferências, a representar visualmente objetos musicais em um espaço. O toque do público na mesa propicia interações físicas entre as circunferências, que são repassadas para o campo musical, possibilitando arrastar e "empurrar" os objetos musicais, modificando em tempo real as posições sonoras em um espaço imersivo. Partindo da investigação do funcionamento do controle da localização sonora em um determinado local, a obra busca mostrar que características físicas são capazes de determinar o caminho do próprio som.
O trabalho de Alexandre Fenerich, intitulado Sob chão móvel, é um cinema-documentário que representa a experiência de um passageiro em um trem, partilhada entre imagens e sons – à maneira do cinema de Dziga Vertov -, de modo a conduzir o espectador/viajante de um ambiente naturalista para uma situação mais livre deste tipo de representação. O trabalho conta com três projeções de imagem, posicionadas nas paredes laterais e na tela frontal do auditório do MIS, além de projeção sonora em cinco canais. O espetáculo conta, ainda, com quatro performers: três músicos (violoncelo, saxofone e eletrônica) e um VJ. Ao longo da apresentação, sua participação encaminha-se da estrutura naturalista e documental para uma situação musical, esfacelando a narrativa inicial.
Caetano Dias apresenta Mar, projeção sobre algodão de um vídeo 15’20” em looping. A obra, um livre experimento feito a partir de imagens gravadas num simulador de mar em tempestade, integra a série do artista composta por nove ensaios sobre a água. A partir deste elemento, Caetano investiga uma forma mais fluida de relação entre corpo e espaço, buscando um limite diluído que desaguaria em corpos instáveis e em sentidos desfeitos, chegando a um possível corpo etéreo, a sugerir uma memória em suspensão.
Paulo Meira desenvolveu o trabalho intitulado OMA – sessão 15 minutos no Jardim de Alice Coelho, em continuidade à pesquisa artística O Marco Amador, realizado desde 2003. Sua residência artística resultou em três obras, um vídeo de 21 minutos, uma videoinstalação e um vídeo interativo (game art), que envolvem uma mulher barbada, uma modelo de atirador de facas, um mágico e um autômato eqüino, num clima que mistura paixão, morte e repugnância pelo abjeto. As narrativas construídas imageticamente falam da corporeidade do homem contemporâneo em meio às múltiplas experiências que o envolve.
Integrando a programação, serão ministrados workshops pelos artistas residentes envolvendo a temática de seus projetos e o processo de criação. As inscrições podem ser feitas pelo site do MIS.
De 23 a 26 de novembro, das 14h às 19h, Anaisa Franco, a partir do processo de desenvolvimento conceitual e técnico de Realidade Suspensa, faz um recorte na produção contemporânea nas artes visuais, cinematográficas e arquitetônicas, abordando projetos que dialogam com a desconstrução do inconsciente por meio da produção de universos que hibridizam o físico e o digital no workshop A hibridização do físico e do digital: desconstrução do inconsciente.
A dupla Felipe Sztutman e Rodrigo Bellotto ministra o workshop O espaço como protagonista do discurso poético, discute as possibilidades do espaço enquanto suporte para um discurso poético. Em cada encontro, será apresentada uma instalação espacial realizada com video mapping buscando despertar a curiosidade e o interesse dos participantes para a realização de uma obra coletiva final. O workshop acontece nos dias 19, 20, 26 e 27 de novembro, das 14h às 18h, e no dia 29 de novembro, das 16h às 20h.
O artista residente Guilherme Lunhani organiza o workshop Introdução ao SuperCollider, nos dias 27 e 28 de novembro e 02, 09, 11 e 12 de dezembro, das 15h às 18h30. A oficina apresentará os conceitos básicos de linguagem, servidor/cliente, síntese sonora e sampleamento no SuperCollider, uma poderosa ferramenta para síntese sonora em tempo real e composição algorítmica.
No workshop O processo de criação em Arte e Meios Tecnológicos, Claudio Bueno trata do processo de construção da obra Estrelas Cadentes. Abordando os aspectos técnicos da construção de interfaces mecânicas, levanta temas como mobilidade, controle, computação pervasiva, virtualidade, fisicalidade, ruído, tensão, fragilidade, rigidez e celular. Como exercício prático, pretende-se que cada participante tenha um projeto pessoal em Arte e Tecnologia, formatado e editado para possível aplicação em editais como o do próprio LABMIS. O workshop acontece no mês de dezembro, nos dias 08 a 11, das 18h às 22h, e no dia 12, das 14h às 18h.
Centro de intersecção entre arte, ciência, sociedade e tecnologia, o LABMIS é o primeiro laboratório de novas mídias instalado em um museu público brasileiro e pioneiro na seleção por meio de edital em uma instituição pública. Fundado em 09 de agosto de 2008, foi concebido pela atual diretoria da instituição, com base na consultoria de um corpo de artistas, críticos e pensadores. Está instalado no 2º pavimento do MIS, em uma área dividida em sala de workshop, oficina de interfaces, sala de pós-produção, estúdio de som, um lounge (com acesso gratuito à internet sem fio) e auditório. Seu espaço é voltado para experimentação, pesquisa e produção artísticas. Além da realização de residências artísticas, conta com um programa de comissionamento artístico e oferece cursos, palestras e workshops para os mais diversos públicos.
Sobre o programa Residência LABMIS
O programa inspira-se na tendência mundial de fomentar o desenvolvimento artístico no campo das novas tecnologias. A primeira edição do programa, em 2008, contou com três residentes convidados – Caetano Dias, Paulo Meira e Alexandre Fenerich. Na segunda edição, o LABMIS lançou edital público para a seleção de artistas interessados em desenvolver seus projetos no espaço. Os autores dos quatro projetos contemplados – Anaisa Franco, Claudio Bueno, Guilherme Lunhani e a dupla Felipe Sztutman e Rodrigo Bellotto – têm acesso livre à infraestrutura tecnológica do LABMIS, além de contar com o suporte da sua equipe de orientadores e técnicos especializados. Após a conclusão dos trabalhos, os artistas têm um texto crítico sobre suas obras (escrito por um profissional designado pelo MIS), participam de uma mesa redonda e da Mostra LABMIS, coletiva de resultados da Residência.
Alexandre Fenerich é formado em Música e mestre em composição musical. Compositor, flautista e professor, trabalha com música eletroacústica e atua também junto ao teatro, ao cinema e às artes plásticas. Teve obras executadas no Brasil, na América do Sul, na França (GMEB – Marselhe; Futura 2005 - Festival Internacional d'art acousmatique - Ville de Crest), nos Estados Unidos (Darthmouth College) e na Alemanha (Festival Maerz Musik - Berlim). Recebeu o Prêmio Funarte pela obra A Escada Infinita.
Anaisa Franco é artista, transitando entre o Brasil e a Europa. Em 2008, desenvolveu a escultura interativa Expanded Eye durante o Interactivos, no MediaLab Prado, Madrid. Em 2007/2008, foi premiada com a bolsa Proyecto Expansion Digital do MECAD (Barcelona), para desenvolver a obra Connected Memories. Em 2006, enquanto fazia seu mestrado em Digital Art and Technology na Universidade de Plymouth (Inglaterra), contemplada pela bolsa Alban, desenvolveu o projeto Controlled Dream Machine no MediaLab Madrid, na Espanha. Além disso, a artista tem participado de diversas exposições no Brasil e no exterior.
Caetano Dias é graduado em Letras. Sua obra trata do sagrado e do profano, do íntimo e do público, em um jogo de significações. Realizou individual na Temporada de Projetos (Paço das Artes, São Paulo, 2002) e participou do 7° Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas, ocasião em que recebeu prêmio (MAM, Salvador, 2000). Vive e trabalha em Salvador.
Claudio Bueno é artista multimídia e mestrando em Artes Visuais na ECA/USP. Seus trabalhos atuam principalmente em torno da arte em mídias móveis, locativas, interfaces, net art e vídeo. Em 2009, exibiu seus trabalhos nas exposições Grau Zero no Paço das Artes, Demasiada Presença na Escola São Paulo e Connecting Urban Spaces nas Filipinas. Além da Residência LABMIS 2009, foi contemplado com o Rumos de Arte Cibernética do Itaú Cultural e foi indicado ao prêmio Sérgio Motta, entre outros.
Felipe Sztutman cursa graduação em Design na FAU/USP. Interessado em vídeo, fez seu primeiro trabalho nesta plataforma logo no primeiro semestre do curso, aprimorando desde então as questões teóricas e técnicas. Ingressou no estúdio BijaRi e também atua como Visual Jockey. Tem como interesse de pesquisa a psicologia da percepção e ensaia maneiras de extrapolar a tela em seus trabalhos como VJ.
Guilherme Lunhani iniciou estudos musicais a partir do cravo. Ao ingressar na Unicamp em 2003, interessou-se por composição, onde começou a produzir música de forma algorítimica, establecendo pequenas regras e compondo de maneira improvisada a partir delas. O contato com tecnologias musicais na universidade, principalmente softwares como PD e SuperCollider, ampliou o processo para a produção eletroacústica. O interesse por visualidades na música iniciou-se com a residência artística no LABMIS em 2009, onde começou uma pesquisa interdisciplinar, retratando um lado menos processual e mais sensitivo.
Paulo Meira trabalha desde o início da década de 90 com videoperformance, fotografia, instalação e pintura. Sua obra é carregada de simbolismos e habitada por criaturas bizarras que referenciam personagens retratados na obra de pintores históricos como Velazquez e Brueghel.
Rodrigo Bellotto, ex-aluno da FAU-USP, migrou do projeto arquitetônico para os projetos de interfaces de comunicação. Vídeo, web, novas mídias e arte tecnológica são focos de seu estudo e trabalho. Trabalhou com Rafic Farah, BijaRi e Ruth Slinger, e hoje faz parte do grupo de Vjs New York, New York.