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agosto 23, 2004

Assim se pratica TAZ

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Assim se pratica TAZ

Rubens Pileggi Sá

A sociedade de espetáculo - Para compreender o que é TAZ é preciso partir do pressuposto que se vive hoje em uma sociedade que tende ao controle de todas as variantes de uso e ocupação de espaços, no sentido que Guy Debord, autor de "A Sociedade de Espetáculos" emprega a esse termo. Ou seja, onde os tentáculos da "máquina do poder" possam monitorar as ações de cada indivíduo ou grupo, de modo a manter a mesma estrutura vigente, aparentando a defesa da liberdade e da democracia de mercado. E em nome do progresso e do desenvolvimento econômico, com a promessa do desenvolvimento social. Em realidade, trata-se da manipulação de desejos, onde a ditadura do novo sempre aparece como repetição do mesmo.

Assim, toda novidade logo é absorvida, passando a trabalhar a favor de tal engrenagem, por mais radicalmente contra essa situação pareça ser. Por outro lado, esse sistema vai gerando brechas, fendas, fissuras, vãos, pelos quais é possível inventar meios de criar uma cartografia cujo território pode ser explorado, sem que, ao ser absorvido pelo sistema, deixe de inocular seu mais perigoso veneno, que é o de apostar na improvisação, no acaso e na contradição como formas paradoxais de existência.

Stewart Home, no livro "Assalto à Cultura", traça uma genealogia dessa (anti) tradição subversiva, vindo desde os Dadaístas - grupo de artistas e intelectuais surgido na Europa, em 1916 - até o movimento punk. Termos como "assalto à cultura", "terrorismo poético", "guerrilhas estéticas", "utopias kamikazes", invertem a noção de uma vida condenada à repetição de um modelo considerado "natural", mas que não passa de mitificação do modo de perceber o que está ocorrendo à nossa volta, do que está ao nosso alcance.

Criar um pensamento que possa inocular ao menos inquietação nesse estado de coisas é o que se propõe Hakim Bey, o "misterioso" autor do livro "TAZ: Zonas Temporárias Autônomas", ao apontar a criação de espaços libertários por entre as rígidas estruturas do poder - promovendo ações como "seqüestrar alguém e faze-lo feliz" e "invadir uma casa e deixar lá um objeto TAZ" - como parte de táticas empregadas por esse tipo de a®tivismo cultural. A®tivismo - O filme "Tiros em Columbine", de Michael Moore, ganhador do oscar de melhor documentário do ano passado é, em si, um bom exemplo de TAZ e, no momento em que ele e os dois garotos que ficaram debilitados com os tiros na escola criam uma situação para que uma rede de supermercados deixe de vender balas de revólver, essa idéia se torna clara e concreta.

Há também ações que são veiculadas via Internet, em que pessoas que nem se conhecem se encontram para fazer algum tipo de performance, como ir ao Mac Donald's pedindo algo absurdo, fora do cardápio da rede fast-food, e outras ações, como deixar livros em bancos de praça, ônibus, etc. no dia 11 de setembro. Ou seja, cada um pode se tornar um agente TAZ, criando situações não usuais no cotidiano, em configurações que se formam em dado momento para, momento seguinte, tornar-se um acontecimento inesperado, surpreendente, de ordem poética e política.

Apesar de parecer tão sólido, onde todas as possibilidades são calculadas e tudo é simulado para não haver, praticamente, nenhum elemento surpresa que atrapalhe o desempenho da "máquina de poder", um beijo na boca roubado, na sala central dos computadores, pode levar à pane - senão sistematicamente, ao menos temporariamente - todo um mecanismo de controle interessado em resultados lógicos e práticos.

Esse texto é uma adaptação de uma matéria escrita para o fanzine Lost Paradise, de Maria Priscilla Gallo.

Posted by Rubens Pileggi Sá at 3:00 PM | Comentários (4)