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abril 14, 2013
Performance de aprendizagem em grupo por Clara Machado
Performance de aprendizagem em grupo
CLARA MACHADO
Caminhando, Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza, CE - 17/04/2013 a 17/05/2013
- Sobre o corpo e o corporal e a curadoria em questão por Cecília Bedê
- Estar com a arte é tudo que pedimos por Juliana Castro
- Um corpo inteirum por Kennedy Saldanha
- Ca-mi-nhan-do por Mel Andrade
Um e-mail recebido. Oinício de tudo. Convocatória de seleção para um grupo de estudos. Tema abordado: curadoria. Não é pequeno meu interesse acerca deste assunto. Concorrer a uma vaga? Sim, claro, por que não? Sorriso no rosto, um convite para participar como ouvinte. Horários e locais acertados, iniciamos com muito entusiasmo. Minha participação foi ativa. Uma palavra que resume o processo: descobertas.
Já nos primeiros textos lidos me deparei com informações novas. Foi uma surpresa me dar conta que a curadoria bebe da fonte da filosofia. Uma obviedade que eu jamais tinha pensado. Sete moças e um rapaz leram diversos textos, assistiram vídeos, debateram calorosamente o conteúdo apresentado. Foram muitas horas de palavras trocadas e uma vontade visível de conhecimento. Todos ficamos cientes de que curadoria, assim como a própria arte contemporânea, é algo que ainda está se construindo. Ou seja, não fechamos nenhum conceito para ela, não a enquadramosem nenhum molde.
Passada a fase de estudos, começamos a discutir a segunda etapa do projeto: a exposição que iríamos propor. Após visitas ao acervo do Centro Cultural BNB, conseguimos selecionar algumas obras de artistas contemporâneos brasileiros. Em todas, algo em comum: o corpo implicado. E eis que surge o néctar da nossa nova pesquisa: adentrar o corpo, em vários sentidos, virou nossa meta.
Qual corpo descobrir naquelas obras? O que elas dizem? Ou melhor, o que elas gritam? Algumas me causaram um embrulho na barriga, reação corporal sintomática a algo que mexe, incomoda, atinge. Náuseas, formigamento. Outras, ao contrário, através da beleza estética,me proporcionaram sensações prazerosas, uma contemplação agradável.
Após o momento de simplesmente sentir o que vi, surgiram as questões e a necessidade de respostas. O grupo todo estava tocado por aqueles corpos. Queríamos adentrá-los e achar as soluções para as nossas dúvidas. A teoria fez-se presente. Alguns significantes marcaram os debates e as cabeças dos participantes: coisa corporal, potência, o corpo não aguenta mais, performance, estar no mundo, precariedade, gesto, sentir.
O corpo enquanto arte, que antigamente não era interesse de estudo para mim, virou objeto de desejo. Me atento a qualquer livro ou trabalho que aborde o tema.
Confesso que esta pesquisa não modificou apenas o meu interesse acadêmico, mas a minha performance cotidiana. O dia-a-dia, a fila de espera do ônibus, o falar ao telefone, a dança descontraída, tudo sofreu influência do que foi trocado no grupo.
Mas, voltando às questões levantadas, me pergunto: Afinal, que corpos são aqueles? Meu corpo, o corpo de cada um de seus autores, corpos de personagens? Um homem-cachorro. Uma mulher flutuante no oceano. Um ser com a cabeça coberta de lã. Um homem que entra num matadouro e parece perturbar-se com algo que não está explicito. Uma moça estática numa trave. Um rapaz que sempre está olhando para a câmera. Bandejas, um diário escrito em bandejas. Ah...E elas me trazem tantas perguntas... Objeto feito para servir comida servindo palavras. Desabafos. Seriaum regurgitar do viver da artista? Da artista? Ficção/ real?Prosseguindo a caminhada... Quem é a pessoa que se maquia naquele vídeo? E aqueles calos que mais parecem casas? Quem os/as construiu? Mar adentro, uma luz incessante e um corpo que se move.Quem será? Um homem? Uma mulher? Um ser de outros mundos? Um ser marítimo? Corpos de quem ou de que vimos nessas obras? Meu? Seu? Marinas? Rodrigos? Julianas? Ficções? Realidades? Coisas? Corpos? Afinal que arte é essa?
Tudo vai para parede e, no momento final, ainda temos novidades, novas questões, cores que viram perguntas. Paredes brancas, cinzas, vermelhas, beges? Que palavras usar no papel, na parede, nisso ou naquilo? O ciclo nunca cessa. Uma performance. Algo a mais para compor a exposição. Se a questão inicial era: afinal, o que faz um curador e o que devo fazer para me tornar uma? Eis uma possível resposta, bem aqui, onde atravesso meu corpo em caminhada.
Ainda estamos em processo, não achamos respostas para algumas das questões surgidas. Mas, pensamos que o melhor talvez seja abrir mais perguntas, que a partir da exposição cada expectador saia com um turbilhão de coisas na cabeça. Coisas corporais? Quem sabe? O que desejo é que possam passar pela metamorfose que passei ou ao menos algo parecido com isso. E quanto à curadoria? Eis que se faça todo dia.
Bibliografia:
ALVES, Cauê. A curadoria como historicidade viva. In Sobre o Oficio do Curador. Alexandre Dias Ramos (org.). Porto Alegre, RS: Zouk, 2010.
ROLNIK,Suely. Afinal, o que há por trás da coisa corporal? Reproduzido in: Manuel J.J. Villel e Nuria E. Mayo (Edit), Lygia Clark, FondacióAntoniTàpies (Barcelona), Réunion dês MuséesNatoinaux/MAC, galeriescontemporainesdesMusés de Marseille (MAreslha), Fundação de Serralves (porto) e PalaisdesBeaux-Arts (bruxelas), 1997; p.233.
Panorama do pensamento emergente – Cristiana Tejo (coord.): colaboração de Ana Maia & Felipe Quérette. Porto Alegre, RS: Zouk, 2011.
Marcelina, Revista do Mestrado em Artes Visuais da Faculdade Santa Marcelina. Ano 1, v.1 (1. sem. 2008). – São Paulo: Fasm, 2008. Semestral.
ASSUMPÇÃO, Pablo. Uma nova ideologia do real. Disponível em:
LAPOUJADE, David. O corpo que não aguenta mais. Disponpivel em:
O corpo Implicado: leitura sobre o corpo e performance na contemporaneidade. Antonio Wellington de Oliveira Junior (org.)- Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2011.
Performance Ensaiada.: ensaios sobre performance contemporânea. Antonio Wellington de Oliveira Junior (org.)- Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2011.