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setembro 6, 2012
Elisa Bracher - A fragilidade do chumbo por Elisa Byington
Elisa Bracher - A fragilidade do chumbo
ELISA BYINGTON
Elisa Bracher, Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ - 10/09/2012 a 20/10/2012
Escala, peso, equilíbrio, são desafios constantes no trabalho de Elisa Bracher. Seja nos desenhos, em grandes folhas de papel de arroz que mal pousam na parede, tamanha a leveza, nas gravuras em matrizes metálicas de dois metros, nas esculturas em toras de madeira que se equilibram vertiginosas sobre si mesmas, seus trabalhos desafiam a gravidade, na indagação permanente do equilíbrio.
Para a artista, a consciência do peso da matéria parece coexistir com o segredo de sua leveza, como evidenciado na instalação “Ponto final sem pausas”, na qual uma esfera de chumbo de oito toneladas “flutuava” sobre a cabeça dos visitantes no salão central do MAM-RJ. A ousadia titânica da esfera escura, apoiada em cabos de aço ancorados na estrutura do museu, obedecia a rigorosos cálculos matemáticos que iam de encontro à intuição de equilíbrio da artista visionária. O “ponto final”, posto no espaço como um corpo celeste, tinha como cenário não apenas a arquitetura modernista, com a qual a obra media forças e se completava, mas também três “lençóis” de chumbo, segundo definição da artista - um oxímoro - de 20 metros cada um, suspensos no ar, sem tocar o chão.
O trabalho com o chumbo - metal antigo que ameaça e protege - surgiu na obra da artista ali, pela primeira vez. Mas, esteve sempre presente no imaginário e nas referencias artísticas de Elisa, desde as gravuras seminais de 1988, em homenagem às pinturas negras e Caprichos de Goya, obras emblemáticas de uma poética avessa à oficialidade das cortes, reveladoras do sofrimento do artista saturnino, marcado pela intoxicação com as tintas carregadas do metal ligado ao planeta da Melancolia. Nelas a artista definia o traço, as linhas oscilantes, intensas e vigorosas, que distinguiriam seu modo singular de sulcar a superfície das matrizes, de riscar o papel, indicar volumes, construir paisagens.
A presença do chumbo, desta vez, parecia remeter a outra série de “pinturas negras”: as telas derradeiras de Mark Rothko para a capela de Houston, nas quais o artista pintou o inexprimível. A arquitetura monocromática de Elisa, no entanto, trabalhava com outra luz. A luminosidade das grandes vidraças do museu, atribuía sutis tonalidades a um mesmo cinza e deixava entrever, no traçado das emendas das folhas de chumbo, geometrias familiares, formas já presentes no repertório linguistico da artista, exploradas nas gravuras por meio do máximo contraste cromático, preto e branco.
É possível que o uso do metal tenha servido para apontar a proximidade de Elisa a determinada genealogia de artistas e a evidenciar sua empatia com os que vivem profundamente o peso da condição humana. Um peso em relação ao qual a artista não se furta e enfrenta no trabalho diário com crianças marginalizadas, compartilhando de uma história que não narra, vive.
As novas esculturas em madeira e chumbo evocam um choque cósmico. Mostram a queda dos corpos, quando foi rompido o equilíbrio. São peças entre o geométrico e o informe, nas quais, o material distinto de cada uma das partes, propõe uma correlação de forças que salienta o peso da madeira sobre a massa de chumbo que não lhe resiste, cede, se deforma. Há algo lá embaixo ou atrás, que ficou intocado mas sustenta um peso descomunal - diz a artista. Estas peças mostram sua deformação. Talvez por isso, pela primeira vez, elas não sejam leves.