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maio 31, 2010
Do museu ao mundo por Marília Sales
Do museu ao mundo
Marília Sales
Especial para o Canal Contemporâneo
O vídeo inicia com uma voz masculina, narrando o conceito formulado por Hélio Oiticica que traduz a ideia de Parangolé: "... o Parangolé é a anti-arte por excelência".
Em seguida, aparece em cena a abertura da exposição de Hélio Oiticica no MAM – RJ/2002, pessoas no jardim bebericando, conversando, entre elas Moacir dos Anjos (crítico e curador). Neste momento, Lourival Batista conta à Moacir dos Anjos que retirou um Parangolé da exposição e substituiu por seu casaco e que quando a festa chegou ao fim ele não conseguiu devolver. Os seguranças do museu impediram sua entrada, pois estava na hora de fechar.
Batista interpela Moacir dos Anjos; “O que devo fazer? Posso levar para casa?” Vozes levantam a idéia de original, cópia, cópia-original...
Pessoas usam, brincam com o fato da acessibilidade ao Parangolé - contrariando a proposta atual - inacessível.
"Do museu ao mundo, o museu é o mundo!", grita Lourival pela rua usando o Parangolé a caminho de casa, como se evocasse Hélio Oiticica.
No outro dia, acontece a devolução. O vídeo segue como uma documentação, um registro de uma ação artística com atitudes do que Hélio Oiticica nos fez entender como Parangolé, uma atitude artística de anti-arte. Será uma performance, um registro, um documentário...?
O vídeo carrega uma preocupação da não-preocupação formal. Característica que se repete em outros trabalhos do Lourival. Sem grandes efeitos, sem espetacularização, cria em cima dos limites da idéia de arte, da instituição, e da ética.
O vídeo de Lourival Batista, Parangolé, 2008, é carregado de signos organizados para a construção de uma mensagem, que em muitos momentos falam sem palavras, temperado o tempo todo por atitudes. Sua lógica constitutiva absorve o youtube como um “sistema de circuito elétrico” – idéia apresentada por McLuhan: um sistema eletrônico que envolve o leitor, como editor e autor.
O artista constrói um ‘personagem’ cheio de liberdade e de questionamentos, do que compreendemos como Parangolé. Oiticica nos trouxe para ser usado, para fazer parte de interações com o espectador, para sair do espaço aurático de obra e, agora está em vitrine, longe do contato. Está institucionalizado.
Batista, provoca um modo de representação da sua performance/vídeo, significados de linguagem construídos por Oiticica. Porém, essa aliança significante e significado não se esgota.
No momento em que Batista pergunta ao curador o que fazer com o Parangolé, - “levo para casa?” – ele indaga a posição institucional em relação ao seu ato. Ato este em concordância com a proposta de Oiticica. O artista assume um papel de ‘mestre de percepção’, passa um grifo na situação e nos devolve, provocando uma atenção para a questão: como se transforma a arte dentro da instituição? Nos envolve na responsabilidade de aceitação muda.
Toda essa ação interpretante do vídeo veio com a construção de significados a partir de uma codificação construída por Hélio Oiticica e documentada - poderíamos até dizer que absorvida como signo, ou mesmo como linguagem - pela História da Arte. Situações inseridas no sistema social, econômico e cultural da arte, seja para alterá-lo, seja para confirmá-los, parafraseando Lucrécia Ferrara.
Lourival Cuquinha
Lourival Batista. parangolé, 2008. 7'
Muito legal o texto, as complexidades que envolvem a relação arte e instituição são questões releventes para debates atuais.
Parabéns!!
Posted by: Deise de Brito at junho 1, 2010 9:06 PMO importante registro-obra de Lourival e o texto de Marília, colocam AINDA [como pode??] a grande questão da institucionalização de uma arte que, há tempos, não admite-se como tal. Bora continuar insistindo!!
Posted by: Gilberto Vieira at junho 15, 2010 1:21 AM