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outubro 29, 2009
7ª Bienal do Mercosul: a minha escuta por Cecília Bedê
7ª Bienal do Mercosul: a minha escuta
Uma introdução / “A Árvore Magnética”
Especial para o Canal Contemporâneo
Uma Introdução
Ir a Porto Alegre ver a Bienal do Mercosul me trouxe muitos anseios. Chegar em uma cidade nunca antes visitada, tendo três dias pela frente de experiências ainda não mensuradas é o principal.
A sétima edição da Bienal traz o nome: Grito e Escuta, com curadoria geral de Camilo Yãnez (Chile) e Victoria Noorthoorn (Argentina), uma proposta focada na valorização do artista como produtor em todas as instâncias que envolvem não só a Bienal, mas todo o circuito artístico, universal e atemporal. Os artistas produziram seus trabalhos, organizaram exposições, desenvolveram projetos de educação e comunicação. Essas ações (Grito) falam diretamente ao espectador (Escuta) por deixar transparecer todo esse processo.
As sete exposições estão localizadas entre o centro da cidade e o lindo Guaíba, e permanecem até o dia 29 de novembro deste ano. Apesar do período expositivo pré-determinado, essa Bienal pretende extrapolar esse tempo com ações que iniciaram antes e projetos que vão perdurar após seu encerramento. Através do Projeto Pedagógico e da Radiovisual, a Bienal vai conseguir comunicar processos criativos, para além de seu público e espaços expositivos.
Pretendo então pontuar momentos que fizeram os meus três dias de Bienal permanecerem em minha memória por bem mais que isso. Em séries de textos farei observações sobre as exposições evidenciando o potencial encontrado por mim em cada uma delas.
O primeiro contato com a Bienal acontece na partida em direção ao Cais do Porto, onde cinco exposições acontecem, em seus grandes armazéns. Pelas ruas do centro, com o movimento do comércio funcionando normalmente, já sinto a presença de algo novo acontecendo. Romantismo meu? Pode até ser, mas sinto que a cidade se prepara para isso.
Os imensos armazéns que ficam às margens do rio permitem convenções e ousadias no que diz respeito a expografia. Às obras, eles propiciam momentos de solidão, protagonismo ou de extrema proximidade umas com as outras e o mais interessante, encontram-se em um lugar da cidade onde seus moradores ou visitantes não tem acesso normalmente.
“A Árvore Magnética”
Em cada armazém do cais do porto, uma proposta curatorial foi traçada por diferentes profissionais. Minha primeira incursão foi pela exposição intitulada “A Árvore Magnética” com curadoria do artista chileno Mario Navarro. O título sugere a existência de um magnetismo envolvendo obra, artista e curador, e incita movimento e troca de forças.
Os trabalhos dessa exposição vão sofrer dez transformações durante todo o período de exposição. Adição, subtração e mudanças internas antes projetadas pelo artista. O objetivo é mostrar ao público, obras que não estão prontas ou acabadas, deixando uma permanente interrogação.
Essa idéia pôde ser vista ainda no dia da abertura na instalação, “Momentos Vandalizáveis” do artista peruano José Carlos Martinat. Duas estruturas grandes, limpas e brancas, onde representações de prédios brasileiros, instituições de poder, como MASP, Pinacoteca de São Paulo, Palácio do Planalto, Congresso Nacional e outros, foram pichados por diferentes grupos a convite do artista.
Durante todo o período da Bienal, essas estruturas vão ser repintadas e pichadas várias vezes. Nesse gesto, vê-se claramente a existência de uma crítica ao poder e traz um aspecto político ao trabalho.
Emblemática de curadorias já realizadas, essa proposta não tem pretensões de ser única e inovadora. Exposições que tratam de processos artísticos, que convidam os artistas para pensar sua obra a partir de um dado contexto e da ação do público acontecem a algum tempo. “Quando as atitudes tomam formas”, curadoria de Harald Szeeman, realizada em 1918, é o melhor exemplo. Nela o improvável era mais importante por trazer novamente um caráter de utopia à arte. A busca utópica em exposições com esse caráter não deve cessar, é importante que propostas assim continuem a existir.
Penso que essa exposição tem um enorme potencial a ser trabalhado pela ação educativa. Fugir das clássicas “visitas guiadas”, explicativas de obras encerradas. Nada como ver o trabalho acontecer na sua frente. Nada como conseguir imaginar o começo, pensar sobre o meio e tentar prever o fim, se ele existir...
PARABENS CECILIA, BELO TRABALHO.
João Amadeu
Muito bom texto, deu vontade de ver a Bienal.
A educação deveria ser o ponto nevrálgico (ou um dos) de eventos desse porte.
Parabéns Cecília...
o texto ta maravilhoso!
Bjos
A participação criativa do expectador é muito estimulante !!! Parabéns pelo texto Cécilia
Posted by: sandra schechtman at novembro 3, 2009 9:51 PMQuando o público se apodera de uma obra para finalizar um processo criativo, essa relação petrificada entre representação e realidade, entre palco e platéia, se rompe. É a experiência da arte estimulando reações.
Beleza de texto Cecil!
Texto muito legal. Parabens
Posted by: Robertto Galvão at novembro 30, 2009 7:47 AM