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outubro 14, 2009
Diário de bordo: Inhotim, 30/09/2009, por Marília Sales
Especial para o Canal Contemporâneo
O segundo dia...
Com a ansiedade mais contida, porém com os sentidos não menos aflorados o percurso de visitas reinicia. Dentre o roteiro do dia, o trabalho O Assassinato Dos Corvos (2008), de Janet Cardiff e George Bures Miller.
Um galpão, como uma grande caixa branca inserida na paisagem, que não canso de achar deslumbrante, aparentemente sem surpresas. Dentro dele, a sala destinada a instalação tinha apenas uma luz natural que entrava através de grandes janelas de vidro, criando uma nova atmosfera, suavidade. Um outro compasso de tempo. A paisagem invade o espaço pelas janelas em recorte retangular distanciada.
A sala é composta por alto-falantes montados sobre cadeiras, em um espaço circular, previamente desenhado, o qual cria um ambiente de coral ou mesmo de orquestra. O lugar destinado ao visitante é o centro, onde as cadeiras estão com o desenho planejado seguindo uma condição melhor de percepção do som.
O áudio segue em tempo planejado pelos alto-falantes, marchas, canções de ninar, texto falado - em voz sonolenta de um sonho desconcertante - sons de corvos e composições musicais. Gerado por gravações polifônicas especiais e técnicas de replay, um som seguido ao outro. Fechando os olhos você se sente dentro da situação narrada, parece que os personagens estão ali, você pode a qualquer momento tocá-los. Senti em um momento alguém cantando perto de meu ouvido, era como se estivesse em um cinema de olhos fechados.
O trabalho não está apenas no áudio, está na luz, no espaço externo que te contamina, o trabalho te invade por vários sentidos. Provoca a memória, a imaginação, te coloca em situações vividas ou evitadas, a angústia. São 30 minutos de deslocamento.
Ontem, o Sound Pavilon do Doug Aitken me levou a uma consciência elevada de mundo com um tapa de realidade. O som de um lugar que esquecemos de pensar, deixou a minha realidade de vida ínfima diante da força do som, do tamanho da natureza avistada de dentro do espaço nave. Potencializa a vida que não vemos, saímos do consciente egoísta de vida para um ‘inconsciente mundo’. Nessas experiências ficamos imersos em esferas direnciadas, realidade e fantasia.
Já ‘conhecia’ o trabalho, Forty Part Motet (2001), que também faz parte do acervo do Inhotim, desde 2004, pelo youtube - que não dá dimensão dos elementos constitutivos do trabalho, o ambiente, a luz, o jogo com sons. Estar no ambiente, inserida neste momento multi-sensorial, experimentar sair do consciente, é que me faz poder afirmar que conheço o trabalho, O Assassinato Dos Corvos (2008), de Janet Cardiff e George Bures Miller.