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março 17, 2007
Visita laranja a uma exposição, por Juliana Monachesi
Visita laranja a uma exposição
JULIANA MONACHESI
Hoje teve abertura da I Mostra do Programa de Exposições 2007 do Centro Cultural São Paulo. Passei por lá já meio tarde, então encontrei o CCSP vazio. Estava começando a ver as fotografias do Raphael Franco quando encontrei o Reginaldo Pereira, um artista que vai expor logo mais lá no Programa de Exposições também. E fomos vendo as exposições juntos, papeando. Tentamos indetificar o objeto representado nos lambe-lambes do Charles Klitzke (um moedor de carne? uma câmera de vídeo?, uma arma?) Comentamos sobre a monumentalidade paradoxalmente delicada das pinturas da Alice Shintani, conversamos sobre a "op arte povera" que uma das peças do Marcone Moreira evoca, e então chegamos à expo do Daniel Steegmann.
Foi muito incrível como aqueles trabalhos foram nos cativando aos poucos (e vamos combinar que visitar exposição em dupla sempre rende mais, vai?). A gente olhou, olhou de novo, um foi chamando a atenção do outro para algum detalhe muito sutil. A habilidade para cortar bem ao meio um emaranhado de gravetos e a elegância para mantê-lo de pé. A investigação geométrica em objetos prosaicos como laranjas e mexericas e a variação de padrões possíveis de se conseguir semi-descascando essas frutas. A destreza para retalhar uma embalagem de papel ou uma fotografia e reorganizá-las na reconstrução.
E a gente começou a sentir cheiro de laranja. Que não parecia vir dos objetos dispostos sobre a mesa como uma espécie de modelo vivo para uma natureza-morta. E aí nos demos conta de que havia um enorme heptágono laranja atrás de nós -e foi a esse ponto que as pequenas esculturazinhas e colagens tinham nos intrigado até aquele momento-, e também de que ali dentro tinha uma saco de laranjas, faca, dois espremedores, copos de plástico e vários banquinhos de praia. (Outra vantagem de visitar uma expo acompanhada de um artista: às favas com a vergonha de pegar várias laranjas no saco de laranjas e cortar as laranjas, espremer as laranjas e tomar laranjada sentada no banquinho vendo o mundo alaranjado filtrado pelo laranja do plástico que recobria o heptágono.)
O Rêgi lembrou na hora no grupo Laranjas de Porto Alegre. Fomos checar o nome do artista: Daniel Steegmann. E fomos por exclusão: "Bom, tem o Jorge Menna Barreto, que aliás acabou de entregar a dissertação de mestrado"; "Ah, que legal"; "Tem a Fabiana Rossarola, que aliás se mudou para a Espanha"; "É mesmo? Que ótimo"; "Tem a Cris Ribas, ela também está morando em São Paulo, não?"; "Tem a Patrícia Francisco, o Cristiano Lenhardt..., que aliás tem feito essas performances em fontes, já viu? É um trabalho lindo, ele toma banho na fonte e..."; "Bem, então não é um Laranja"; "Não, não é"; "Mas é um trabalho Laranjas total!"; "De fato".
Laranjas, como se sabe, não são propriedade artística patenteada por ninguém. Aliás, não existe propriedade artística patenteada. Artistas são os ladrões mais honestos do mundo. O Ducha fez aquela ação nas ruas do Rio e de São Paulo de derrubar um monte de laranjas no cruzamento de duas avenidas, parou o trânsito, todo mundo correu para ajudar etc. (Foi o Ducha? Não me lembro direito agora, mas alguém fez, e parece que em São Paulo foi numa ladeira e não num cruzamento, e a correria para salvar as laranjas do rapaz foi maior ainda. Acho que foi a Grazi [Kunsch] quem me contou. Ela estava lá, lógico. Ela sempre está presente em ações subterrâneas detonadoras de energia artística.) Mas é um trabalho Laranja no sentido de te fazer parar e prestar atenção, fora o caráter generoso de oferecer um refresco em dias quentes...
Foi ótimo. Uma visita rápida à exposição, mas super memorável. Obrigada, Rêgi, pela parceria casual e involuntária neste texto para o arteemcirculação! (Você viu que eu dei uma editada nos nossos comentários para conferir maior legibilidade ao texto, né? Desculpe-me por qualquer imprecisão, omissão ou adição propositadas e intencional... hehehe.) Ah, sim, e depois ainda vimos as pinturas e aquarelas da Elke Barth, conversamos tanto sobre a "questão da cor"; eu nem sabia que tinha repertório para conversar sobre cor. Foi lindo!
procurando sobre coletividade e acabo achando um texto q pareceum pouco " a descricao de um passeio no parque" heheh
engracado como o google "filtra".