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fevereiro 11, 2007

Diário de Campo, por Josely Carvalho

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Diário de Campo - Desencantando Salmu

JOSELY CARVALHO

2007
Nesta viagem pelo tempo, a memória se esconde no barro a ser escavado, e o conceito e a produção de Desencantando Salmu atravessam várias camadas. Documento esse processo como uma arqueóloga relata seus caminhos e descobertas pessoais.

1991-1995
Começo esta escavação da camada mais profunda. E resgato a série Tempos de Luto, trabalho que começa com a invasão dos Estados Unidos em Bagdá, em 16 de janeiro de 1991.

1994
O tempo segue, o espaço muda. E, numa praia no Morro de São Paulo, fotografo centenas de telhas barro que se tornarão a base do meu projeto Livro das Telhas. Mergulho completamente no barro, que se torna inerente ao meu trabalho e, depois de uma longa e profunda relação, me separo da serigrafia. Meu olhar de gravadora, ainda presente, ganha novas dimensões.

1995
Avanço um pouco nas camadas geológicas e, em 1995, inauguro a instalação permanente Memorial Armênia, na estação Armênia no metrô de São Paulo. O barro queimado à alta temperatura se une ao vidro jateado e à água para relembrar o massacre de um povo, a destruição da memória, do passado e do presente.

1997
O espaço se desmancha entre meus dedos e minha primeira instalação do Livro das Telhas, intitulada Codex: dos sem teto, no Paço das Artes, ganha o espaço virtual, inaugurando uma estimulante e profícua relação com a internet. O ciberespaço se torna abrigo virtual do projeto (www.book-of-roofs.net)

2003-2005
Povo, memória, destruição. Surgem as primeiras idéias para conectar a Estação Armênia do metrô com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, no que se chama o Corredor da Luz. A mulher armênia toma seu lugar no centro do projeto e, nela, o sêmen e a água da deusa pagã Anahid jorram das estrelas, representados por um pequeno fio de água. Projeto pensado para nascer juntamente com a reinauguração da Estação Armênia, pela ocasião dos 90 anos do genocídio deste povo, foi enterrado por falta de patrocínio.

Da tristeza de não realizar aquilo que havia sido projetado à persistência de continuar tecendo novas conexões, coleciono diários virtuais e participo de listas de e-mail sobre a destruição e roubo dos objetos e dos sítios arqueológicos no Iraque, causados pela nova invasão dos Estados Unidos. Vejo o ciclo do tempo dar uma volta completa, num vaivém infinito. Mas nesta repetição dos processos, sinto que ainda não tenho nada a dizer. Continuo, no entanto, a reunir material, enfatizando a pesquisa sobre os tabletes de barro marcados pela escrita cuneiforme dos antigos babilônios. Novamente, o barro domina esta nova página-telha do projeto Livro das Telhas.

Porém a materialidade se dissolve no ar. Entro em contato com o arquivo virtual da UCLA-CDLI, de Robert Englund, onde os tabletes cuneiformes encontraram versão digital. Na imaterialidade, a história se preserva, longe da destruição dos campos de batalha. Em bits, a escrita babilônica se salva das disputas de poder.

Outubro de 2005
O processo criativo é marcado por fogo. E um incêndio devora grande parte da série Tempos de Luto. Nas cinzas encontro o desejo de desenvolver uma nova série de instalações e gravuras sobre a violência imperialista, o desmoronamento da identidade pessoal e coletiva, a impossibilidade de viver com as diferenças e a destruição de uma cultural milenar. Como em outras ocasiões, recorro à história e à mitologia, e nelas encontro elementos para desencantar Salmu.

2006
As camadas se acumulam. A terra armênia é recoberta pela poeira deixada pela guerra. Na antiga Mesopotâmia, o solo de um sítio arqueológico é usado para encher os sacos usados na barricada. O passado renasce no presente, tornado-se defesa para invasores e invadidos, e a terra se mistura, confundindo as diferenças.

Continuo escavando, e encontro o livro The Graven Image, de autoria da arqueóloga iraquiana Zainab Bahrani, hoje professora emérita da Universidade de Columbia em Nova York. Pela primeira vez encontro Salmu, palavra sumeriana normalmente traduzida como estátua, que incorpora o real e a ilusão, a representação, a ficção, a realidade retrabalhada.

25 de janeiro de 2007
A camada mais recente desta arqueologia do desejo vem a público. E desencanto Salmu, transformando-o no fluxo da vida que corre em forma de água. A escrita cuneiforme é modificada pelas várias técnicas de gravura, e os tabletes virtuais voltam a ganhar contornos reais ao serem aplicado no mármore.

E no chão do Octógono, da Pinacoteca, o visitante caminha sobre a história, refazendo o percurso de seus ancestrais.

Posted by Juliana Monachesi at 3:22 AM | Comentários(1)
Comments

Josely,

POr favour, se puder, visite meu blog e, novamente se puder, responda-me se a foto que lá está, do monumento embaixo da ponte da Estação Armênia, é obra sua e se refere-se à este seu trabalho. Ninguém em São Paulo e soube explicar do que se tratava o momumento, então desligado apra obras, segundo me informaram (foi a única informação que me souberam dar).

Obrigado!

Denis Amorim

Posted by: Denis at agosto 1, 2008 11:53 AM
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