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Relatos Rumos 17 – Diário de bordo: Palmas

 
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Guy A



Registrado em: Terça-Feira, 15 de Fevereiro de 2005
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MensagemEnviada: Qui Jun 19, 2008 1:33 am    Assunto: Relatos Rumos 17 – Diário de bordo: Palmas Responder com Citação

Dia 17 – Palmas [08/05]

Em todas essas viagens, uma situação que eu tento evitar é aquela em que impressões pré-concebidas de um local que ainda não conhecemos tendem a se confirmar. Ou seja, lugares dos quais temos apenas uma idéia vaga, geralmente construída a partir de estereótipos reducionistas, e – uma vez lá - nos quais esperamos, no fundo, verificar a não-procedência de impressões tão esquemáticas. Um dos poucos locais onde isso de certa forma aconteceu foi aqui em Palmas: mesmo sabendo ser uma cidade nova [ainda não tem 20 anos de sua fundação], a capital de Tocantins não parece ter muito a oferecer a quem por lá aparece – e este é um sentimento presente mesmo na fala de vários de seus habitantes.

Incrustada no coração do estado, à margem do grandioso rio homônimo deste, Palmas - planejada ao modo de Brasília, inclusive no que tange à escala de deslocamento urbano, com superquadras, embora sem contingente populacional à altura – tem sua estrutura econômica baseada sobretudo no setor de serviços. É plana e quente, e por toda parte se vê as palmeiras que dão nome à cidade. E tem ainda o capim-dourado, claro; a magnífica formação vegetal que viceja fartamente na região e é a menina-dos-olhos do artesanato local. A mim pareceu a materialização daqueles "fios de ouro" que abundam em fábulas e similares, só que em versão mais in natura e afeita à comercialização. Uma beleza, e um sucesso absoluto entre a ala feminina da equipe, como sempre ávida por souvenirs "regionais" [ok, também comprei um objeto desse material]. Há algumas possibilidades boêmias na "orla", a simpática praia formada à beira do rio - que de quando em quando, segundo sou informado, calha de ter suas águas infestadas por piranhas, o que pode deixar a coisa mais divertida.

Talvez sejam impressões excessivamente ásperas, filtradas pelo olhar mal-acostumado de um cosmopolita paulistano; não sei. De qualquer forma são apenas isso, impressões, e a partir de uma curta estada, como sempre nessas viagens. Pode haver alguma leviandade, ou imprecisões nesse juízo proferido de modo um tanto intuitivo. Ainda assim, é preciso dizer que há algo na cidade que desperta certa melancolia, um sentimento de ternura; não sei se a vastidão para todos os lados, seu projeto ainda incompleto, a simplicidade despojada de seus habitantes e a impossibilidade de se apreender [ainda] uma noção de identidade, o belíssimo pôr-de-sol, difícil apontar o quê. Fica uma sensação residual ambígua, de sincero prazer em ter conhecido um local tão alheio a uma cartografia que nos é mais familiar e a dúvida sobre o que o futuro reserva para a mais nova capital de estado do país.

Do evento

Somos esperados na Fundação Cultural de Palmas, onde faremos a apresentação de hoje. A audiência não é lá das mais memoráveis: não mais que 30 bravos interessados comparecem. Meus colegas de mesa serão Alexandre Sequeira e Paulo Reis, com Yara Richter representando o Itaú Cultural. Alexandre aliás protagoniza um momento de certa emoção, surgindo de chofre no local minutos antes do horário de iniciarmos, ainda com a mala nas costas; o coitado viveu uma verdadeira via crucis em aeroportos por todo o dia, entre vôos atrasados e conexões perdidas. Chegamos a pensar, quase até o último momento, que ele não conseguiria. É um alívio [nosso, não sei se dele] quando ele surge, extenuado, à porta do auditório.

Até por isso é Paulo Reis quem inicia as palestras, dando algum tempo para que Sequeira retome o fôlego. De modo geral Paulo apresenta a mesma estrutura de suas falas anteriores, enfocando a constituição dos espaços expositivos [para arte] e suas possibilidades também como arenas de discussão crítica e pública da visualidade. Altera um pouco a abertura da mesma, quando se estende mais na formação histórica destes espaços, "voltando" mais até o período medieval, até chegar aos salões franceses do século 18 [primeiro modelo expositivo clássico] e os subseqüentes aprimoramentos e mudanças de configurações, chegando enfim à contemporaneidade. Ainda comentando o século 18, lembra que é a época em que se passa a pensar as exposições como espaços públicos [de fruição]. Cita Diderot e a introdução da noção de aprendizado como ligada a exposições de arte, e das mesmas como "espaços de construção do olhar" e da atividade crítica. De resto, segue seu roteiro já conhecido, repleto de imagens que acompanham a fala.

Alexandre então assume, já recuperado de sua saga. Assim como Paulo [e como não poderia deixar de ser, torno a dizer], segue uma estrutura de fala já conhecida por quem acompanha nossas viagens. Ressalta seu interesse pela diversidade na produção artística brasileira, e de seu foco nas "falas locais" e possibilidades de articulação deste dado local com questões da arte contemporânea. Esse será o mote de sua apresentação, a cena do Pará, seu estado de origem. Assim como em Paulo, sua fala é generosamente ilustrada por imagens, que projeta seguindo três módulos: um de artistas paraenses que lograriam articular o elemento local/regional ["identidade cultural"] com autonomia em relação a leituras na chave do folclórico-estereotipado, um seguinte apresentando registros de projetos e iniciativas artísticas e críticas em Belém desde os anos 80 e um último, que mostra casos de ações e intervenções artísticas mais recentes na capital paraense.

Debate / Participação do público

As primeiras manifestações da platéia são de ordem mais "técnica", dúvidas acerca do edital e inscrições, etc., que Yara esclarece sem maiores problemas.
A seguir um rapaz faz um breve relato da cena local, aventando possibilidades de mobilização [da classe artística local] a partir do que captou em casos presentes na fala de Alexandre [no caso, referindo-se à produção fotográfica]; Sequeira agradece e dá mais algumas sugestões de estratégias de mobilização a partir da experiência de Belém. Surge então um comentário elogioso sobre o Rumos, e do prazer que o artista teve em ser visitado pelo assistente-curatorial para aquela região, Armando Queiroz [que aliás está conosco aqui]. Alexandre [e todos nós] aproveita para lembrar que artistas porventura não visitados pelo assistente-curatorial não devem se sentir "excluídos", que isso não é critério excludente, etc. [observações que têm se tornado mais necessárias do que imaginávamos, no decorrer de nossas mesas].

É então que uma artista local [Marina, creio] pede a fala e faz um aparte algo melancólico sobre a situação local, expressando um sentimento de angústia - e lucidez, a meu ver - que ela acredita se estender a todo o estado [enquanto artistas], sustentando que a produção ali de modo geral "ainda é muito verde"... o tom da jovem, contudo, não é de indignação, sensibilização ou auto-indulgência; apenas constata, quase com singeleza, um certo estado de coisas. Por isso mesmo me encanto com aquele breve relato, que no entanto não sinto reverberar da mesma forma na platéia nem na mesa.

Surge então um comentário acerca de se dever ter em mente que, apesar do contexto eminentemente "novo" ou recente da cidade, o mesmo é constituído por pessoas [de fora] com diversas cargas identitárias anteriores fortes, e de como pode ser relativo seguir pensando apenas na linha do "é tudo novo" [e portanto "sem identidade", intuo]. Outro rapaz complementa, ou se contrapõe, afirmando que de fato a cena pode não ser tão "nova", mas que certamente ainda se ressente de uma maior familiaridade com o vocabulário e repertório da arte contemporânea [impressões silenciosamente endossadas por todos na mesa, a partir das duas exposições que vimos na cidade], de certa forma ecoando a colocação da artista que se pronunciou logo antes. Interessante.

Na seqüência, fala-se um pouco do formato portifólio: como montá-lo e apresentá-lo, da importância do processo de "editar" o próprio trabalho, etc. Paulo aproveita para ressaltar, genericamente, a importância de se valorizar iniciativas de documentação e registros históricos e culturais.
Uma última colocação do público diz respeito à perspectiva, aparentemente bem encaminhada, da universidade federal local vir a oferecer um curso de artes visuais, embora de licenciatura. Já é um bom começo. E com ele terminamos.
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