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Relatos Rumos 6 – Diário de bordo: Cuiabá

 
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Guy A



Registrado em: Terça-Feira, 15 de Fevereiro de 2005
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MensagemEnviada: Seg Abr 07, 2008 2:37 am    Assunto: Relatos Rumos 6 – Diário de bordo: Cuiabá Responder com Citação

Relatos Rumos 6 – Diário de bordo: Centro-Oeste: Cuiabá

[Brasília e Cuiabá]


Dia 6 – Cuiabá [27/03]

E eu que tinha achado que depois de Boa Vista [Roraima] não reclamaria mais de calor... Cuiabá é praticamente igual, com a diferença de que praticamente não há vento. Mesmo a brisa é um conceito quase abstrato por ali. A situação topo-geográfica da cidade, meio encravada numa baixada, não ajuda nesse quesito — mesmo com a bênção do rio que envolve com elegância a capital mato-grossense, seu homônimo. Os encantos da Chapada dos Guimarães começam "logo ali", a alguns minutos de carro, mas é melhor não pensarmos nisso. Afinal, como de praxe em nossa jornada, se já não há tempo hábil sequer para se tecer impressões abalizadas sobre aspectos pitorescos locais — o que achei que conseguiria fazer nesses relatos —, quanto mais para pensar em "fast-turismo".
Para complicar, nosso hotel se chama Amazon, e faz o possível para que seus hóspedes não esqueçam disso: há em todo canto — inclusive no teto, como afrescos improváveis, na piscina e no restaurante — uma profusão de ornamentos, adereços kitsch e itens decorativos de gosto duvidoso [para ficar num eufemismo], ressaltando a pujança da fauna e flora da gloriosa Amazônia. Como lá estivemos há pouco tempo, por vezes me confundo e espero me deparar com o Teatro Amazonas ao andar por duas quadras, o que não ocorre. Caminhar, aliás, é coisa que até os locais desaconselham: dependendo do horário: faz tanto calor que mesmo para distâncias curtas recomendam transporte motorizado, aí inclusa a modalidade moto-táxi, uma coqueluche local. Minhas expectativas pessoais mudam de "desfrutar rapidamente da cidade" para "sobreviver à cidade".
No quesito "pitoresco", um fato marcante: durante um trajeto de táxi, entrevemos no alto de uma colina o que o chofer anuncia, pomposamente, como "a nossa Notre Dame": a Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho, que consiste numa réplica em escala miniaturizada da célebre catedral francesa, com uma, digamos, interpretação toda peculiar da matriz gótica. Não sem algum esforço, consigo manter meu semblante sereno frente aquele reverente cidadão..


Do evento

O SESC Arsenal, que nos recebe, possui instalações confortáveis e bem-cuidadas. O evento se dá numa sala que é também um teatro, espaçoso e bem-equipado. Todo o complexo arquitetônico que abriga esse espaço, um casario baixo que toma toda a quadra, tem uma beleza incerta, num misto de traços coloniais que concorrem com os indícios de uma reforma recente – o lugar fora anteriormente um arsenal. Na noite de nosso evento há também uma feira ocorrendo no local, basicamente oferecendo comidas típicas e algum artesanato. O pátio a céu aberto no interior do prédio, de formato quadrangular, abriga também uma choperia, sempre cheia, no que parece ser um programa regular da população.
O público presente é apenas mediano: cerca de 40 pessoas se espalham nas poltronas do amplo anfiteatro.
Após as habituais apresentações institucionais/introdutórias, o primeiro a falar é Paulo Reis, que retoma sua exposição acerca dos espaços e modelos expositivos. Há pequenas alterações em sua apresentação, sobretudo no conjunto de imagens que acompanham sua fala. Ressalta a importância das exposições como sendo "espaços de aprendizado do olhar" e discerra sobre as mudanças estatuto público e privado sofridas por estes espaços. Dentre as imagens, desfilam obras ou propostas de nomes como Duchamp, Yves Klein, Daniel Spoerri, Daniel Buren, Michael Archer e a dupla escandinava Elmgreen & Dragset. Cita também algumas iniciativas curatoriais que buscam alargar a noção de espaço de exibição e/ou circulação da obra, desdobrando-se em outros modelos "expositivos" e podendo assumir o formato de publicações [Premonitor, de M. Ramiro e Katia Prates, Amor/Love, de Regina Melim, projeto "Do it", do curador suíço Hans-Ulrich Obrist]. Conclui ressaltando a tônica em pensar o espaço como "dinâmico, cheio de possibilidades".
A seguir é Alexandre Sequeira quem assume o microfone. Faz uma breve explanação acerca dos novos paradigmas temporais que caracterizam a existência contemporânea para então retomar a estrutura da palestra já apresentada em Brasília, dois dias antes. Seu tema é a cena artística de Belém, sua cidade natal, onde vive e trabalha — "a fala enraizada no lugar". Como antes, divide sua fala em três módulos, assim dispostos: exemplos de obras e artistas paraenses contemporâneos que articulem e evidenciem aspectos locais em sua produção [nomes como Luiz Braga, Emmanoel Nassar, Marcone Moreira]; origem de espaços de discussão e "formação do pensamento crítico" naquela cena [com destaque para a Associação FotoAtiva, capitaneada por Miguel Chicaoka]; e espaços — institucionais ou não — que potencializam as noções de troca e ativação, onde comenta as possibilidades de articulação da cena belenense com outros pontos do país e do exterior, ilustrando sua fala com imagens de mostras e iniciativas diversas.

Debate - Participação do público

Aberta a fala ao público, a primeira intervenção é algo pueril, uma colocação algo ressentida na linha do "por que vocês nunca vêm aqui". Toda a mesa se pronuncia diplomaticamente, comentando as dificuldades implícitas num projeto que percorre boa parte de um país tão grande, etc. Não há muito como evitar certo lugar-comum nas respostas, dado o teor da indagação.
Em seguida, surgem algumas dúvidas mais "técnicas", referentes ao Rumos: como inscrever projetos de videoinstalação, se há ou não limites de idade para participar, "qual o objetivo final do programa", como está sendo feita a divulgação das palestras pelo país... Tayná Menezes, representando o Itaú Cultural, esclarece as dúvidas, lembrando que o edital do programa — tanto em sua versão impressa quanto eletrônica — traz a maioria dessas informações.
Uma jovem sugere que seja feito um contato, por parte do IC, com as secretarias de educação locais, afim de potencializar a experiência das palestras; a sugestão é considerada boa, e anotada. Quando finalmente surge uma questão referente às palestras em si, ela é um tanto confusa; começa com um elogio às explanações e então se detém num comentário sobre como "adaptar o conceito à imagem", reportando, creio, ao uso dos arquivos powerpoint feito pelos palestrantes. Paulo e Alexandre agradecem e respondem com apartes breves, comentando seus critérios na utilização da imagens. Sequeira aproveita o ensejo e se alonga em "estratégias de superação do isolamento" — um tema que também foi lançado pela audiência em algum momento, e que parece caro ao cenário local.
A conversa se encerra com um misto de comentário e indagação acerca das [supostas] "dificuldades da pintura hoje, sobretudo a figurativa", subentendendo que essa modalidade seria alvo de preconceitos em iniciativas como o Rumos; Alexandre se dispõe a responder e o faz com delicadeza, sustentando que o problema talvez não seja a pintura em si como "categoria", mas o modo como ela é pensada, concebida; e que sempre haveria espaço para uma pintura que embuta certo coeficiente de reflexão.

Após uma rápida confraternização com alguns dos presentes, sempre um dos melhores momentos de nossos eventos, imergimos na noite quente e abafada de Cuiabá, em busca de uma refeição antes de voltar ao hotel para uma noite de sono "amazônico".
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