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Relatos Rumos 3 – Diário de bordo: Rio Branco

 
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Guy A



Registrado em: Terça-Feira, 15 de Fevereiro de 2005
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MensagemEnviada: Dom Mar 23, 2008 10:11 pm    Assunto: Relatos Rumos 3 – Diário de bordo: Rio Branco Responder com Citação

Relatos Rumos – Diário de bordo: Norte
[Belém, Manaus, Rio Branco e Boa Vista]

Dia 3 – Rio Branco

Desembarcamos em Rio Branco por volta de meio-dia, o que nos dá menos de 6 horas para perambular pela cidade, tentando formar um repertório mínimo de dados e informações locais antes do início do evento, mais à noite. O hotel, um dos únicos da cidade, localiza-se próximo ao rio Acre [não exatamente branco], numa região que parece ser razoavelmente central. Curiosamente, percebemos que a equipe de bordo do vôo que nos trouxe também está se hospedando no mesmo estabelecimento, o que gera uma breve e inusitada confraternização. Faz bastante calor, como era previsto.

Nosso "reconhecimento de terreno" não é dos mais animadores: os arredores, uma zona comercial, não possuem atrações turísticas propriamente ditas. Há um tipo de casario pitoresco na orla do rio, que encanta mais pelo colorido de suas fachadas, dispostas lado-a-lado, que por características arquitetônicas em si. Já na ponte que dá acesso à cidade se distingue claramente sinais de pobreza, nas palafitas que se sucedem precariamente ao longo do rio.

Uma colega de viagem sustenta que, apesar da paisagem citadina relativamente árida e pouco convidativa a “flanagens” - ao menos a um primeiro olhar e na área limitada que percorremos - há mais indícios de planejamento urbano aqui que Manaus, de onde acabamos de chegar. Pode ser; prefiro não formular opinião, dada a brevidade de nossa permanência nestes locais. Dois colegas de viagem relatam boas impressões sobre o Museu da Borracha e da biblioteca Marina Silva, misto de casa de leitura e centro cultural, ambos nas cercanias.

Do evento

As palestras ocorrem no Teatro Hélio Mello, instituição que homenageia o famoso e finado artista local [de quem havia peças na 27ª Bienal de São Paulo].

O evento inicia com a fala de Christine Mello, que reforça que o foco de sua leitura da produção contemporânea está "numa perspectiva transversal, que permite deslocamentos". Comenta que a "contaminação", um dos conceitos que lhe interessa - e ilustra com obra de Regina Silveira [o vídeo de Transit] -, como "o trânsito entre os espaços da arte e da vida". O vídeo Vera Cruz, de Rosângela Rennó, serve para ilustrar sua aproximação com a noção de desconstrução [“um filme de sobras, de bordas”]. Ressalta ainda que a perspectiva de "Arte nas extremidades", título de sua apresentação, é a da cultura digital.

Em seguida, Paulo Reis expõe sua fala acerca do estatuto cambiante do espaço expositivo, desde sua gênese no século 17 à atualidade, em que artistas passam a incorporar o dado institucional como força motriz em sua produção.

Abre-se o debate à platéia. A primeira indagação é de ordem mais técnica, sobre o fato de haver apenas um curador-assistente para realizar o mapeamento da região norte [Armando Queiroz, de Belém]. Yara Richter explica que isso se deve à diretriz de se trabalhar apenas com curadores-assistentes locais nesta edição do Rumos, como forma de se otimizar esta etapa do programa, e que a região não ofereceria muitas alternativas de nomes com este perfil.

Em outro aparte do público, vem à tona o singelo termo “florestânico” – que expressaria e/ou sintetizaria o espectro cultural e o modo de vida dos habitantes da região - , o qual gera comentários simpáticos por parte dos componentes da mesa.

Em seguida, um membro do público agradece à mesa pela presença e observa - com pertinência, a meu ver -, que apesar do sincero prazer em estar ali, sentiu que as exposições dos palestrantes, ainda que instigantes, foram um pouco extensas e talvez um pouco “complexas” para o repertório médio local. De minha parte, embora não verbalizando, concordo com a observação; trata-se de um ponto importante, uma vez que as apresentações dos curadores são o mote destas viagens [juntamente com a difusão do Rumos], e não há sentido em promovê-las se negligenciamos as condições de assimilação das mesmas pelo público. Não é um problema de fácil resolução, dadas as variantes em jogo: seria simplista e indelicado pensarmos em termos de “rebaixar o discurso”, mas ao mesmo tempo há que se tentar equacionar melhor este aspecto. Debateremos internamente esta questão. O autor do comentário também questiona a “ausência de casos brasileiros” nas palestras; creio que ele se refira basicamente à apresentação de Paulo, mas é Christine que responde, argumentando que só usou exemplos de artistas nacionais em sua fala [Regina Silveira, Rosangela Rennó]. Complemento dizendo que, pelo próprio teor da palestra de Paulo, esta ausência seja explicada [especificamente no que diz respeito à genealogia dos espaços expositivos de arte].

Há tempo ainda para uma breve mas animada discussão acerca dos estigmas e relativismos que permeiam a questão “eixo Rio-São Paulo”, um tópico inevitável no âmbito de um programa como o Rumos.

A noite se encerra com a intervenção de um artista local, Dalmir Ferreira, que faz um breve e simpático relato sobre sua própria experiência ao ter sido mapeado na primeira edição do Rumos. Agora só resta Boa Vista, amanhã, para completarmos a “perna” Norte desta etapa do Rumos.
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