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Relatos Rumos 10 – Diário de bordo: Aracaju

 
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Guy A



Registrado em: Terça-Feira, 15 de Fevereiro de 2005
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MensagemEnviada: Sáb Mai 03, 2008 10:48 am    Assunto: Relatos Rumos 10 – Diário de bordo: Aracaju Responder com Citação

Relatos Rumos 10 – Diário de bordo: Aracaju

Dia 10 – Aracaju [15/04]

Curioso notar como, apesar da proximidade geográfica, hajam algumas diferenças sensíveis entre Maceió e Aracaju. Inclusive no que se refere à paisagem: embora ótimas, as praias urbanas, por exemplo, aqui parecem ser mais "selvagens", com largas faixas de areia separando o banhista do mar, que por sua vez é mais revolto, bravio, sem os idílicos predicados "caribenhos" de sua contrafação alagoana. Há praias mais "turísticas", muito bonitas, localizadas mais afastadas do centro urbano, que por sua vez é cortado por dois rios, [pelo menos] um deles bastante poluído. Outro dado que não escapa ao olhar são as plataformas de exploração petrolífera, onipresentes no horizonte marinho à frente da capital sergipana. Pode ser um bom programa contemplá-las ao pôr-do-sol, enquanto se degusta algumas das inesquecíveis caipirinhas "nevadas" com sabores locais, num dos muitos quiosques da orla. De modo geral – e superficial, claro – tem-se a impressão, desde o aeroporto até restaurantes e "opções culturais", que Aracaju ainda não está tão equipada para o turismo quanto Maceió ou Natal, por exemplo. O que não vejo como um problema, necessariamente – apenas a constatação, em boa medida intuitiva, de um "turista de ocasião".

Do evento

A Biblioteca Estadual Epifânio Dória, prédio mal-cuidado de aparência pouco convidativa, de concreto armado e assemelhando-se a um bunker, mas com um auditório bastante confortável, é onde nos apresentaremos hoje. No mesmo edifício, numa área contígua ao auditório, há um espaço expositivo que, apesar de certa precariedade, constitui-se num dos principais locais da cidade destinados a esse fim. Antes de iniciarmos, toda a equipe do Rumos é solicitada pela imprensa local a dar depoimentos e entrevistas, fato não muito comum nessas viagens.

Como em Maceió, dois dias antes, o público não comparece em grande número; cerca de 40 pessoas, aproximadamente, acomodam-se nas poltronas.

A composição da mesa é a mesma da capital alagoana: estão comigo Marilia Panitz, Christine Mello e Tayná Menezes, do Itaú Cultural. Até por isso, evitarei entrar em detalhes sobre o conteúdo das falas, já que as palestrantes de modo geral acabam por realizar suas apresentações seguindo sempre um mesmo modelo, como não poderia deixar de ser, com mínimas "mudanças de script" eventuais. Sugiro portanto a leitura de tópicos anteriores para quem queira melhor se inteirar dos temas e assuntos já discutidos.

Christine Mello retoma suas perspectivas de abordagem do contemporâneo, com a estrutura da fala baseada na já conhecida tríade "desconstrução/contaminação/compartilhamento", ressaltando "o novo estado de complexidade posto pela arte contemporânea", ilustrando sua apresentação com os exemplos já comentados anteriormente.

Com Marília Panitz e sua exposição sucede o mesmo: a estrutura da fala se mantém intacta – sob o mote "Arte e crítica: Aproximações" - com um ou outro acréscimo ao material que já conhecíamos. Talvez por conta de uma resposta a uma intervenção da platéia no evento de Maceió, agrega en passant a noção de "olhar estrangeiro" de Walter Benjamin a sua fala, o "olhar que faz aparecer coisas que se fazem invisíveis no cotidiano", a título de assumir sua – e nossa – condição de "semi-estrangeiros em trânsito" nessas viagens Brasil afora, diversas vezes em locais nunca antes visitados. Demora-se um pouco mais ao citar Ricardo Basbaum e seu modelo "híbrido" das atividades da crítica e da prática artística, ressaltando que a força da crítica estaria no enfoque multidisciplinar, sedutor, e na proximidade - ou cumplicidade - do crítico com a obra – e o artista.

De resto, segue seu roteiro de texto e imagens como programado, sem grandes alterações, afirmando ver potência na atividade crítica que invista em "partilhar metáforas" e "provocar desdobramentos", colocando a si própria de certa maneira como "estudo de caso", ao explicar seu trabalho já de 8 anos com o grupo Gentil Reversão, de Brasília.

Debate - Participação do público

Uma jornalista local – que depois sabemos ser bastante atuante na cena - faz um aparte sobre "a efemeridade da arte contemporânea" e sua fruição, citando alguns dos trabalhos que surgem nas falas das palestrantes, associando a seguir essa noção à de descentralização; a colocação assume tons de um manifesto sutil sobre a condição de "estar à margem", etc.

Marilia comenta de um modo geral a questão da efemeridade, concordando que pode-se ver talvez uma tendência a proposições artísticas que lancem mão dessa linha de procedimentos mas que não se deve generalizar; Christine sustenta que, por mais que o cenário local seja árido, eles não se acomodem em discursos auto-excludentes de "periferia" e "isolamento" e comecem a se mobilizar, usando como exemplo a atividade silenciosa mas cheia de vitalidade de Paulo Bruscky na cena de Recife, décadas atrás. Enumera ainda as possibilidades que alguns projetos em novas mídias, como com celulares, começam a apresentar.

No lastro dessa discussão, surge uma pergunta-comentário sobre artistas de outros contextos, que têm contato com curadores e críticos, etc. – o que não ocorre lá – e "o que a mesa pensa disso". Marilia se coloca do ponto de vista de quem é de Brasília, "que pode não ser Aracaju, mas que é diferente de estar em São Paulo", como um meio termo nesse sentido, e termina defendendo que é possível se posicionar – não necessariamente "resolver" - em relação a isso se valendo de dados e estratégias locais. Christine entra na questão pela via do estatuto institucional do artista, citando Nelson Leirner, comentando a relatividade de "privilégios" de se estar em SP, dando exemplos de iniciativas em outros contextos, como Florianópolis. Eu próprio decido comentar o assunto e concordo com essa "condição relativa de privilégio", me estendendo em contra-argumentos como a competitividade da cena artística de São Paulo, por vezes embutindo mesmo alguma animosidade, e das não-garantias de se ganhar visibilidade apenas por estar na metrópole; procuro aventar possibilidades para a cena local na linha do "da adversidade vi[v]emos", sugerindo que os artistas talvez pudessem se mobilizar nesse sentido.

Um sujeito, que se identifica como sendo da associação de artistas da cidade, afirma preferir a rivalidade, ou algum "atrito", a mobilizações harmoniosas entre artistas, nem sempre bem-sucedidas, diz ele. A seguir fustiga a imprensa local, na figura da jornalista presente na platéia, afirmando que a mesma não está pronta para a cultura". Essas colocações inflamam parte da platéia, que se divide; a jornalista se pronuncia, há réplicas e tréplicas e em alguns minutos a situação se acalma.

Surge uma indagação acerca de mercado de arte, quem compra, perfil de colecionadores – que segundo a pessoa "estariam acabando" – e a relação [essencialmente venal] de galerias de arte e profissionais decoradores, baseado no que leu na revista Veja. Não me furto a observar que não se deve confiar plenamente em tudo que lê, especialmente na publicação citada, comentando ainda meu ponto de vista pessoal sobre a dinâmica envolvendo galerias de arte contemporânea e demandas decorativas, que não vejo com bons olhos, embora em última instância legítima. Marilia discorda do argüinte no que tange ao aventado decréscimo de colecionadores, abordando também a questão de perfis de compradores, o aspecto especulativo, estratégias de mercado, etc. Há tempo ainda para mais uma ou duas dúvidas técnicas, esclarecidas sem dificuldades por Tayná Menezes.

Ao final do evento, travamos contato com alguns artistas e professores universitários locais que nos esclarecem um pouco mais acerca da relativamente pobre cena artística de Sergipe, apesar de haver pelo menos um curso de artes visuais na universidade federal local. Há uma boa interlocução, e ganhamos alguns "kits" de publicações de artistas dali; somos informados ainda sobre não haver qualquer galeria de arte contemporânea na cidade.

A noite termina em um restaurante na orla, um dos únicos ainda abertos. Ali ficamos até a cozinha fechar e termos saciado o apetite de um bando de mosquitos que insistia em devorar qualquer porção de pele a eles exposta. No dia seguinte, já em Teresina e ainda contando as picadas da noite anterior, vejo na TV - não sem algum desconforto - uma reportagem sobre a incidência de focos de dengue, inclusive com casos fatais, justo em...Aracaju. Fico na dúvida de comentar ou não com os colegas, a fim de não comprometer a integridade psicológica dos mesmos.
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