apresentaĆ§Ć£o | contribuiƧƵes |
---|
Colocar 90 publicações de cinco diferentes continentes em diálogo sobre as perspectivas da maior mostra de arte contemporânea do mundo. Para o Canal Contemporâneo, a simples iniciativa da documenta já aponta para a auto-crítica de uma instituição de importância fundamental para a produção, o mercado e o pensamento das tendências artísticas. Neste texto, você conhece a leitura que o Canal Contemporâneo faz do projeto e as razões que nos levam a participar do documenta 12 magazines.
Atando nós da rede: perspectivas do documenta 12 magazines
O projeto documenta 12 magazines se apresenta ao circuito internacional como um saudável risco assumido pela mais importante mostra de arte contemporânea do mundo. Estamos assistindo e sendo convocados a fazer parte de um desdobramento do processo iniciado na última Documenta, quando a curadoria de Okwui Enwezor (o primeiro não-europeu a capitanear a mostra) fomentou a reflexão sobre questões político-culturais contemporâneas a partir de plataformas de discussão realizadas antes da abertura da exposição em Kassel, em junho de 2002.
Roger Buergel, diretor artístico da documenta 12, é o nome por trás do projeto documenta 12 magazines, cujo principal avanço em relação à última edição da mostra é o reconhecimento da emergência de novos espaços de produção, gestão, crítica e resignificação da arte. Em 2002, fomos testemunhas de um interessante esboço de descentralização da Documenta, que objetivava transformar a mostra no derradeiro e mais elaborado produto de um processo que envolveu simpósios em quatro continentes. Contudo, para a documenta 12, foi proposta uma estrutura ainda mais complexa e consideravelmente mais ousada: a partir de uma seleção inicial de 70 publicações impressas e eletrônicas sobre a arte contemporânea espalhadas ao redor do mundo, encoraja-se o debate e o pensamento coletivo, mas também a própria criação de trabalhos artísticos focados nos três eixos centrais que regulam a curadoria do evento.
A proposição documenta 12 magazines pode ser encarada e discutida por diversos pontos de vista, mas não deve ser colocada sob um juízo ingênuo: trata-se de um projeto ambicioso e sem precedentes na história de uma mostra que, já há muito, consolidou-se como o espaço de definição das tendências e práticas, das trocas simbólicas e valoradas, enfim, da ordem da arte a nível mundial. Ao convocar uma série de interlocutores - abertos a diversos outros diálogos locais - a produzirem registros críticos de sua circunstância no mundo da arte, a documenta 12 faz um comentário delicado sobre o seu próprio papel enquanto centro da vanguarda.
Se os três temas propostos (É a modernidade nossa antiguidade? / O que é a vida crua? / O que pode ser feito?) são vizinhos da generalidade e apontam para um possível interesse da documenta 12 nos conflitos da história, do sujeito e da transmissão de conhecimentos, eles se revelam motes férteis para que as realidades locais tenham a liberdade de se lançar num exercício de auto-enfrentamento. São questões cambiáveis, mas pertinentes a diferentes contextos, e que podem servir como interessantes recursos para o vário suporte de expressão que o projeto estimula – textos teóricos, ensaios e, claro, intervenções artísticas.
Para o Canal Contemporâneo, o convite em participar do projeto documenta 12 magazines se configura como uma bem-vinda forma de reconhecimento internacional do trabalho que realizamos coletivamente desde 2001 e cuja legitimação tem se dado no cotidiano da arte contemporânea brasileira. É, também, a ocasião adequada para colocar à prova a capacidade da documenta 12 em interagir com os territórios alternativos que se estabeleceram sobre as fissuras da grande mídia de massa, e que respondem a uma demanda natural – mas quase sempre sufocada – de construção de novas possibilidades de discursos.
Espaço de mediação entre as esferas da produção, da crítica e do mercado de arte, o Canal Contemporâneo não se apresenta ao projeto como uma publicação, mas sim como uma comunidade digital originada destes objetos, e é exatamente deste atributo que surge o potencial de nossa contribuição: ela está diretamente relacionada não à resposta de um “público”, mas de uma rede entre indivíduos e organismos munidos de diferentes competências e objetivos. Das alteridades deste ambiente buscamos a singularidade de nossa participação – das somas de diferentes posições ideológicas, origens de atuação e projetos de trabalho.
A grande chave para se compreender as possibilidades do projeto documenta 12 magazines é decifrá-lo como uma poderosa rede entre diversas formas (e forças) de pensamento sobre a arte contemporânea ao redor do mundo. Levando-se em consideração que no universo de 70 publicações encontramos representantes tão distintos em seus alcances e posicionamentos como a Critical Inquiry (EUA) e o coletivo colombiano Esfera Pública, constatamos que o estabelecimento de um database que acolha e estimule a interação entre estes ângulos do pensamento contemporâneo é, por si só, uma aventura válida.
O Canal Contemporâneo, tendo como uma de suas premissas ativar as dinâmicas de diversas redes da arte brasileira, observa neste processo internacional uma interessante oportunidade para o enriquecimento de nossa própria experiência.
Leandro de Paula
Canal Contemporâneo