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fevereiro 2, 2012
Exposição "Instável" no Paço das Artes em SP, Metrópolis
Exposição "Instável" no Paço das Artes em SP
Matéria originalmente publicada na seção do programa Metrópolis da TV Uol em 31 de janeiro de 2012.
Museu de Arte Contemporânea é reaberto no parque do Ibirapuera por Augusto Gomes, portal iG São Paulo
Museu de Arte Contemporânea é reaberto no parque do Ibirapuera
Matéria de Augusto Gomes originalmente publicada no caderno de cultura do portal IG São Paulo em 28 de janeiro de 2012.
Térreo do antigo Detran recebe exposição com 18 esculturas; até outubro, restante do prédio será ocupado
O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC) inaugura neste sábado (dia 28) sua nova sede. O edifício fica em frente ao parque do Ibirapuera e, até 2009, era ocupado pelo Departamento de Trânsito do Estado (Detran).
Por enquanto, apenas o piso térreo estará aberto à visitação. O espaço receberá a exposição "O Tridimensional no Acervo do MAC: Uma Antologia", que reúne 18 esculturas produzidas entre 1947 e 1997.
Ao longo do ano, o restante do edifício será ocupado. "Devemos inaugurar mais três mostras no final de abril ou começo de maio. Depois, mais três em julho, duas em agosto e duas em outubro", explica ao iG o diretor do MAC, Tadeu Chiarelli.
Até então, o museu se dividia em duas sedes: um espaço no terceiro andar do prédio da Bienal, no parque do Ibirapuera, e um edifício no campus da Universidade de São Paulo (USP), no Butantã.
Segundo Chiarelli, a área no prédio da Bienal será desocupada. "Esperamos transferir algumas das obras para a USP e para cá até o final desse ano ou começo do ano que vem", diz.
A área será então devolvido à Prefeitura de São Paulo, que é a proprietária do prédio e cede o espaço ao MAC e à Fundação Bienal. "Acredito que a Bienal ocupe aquele espaço", afirma Chiarelli.
Depois, será a vez de a sede na USP passar por uma reforma, prevista para 2013 ou 2014. "O MAC é um museu universitário. Ou seja, os curadores são docentes também. Por isso, estamos chamando o prédio da USP de MAC acadêmico", explica.
"Na Cidade Universitária ficarão arquivo, biblioteca e salas de aula para as atividades acadêmicas", diz. "Aqui no Ibirapuera vamos concentrar acervo, exposições, debates, os cursos voltados para a população mais ampla."
Segundo o governo de São Paulo, a reforma do prédio custou R$ 76 milhões. O custo foi bancado pela Secretaria de Estado da Cultura. Mas, a partir da inauguração, a responsabilidade ficará a cargo da Universidade de São Paulo.
Por ser a primeira mostra da nova sede, "O Tridimensional no Acervo do MAC" funciona como uma introdução ao acervo do museu. "Nós temos uma coleção importante de arte moderna, mas somos um museu de arte contemporânea", ressalta.
"Existe um preconceito em relação à arte contemporânea. Esse discurso de 'isso eu não entendo'", afirma. "Então a ideia é fazer uma exposição em que as questões que definem arte contemporânea sejam apresentadas por meio de poucas obras."
"Não queremos que o museu seja simplesmente um espaço de lazer. Essa exposição não é qualquer exposição", diz. "Ela tem uma lógica interna, que tentamos traduzir de uma maneira que as pessoas possam entender."
"Agora, o exercício de compreensão da arte é também um esforço do espectador. Não é de mão beijada", afirma Chiarelli. "Se você quer aprender matemática, tem que estudar, não é? Se quer entender um fenômeno cultural, também tem que ter disposição."
Raridade
Entre as obras desta primeira exposição, Chiarelli destaca algumas "pela raridade". É o caso de "Figura Reclinada em Duas Peças: Pontos", do britânico Henry Moore.
Ele conta que o MAC conseguiu a obra por meio de uma troca com a Tate Gallery, de Londres. "Eles eram loucos por uma escultura do artista italiano Umberto Boccioni que nós temos", conta.
O MAC tem não apenas um exemplar em bronze da obra, como também a matriz em gesso que permite a produção de cópias. A Tate, em compensação, tinha a matriz da escultura de Moore.
"Foi um escambo. O MAC permitiu que fosse feito um exemplar do Umberto Boccioni para eles e eles fizeram um exemplar do Henry Moore para a gente", revela Chiarelli.
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Espírito do tempo por Nina Gazire, Istoé
Espírito do tempo
Nomadismos tecnológicos - Jorge La Ferla e Giselle Beiguelman (org.)/ Editora Senac / R$ 59
Em Buenos Aires, no ano de 2009, artistas e teóricos se reuniram em um simpósio, realizado pela Fundación Telefónica e pelo Instituto Sergio Motta de São Paulo, para discutir a presença das mídias móveis nos mais diversos setores da sociedade. Agora, os resultados dos debates podem ser conhecidos com a leitura do livro “Nomadismos Tecnológicos”. Organizada pelo curador e professor titular da Universidade de Buenos Aires Jorge La Ferla e pela artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Giselle Beiguelman, a publicação reúne artigos de estudiosos e artistas ligados a importantes universidades e instituições de diferentes partes do mundo. Os textos abordam as mudanças do conceito de mobilidade através dos tempos, o impacto da chegada das mídias móveis sobre a sociabilidade e, principalmente, o uso das tecnologias móveis como suporte artístico. Nesse contexto, destaca-se o artigo do artista Lucas Bambozzi, que realiza uma abordagem crítica sobre a constante apropriação de novas tecnologias por artistas, argumentando que em geral eles a fazem sem a reflexão e o aprofundamento necessários. Já Wolfgang Schäffer, importante pesquisador sobre a história da ciência da Universidade de Humboldt, em Berlim, afirma que ao mesmo tempo que as tecnologias se tornaram massificadas e padronizadas, sua popularização resulta em novos paradigmas, principalmente no que diz respeito ao campo das imagens. Para Schäffer, a explosão do consumo de celulares com câmeras implicou no surgimento de um novo modo de produção audiovisual que se tornou referência para a produção de imagens na atualidade.
Um artista da fome por Paula Alzugaray, Istoé
Um artista da fome
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 27 de janeiro de 2012.
Inspirado em conto de Franz Kafka, artista belga monta castelo de alimentos industrializados e junk food em galeria paulistana
Enquanto o Carnaval não chega e o ano não começa de verdade no Brasil, a Galeria Luisa Strina aproveita o recesso prolongado com um projeto bastante original. Desde 16 de janeiro, o artista belga Trudo Engels ocupa a galeria montando a instalação “Le Chatêau”, em processo aberto ao público. “A instalação é de fato uma performance, na qual participam nove artistas, que na realidade são ele mesmo”, explica a curadora Catherine Bompuis. Em uma espécie de exposição coletiva com vários artistas, Engels trabalha na montagem de um castelo fictício, cuja mobília é composta por balas, salgadinhos, refrigerantes e alimentos com altos índices de gordura transgênica. “Uso só alimentos mortais”, declara Engels.
O artista conta que sua ideia original era alugar um apartamento em São Paulo, passar seis semanas comprando comida em casas de alimentação baratas e, no entanto, ficar sem comer nada. “Depois, achei que seria mais forte deslocar a exposição para dentro de uma galeria comercial”, conta Engels, que manteve o projeto de jejuar durante um mês. Com isso, ele pretende colocar em questão “a relação entre o sistema comercial da arte e a fome”.
O projeto é inspirado no conto “Um Artista da Fome”, de Franz Kafka, que aborda a perda de interesse público em vítimas de greves de fome. Um tema bastante oportuno, a considerar a morte recente do preso político cubano Wilman Villar Mendoza, em 19 de janeiro, após uma greve de fome que durou 56 dias.
Até 16 de fevereiro, quando “Le Chatêau” ganhará um vernissage para oficializar sua abertura, Engels manterá o jejum. “O estado de abstinência enfraquece o corpo, mas reforça mentalmente sua ação. Essa é uma forma de purificar o trabalho”, afirma. Até a abertura oficial, Engels e seus nove colaboradores representados por ele mesmo (os “vários artistas” citados no título da mostra) recebem o público todas as quintas-feiras para uma série de workshops e discussões sobre a indústria de produtos de consumo.
fevereiro 1, 2012
Questões burocráticas ameaçam a 30.ª edição da Bienal de São Paulo por Maria Eugênia de Menezes, O Estado de S. Paulo
Questões burocráticas ameaçam a 30.ª edição da Bienal de São Paulo
Matéria de Maria Eugênia de Menezes originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Estado de S. Pauo em 1 de fevereiro de 2012.
Em 2008, mostra deixou segundo andar vazio como protesto contra o mercado das artes
Problemas na prestação de contas de 1999 a 2006 colocam em risco a realização da 30ª edição da Bienal de São Paulo, marcada para setembro. Desde o início do mês, a Fundação Bienal foi incluída na lista de inadimplentes do Ministério da Cultura. A inclusão significa que todo o dinheiro que a entidade tinha em caixa, cerca de R$ 12 milhões, fica congelado - assim como os recursos incentivados, via Lei Rouanet, que ainda estavam em fase de captação. "Se a situação não for resolvida dentro de no máximo um mês não teremos como manter a data da Bienal", observa o presidente da Fundação, Heitor Martins. "Por conta do passado, eles estão inviabilizando o presente da instituição."
Na segunda, o nome de Martins como pessoa física, e também de todos os outros seis diretores da instituição, foram incluídos no Cadin, cadastro federal de inadimplentes, órgão ligado ao Banco Central. Para resolver a situação e tentar viabilizar a mostra, a Bienal entrou na justiça: pede arbítrio jurídico para a questão e solicita que não seja considerada inadimplente enquanto a prestação de contas está sob análise. A expectativa é de que o judiciário se manifeste até a próxima semana.
"Todas as vezes em que foi solicitada uma informação ou uma defesa nós atendemos. Não temos nada contra o processo de prestação de contas. Queremos prestar contas. Mas não podemos fechar a Fundação enquanto eles analisam tudo", diz Martins. "É preciso achar um caminho para a instituição seguir funcionando enquanto essas coisas estão sendo discutidas." Em nota, divulgada na sexta-feira, o Minc limita-se a dizer que busca um entendimento com a Bienal. "A direção do MinC tem mantido contato aberto para que não haja prejuízo à realização do evento." Informalmente, a ministra Ana de Hollanda tem dito que não há perseguição por parte do ministério à Bienal.
É constante e estreita a relação da instituição com o governo federal. A Bienal sempre dependeu de vínculos com o MinC para viabilizar seus eventos: seja por meio de convênios seja por meio de Lei Rouanet. Nos últimos 12 anos foram cerca de 30 instrumentos dessa natureza. O alvo de questionamento pela CGU (Controladoria Geral da União) é um grupo específico de 13 convênios, celebrados entre 1999 e 2006. São repasses que totalizam R$ 32 milhões e foram utilizados para realizar diversas atividades: as bienais que ocorreram no período, reformas do prédio e as participações brasileiras nas bienais de Veneza. Segundo a CGU, "parte dos gastos realizados com o projeto não estão suportados por documentação comprobatória hábil ou não tem pertinência com o objeto estabelecido no termo de convênio".
Diálogo entrecortado. Após cada um desses convênios é necessário que se faça uma prestação de contas. Dos 13 convênios que são agora questionados, cinco já haviam sido aprovados. Os outros ficaram em análise. Pedidos de informações complementares, diz Martins, foram atendidos.
Heitor Martins assumiu em maio de 2009 e foi reeleito em dezembro de 2010. "Assim que tomei posse, recebemos 13 pedidos de informações relacionadas a esses projetos. Inclusive dos já aprovados, que foram reabertos", observa. Em um relatório de mais de 200 páginas, a CGU questionava os convênios e apontava uma série de irregularidades, como, por exemplo, despesas feitas fora do período de contrato e falta de licitação. "Todos os esclarecimentos solicitados foram enviados dentro do prazo. Depois, não tivemos notícias. Até outubro do ano passado." Foi então que a Fundação descobriu que havia sido incluída no cadastro de inadimplentes. De acordo com o diretor, não houve nenhuma notificação anterior, nenhum pedido de informação que não tivesse sido atendido.
É difícil entender como esses questionamentos foram encaminhados dentro do Ministério da Cultura; segundo revelou o Estadão.com.br em matéria do dia 28 de janeiro, embora alertada há pelo menos quatro anos pela CGU sobre as contas da Fundação Bienal, a pasta adiou a abertura de investigações contra a entidade - ao menos desde 2007, o órgão de auditoria do governo vem emitindo notas técnicas sobre supostas irregularidades. Parecer de setembro de 2011, da Diretoria de Gestão Interna, vinculada à Secretaria Executiva do MinC, sugeria ao secretário Vitor Ortiz a investigação de um prejuízo de R$ 7 milhões, pretensamente causado na execução do convênio 167/2003, para pré-produzir a 26ª Bienal.
Os recursos da Fundação já haviam sido bloqueados no final de 2011, em meio à exposição Em Nome dos Artistas, que comemorava os 60 anos da Bienal de São Paulo. "Era uma exposição com obras que valiam centenas de milhares de dólares e ficamos sem dinheiro até para enviar as obras de volta", conta Martins. Naquele momento, o processo específico responsável pelo status de inadimplente da fundação datava de 1999 e se referia aos recursos destinados pelo Ministério da Cultura para a reforma do telhado do prédio, que ruiu durante a realização da 24ª Bienal.
Para ter suas contas desbloqueadas, a Fundação concordou em devolver todo o dinheiro recebido à época - com juros, correção monetária e multa. "Poderíamos contestar na justiça. Todo o dinheiro foi, de fato, gasto na reforma do telhado. Não houve prejuízo do Estado", diz Martins. "Só que na hora que somos colocados na inadimplência, eles matam a gente. É quase uma coação: ou vocês pagam ou ficam sem dinheiro nenhum. A gente perde a chance de debater."
Regularizada essa situação, a entidade foi retirada da situação de inadimplente. Na sequência, porém, apareceram outros 12 processos semelhantes. E, em 2 de janeiro, a Bienal voltou a ser incluída na listagem de devedores do governo federal. "Foi por isso que agora entramos com a ação. Não poderíamos aceitar o mesmo tipo de acordo para todos os convênios. Vamos à justiça para nos defender", argumenta Salo Kibrit, um dos diretores da fundação.
Outro ponto questionado pela Bienal é o prazo dado pelo MinC para que os novos questionamentos sobre os antigos convênios sejam respondidos. A partir da primeira semana de novembro, começaram a chegar os pedidos de esclarecimentos. O último deles é de 23 de dezembro. Toda a documentação requisitada, contudo, deveria ser entregue até o dia 31 de dezembro. Sem direito a prorrogação de prazo. "É um emaranhado de prestação de contas super complexo. Precisamos de um prazo maior. Esses pedidos geram um fluxo que paralisa a instituição inteira", diz Martins.
CRONOLOGIA
Teto do prédio da Bienal desaba em 1999, durante a 24ª edição da mostra
Em 2000, evento é adiado por duas vezes. O curador Ivo Mesquita é demitido. O empresário Manoel Francisco Pires da Costa é eleito presidente da Fundação.
Em 2007, Pires da Costa é reeleito presidente pela terceira vez e se torna alvo de investigações do Ministério Público, que questiona o fato de ele ter contratado sua própria empresa como prestadora de serviços. O Conselho Fiscal da entidade reprova as contas; o então presidente faz um acordo com o MP e renuncia ao recebimento de R$ 840 mil.
A crise provoca o adiamento da Bienal de 2008. Em seu lugar, Ivo Mesquita, de volta ao posto de curador, propõe uma "reflexão sobre o vazio".
Em 2009, eleito presidente, Heitor Martins é chamado a dar esclarecimentos ao MP mesmo antes de tomar posse. Marcada para 4 de setembro, a próxima Bienal (30ª) tem curadoria do venezuelano Luis Pérez-Oramas, curador licenciado do MoMA/NY
Mostra enfoca ressurgimento do MAM com doação de acervo por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostra enfoca ressurgimento do MAM com doação de acervo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Foha de S. Paulo em 1 de fevereiro de 2012.
A primeira obra diz tudo: "Tempo Suspenso de um Estado Provisório" (2011), de Marcelo Cidade, é uma réplica de um dos cavaletes de Lina Bo Bardi (1914-1992) -criados para exibir o acervo do Masp, mas guardados na reserva do museu-, que no trabalho do artista está marcada por tiros de revólver.
Sarcasmo e trauma são facetas do trabalho de Cidade, que fala não só da violência urbana mas da violação que a obra de Bo Bardi sofre na atual disposição do Masp.
Pois é da violência e do trauma na história do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) que trata a mostra "O Retorno da Coleção Tamagni", cuja visitação se abre com a obra de Cidade.
A história é conhecida:
Ciccillo Matarazzo criou o MAM (1948) e depois a Bienal de São Paulo (1950), mas desistiu do primeiro e entregou sua coleção para a USP, que criou o MAC (1963), deixando o MAM sem acervo.
Pois a Coleção Tamagni é responsável pelo "ressurgimento" do MAM como museu, já que esse acervo foi recebido após a morte de Carlo Tamagni (1900-1966), colecionador e também conselheiro do espaço, e exibida na íntegra em 1968.
Os curadores Felipe Chaimovich e Fernando Oliva enfrentaram um grande desafio: mostrar uma coleção sem grande importância (ela está longe, por exemplo, das obras-primas da Coleção Nemirovsky, em comodato na Pinacoteca), apesar de contar com nomes significativos como Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral.
O grande valor do acervo está no gesto da doação, que deu nova vida ao MAM.
De certa forma, é justamente isso que diz "O Retorno da Coleção Tamagni" ao apresentar documentos e correspondências do período como se eles também fossem obras e ao exibir trabalhos contemporâneos, como o de Cidade, para criar novas leituras.
E, finalmente, é inteligente o uso de "Máquina Curatorial", de Nicolás Guagnini, composta por paredes que se movem e permitem combinações distintas entre as obras.
Apesar de ser um tanto apelativa, já que se trata de um jogo de cartas marcadas, no qual a real participação do espectador é limitada a empurrar paredes, é em sua perversidade que a "Máquina Curatorial" ajuda a entender o que diz a exposição: o que está na parede não importa muito desde que alguém esteja passando por ali.
Agenda de Eventos
O retorno da Coleção Tamagni: até as estrelas por caminhos difíceis, Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM SP, São Paulo - SP, 13/01/2012 a 11/03/2012
english
Delírio tropical por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Delírio tropical
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 31 de janeiro de 2012.
Novo documentário resgata gravações de áudio e imagens perdidas do artista Hélio Oiticica
"Março de 1974. Augusto de Campos, aqui fala Hélio Oiticica, em Nova York, 1h45 da madrugada. Estou fazendo um 'tape', esse 'tape' eu queria dedicar a você, porque a maioria do 'tape' é Jimi Hendrix. Sempre que eu ouço Jimi Hendrix eu me lembro de você. A plateia dele era diferente, a relação das pessoas com o corpo mudou muito e a relação também dos espectadores com o performer. Ao mesmo tempo em que ele era aclamado, era repudiado."
Nos anos em que viveu em Nova York, de 1970 a 1978, Hélio Oiticica, um dos fundadores do movimento neoconcreto, gravou divagações como essas em fitas cassete que mandou para amigos no Brasil, como Augusto e Haroldo de Campos, o cineasta Júlio Bressane e os artistas Carlos Vergara e Antônio Dias.
São conversas em tom confessional, reflexões sobre arte, música e proposições estéticas. Agora elas servem como espécie de trilha sonora para "Delirium Ambulatorium", documentário sobre o artista, morto aos 42 em 1980, que seu sobrinho, César Oiticica Filho, tenta terminar.
"É um filme contado em primeira pessoa, por ele mesmo", conta Oiticica Filho, sobre seu filme ainda sem previsão de estreia. "São suas visões da sociedade, é como ele analisa as coisas."
Numa produtora em Ipanema, no Rio, o diretor mostrou à Folha cenas do primeiro corte do filme. E também um vasto acervo de imagens ressurgidas agora, depois de três anos de buscas intensas.
"Essa pesquisa vai além do filme, nunca vamos conseguir mostrar tudo isso", diz Oiticica Filho. "Estamos num ponto crítico do documentário, que é conseguir todas as autorizações de imagens."
ACHADOS E PERDIDOS
A voz de Oiticica em entrevistas, conversas com amigos e nas "Heliotapes", como Haroldo de Campos batizou as fitas gravadas, sublinha imagens raras -muitas delas estavam perdidas até hoje.
Suas reflexões sobre Jimi Hendrix, por exemplo, e a ideia de que o músico transformou música em experiência, "uma coisa antropofágica mesmo", nas palavras do artista, vão de encontro à sua descrição da exposição que realizou na galeria Whitechapel, de Londres, em 1969.
"Essa foi sua experiência mais forte", diz Oiticica Filho. "Isso é a maior coisa que a gente queria encontrar."
Antônio Venâncio, pesquisador de imagens do documentário, conta que tentou de todas as formas, sem êxito, ter acesso a um vídeo da rede britânica BBC, que na época fez uma reportagem sobre a mostra londrina.
"Fora do Brasil, as coisas também se perdem", conta Venâncio. "A Tate Modern tentou encontrar essas imagens e não conseguiu."
Mas chama atenção o que foi encontrado. Há imagens da intervenção "Devolver a Terra à Terra", de 1979, dele vestindo passistas da Mangueira com suas capas "Parangolé", e da performance coletiva "Apocalipopótese", que levou vários artistas ao aterro do Flamengo em 1969.
Essas últimas imagens não eram vistas desde os anos 90, quando os registros rumaram para uma mostra de Oiticica em Paris e nunca foram devolvidos pela curadoria.
Oiticica também aparece no primeiro registro filmado de que se tem notícia do
happening "Mitos Vadios", que o artista Ivald Granato fez na rua Augusta, em São Paulo, no fim dos anos 70. Nas imagens, ele surge de sunga e óculos de aviador na cabeça dançando e cantando.
Numa entrevista pouco antes de sua morte, em 1980, Oiticica fala sobre a origem e os desdobramentos de sua instalação "Tropicália", de 1967.
"Era uma espécie de ambiente", diz Oiticica, enquanto monta uma maquete de uma de suas obras. "Caetano Veloso gostou do nome e fez a música, daí nasceu o tropicalismo, que é uma posição estética sobre as coisas."
Na mesma conversa, ele sustenta que o tropicalismo vingou na música, mas ataca a forma como o movimento repercutiu nas artes visuais -uma "papagaiada do pop americano abrasileirado".
De certa forma, o novo filme dá maior lastro às declarações polêmicas do artista. Enquanto "HO", curta de Ivan Cardoso filmado em 1979, mostra o artista com sua obra, "Delirium Ambulatorium" casa as criações dele com sua fala, construindo uma espécie de diário visual.
Aquilo que sobrou do filme de Cardoso, aliás, é reaproveitado no filme de Oiticica Filho. "É a ideia de passar a experiência de como essa obra começa e por que ela vai tão longe", diz Oiticica Filho.
Houston conduz pesquisa sobre obra do artista
Num laboratório do departamento de restauro do Museu de Belas Artes de Houston estão latas de tinta encontradas no ateliê de Hélio Oiticica com anotações nos rótulos sobre seus processos de criação.
De certa forma, quase toda a obra de Oiticica já passou pelas mãos de Wynne Phelan, chefe de conservação do museu.
"Somos os nerds da arte", conta Phelan à Folha. "É preciso ser cientista e conhecer arte para acessar informações históricas presas em restos de tinta."
Quando Houston fez a primeira retrospectiva internacional do artista, há seis anos, Phelan foi escalada para restaurar as peças da exposição, como a "Série Branca", que depois pegaria fogo no incêndio que consumiu o espólio do artista no Rio em 2009.
Duas obras dele ainda estão em Houston, um "Metaesquema" e um "Relevo Espacial" comprados há cinco anos no pacote completo da coleção de Adolpho Leirner, um dos maiores acervos do concretismo brasileiro, pelo museu norte-americano.
Agora, Phelan e sua equipe estudam a fundo os materiais usados por Oiticica em seus quadros, na tentativa de reverter o impacto de intervenções equivocadas e saber como proceder caso reparos sejam necessários no futuro.
Usam radiografias e uma máquina capaz de identificar os elementos químicos na composição.
"Ele usava muito o vermelho, é por isso que há grandes quantidades de mercúrio em seus quadros", afirma Phelan. "Hélio construía tudo em camadas; mesmo as coisas mais simples são, na verdade, complexas."
janeiro 30, 2012
Ministério tenta evitar adiamento da 30ª Bienal por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Ministério tenta evitar adiamento da 30ª Bienal
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 28 de janeiro de 2012.
O Ministério da Cultura divulgou, anteontem, uma nota na qual afirma que busca um entendimento com a Fundação Bienal para evitar o adiamento da 30ª Bienal, programada para setembro, como noticiou a Folha, ontem.
"A direção do MinC tem mantido contato aberto e estreito para que não haja prejuízos à realização do evento. Diversas alternativas de encaminhamento já foram discutidas com representantes da fundação, sempre com a observância do interesse público", diz a nota.
Desde o dia 2, as contas da fundação foram bloqueadas no sistema do MinC, porque a instituição foi considerada inadimplente. Isso ocorreu a partir de 13 processos de malversação de dinheiro público, num total de R$ 32 milhões levantados pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Motivado pela auditoria da CGU e em atendimento às orientações, o MinC revisou, em 2011, 13 prestações de contas relativas a convênios firmados com a fundação. Entre as irregularidades, uma nota fiscal era apresentada como justificativa de despesas em distintos processos, durante a gestão de Manoel Francisco Pires da Costa.
O setor educativo da Bienal, por sua vez, divulgou nota aos seus parceiros afirmando que toda a programação do Educativo será mantida.
Cultura ignora pedido da CGU para investigar Bienal por Alana Rizzo e Fábio Fabrini, Estado de S. Paulo
Cultura ignora pedido da CGU para investigar Bienal
Matéria de Alana Rizzo e Fábio Fabrini originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 28 de janeiro de 2012.
Embora alertado há pelo menos quatro anos de indícios de fraude em projetos da Fundação Bienal de São Paulo, o Ministério da Cultura adiou a abertura de investigações contra a entidade. A pasta não abriu nenhuma tomada de contas especial (TCE), recomendadas pela Controladoria-Geral da União (CGU) desde 2007, para apurar o valor supostamente desviado ou mal aplicado. A Bienal é suspeita de irregularidades que somam R$ 32 milhões em recursos obtidos por meio da Lei Rouanet. A gestão de Ana de Hollanda, iniciada em 2011, ignorou pedidos de apuração do próprio controle interno da Cultura.
Parecer de setembro de 2011, da Diretoria de Gestão Interna, vinculada à Secretaria Executiva do ministério, sugere ao secretário Vitor Ortiz a instauração de uma TCE para investigar um prejuízo de R$ 7 milhões aos cofres públicos, causado na execução do convênio 167/2003, para pré-produção da 26.ª Bienal de São Paulo. Quatro meses depois, a providência não foi tomada.
Nesse convênio, o órgão de auditoria do governo constatou que "parte dos gastos realizados com o projeto não está suportado por documentação comprobatória hábil ou não tem pertinência com o objeto estabelecido no termo de convênio". E solicitou "que se proceda à instauração de TCE imediata e à apuração de eventuais danos ao erário".
Um documento da Coordenação de Prestação de Contas do ministério, de 30 de agosto de 2010, reforça o pedido de instauração da TCE e diz que as irregularidades não foram sanadas, apesar dos esclarecimentos apresentados pela Fundação Bienal.
Numa nota técnica de abril de 2009, que consolida o resultado das fiscalizações sobre 13 projetos da fundação executados de 1999 a 2006, entre eles o da pré-produção da 26.ª Bienal, a CGU aponta a ocorrência de superfaturamento, direcionamento de contratos, dispensas ilegais e fraudes em licitações, despesas feitas fora do período de vigência dos convênios e até sem cobertura contratual. Nenhum dos 12 projetos, até ontem, era alvo de TCE.
Procedimento
Norma que disciplina as TCEs, a Instrução Normativa 56/2007, do Tribunal de Contas da União, diz que, constatados indícios de desvios em repasses, o governo deve "adotar providências para apuração dos fatos, identificação dos responsáveis, quantificação do dano e obtenção do ressarcimento". Caso não o faça em 180 dias, a autoridade responsável fica sujeita a responder pelo débito e ao pagamento de multa numa eventual condenação do tribunal.
Bienal tem contas bloqueadas por inadimplência por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Bienal tem contas bloqueadas por inadimplência
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 27 de janeiro de 2012.
Processo da Controladoria Geral da União constatou uso irregular de verbas públicas no total de R$ 32 mi
Fundação Bienal acionou a Justiça para resolver o caso; próxima edição da mostra, prevista para setembro, pode ser adiada
Apesar de ter cerca de R$ 11 milhões em caixa, a Fundação Bienal ligou o botão de alarme em relação à realização da 30ª Bienal de São Paulo, cuja abertura está prevista para o dia 7 de setembro.
Motivo: desde o dia 2 de janeiro as contas da instituição estão bloqueadas pelo Ministério da Cultura (MinC) por inadimplência.
"A realização da Bienal está correndo risco, justo agora que estávamos com tudo para fazer uma mostra memorável, já que o curador foi selecionado com dois anos de antecedência e 80% do orçamento está garantido", disse, anteontem, Heitor Martins, presidente da Bienal.
A inadimplência foi decretada devido a um processo da Controladoria Geral da União, que teve início em abril de 2009 (veja quadro ao lado).
Ele apontava irregularidades em 13 processos da Bienal, ocorridos entre 1999 e 2006, nas gestões de Carlos Bratke e Manoel Francisco Pires da Costa.
No total, a Bienal teria feito mau uso de verbas públicas no total de R$ 32 milhões, o que foi noticiado pela Folha na época. É de praxe que entidades inadimplentes tenham as contas bloqueadas pelo MinC.
"Em 2009 eles nos pediram esclarecimentos sobre esses processos e nós fornecemos. No ano passado, chegamos a devolver ao MinC cerca de R$ 700 mil, porque foi alegado que, em 1999, foi consertado o telhado da Bienal sem que a verba estivesse liberada", conta Martins.
Procurado pela Folha, o Ministério da Cultura não respondeu até o fechamento desta edição.
BIENAL EM RISCO
A Fundação Bienal entrou com petição na Justiça Federal solicitando a revisão do caso e espera resolver o problema rapidamente.
"Se não conseguirmos reverter até meados de fevereiro, a situação fica complicada. Já tivemos que atrasar o início de ações do educativo. Enquanto eles analisam o passado, estão inviabilizando o presente", diz Martins.
A 30ª Bienal, com curadoria do venezuelano Luis
Pérez-Oramas, tem um orçamento de R$ 30 milhões aprovado pelo MinC.
"Pela nossa experiência, sabemos que podemos realizá-la com menos, algo em torno de R$ 27 milhões, sendo R$ 22 milhões com dinheiro incentivado e R$ 5 milhões de recursos próprios", diz o presidente da Bienal -a quantia bloqueada é a que tem incentivo. "Mas só com R$ 5 milhões teremos que adiar a mostra", conclui Martins.
Museus de arte nacionais vivem seus dias de rock por Mariana Zylberkan, Revista Veja
Museus de arte nacionais vivem seus dias de rock
Matéria de Mariana Zylberkan originalmente publicada na revista Veja em 22 de janeiro de 2012.
Bom momento econômico do país e profissionalização dão ao setor uma agenda que ele não tinha desde os anos 1990, com a vinda em peso de mostras de grandes nomes, dos renascentistas aos contemporâneos
Os olhos dos amantes das artes plásticas não foram tão requisitados, ao longo de 2011, quanto os ouvidos dos fãs de música. Mesmo assim, os frequentadores de museus e galerias têm algo a comemorar. No ano passado, eles viram aportar no Brasil mais de dez grandes nomes das artes, em mostras que se espalharam para além do eixo Rio-São Paulo -- um feito que pode se repetir em 2012. Foram exposições como Em Nome dos Artistas, que reuniu criações de ícones como Damien Hirst e Jeff Koons no prédio da Bienal, em São Paulo, Sigmar Polke, no Museu de Arte de São Paulo (Masp), e Amadeo Modigliani, que começou por Vitória, segue este mês para o Rio e em abril vai para São Paulo. A movimentação do mercado expositor, que faz lembrar o bom momento vivido nos anos 1990, e pode superá-lo, é um novo marco para os museus nacionais. Que vivem seus dias de rock, recebendo, no lugar das estrelas da música, os popstars das artes plásticas.
Para 2012, estão previstas outras mostras de peso. Como a do alemão Lucian Freud, que terá suas gravuras expostas, no segundo semestre, no Museu de Arte de São Paulo (Masp), por onde também passará Giorgio de Chirico, outro a circular pelo país – ele entrou em cartaz primeiro em Porto Alegre, no final do ano passado, e em março segue para Belo Horizonte (confira lista abaixo).
A agenda cheia ajuda a espanar o pó das salas de exposição, que desde o início dos anos 2000 não acomodavam tantos figurões das artes. E a recuperar um terreno que o Brasil começou a conquistar há vinte anos e se viu perdendo especialmente a partir de 2004, com a queda do presidente da BrasilConnects, o banqueiro e colecionador de arte Edemar Cid Ferreira, acusado de fraude e formação de quadrilha à frente do Banco Santos. A organização foi responsável por mostras como Picasso na Oca (2004) e A Bigger Splash (2003), que, juntamente com exposições como as de Degas e Rodin, em 1995, e a de Monet, em 1997, representaram a estreia do país no circuito internacional de artes (vide lista).
“O crescimento atual é resultado de um processo lento e gradual. Antes, apenas a Bienal assumia o papel de inserir a arte internacional no Brasil. Hoje, com o crescimento do mercado, esse papel está também com outras instituições”, diz Moacir dos Anjos, curador da 29ª edição da Bienal Internacional de São Paulo (2010). Para o curador, a aceleração desse processo de inserção da arte estrangeira no país, verificado especialmente nos últimos anos (2010 teve pelo menos sete grandes mostras, como a de Ródtchenko e Andy Warhol), se deu graças à maior presença do Brasil no circuito de arte internacional. Que, por sua vez, se deve à chegada de artistas nacionais a museus e leilões estrangeiros e também à profissionalização do setor. "Hoje dispomos de mecanismos institucionais mais sólidos, tanto para financiar como para atender os requisitos de qualidade exigidos pelas instituições internacionais que organizam as exposições.”
A Europa também tem dado uma força para o Brasil se aproximar da rota das grandes exposições mundiais. Explica-se: a recessão econômica no Velho Mundo deixa o caminho mais livre para que as instituições mundiais saiam em busca de novos mercados. “Supostamente, o Brasil não está em crise e isso abre espaço para o país. Há maior interesse das grandes instituições pelo Brasil. É mais uma questão psicológica, mas os museus internacionais fazem questão de não serem esquecidos por aqui”, afirma José Roberto Teixeira Coelho, curador do Masp.
Trata-se de uma maré positiva para o país. Mais profissional e economicamente estável, pela primeira vez, o Brasil dispõe de condições para aproveitar a abertura do circuito mundial de artes, que vem sendo impulsionada pela globalização e a crise na economia global.
Apesar do quadro otimista, não há motivo para euforia, porém, segundo o economista George Kornis, especialista em economia do entretenimento. Ainda que esteja melhor hoje do que ontem, o Brasil ainda tem um lugar pequeno no mercado mundial de arte. “A liderança desse setor está nas mãos dos países anglo-saxões, que respondem por 60% a 75% do bolo global. O Brasil tem fatia equivalente a 0,25%.”
A discrepância do papel exercido pelo Brasil em relação aos líderes do mercado, segundo Kornis, é explicada pela falta de capitalização das empresas que formam o setor (as galerias), além da alta taxação (impostos) e da escassez de órgãos certificadores (que coíbam a falsificação e o mercado paralelo). E da curta experiência do país no ramo. “O mercado de arte nasceu no Brasil nos anos 1950, enquanto os Estados Unidos teve início no século XIX. Ainda temos um longo caminho a percorrer.”
Vendas de obras – Os números relacionados às exportações de obras nacionais deixam claro que pelo menos uma parte da estrada já foi percorrida. Entre 2005 e 2011, o valor arrecadado com as vendas de arte brasileira ao exterior triplicou. Em 2005, foram comercializados 10,3 milhões de dólares em arte nacional em galerias estrangeiras. Em 2011, até o mês de setembro, o montante era de 35 milhões de dólares. Mais: os números referentes a 2011 já ultrapassaram o volume total de exportações de 2010, de 34,9 milhões de dólares, segundo dados coletados pelo convênio entre a Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) e a Apex Brasil.
O aumento nas exportações de obras de arte é impulsionado, em grande parte, pelas feiras organizadas nos últimos anos. Desde a primeira edição, a SP Arte registra um crescimento nas vendas de até 30% ao ano. “A boa produção de arte aliada à fluência econômica do Brasil ofereceram condições de crescimento ao mercado”, conta Fernanda Feitosa, diretora da SP Arte. Já no Rio de Janeiro, a Art Rio, feira realizada pela primeira vez em 2011, comercializou 120 milhões de reais em obras de artistas nacionais e internacionais, segundo a organização. Além de fomentar o surgimento de feiras, o bom momento do segmento propicia o aparecimento de um novo tipo de consumidor: a classe média está comprando arte (confira texto no pé da página).
O ano de 2011 também foi aquele em que o primeiro fundo de financiamento em artes passou a funcionar no país. O Brazil Golden Art (BGA), da gestora Plural Capital, fundada por quatro ex-sócios do banco de investimentos Pactual, reúne setenta investidores que, juntos, captaram 40 milhões de reais. A meta do grupo é criar um acervo próprio, com 2.000 obras de artistas nacionais, em até quatro anos. Atualmente, o fundo dispõe de 300 trabalhos de nomes consagrados, como Beatriz Milhazes e Tunga.
Para participar, cada sócio deve investir no mínimo 100.000 reais. O lucro é dividido com a compra e a venda do acervo colecionado. “Isso é só o começo”, diz Heitor Reis, um dos sócios do BGA.
Exportar cada vez mais arte coloca o Brasil numa situação favorável num mercado que funciona na base de trocas. “Tudo o que é exportado retorna em termos de diálogo. Ter mais artistas brasileiros no exterior significa ter mais exposições importantes em nosso país”, diz Alessandra D’Aloia, sócia-diretora da galeria Fortes Vilaça, lembrando o bom momento da programação nacional de mostras.
Foco nos modernistas – Dentro do crescente interesse em torno de artistas brasileiros no exterior, se destaca a descoberta – lá fora – dos nossos modernistas e neoconcretistas. Está prevista para 2013 a organização de uma exposição da neoconcretista Lygia Clark no Museu de Arte Moderna de Nova York (Moma). Em 2013, a artista suíça naturalizada brasileira Mira Schendel terá sua obra exposta no Museu Britânico e Internacional de Arte Moderna (Tate Modern Museum).
Essa programação reafirma o interesse de instituições estrangeiras pela arte brasileira cuja maior intensidade foi marcada pela exposição de Hélio Oiticica, em 2007, no Tate Modern, que também abrigou a mostra de Cildo Meireles em 2008. Em junho de 2011, Lygia Pape teve sua obra exposta no museu Reina Sofia, em Madri.
Formação de público – O bom desempenho do mercado de arte brasileiro se reflete também na frequência dos museus. A maioria registrou aumento de visitantes nos últimos anos. O Museu de Arte Moderna da Bahia, por exemplo, calcula um salto de 170.000 visitantes entre 2007 e 2011. Neste ano, até o mês de outubro, o Museu de Belas Artes, no Rio de Janeiro, recebeu 69.561 pessoas, 7.000 a mais do registrado em 2007.
Em Inhotim, em Minas Gerais, onde o empresário Bernardo Paz abriu em 2006 o Instituto de Arte Contemporânea para abrigar obras de artistas importantes como os brasileiros Adriana Varejão, Cildo Meirelles e Hélio Oiticica e o americano Matthew Barney, os números são igualmente surpreendentes. No primeiro ano, o instituto recebeu 7.114 pessoas. Em 2011, foram registrados 190.751 visitantes.
Desde 2007, a Pinacoteca de São Paulo mantém a média de 500.000 frequentadores por ano. O Museu de Arte de São Paulo (Masp) dobrou o número de visitantes nos últimos cinco anos e, atualmente, recebe 700.000 pessoas por ano.
Novos colecionadores
A advogada Roberta di Ricco Loria, de 26 anos, comprou recentemente sua primeira obra de arte. Apesar de se sentir atraída por telas e fotografias, Roberta sempre relutou em finalmente levar uma peça para casa. “Fico em dúvida entre adquirir uma obra e fazer uma viagem bacana”, diz a advogada que desembolsou 3000 reais em três telas recentemente.
Roberta faz parte do grupo de novos colecionadores que tem se tornado cada vez mais atuante no mercado de arte brasileiro. São jovens na faixa de 25 a 35 anos, a maioria publicitários, que tentam afirmar sua originalidade através da aquisição de peças únicas. “A obra de arte está mais inserida no cotidiano das pessoas. Isso tem a ver com o maior espaço que a imagem ocupa na sociedade atualmente. Além disso, a internet ajudou a disseminar a arte de rua e digital. Essas novas plataformas dessacralizaram a arte contemporânea que deixou de ser vista como algo conceitual para fazer parte da vida de todos”, diz Eduardo Saretta, sócio da galeria Choque Cultural.
Os novos colecionadores ganharam maior representatividade recentemente. Entre os dias 17 e 20 de novembro, foi organizada, em São Paulo, a primeira feira de arte voltada especificamente para esse público. As 22 galerias participantes expôs obras com preço médio de 3.000 reais e, máximo, de 10.000 reais. Em seis dias, calcula-se que foi comercializado o equivalente a 1,5 milhão de reais. “A maioria das 65 mil pessoas que foram à feira era formada por jovens, profissionais liberais e donos de um gosto estético apurado que consome objetos de design e filmes de arte”, diz Lina Wurzmann, organizadora da Feira Parte.
Os novos colecionadores já representam 30% do número de obras vendidas na galeria Emma Thomas, em São Paulo. “Temos facilidades de pagamento para esse público, aumentamos o número de parcelas para incentivar a formação desse público”, diz a galerista Flaviana Bernardo.
Cultura sem expressão por Flávia Tavares, Valor Econômico
Cultura sem expressão
Matéria de Flávia Tavares originalmente publicada no jornal Valor Econômico em 27 de janeiro de 2012.
Brasília é meio chata em janeiro. O Congresso está em recesso, as ruas estão vazias, chove quase diariamente. Parece que o tempo para na capital federal e a máxima de que o Brasil só acontece depois do Carnaval foi inventada aqui, no verdadeiro túmulo do samba. Bobagem. Nos corredores da Esplanada dos Ministérios, Brasília ferve há pelo menos duas semanas. Especialmente naqueles inoculados com o veneno antimonotonia da reforma ministerial, caso do Ministério da Cultura, de Ana de Hollanda.
Seu nome aparece insistentemente no noticiário político como uma das possíveis trocas no rearranjo ministerial. A dívida histórica que o PT tem com a família Buarque de Holanda - Sérgio, pai da ministra, foi um dos fundadores do partido; sua mulher, Maria Amélia, ostentava uma bandeira com a estrela vermelha na sala de sua casa até o dia de sua morte; e Chico, um dos irmãos, nunca voltou atrás em seu apoio mesmo nos momentos mais difíceis, como durante as denúncias do mensalão - conta a seu favor. O fato de que Dilma aprecia a lealdade com que Ana abraçou as restrições orçamentárias impostas a ela (em 2011, o orçamento da Cultura recebeu um corte de 37% com relação a 2010, ou R$ 529 milhões a menos), sem reclamar, e exerceu o perfil de gerente da cultura, também.
Ajuda ainda a questão de gênero. Mas essa seria facilmente sanada se Ana fosse substituída por outra mulher. Marta Suplicy (PT-SP) tem sido cogitada. Seria uma forma de agradar ao PT e à própria Marta, que ficou sem a Prefeitura de São Paulo, sem o Ministério da Educação e sem o da Ciência e Tecnologia. Outro nome que tem ganhado força é o de Marta Porto, que deixou o MinC em setembro. Diz-se, nos bastidores, que Antonio Grassi - padrinho político de Ana e presidente da Funarte - tentou emplacá-lo no auge da crise no MinC no lugar da afilhada.
Há homens que também já aparecem como possíveis sucessores, como o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) e Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc-SP, este mais independente, com forte aprovação no meio artístico. Acuada, a ministra não quis receber a reportagem, mas declarou recentemente: "Estou tranquila, tenho o apoio da classe artística e não vou entrar na 'noia'. Senão, eu não trabalho".
Ana de Hollanda, atriz, cantora e compositora de 63 anos, voltou de férias no dia 17 e mergulhou nos relatórios que apresentaria para a presidente Dilma Rousseff, em reuniões convocadas pela chefe com todos os ministros nos dias que se seguiriam. Ao longo de 2011, as duas tiveram apenas dois encontros particulares, de acordo com a agenda oficial da ministra - que se reuniu outras duas vezes com Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e duas com Gilberto Carvalho, secretário-geral da presidente. Agora, Dilma quer resultados. E Ana de Hollanda precisa deles.
Para apagar a impressão de que seu primeiro ano como titular da pasta foi, ele sim, apagado, e que está na conta dela o fato de o MinC ter perdido protagonismo, a ministra confia em alguns trunfos. O primeiro foi a efetivação do Plano Nacional de Cultura, que estabelece metas para a área até 2020. Outro é a parceria com o Ministério da Educação - sonho antigo, alimentado desde Celso Furtado - para levar agentes culturais e de leitura a 2 mil escolas do Programa Mais Educação.
Ana confia ainda nos números que fez seus secretários compilarem. E eles são unânimes ao propagandear o que acreditam ser sua principal conquista, num período marcado por polêmicas e grita no mundo cultural: eficiência de gestão. "Chegamos a uma execução orçamentária de quase 100%, o que prova que não há retrocesso político ou de investimentos", diz Vitor Ortiz, secretário-executivo do MinC. Seguindo no mantra do orçamento, Grassi, da Funarte, afirma: "Depois de um primeiro semestre de muito embate, o segundo foi a prova de fogo, quando tivemos de provar que somos eficientes administrativa e politicamente".
A questão, garante o secretariado de Ana, é que muitas dessas contas que foram pagas em 2011 eram dívidas das gestões anteriores. E, quando se passa um ano pagando conta atrasada, não se tem muito a mostrar de novo. Além disso, a ministra, discreta, apolítica, com frequência elogiada como "muito disciplinada", sucedeu duas figuras extremamente carismáticas e expansivas e fez pouco lobby com a base governista no Congresso. Fica difícil vender o peixe da "eficiência de gestão" para os movimentos culturais e para os aliados quando seu antecessor mais folclórico, Gilberto Gil, falava em "do-in antropológico".
Essa falta de traquejo resultou na paralisação, por exemplo, da votação do Vale Cultura, tipo de tíquete de R$ 50 para trabalhadores que ganhem até cinco salários mínimos gastarem em livros, cinema, música e teatro. Aprovado pelo Senado em 2009, o projeto de lei segue em repouso na Câmara e a ministra não teve força política para dar prioridade a ele. Também não articulou mudanças na Lei Rouanet, demanda antiga dos produtores culturais. "A lei não atinge os pequenos produtores, principalmente aqueles que estão fora da Região Sul e Sudeste, pois as empresas não se interessam, na sua maioria, em atrelar seus nomes a projetos sem grande visibilidade. O MinC não criou nada para preencher essa lacuna", diz Daniel Gaggini, produtor, ator e cineasta, responsável pelo projeto CineFavela.
"Os momentos são diferentes. A gestão Dilma, como a da ministra, é de sistematizar os avanços conquistados na gestão Lula e Gil", afirma Sergio Mamberti, secretário de políticas culturais e no MinC desde 2003. Ele conhece Ana há 40 anos e assegura que seu perfil é o de uma questionadora, não o de uma "burguesa" como alguns de seus desafetos tentaram tachá-la, num anacronismo comum às discussões do meio cultural. "Fomos do Partido Comunista juntos, imagine. O problema é que sistematizar é colocar nos trilhos e isso pode dar a impressão de limitação, o que não é verdade", diz Mamberti.
Só que as visões "sistemáticas" de Ana sobre duas das principais bandeiras de Gil e de seu sucessor, Juca Ferreira, foram pontos de discordância com setores pesos pesados da discussão. Mexer com o vespeiro da cultura digital e ameaçar a valorização da cultura popular, com sua representação maior nos Pontos de Cultura, do Programa Cultura Viva, lhe trouxeram grandes prejuízos. "Ninguém esperava que a ministra rompesse com o ambiente de 'cogestão' entre o MinC e os movimentos sociais. O reconhecimento internacional da política de cultura digital na gestão Gil/Juca e de um programa como o Cultura Viva [exportado para boa parte da América Latina] foi fruto dessa cogestão, que se rompeu com a entrada de Ana de Hollanda", afirma Ivana Bentes, professora e pesquisadora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora do Pontão de Cultura Digital da ECO/UFRJ.
O rompimento foi abrupto. Uma das primeiras medidas da ministra foi a retirada do selo Creative Commons (CC) - uma espécie de bandeira da turma pela web livre - do site do MinC, o que revoltou os militantes mais libertários da rede. Hoje, ela tenta emplacar na nova Lei de Direitos Autorais a criação de uma licença pública nos moldes do CC, mas com base na legislação brasileira, além de um banco de dados único para os registros autorais. Os representantes da cultura digital, no entanto, não parecem convencidos.
"Lidar com os movimentos de cultura digital não é fácil aqui nem em lugar algum. É só ver o que está acontecendo nos Estados Unidos", argumenta José Murilo Junior, coordenador-geral de Cultura Digital no MinC, referindo-se ao embate sobre o Stop Online Piracy Act (Sopa), que colocou movimentos pela internet livre em guerra com o governo americano. "Mas nós estivemos em todas as reuniões com o pessoal que nos critica e explicamos que estamos num momento voltado para dentro, pensando tecnologias e plataformas para exercer essa liberdade."
Já a política do MinC para os Pontos de Cultura está sendo revista e alguns representantes dos mais de três mil pontos espalhados pelo país temem que as alterações resultem em menos repasses de verbas. "Tivemos de reavaliar editais da gestão anterior, porque muitas entidades, por falta de experiência técnica, não cumpriram exigências. Mas hoje temos capacidade de implantar 500 novos pontos por ano, com a proposta de que, mais do que financiamento, esses pontos precisam de fomento", afirma Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania Cultural.
A suspensão desses repasses criou grande descontentamento num setor que sabe fazer barulho. Patrícia Ferraz, gestora de um ponto de cultura e membro do movimento Mobiliza Cultura, que bateu de frente com a ministra, diz que essa ação do MinC resultou em insegurança geral sobre a continuidade do programa. "Os motivos das suspensões não ficam claros. Há casos em que faltam páginas nos editais cancelados. Estão tentando desqualificar o processo."
Na origem desse turbilhão, o episódio do "desconvite" do sociólogo Emir Sader para dirigir a Casa Rui Barbosa, depois que ele declarou em entrevista à "Folha de S. Paulo" que a considerava "meio autista", fez que ela se enfraquecesse e passasse a enfrentar boatos sobre sua possível demissão desde os primeiros meses de gestão. "Apesar disso tudo, ela sempre agiu com muita serenidade. Sabia que esse enfrentamento era parte de assumir uma pasta em que os conflitos são históricos", afirma Vitor Ortiz, seu secretário-executivo.
Juntou-se a todas essas polêmicas o fato de que Ana de Hollanda tem a pecha de "ecadista". Desde seu discurso de posse, ela defende o "criador" como prioritário em sua gestão. Mas seus detratores a acusam de favorecer a indústria cultural em detrimento do pequeno produtor e usam seu histórico na direção do Centro de Música da Funarte e a nomeação de Márcia Barbosa, que seria bem próxima a pessoas do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de Direitos (Ecad), para a direção de Direitos Intelectuais do MinC, como argumentos.
O mais forte deles, no entanto, está na nova proposta para a reforma da Lei de Direitos Autorais, enviada pela ministra para a Casa Civil depois de uma revisão do projeto apresentado por Juca Ferreira. Uma das poucas mudanças do MinC foi justamente no que diz respeito à supervisão do Ecad: artistas pedem que haja um acompanhamento e uma fiscalização mais rigorosos da distribuição dos direitos autorais pelo órgão e o MinC recusa a criação de um conselho para isso. "Não pode ter política que defenda só alguns nichos [o músico filiado ao Ecad, os produtores ou criadores 'profissionais'], porque boa parte da produção cultural está fora desse pequeno gueto", diz Ivana Bentes.
Esse ambiente hostil e essa estigmatização da ministra Ana de Hollanda antecedem até mesmo sua nomeação. "Em dezembro de 2010 já tinha campanha contra ela", diz Antonio Grassi, lembrando da forte campanha pela permanência de Juca Ferreira na pasta. "O nome dela foi escolhido de forma fechada, sem discussão", lamenta José de Abreu, ator e militante petista que estava atrás da presidente Dilma no discurso de posse e rompeu com Ana por meio de uma carta pouco tempo depois. "Com a Ana, o MinC ficou desimportante. Nem as denúncias contra ela colam como colaram em outros ministros."
As denúncias a que ele se refere são as de que ela teria usado passagens aéreas e verbas do MinC em fins de semana para compromissos não oficiais no Rio, onde tem imóvel (a ministra devolveu o dinheiro), e de favorecimento a ONGs como a do consórcio de Monte Alto (o MinC alega que o convênio com a ONG foi firmado em 2010), por exemplo. A reação da ministra a esses casos foi vista dentro do MinC como tímida. Aliás, essa "timidez" foi um dos percalços na gestão. Pouco articulada com a imprensa e com outros políticos, Ana foi submetida a diversas sessões de "media training", mas sempre preferiu a circunspecção. "O MinC tornou-se mero 'balcão' que executa projetos e lança editais. Deixou de lado a capacidade de indução e articulação. Assim, não há chances sequer de brigar por um orçamento melhor dentro do governo", diz Ronaldo Lemos, coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV-Rio e fundador do projeto Overmundo.
Se as denúncias não colaram, também não se viu ninguém do PT e da base aliada sair em sua defesa publicamente. Em todas as crises que enfrentou, os apoios políticos à ministra foram para lá de discretos. Antonio Palocci, quando ainda estava na Casa Civil, e Gilberto Carvalho, emissário de Dilma no auge da turbulência no MinC, tentavam acalmar o PT, que queria derrubá-la. E foi isso.
Hoje, é difícil saber quem a sustenta politicamente no cargo. "A história dela não é de militância política. A sensação no Congresso é de que ela é totalmente deixada de lado por sua base e, além disso, a cultura não está entre as prioridades do governo Dilma", diz o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ).
Este ano deve continuar sendo de aperto financeiro sob Dilma Rousseff. Embora o MinC possa vir a ter um orçamento mais rechonchudo do que em 2011, com estimados R$ 1,79 bilhão, fora as emendas que devem engordar a conta das Praças do PAC, sob responsabilidade da Cultura, e do Fundo do Audiovisual, a "eficiência de gestão" talvez não contente um setor que urge por efervescências. De qualquer modo, Ana de Hollanda segue despachando na (não tão) tranquila Brasília de janeiro.
Museu expõe Modigliani e Da Vinci por Cristina Grillo, Folha de S. Paulo
Museu expõe Modigliani e Da Vinci
Matéria de Cristina Grillo originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 29 de janeiro de 2012.
As figuras longilíneas do italiano Amedeo Modigliani (1884-1920) marcarão o início das comemorações dos 75 anos do Museu Nacional de Belas Artes: a partir de quarta, estarão expostas no local 175 obras do pintor italiano.
A maioria das peças vem do acervo do Instituto Modigliani, de Roma. Há pinturas, desenhos, esculturas, fotos e cartas trocadas com amigos como Pablo Picasso.
A mostra tem curadoria do historiador e crítico de arte francês Christian Parisot. Autor de vários livros sobre Modigliani, Parisot dividiu a exposição em quatro núcleos.
A fase italiana ocupa o primeiro núcleo. No seguinte, está a produção de sua fase francesa -o artista se mudou para Paris aos 22 anos, em 1906, e lá morreu, aos 35, de meningite tuberculosa.
O terceiro núcleo aborda sua relação com artistas com os quais conviveu em Paris. Por fim, a exposição abre espaço para fotos e cartas.
A mostra fica até abril no MNBA e segue para o Masp.
LEONARDO DA VINCI
Em junho, filas certamente se formarão no local para a mostra de outro italiano, Leonardo da Vinci (1452-1519).
A listagem definitiva das obras que virão ao Rio ainda não está fechada, mas Mônica Xexéo, diretora da instituição, garante que estarão entre elas algumas das que estão na exposição em cartaz até 5 de fevereiro na National Gallery de Londres (leia texto abaixo).
O que já está definido é que virão 80 obras de Roma, Londres, Paris e de acervos de museus norte-americanos. A maioria -60 peças- são desenhos, mas haverá algumas pinturas e cartas.
MODIGLIANI: IMAGENS DE UMA VIDA
QUANDO de 1º/2 até 15/4; de ter. a sex., das 10h às 18h; sáb. e dom., das 12h às 17h
ONDE Museu Nacional de Belas Artes (av. Rio Branco, 199, Rio; tel. 0/xx/21/2219-8474)
QUANTO R$ 8 e R$ 4 (meia)
Restaurado, Museu de Belas Artes, no Rio, segue em ruínas por Cristina Grillo e Silas Martí, Folha de S. Paulo
Restaurado, Museu de Belas Artes, no Rio, segue em ruínas
Matéria de Cristina Grillo e Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 29 de janeiro de 2012.
Diretora da instituição carioca avalia que o estado geral já melhorou, mas espera fundos para acabar trabalhos
Com rachaduras e infiltrações, prédio de 1908 passa por obras para abrigar grandes mostras neste ano
Os últimos oito anos foram de arrumação da casa. Mas, mesmo depois de R$ 15 milhões gastos em obras de infraestrutura, o Museu Nacional de Belas Artes, no centro do Rio, ainda tem problemas.
Nada tão grave quanto a situação em que a instituição se encontrava na década passada, na avaliação de Mônica Xexéo, funcionária de carreira da casa desde 1980 e sua diretora desde 2006.
Tanto que se sente confiante para programar duas grandes exposições em comemoração dos 75 anos do museu.
Na terça, 31, será aberta a convidados a mostra "Modigliani"; no fim de junho, será a vez de Leonardo da Vinci ocupar o local.
Há tempos o museu não traz ao Rio mostras de tal porte. Nos anos 90, multidões se formaram às suas portas para ver obras de Monet, Rodin e Salvador Dalí.
No passado recente, abrigou exposições do quadrinista Mauricio de Sousa, o criador da Mônica, e da animação "Rio", de Carlos Saldanha.
"Precisávamos parar e pôr ordem em tudo. Tínhamos grandes problemas estruturais e não havia como oferecer muita coisa para o público", diz a diretora.
Ela lista os feitos dos últimos anos: a reserva técnica foi modernizada, e os telhados, impermeabilizados; três das quatro fachadas foram reformadas, um novo sistema de segurança eletrônico foi instalado e toda a parte elétrica e hidráulica foi revista.
Mas ainda há problemas no prédio de 1908, transformado em museu 30 anos depois, que abriga o acervo da Academia Imperial de Belas Artes trazido por d. João 6º.
CALOR
Por enquanto, só uma máquina de ar-condicionado funciona, o que tem mantido as temperaturas em alta nas galerias do século 19, de arte moderna e contemporânea.
Em quatro das galerias -as que receberão as obras de Amedeo Modigliani- está sendo instalado um sistema de ar-condicionado central.
Os recursos já gastos não chegaram até a quarta fachada do edifício. Segundo Luciano Lopes, arquiteto do Iphan que acompanha as reformas, a última face, da rua Heitor de Melo, não foi restaurada porque a cúpula central deve passar por obras primeiro, para evitar novos danos que possam ser causados pelo transporte de materiais.
Em estado calamitoso, a cúpula aguarda a liberação de R$ 7 milhões do Ministério da Cultura para passar pelo restauro. Há janelas sem vidros, grandes rachaduras nas paredes que permitem ver o exterior e focos de infiltração; a pintura e os revestimentos estão descascados.
Na entrada principal, colunas de sustentação também estão descascadas, e parte dos frisos nas galerias de moldagens está quebrada. Numa delas, a claraboia também apresenta vazamentos.
Fechada para reformas por quatro anos, a galeria de arte do século 19, reaberta ao público em 2011, ainda tem demarcações, feitas com fita adesiva vermelha, das áreas atingidas por goteiras.
A direção do museu explica que as marcações se devem à prova de contrato: as obras feitas supostamente terminaram com as goteiras, mas a indicação precisa ficar visível por certo período para que, caso voltem, os responsáveis pela obra possam ser acionados.
"Para completar o trabalho, precisamos de mais R$ 10 milhões. O governo federal nos garantiu a liberação de R$ 8 milhões ao longo de 2012 e 2013. O restante vamos buscar na iniciativa privada", explica Mônica Xexéo.
Estudo sério, exposição sugere que MAC poderá tratar com dignidade seu acervo por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Estudo sério, exposição sugere que MAC poderá tratar com dignidade seu acervo
Crítica de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 28 de janeiro de 2012.
"O Tridimensional no Acervo do MAC: uma Antologia" é, visivelmente, uma mostra organizada para ser coadjuvante na inauguração do museu. Montada na área de recepção dos visitantes, que não terá exposições no futuro, reúne 17 trabalhos, que abordam alguns caminhos da escultura, desde os anos 50.
Mas, apesar de disposta em espaço improvisado, a mostra tem méritos. O primeiro, por apontar que o edifício projetado por Oscar Niemeyer passa a ter sentido, agora, graças à significativa coleção do MAC, e ela já pode ser vista mesmo que o museu não esteja plenamente instalado.
O segundo, mais importante: não se trata de mostra improvisada ou apenas com peças conhecidas, mas um estudo sério, organizado pelo diretor do MAC, Tadeu Chiarelli, que é o que se espera de um museu universitário.
A metamorfose da escultura no século 20 é um dos principais exemplos das alterações dos parâmetros do que se considera arte.
Nos 50 anos que se passam entre "O Implacável" (1947), de Maria Martins até "A Negra" (1997), de Carmela Gross, obras vistas na exposição, há todo um questionamento sobre a escultura como um monumento visto apenas em materiais sólidos e perenes.
Várias obras abordam essa transformação e um dos melhores exemplos da mostra é "Impresso sobre Rocha" (1973), de Chihiro Shimotani. Com 31 pedaços de rochas com palavras impressas, a obra torna-se uma metáfora do esfacelamento da matéria bruta e de novos usos, como o textual, elemento constituinte da arte conceitual.
A mostra traz ainda trabalhos poucos vistos do acervo, até então restrito a espaços acanhados, como esculturas sem título de Gustavo Rezende e Ângelo Venosa, o que sugere que, em sua nova casa, o MAC poderá tratar com dignidade o que até pouco tempo atrás estava condenado à sua reserva técnica.
O TRIDIMENSIONAL DO ACERVO DO MAC
QUANDO abre amanhã (29/01) para o público; ter. a dom., das 10h às 18h
ONDE MAC (av. Pedro Álvares Cabral, 1301; tel. 0/xx/11/5573-0032)
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'Não queremos ser um espetáculo de mídia', diz diretor por Silas Martí, Folha de S. Paulo
'Não queremos ser um espetáculo de mídia', diz diretor
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 28 de janeiro de 2012.
Tadeu Chiarelli defende abertura 'paulatina' do museu, que receberá acervo completo só em outubro deste ano
Impasses atrasam a mudança do museu desde 2007, quando decreto determinou que Detran saísse do local
Não foi fácil chegar até aqui. Mesmo que a inauguração tímida do Museu de Arte Contemporânea da USP em seu novo endereço no Ibirapuera deixe a desejar ao expor só uma parte ínfima do acervo e ao não abrir todo o prédio ao público, o maior dos impasses já foi superado.
"Isso consolida um grande polo cultural da cidade", diz o secretário estadual da Cultura, Andrea Matarazzo. "A entrega do prédio é o início das atividades do museu."
Do decreto que transformou o Detran em MAC, em 2007, até hoje, foram quase cinco anos de contratempos para que o museu pudesse se instalar onde está agora.
Primeiro, o projeto de reforma de Oscar Niemeyer, que desenhou o prédio original, foi vetado pela defesa do patrimônio histórico porque o Palácio da Agricultura, de 1951, é um bem tombado.
Também era cara demais a proposta, orçada em R$ 120 milhões. Depois, a Secretaria de Estado da Cultura destinou pouco mais de metade disso para adequar os espaços internos, sem grandes mudanças estruturais, a fim de abrigar o acervo do museu.
Passada a reforma, que terminou em setembro do ano passado, a Universidade de São Paulo não chegava a um acordo com o governo do Estado sobre quem deveria bancar a operação do MAC.
A solução, costurada pelo governador Geraldo Alckmin, foi doar o imóvel à USP. Um decreto deve oficializar o ato.
MARCHA LENTA
Agora, quase três anos depois da primeira data fixada para a inauguração do museu, em junho de 2009, o MAC abre em marcha lenta.
"Iniciar a implantação do museu com uma mostra muito enxuta diz que não queremos ser um espetáculo de mídia", diz o diretor do museu, Tadeu Chiarelli à Folha. "O MAC tem que ter um 'delay', um pé atrás em relação à sociedade de consumo na qual a arte está mergulhada."
É com esse argumento que ele defende a mudança "paulatina" para a nova sede. Primeiro, só o térreo será ocupado com uma pequena mostra de esculturas.
Em maio, serão abertas individuais de León Ferrari, Julio Plaza e Rafael França a partir de obras do acervo. Julho terá individuais de Di Cavalcanti e José Antônio da Silva e uma coletiva de artistas contemporâneos em diálogo com obras da coleção.
Só em outubro é que cerca de 2.000 obras, um quinto de todo o acervo, passarão a ser expostas em caráter permanente em quatro dos sete andares do prédio principal.
"Temia uma equipe sem intimidade com o espaço tentando ocupar tudo de uma vez só", diz Chiarelli. "Esse espaço será testado, vamos tentar levantar hipóteses."
Mas embora Chiarelli defenda hoje certa cautela na mudança, ele conhece bem o espaço desde abril de 2010, quando assumiu a direção do MAC. Na época, ele já elaborava um plano de ocupação, o mesmo que será implantado até outubro deste ano.
Sua antecessora, Lisbeth Rebollo Gonçalves, também esboçou planos de mudança para a nova sede até o fim de sua gestão, há dois anos.
Segundo Chiarelli, a mudança toda será concluída em abril do ano que vem, quando o MAC faz 50 anos.
"Vejo a abertura dessa exposição agora como o início da comemoração", diz o diretor. "É uma implantação discreta, mas definitiva."
MAC: a missão por Silas Martí, Folha de S. Paulo
MAC: a missão
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 28 de janeiro de 2012.
Museu será aberto hoje no antigo Detran sem seu acervo e ocupando só o térreo do prédio
Silas Martí na TV Folha.
Quando for oficializada hoje a transferência do antigo complexo do Detran para o Museu de Arte Contemporânea da USP, acaba uma novela que se arrasta por quase três anos. E começa outra.
Embora a Secretaria de Estado da Cultura, que gastou R$ 76 milhões na reforma do prédio, quisesse uma grande abertura, com o museu todo funcionando, a inauguração do MAC na manhã de hoje será um ato de caráter político.
Só o térreo do prédio principal será acessível ao público, com uma mostra de 17 esculturas de um acervo de 10 mil obras, uma das coleções de arte moderna mais importantes do hemisfério Sul.
Agora, a batalha será ocupar um espaço dez vezes maior que a sede do museu na Cidade Universitária e preparar todos os andares para que o complexo tome logo ares de um grande museu.
Falta aplainar o terreno vizinho para criar cerca de 300 vagas de estacionamento, licitar a ocupação de espaços no térreo, como loja e café, e transformar a cobertura em restaurante com vista para o parque Ibirapuera.
São todas responsabilidades da Universidade de São Paulo, que a partir de hoje tem a posse dos edifícios e espera deixar tudo pronto num prazo de seis meses. Mas o governo do Estado não deixou passar em branco o fato de ter reformado tudo e colou adesivos com o brasão paulista nas janelas do térreo.
Pré-candidato à prefeitura paulistana pelo PSDB, o atual secretário estadual da Cultura, Andrea Matarazzo, sobrinho do homem que doou toda a coleção do MAC, fará questão de oficializar hoje a entrega do imóvel à USP e tem até um texto impresso na parede do primeiro piso.
Está lá ao lado do discurso do reitor da USP, João Grandino Rodas, que até novembro resistiu à implantação do MAC ali por se opor à construção de um clube no terreno vizinho e discordar de que a universidade bancasse toda a operação do museu.
Grandino Rodas agora promete um orçamento anual de R$ 14 milhões para o MAC e pretende fazer dele uma vitrine. "Dois fatores fazem prever afluxo crescente de público: o acervo do museu e a localização em um prédio digno de visita", diz o reitor.