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novembro 25, 2011
Começa na terça primeira mostra do 47º Salão de Artes Plásticas de PE, G1
Começa na terça primeira mostra do 47º Salão de Artes Plásticas de PE
Matéria originalmente publicada na sessão Pernambuco do portal G1 em 25 de novembro de 2011.
Exposição inicial é no Museu do Estado a partir do dia 29 de novembro
Evento é um panorama nacional e contempla diversos suportes
Começa na próxima terça-feira (29) a primeira das duas mostras que fazem parte do 47° Salão de Artes Plásticas de Pernambuco. Apesar do nome, o evento tem um formato diferente: os artistas selecionados – de todo o Brasil – são escolhidos por seus projetos e ganham uma bolsa para passar dez meses pesquisando um tema, sob orientação de um especialista. Ao final desse período, são montadas duas mostras com os trabalhos já prontos: a primeira, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), com abertura no dia 29 de novembro, às 19h, e a outra no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam), prevista para ser inaugurada no dia 7 de dezembro, no mesmo horário.
“As duas mostras estão trazendo um recorte do que hoje se apresenta dentro das artes visuais. Tem artistas de Pernambuco e de todo o Brasil”, afirma Luciana Padilha, coordenadora geral do Salão. Ela explica que há, em ambas, uma grande variedade de suportes – do tradicional desenho às inovações em vídeos, grafites e esculturas. Foram 260 projetos inscritos – 40% a mais do que o ano passado – e extraídas deles 21 propostas paras bolsas de pesquisa e produção e mais 13 prêmios: quatro de grafitagem, quatro de ensaios teóricos sobre a produção pernambucana de artes visuais e cinco intercambistas em arte/educação.
Luciana lembra que, como o resultado saiu com dois anos de atraso, as exposições se tornam um retorno importante para o público. Há artistas do Pará, Alagoas, Sergipe, Bahia, Maranhão, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Confira os perfis dos artistas no site da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).
Os mesmos especialistas que orientaram os candidatos selecionados viram curadores das mostras. A exposição do Museu do Estado foi concebida por Luiz Camillo Osório (RJ) e Luisa Duarte (SP), com trabalhos dos artistas Amanda Melo (PE/SP); Fabiano Gonper (SP); Jeims Duarte (PE); Pedro Davi (MG); Elisa Pessoa e Celina Portella (RJ); Maria Eduarda Belém (PE); Matheus Rocha Pitta (RJ); Sofia Borges (SP); e do coletivo Cia de Foto (SP).
No Mamam, a mostra começa no dia 7 de dezembro e tem curadora de Maria do Carmo Nino (PE) e Ricardo Basbaum (RJ). Os artistas desta vez são Dominique Berthé (PE); Fabio Okamoto (SP); Izidorio Cavalcanti (PE); João Castilho (MG); Jonathas de Andrade (PE); Jura Capela (PE); Bianca Bernardo (RJ); Deyson Gilbert (SP); Graziela Kunsch (SP); Marcos Costa (PE); e Tatiana Devos Gentile (RJ). Os premiados na categoria Grafite são Elanie Bomfim e Derlon Almeida (PE); Elvis Almeida Oliveira (RJ); Galo de Souza (PE); e Wagner Porto Cruz (PE).
Homenagens
Artistas pernambucanos passaram a ser homenageados pelo evento este ano. O primeiro é Jairo Arcoverde, pintor que representa uma geração atuante nas artes visuais do estado. A identidade visual das duas exposições será inspirada na obra dele e o catálogo da mostra tem um capítulo dedicado ao trabalho do artista.
A área de fotografia teve, esse ano, cinco bolsas – uma a mais do que no ano passado. Cada projeto recebeu R$ 15 mil. Para artes plásticas, foram 10 bolsas no valor de R$ 15 mil cada. Houve ainda R$ 15 mil para produção de uma monografia inédita e valor igual para um vídeo-documentário sobre artes visuais em Pernambuco.
Para as residências artísticas, foram quatro bolsas de R$ 15 mil – uma em cada macro-região do estado - Sertão, Agreste, Zona da Mata e Região Metropolitana, que inclui Fernando de Noronha. Para o intercâmbio em Arte/Educação, foram cinco prêmios no valor de R$ 5 mil, cada. Para o grafite, mais quatro prêmios de R$ 5 mil, para desenvolver propostas de intervenção urbana. E quatro outros de R$ 1 mil para desenvolvimento de ensaios teóricos.
Serviço:
47o Salão de Artes Plásticas de PE l Mostra MEPE
(Curadoria de Luiz Camillo Osórrio e Luisa Duarte)
Local: Museu do Estado de Pernambuco - Avenida Rui Barbosa, 960. Graças
Abertura | 29 de novembro, às 19h
Visitação | entre 29/11 e 22/01 de 2012 (de terça a sexta-feira, das 9h às 17h; sábados e domingos, das 14h às 17h.
Agendamento de visitas: (81) 3184.3174
novembro 23, 2011
Tela em transe por Nina Gazire, Istoé
Tela em transe
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Istoé em 18 de novembro de 2011.
PEDRO VARELA - AINDA VIVA/ Galeria Zipper, SP/ até 26/11
Desde o surgimento da fotografia no séc. XIX, a morte da pintura já foi anunciada um sem-número de vezes. De certo, a pintura não morreu e não foi modificada apenas pela prática fotográfica, mas também pela mudança do foco pictórico. O modernismo trouxe as expressões abstratas, as fusões surrealistas e o minimalismo geométrico, atropelando a figuração realista, mas traduzindo de maneira precisa a complexidade do fazer artístico. Hoje, no trabalho de jovens pintores, todas as crises da pintura vêm contribuir para uma permanente reinvenção dessa técnica. “Ainda viva”, série recente do carioca Pedro Varela, é uma brincadeira com essas centenas de mortes anunciadas da pintura. “Ao mesmo tempo, esse título evidencia o caráter fantasioso das minhas paisagens”, diz Varela, que faz uma tradução literal do termo em inglês still life, também conhecido como natureza morta – um dos gêneros mais praticados na história da pintura.
Nas dez telas expostas na Zipper, o artista dá preferência a figuras de flores e florestas em detrimento das cidades imaginárias que estamparam suas séries anteriores. Mas o aparecimento da figuração vegetal não se dá somente como menção ao gênero quase esquecido das naturezas mortas, mas também como referência às ilustrações científicas dos naturalistas do século XIX. Aqui, uma ironia: a precisão técnica está a serviço da ordem fantástica das criações de Varela. Os poucos edifícos e referências urbanas que aparecem nas novas pinturas possuem uma composição rítmica tão orgânica quanto as plantas imaginárias. “As cidades ainda aparecem, mas com menos intensidade. Introduzi as florestas que, de certa forma, já apareciam na minha obra através da influência da arte oriental”, comenta o artista. Se o que de fato morreu foi a obrigação da pintura para com o real, o artista esteve muito livre para dar vazão às suas próprias paisagens.
Galeria em movimento por Paula Alzugaray, Istoé
Galeria em movimento
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Istoé em 18 de novembro de 2011.
Cena independente de Buenos Aires compõe a terceira mostra da Logo. Galeria quer promover cruzamento entre arte urbana e arte contemporânea
Um francês, um taiwanês e cinco argentinos compõem a mostra “Preguntame como!”, que traz a São Paulo um recorte da cena artística independente de Buenos Aires. Alguns deles são artistas “que ainda estão fora do radar do mundo da arte”, segundo o curador da mostra, o franco-argentino Tristan Rault, que também atua como curador-adjunto da galeria Logo. Inaugurada em agosto, em São Paulo, a galeria nasce com o projeto de promover cruzamentos entre diferentes circuitos criativos.
Os mundos do grafite, do HQ, do design de fanzines, de capas de discos, do skate, do punk, do hip-hop, e outros ambientes da cultura pop, compõem o amplo universo da arte urbana, que configura hoje um mercado que cresce proporcionalmente ao mercado de arte contemporânea e já ganhou seu lugar ao sol nos grandes museus do mundo, como o Tate Modern, de Londres, o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (Moca), e até o MASP – atualmente em cartaz a mostra “De dentro e de fora. “Nosso objetivo não é ser mais uma galeria desse nicho, mas inserir esses artistas no circuito da arte contemporânea”, projeta Carmo Marchetti, sócia de Marcelo Secaf e Lucas Ribeiro na galeria.
Na busca de cruzamentos entre a arte contemporânea e outros circuitos criativos, a curadoria de “PREGUNTAME COMO!” relaciona, por exemplo, a obra do artista e jornalista Nicolás Sobrero com a pesquisa caligráfica do célebre artista contemporâneo argentino León Ferrari ou com o construtivismo uruguaio – provavelmente se referindo a Torres García. Sobrero expõe na Logo colagens em grandes dimensões que têm como elemento de composição apenas letras recortadas de cartazes de rua. Outro ponto de convergência entre o urbano e o contemporâneo na mostra em cartaz é Andrés Bruck, que transita entre polos extremos como o Babafestival, de Roma, e a feira ArteBA, a mais antiga feira de arte contemporânea da América Latina – além de ter sido aluno de Jorge Macchi,o maior nome da arte argentina.
Instalada no antigo endereço da galeria Raquel Arnaud (rua Arthur de Azevedo, 401), a Logo quer evocar a memória da primeira galeria a ocupar o local: a Subdistrito, que nos anos 80 movimentou o mercado de arte paulistano ao apostar na nascente geração de artistas. “A ideia é capturar expressões que estão vivas, pulsantes, em constante mutação, resgatando o espírito do que aconteceu aqui nos anos 80”, define Lucas Ribeiro, que antes de se dedicar à Logo foi curador-geral da mostra “Transfer”, que levou a cultura urbana ao Santander Cultural de Porto Alegre, em 2008, e de São Paulo, em 2010.
IAC inaugura sua nova sede na Belas Artes por Silas Martí, Folha de S. Paulo
IAC inaugura sua nova sede na Belas Artes
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 23 de novembro de 2011.
Museu despejado de imóvel da USP em fevereiro terá área expositiva duas vezes menor
Num espaço que é metade do que ocupava antes no centro de São Paulo, o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) abre hoje à sua nova sede no primeiro andar de um prédio do Centro Universitário Belas Artes, na Vila Mariana.
É o desfecho de uma crise que se arrastou por quase dez meses, desde que a Universidade de São Paulo despejou o IAC, em fevereiro, do espaço que ocupava na rua Maria Antonia, que pertence à USP.
Sem sucesso, o IAC tentou fechar um acordo com a Secretaria de Estado da Cultura para ocupar um casarão em Higienópolis, e depois quase chegou a firmar um convênio com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que não foi adiante.
No meio do caminho, Pedro Mastrobuono renunciou ao cargo de presidente da instituição, posição que ocupou por nove meses depois da saída de Raquel Arnaud, galerista que presidia o IAC e que foi acusada de usar o museu para valorizar artistas cujas obras ela comercializava.
Agora sob o comando de Luiz Müssnich, a instituição -que tem no acervo 17 mil documentos sobre Sergio Camargo, Willys de Castro, Mira Schendel e Amilcar de Castro- tenta se acomodar em três salas, só uma delas expositiva, no Belas Artes.
"Perdemos em amplidão, mas ganhamos em visibilidade", diz Müssnich à Folha. "Aqui teremos mais visitas."
No acordo de cinco anos fechado com a universidade, ficou determinado que o IAC fará duas exposições por ano no espaço do Museu Belas Artes, no térreo do edifício.
É um número bem menor de mostras que o IAC estava acostumado a fazer na sede antiga, o edifício Joaquim Nabuco, que foi reformado para receber o museu por arquitetos do escritório Una -um projeto de R$ 5 milhões bancado com renúncia fiscal e algumas doações privadas.
MARIA ANTONIA
Desde a saída do IAC, o imóvel da Maria Antonia ficou vazio e recebeu a primeira mostra só na semana passada, com objetos da massa falida do banco Santos que estão sob a guarda da USP.
"Foi o tempo de limpar, reformar, trocar a iluminação", diz Moacyr Novaes, diretor do Centro Universitário Maria Antonia, sobre o hiato de dez meses.
Em novembro do ano passado, quando a USP decidiu não renovar o convênio que tinha com o IAC, a reitoria exigiu a desocupação do edifício Joaquim Nabuco um dia após o vencimento do contrato, que acabava em janeiro.
Agora, a USP planeja concluir as obras no edifício para instalar ali a área expositiva do Maria Antonia, que hoje ocupa cinco salas no prédio vizinho ao antigo IAC.
Falta concluir duas salas expositivas no térreo e construir, no subsolo, um auditório e um café. Segundo Novaes, a USP deve lançar um edital para começar as obras no ano que vem e concluir todo o processo só em 2013.
novembro 22, 2011
Corte no Ministério da Cultura é a Falha Trágica do Governo Dilma por José Celso Martinez Corrêa, Blog do Zé Celso
Corte no Ministério da Cultura é a Falha Trágica do Governo Dilma
Matéria de José Celso Martinez Corrêa originalmente publicada no Blog do Zé Celso em 16 de novembro de 2011.
O Corte no Ministério da Cultura é a “Falha Trágica” do Governo Dilma, e bate diretamente no Corpo de cada Artista.
O exemplo que o Governo dá, neste desprezo à importância da Cultura como Política Energética, Estratégica, Produtiva, Imaginativa, Criadora, dum Brasil pra lá de justo, é péssimo!
Reflete-se em todas as áreas do Mercado que passa a investir somente na acumulação de capital em nomes & marcas de produtos destinados a manter o status quo para auto-ajuda e justificativa dos valores pequeno burgueses e burgueses.
Como não é uma Política prioritária do Governo Dilma, produz monstros: por exemplo, agiganta a Burocracia, que faz de nós Artistas Escravos, submetidos a um sistema de pagamento quando contratamos com o Governo, que só chega, se chega, muito depois das Obras culturais contratadas, terminadas, cumpridas.
Depois do horizonte aberto por Ministros como Gil e Juca no Governo Lula, sacrifica-se uma Artista como Ana Buarque de Holanda, como Bode da situação.
Dilma não pode fazer isso com os Artistas, inclusive com sua Ministra, não lhe dando condições de Ação Criadora.
Precisa se encontrar com Artistas brasileiros direta e imediatamente, Corpo a Corpo, para receber esta Energia Pré Sal da Cultura que neste momento os Artistas trazem no Corpo e em suas Obras. Vai sentir a potência que poderia realmente ser o dínamo de seu Governo para erradicar pra valer a Miséria do Brasil, trazendo RIQUEZA.
Parece que a presidenta ignora o Poder Prático, Infraestrutural da Cultura.
Nós Artistas estamos Re-Existindo, rebolando na batucada da $eca, exatamente quando estamos prontos a ser a Tropa de Choque do Fim da Miséria, rumo a uma Riqueza Econômica Comtemporânea, Verde, reinventora de soluções jamais imaginadas por Tecnocratas.
A Cultura é o Ar da Criação, da Vida, soprando em toda máquina social do mundo.
A Cultura, se potencializada, vai revelar-se mais que a Uzyna de Belo Monte, vai revelar em Epifania sua Força. Vai propiciar ao Brasil – que neste momento está pronto pra virar o Globo do avesso – o Salto Imortal, além da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
O Mundo sabe mais disso do que nossos Governantes.
Nossa Cultura como já visualizava Oswald de Andrade é de “Exportação” e nossos “Finos Biscoitos” estão em franca produção, movidos à Alegria, pra devoração “das massas”.
Já temos estocada uma Super Produção dentro de nossos Corpos de Artistas, como os Africanos Escravos tinham o Candomblé, o Samba, a Arte do Futebol, a Cozinha, as Artes de lidar com Ferros… e etc… Temos o futuro presente que vai muito além dos saberes da Tecnocracia.
Presidenta Dilma, chame-nos para um encontro a nós, Criadores da Cultura no Brasil de todas Áreas e Classes, não para um “Chá de Comadre”, mas para alavancar novos Horizontes Produtivos na Subjetividade Criadora do Povo Brasileiro.
A Cultura atual vibra em toda a Pirâmide Social, para comê-la com Arte e Beleza.
É o que Glauber chamava de “assassinato cultural”, não se pode é cortá-la.
É muito mais que erradicar a Miséria, é Criar a Riqueza.
José Celso Martinez Corrêa
Amor Ordem e Progresso
Petição Pública Contra os Cortes no Orçamento da Cultura do Brasil.
Design inventivo dos irmãos Campana sofre com rigor por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Design inventivo dos irmãos Campana sofre com rigor
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 22 de novembro de 2011.
Fernando e Humberto Campana são hoje os mais celebrados designers brasileiros.
A trajetória da dupla, mais conhecida como irmãos Campana, é tema da mostra "Anticorpos", no Centro Cultural Banco do Brasil, organizada por Mathias Schwartz-Clauss, que teve início no Vitra Design Museum, na Alemanha.
Não é de hoje que o design brasileiro ganha atenção no cenário internacional.
De certa forma, Sérgio Rodrigues e Joaquim Tenreiro são os precursores, com seu desenho modernista aliado a materiais brasileiros.
Os Campana, que começaram a produzir na década de 1980, ganharam destaque justamente por transformarem essa equação: afastaram-se do funcionalismo moderno, mas radicalizaram na apropriação de elementos da cultura popular.
Bonecas de pano, construções simples com restos de madeira e plantas da Amazônia são alguns dos elementos que inspiraram, respectivamente, a cadeira Multidão, a cadeira Favela e os bancos Vitória Régia, todos na mostra.
Esse imaginário, com grande apelo aos olhos, reforça um estereótipo do caráter exótico da cultura brasileira e pode ajudar a compreender o crescente interesse internacional pelo trabalho da dupla de designers.
DIDATISMO
Nesse sentido, a mostra, que ocupa todos os andares do CCBB com cerca de 70 trabalhos, é bastante didática.
Ela ensina que o sofá Kaiman Jacaré (2006) "foi inspirado nos jacarés caiman da bacia amazônica, que podem chegar a mais de seis metros de comprimento", ou que o assento Diamantina, com o mesmo nome da cidade mineira que foi rica em diamantes, "simboliza os muitos tesouros escondidos e ameaçados no Brasil".
Assim como as peças de estética fácil e agradável, os textos utilizados para explicá-las beiram o kitsch.
O que não necessariamente representa um caráter negativo para a obra. Foi assim com outro grande nome do design internacional, Philippe Starck, que sobressaiu exatamente por criar um corpo de trabalhos bem apelativos, nos quais a forma também se sobrepõe à função.
Os Campana, afinal, levam ao mundo a mensagem de que o Brasil também é capaz de ser pós-moderno.
Contudo, para uma mostra de design, há um rigor dispositivo que não combina com esse conjunto de trabalhos.
A sinalização é um tanto confusa, já que muitas vezes é preciso buscar as legendas para entender o nome das obras, e a disposição é formal demais para peças que são tão orgânicas.
Fica contraditório expor um design tão inventivo de maneira tão careta.
ANTICORPOS
QUANDO de ter. a dom., das 9h às 21h; até 15/1/2012
ONDE Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, SP, tel. 0/xx/11/3113-3651)
QUANTO entrada franca
AVALIAÇÃO regular
novembro 21, 2011
Livro destaca 'olhos de satélite' da artista por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Livro destaca 'olhos de satélite' da artista
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 19 de novembro de 2011.
Um livro lançado agora nos Estados Unidos analisa a trajetória de Jac Leirner do ponto de vista de fora, o território global que se materializa em seus cinzeiros de avião e cartões de embarque.
Isso que a artista chama de "prova do crime" em sua obra, documentos com nome, data e destino, vira, na visão dos críticos, evidência da condição de Leirner como fulcro num pêndulo que vai da obsessão por colecionar e uma catalogação precisa.
Críticos como Gabriel Pérez-Barreiro destacam sua "sensibilidade anárquica e punk", enquanto Robert Storr classifica sua obra como "neodadaísta", descrevendo seus olhos como os "sensores de um satélite espião".
Mas, na conversa com a historiadora Adele Nelson, que domina boa parte do livro, é Leirner quem fala mais e narra seu processo de descobertas no campo da arte -da infância observando pais colecionadores aos primeiros experimentos com aquarelas e noções de minimalismo, arte povera e conceitual.
JAC LEIRNER IN CONVERSATION WITH ADELE NELSON
AUTORES Adele Nelson, Robert Storr, Gabriel Pérez-Barreiro
EDITORA DAP-Distributed Art
QUANTO R$ 61 (200 págs.)
Jac Leirner expõe resíduos do jet set em retrospectiva por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Jac Leirner expõe resíduos do jet set em retrospectiva
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 19 de novembro de 2011.
Mostra na Estação Pinacoteca celebra três décadas de carreira da artista
Colecionando cinzeiros de avião, sacolas de grifes e museus, Leirner faz crítica ácida à ideia de artista globalizado
Jac Leirner criou pulmões de celofane, daquele de embrulhar maços de cigarro. Empilhados e presos à parede, são pedaços de plástico quase invisíveis diante de milhares de cédulas de dinheiro que serpenteiam pelo chão e guardanapos hasteados como bandeiras num varal.
Todo o volume na obra dessa artista se constrói de restos banais, dejetos conspurcados do jet set, como talheres, passagens e cinzeiros de avião, e cartões de visita de figurões das artes visuais.
Na retrospectiva que abre hoje na Estação Pinacoteca, sua primeira em São Paulo, Leirner expõe todo um arsenal de tralha garimpada com perícia arqueológica em suas três décadas de carreira.
"São quantidades de materiais com potencial plástico", diz Leirner. "Meu trabalho é dar um corpo para o que não tem, um lugar terminal para as coisas espalhadas."
Mas não qualquer coisa. Desde os anos 80, Leirner, que cresceu no meio das obras construtivistas da coleção do pai, Adolpho Leirner, arquiteta uma crítica ácida à noção de artista globalizado sem esquecer essa herança ortogonal dos concretistas.
Usando cobertores de avião, sacolas de compras, adesivos, etiquetas e notas de dinheiro, a artista cria mosaicos cromáticos em escalas minúscula e gigantesca.
"Dependendo de onde você olha, o dinheiro parece uma aquarela", diz Moacir dos Anjos, curador da mostra. "São interesses concorrentes, as coisas são reapresentadas, ressignificadas."
Desse jeito, etiquetas de preços dos cigarros que Leirner fumou em tempos de inflação, com valores ascendentes, viram um painel branco, quase um monocromo minimalista, quando visto à distância. De perto, viram retrato pontual de um momento econômico delicado.
"Mas não é sobre economia ou sobre tabagismo", diz Leirner. "É o próprio tabagismo, é o próprio dinheiro, é a presença do mundo. Não quero lidar com a primeira pessoa, mas eu fumei os cigarros, furtei os cinzeiros, mas tento me abster da primeira pessoa." Nesse ponto, Leirner descarta qualquer vontade autobiográfica em sua obra e privilegia seu caráter de crônica dos tempos, amontoados frágeis, guardados como indícios de quando ser artista passou a ser também questão de traquejo num mundo de negócios e finanças.
"É imprimir valor onde não existe", diz Leirner. "Esses maços de cigarro viram joia, escultura. Essas pessoas nos cartões de visita vão estar mortas e logo mais ninguém vai saber quem elas foram."
Não importa. Leirner só lembra que na poesia "a primeira pessoa é um erro". "Aqui o assunto é linguagem, não uma situação particular, só a linguagem e a poética."