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Como atiçar a brasa

 


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setembro 17, 2010

Bienal terá Glauber Rocha e José Celso por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo

Matéria de Fábio Cyprianooriginalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 17 de setembro de 2010.

Programação dos primeiros quinze dias de exposição incluirá cinema e performances, além de ciclo de debates

Obra de Lygia Pape e encenação de "Bailado do Deus Morto" pelo grupo Teatro Oficina são destaques do evento

Glauber Rocha, José Celso Martinez Corrêa, Agnés Varda e Maurício Ianês são alguns dos nomes que passam a integrar a seleção de artistas da 29ª Bienal de SP.

Eles fazem parte da programação dos terreiros da mostra, que a Folha obteve.

Anteontem, foi definido o programa de eventos dos 15 primeiros dias da mostra, que irá se desenvolver basicamente em três terreiros, espaços de convivência organizados pela curadoria: "A Pele do Invisível", dedicado à exibição de filmes, "O Outro, o Mesmo", para performances, e "Eu Sou a Rua", para práticas discursivas.

"Em cada um desses espaços buscamos ultrapassar as divisões tradicionais, tanto faz se o filme é mais próximo do cinema ou das artes plásticas, ou se é dança ou performance", diz Pedro França, coordenador do programa dos terreiros.

OFICINA
No primeiro fim de semana, o destaque fica por conta da reencenação de "Divisor", de Lygia Pape (1927-2004), embaixo da marquise do Ibirapuera, da palestra com Joseph Kosuth, um dos pioneiros da arte conceitual, no terreiro "Eu Sou a Rua", ambas no sábado, e a encenação do "Bailado do Deus Morto", de Flávio de Carvalho (1899-1973), com o Teatro Oficina e direção de José Celso Martinez Corrêa, no domingo.

No terreiro "A Pele do Invisível", serão exibidos dez programas de filmes que irão se revezar, um por dia, até 12 de dezembro.

Entre eles, estão desde produções históricas como "Pátio" (1959), primeiro filme de Glauber Rocha (1939-1981), até recentes sucessos no exterior, como "Uma Carta para Tio Boonmee" (2009), do cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul.

A filósofa Marilena Chauí irá coordenar um ciclo de debates e a cada sábado abordará uma obra da Bienal.
Já Maurício Ianês, que causou sensação na Bienal passada, ao entrar nu no pavilhão e lá permanecer 13 dias, dessa vez ficará ouvindo histórias por 20 dias para, numa data a ser anunciada, organizar uma leitura simultânea com cem deles no prédio.

Ao longo da mostra, a programação de eventos será atualizada.

Posted by Cecília Bedê at 3:28 PM

setembro 15, 2010

Primeira exposição de Fred Sandback no Brasil contém desafios à arquitetura por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo

Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 15 de setembro de 2010.

O artista norte-americano Fred Sandback (1943-2003), um dos grandes nomes do pensamento conceitual em situações tridimensionais, ganha, finalmente, sua primeira exposição no Brasil. Ela ocorre em dois locais em São Paulo, e um no Rio.

Com curadoria da brasileira Lilian Tone, do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), a seção paulista vai além da obra mais conhecida de Sandback -as construções com fios de lã acrílica- e apresenta ainda trabalhos em papel, incluindo duas Construções Conceituais.

"Existe uma escultura que consiste em toda luz refletida pela existência desta afirmação, e de nada mais" é o que está datilografado numa folha de papel e faz parte de uma das 33 obras no Instituto Moreira Salles.
Essa Construção Conceitual, de 1969, aponta para como, em Sandback, o pensamento escultórico livrou-se da matéria para propor uma reflexão sobre o espaço.

A partir daí, fica mais simples compreender a obra do artista com os fios de lã, tão próximos dos trabalhos do brasileiro Waltercio Caldas, que começou a produzir suas obras na mesma época. Linhas coloridas soltas no espaço constroem limites, demarcando territórios na obra do artista norte-americano. Nos cantos, esses mesmos fios desafiam a arquitetura, com a criação de novos ângulos.

SEM RÓTULOS

Sandback cria por meio do desenho no espaço uma nova forma de percepção, o que o leva para além do minimalismo, onde costuma estar rotulado pela crítica. Na mostra de São Paulo, as obras de maior porte estão no Centro Universitário Maria Antonia, em um novo espaço, junto ao Instituto de Arte Contemporânea (IAC). Enquanto uma trabalha com a gravidade, com os fios coloridos que pendem do teto, a outra cria volumes por linhas diagonais pretas. Em todas, Sandback desafia a arquitetura.

FRED SANDBACK: O ESPAÇO NAS ENTRELINHAS
ONDE Instituto Moreira Salles (r. Piauí, 844, Higienópolis, tel. 0/ xx/11/3825-2560)
QUANDO ter. a sex., das 13h às 19h; sáb. e dom., das 13h às 18h. Até 24/10.
QUANTO entrada franca

ONDE Centro Universitário Maria Antonia - USP (r. Maria Antônia, 256, Centro, tel. 0/xx/11/3255-7182)
QUANDO ter. a sex., das 10h às 21h, sáb. e dom., das 10h às 18h. Até 24/10
QUANTO entrada franca
AVALIAÇÃO ótimo

Posted by Cecília Bedê at 12:30 PM

Ponte entre livros e imagens, Diário de Pernambuco

Matéria originalmente publicada no jornal Diário de Pernambuco em 14 de setembro de 2010.

SPA Das Artes // Clássicos da literatura inspiraram a mostra fotográfica que Eduardo Simões inaugura hoje na cidade

Em sua primeira exposição no Recife, o fotojornalista autodidata Eduardo Simões mostra uma série inédita. Ideogramas, que pode ser vista no térreo da Arte Plural Galeria, no Bairro do Recife, a partir de hoje, parte da árida paisagem da caatinga do Sertão de Canudos, na Bahia, e da Paraíba, para lançar novas interpretações sobre cactos e gravetos secos, retorcidos. A inspiração para as imagens em preto e branco - feitas em negativo Tri-X Pan 6 por 6 e impressas com apoio do Instituto Moreira Salles - veio da obra de escritores como Ariano Suassuna, Euclides da Cunha e Rachel de Queiroz. "É uma revisão de meu trabalho, onde a caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, deixa o lado mítico, de espelho da miséria do país, para ser algo fascinante, com um lado escultórico", pontua Edu Simões.

A outra série exposta na Arte Plural, no primeiro andar da galeria, é Vestígios: o Rio de Machado de Assis, quando o fotógrafo partiu do universo machadiano para capturar no Rio do século 21 resquícios da cidade do século 19. "A exposição é Paisagem sem memória porque as fotos estão descoladas do lado documental, são quase ficcionais, uma invenção do que acho que acontecia naquele tempo", detalha Edu Simões, que clicou desde uma escadaria no Parque Lage, até o bondinho, com a catedral do Rio ao fundo (no contraste entre o passado e uma construção moderna), além de uma esquina de Santa Tereza ao cair da tarde, com os trilhos de bonde cortando o chão de pedra, entre outros cenários.

Nos dois casos, ao fotografar o Sertão e o Rio de Janeiro, o resultado é poético e delicado, propondo novos ângulos para paisagens conhecidas, que deixam de ser elas mesmas para adquirir novas significações. A ideia de ligar literatura e fotografia surgiu quando Eduardo Simões foi convidado pelo Instituto Moreira Salles para participar dos Cadernos de Literatura. O primeiro, sobre a obra de João Cabral de Melo Neto, foi clicado no Recife, 15 anos atrás. "O que importa é o espectador criar seu jogo com a imagem construída, como objeto de arte. Nossa preocupação é estarmos antenados com a contemporaneidade", explica Simonetta Persichetti, crítica de arte e curadora de fotografia da Arte Plural. A mostra integra a programação do SPA das Artes. (Tatiana Meira)

Posted by Cecília Bedê at 12:22 PM

SPA das Artes: Público interage com artista e ganha desenho por Dulce Reis, diariodepernambuco.com.br

Matéria de Dulce Reis originalmente publicada no caderno Viver do diariodepernambuco.com.br em 14 de setembro de 2010.

“Troque este vale por um desenho”. Esta frase está escrita em 150 folhas desenhadas de um talão que foram distribuídas aleatoriamente entre os moradores do bairro de Peixinhos, no Recife, ontem. A ação Vale desenho – Encontro Simbólico faz parte do SPA das Artes 2010, promovida pelo artista João Lin. Hoje, várias pessoas foram até a Biblioteca do Nascedouro para pegar o seu desenho. Mas, para isto, o interessado tinha que conversar com o artista. Da troca de ideias, surge um novo desenho, diferente do que estava no papel do talão, mas mais parecido com a vida que o presenteado leva.

A comerciante Luciene Maria, 50 anos, confirmou isto. Ela recebeu um papel com vários olhos desenhados. “Achei perfeito com o momento em que estou passando na minha vida”, disse. A moradora do bairro de Peixinhos disse estar se recuperando de uma cirurgia em um dos olhos. E a conversa que ela teve com o artista foi refletida na ilustração que recebeu.

Já a estudante Nathalia Regina, 24 anos, filha de Luciene, resolveu acompanhar a mãe e acabou ficando com uma obra do artista. “Dei o nome da minha de ‘Um peixe de cauda longa submergindo de um mar turbulento”, conta. Sobre a ação do SPA das Artes, a estudante ainda disse ter ficado satisfeita por ter conhecido o local. “Eu não conhecia esta funcionalidade do Nascedouro. Uma coisa levou a outra”, disse.

“A brincadeira é a pessoa não saber o que é o desenho. Assim, ela vai querer saber o que é. Eu acho que o importante é o diálogo”, conta Lin. “Às vezes o trabalho sai da proposta de fazer o desenho a partir do que tem no talão. Teve um rapaz que queria um Exu. E ele recebeu. O mais importante é a interação e que a pessoas fiquem satisfeitas, que se sintam bem”, resume o artista.

E esta possibilidade de interação com o público foi um dos motivos para o artista escolher o bairro de Peixinhos para desenvolver a ação. “Não tem lugar melhor para esta brincadeira com símbolos do que uma biblioteca”, disse.

Além disso, Lin afirmou que este trabalho é também uma forma de aplicar o dinheiro público com a arte fora dos centros que geralmente consomem e contam com mais oferta de trabalhos artísticos. “É uma questão de responsabilidade com o dinheiro público”, resumiu o artista.

Vale desenho – Encontro Simbólico é desenvolvida pelo artista João Lin por conta da Bolsa Prêmio Exposições Descentralizadas, promovida pelo SPA das Artes 2010. Na próxima sexta-feira, às 19h, o público ainda poderá conferir um vídeo realizando durante o processo artístico. O encontro acontecerá na Praça da Caixa D’Água, também no bairro de Peixinhos, no Recife.

Posted by Cecília Bedê at 12:10 PM

“Dois Pontos” abre o Amplificadores, Folha de Pernambuco digital

Matéria originalmente publicada na Folha de Pernambuco digital em 15 de setembro de 2010.

Projeto é iniciativa anual do Murillo La Greca e tem curadoria de Fernanda Albuquerque

Desdobrar um conceito em várias vertentes é o objetivo da exposição coletiva “Dois Pon­tos”, que inicia o ciclo de expo­sições do Projeto Amplificado­res, iniciativa anual do Museu Mu­rillo La Greca. Nesse caso, a ideia é ilustrada pela curadora Fer­nanda Albuquerque com ar­tistas de vários Estados: Carla Zaccagnin, Enrico Rocha, Fabio Morais, Guilherme Teixeira, Hélio Fervenza, Lucas Levitan, Marina Camargo, Regina Melim e Vitor César. No entanto, a quantidade de artistas não significa uma ocupação intensiva do espaço. “A intenção é exibir trabalhos que lidem muito mais com a sugestão de imagens para o espectador”, explica a idealizadora da mostra.

Isso significa que as obras encontradas no La Greca, produzidas entre 2003 e 2010, trabalham muito mais com a reação do público aos trabalhos. Um deles é “Três Pinturas”, de Levitan; na verdade um facho de luz na parede, acompanhado por uma descrição minuciosa de uma pintura de paisagem. O mesmo caminho é seguido por Fábio Morais em “O Performer”, com uma narrativa no lugar do registro de uma ação do artista. O objetivo seria fazer com que as pessoas completassem a obra imaginando a cena pensada por ele. Vítor César traz “Destinatário”, com reprodução de etiqueta usada na identificação de presentes, com os campos “De” e “Para”.

Já Enrico Rocha faz um montinho com 100 mil peças de que­bra-cabeça no chão do museu, no qual o espectador pode tanto começar a montar como apenas observar. O objeto mais lúdi­co da mostra é “Rolê”, de Guilherme Teixeira, um skate circular com capacidade entre 2 a 10 pessoas. Zacagnini, por sua vez, foi até a Suécia filmar o sol da meia-noite, em que a câmera fotográfica é posta em cima de uma vitrola e fica girando, levando à tontura.

A mostra também tem uma parte dedicada a publicações: Regina Melin traz uma espécie de coletânea de trabalhos de outros artistas, que dão instruções para demandar a participação de quem lê. Marina Camargo transporta as esculturas de Constantin Brancusi para um folheto que mostra como o espectador poderia fazê-la apenas com as mãos. Hélio Fervenza traz a público sua experiência como natural de Santana do Livramento, cidade na fronteira entre o Brasil e o Uruguai. Ele pediu para que professores de geografia dos dois países dessem uma aula sobre o deserto, cada um em seu idioma, ao mesmo tempo e na mes­ma turma, e descreve o processo no livreto “Transposições do Deserto”.

Posted by Cecília Bedê at 12:03 PM

Murillo La Greca inaugura Dois Pontos, site da Prefeitura do Recife

Matéria originalmente publicada no site da Prefeitura do Recife em 13 de setembro de 2010.

Exposição selecionada pelo Projeto Amplificadores abre dentro da programação do SPA das Artes

De 14 de setembro a 16 de outubro, o Museu Murillo La Greca apresenta a exposição Dois Pontos, selecionada pelo Projeto Amplificadores 2010. Sob a curadoria de Fernanda Albuquerque, a mostra reúne trabalhos de nove artistas oriundos de diferentes localidades do país: São Paulo, Fortaleza, Florianópolis e Porto Alegre. São eles: Carla Zaccagnini, Enrico Rocha, Fabio Morais, Guilherme Teixeira, Hélio Fervenza, Lucas Levitan, Marina Camargo, Regina Melim e Vitor César. Dentre as obras, instalações, publicações, um trabalho em vídeo e uma escultura a ser utilizada pelo público como uma espécie de skate circular em que as pessoas podem “brincar” rodando e de mãos dadas.

DOIS PONTOS - Sinal de pontuação que anuncia a complementação ou desdobramento de uma ideia, abre espaço para a fala de outro interlocutor – apresenta produções que trazem em comum imagens e experiências não realizadas, inacabadas ou em aberto, que de alguma maneira acontecem mais na imaginação do espectador do que são, de fato, dadas a ver. “É o que ocorre, por exemplo, nas pinturas faladas de Lucas Levitan (Três pinturas, 2003), em que o visitante vê apenas um spot de luz na parede, enquanto ouve a descrição minuciosa de uma pintura de paisagem.” – ilustra a curadora, Fernanda Albuquerque. Do mesmo modo, as performances de Fabio Morais (O performer, 2005) não se apresentam como ação, mas como texto, narração, oferecendo ao observador a possibilidade de imaginá-las: do ambiente em que acontecem aos gestos, sons, cheiros, objetos, expressões e pessoas envolvidas.

O texto e a sugestão também estão presentes em pf (por fazer) (2006), exposição portátil organizada por Regina Melim. Trata-se de uma publicação que reúne não um conjunto de obras prontas, fechadas, mas projetos em aberto, colocados à disposição do público para a sua realização. Fruto de uma reflexão sobre a performance nas artes visuais, pf propõe a noção de “espaço de performação” como chave de leitura da mostra.

A ideia também nos fala dos trabalhos de Enrico Rocha (Continuo tentando compreender, 2003), Marina Camargo (Brancusi no ar, 2010) e Guilherme Teixeira (Rolê, 2010). Abertos à participação do público, os três apontam para imagens e experiências improváveis, ainda que não impossíveis: completar um quebra-cabeça em branco gigante, refazer no ar e com as mãos as esculturas do romeno Constantin Brancusi e andar num skate circular com dez pessoas.

Já as produções de Hélio Fervenza (Transposições do deserto, 2003) e Carla Zaccagnini (E pur si muove / E no entanto se move, 2007), embora plenamente realizadas, guardam consigo a potência imaginativa das histórias que as constituem – quase como se pudessem existir apenas como imagem narrada. Realizada na fronteira do Brasil com o Uruguai, nas cidades de Sant'Ana do Livramento e Rivera, Transposições consistiu na troca de professores de geografia entre uma escola brasileira e uma uruguaia. Durante um mesmo período e simultaneamente, duas educadoras ministraram uma aula sobre deserto em suas respectivas línguas para uma turma situada do outro lado da linha divisória. Fruto de um esforço igualmente épico e singelo, E pur si muove envolveu a viagem da artista até o monte Nuolja, na Suécia, onde passou uma noite sozinha a filmar o sol da meia noite na companhia da música de Jan Johanson. Enquanto Transposições é apresentada por meio de um relato que toma a forma de livreto, abrindo espaço à dúvida quanto à sua concretização, a obra de Carla constata-se à medida que se apresenta, ao documentar o fenômeno (e o feito) que é ao mesmo tempo ponto de partida e de chegada do trabalho.

Por fim, Destinatário (2009), de Vitor César, funciona como uma espécie de metáfora da exposição. Trata-se de um cartaz que reproduz a clássica etiqueta utilizada na identificação de presentes, num exercício de endereçamento em que o enunciado, o presente, é deixado em aberto, existe apenas como alusão.

Serviço:
Projeto Amplificadores 2010|Exposição Dois Pontos
Abertura: 14 de setembro de 2010|19h
Visitação: de 15 de setembro até 16 de outubro de 2010
De terça à sexta | das 9h às 12h e das 14h às 17h
Sábados das 14h às 17h

Posted by Cecília Bedê at 11:58 AM

Nuno Ramos equaliza o sublime eo grotesco por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 15 de setembro de 2010.

Artista tem individual com árvores e aviões no MAM-Rio e está na Bienal

Ele compara seu viveiro de urubus a "velório e canção de ninar" e diz que sua obra no Rio está no "limite do cafona"

Numa pausa na montagem, Nuno Ramos mostra as queimaduras de soda cáustica nas mãos e no rosto.

Homens que ajudam o artista a revestir de sabão árvores e dois monomotores sobem e descem as rampas do Museu de Arte Moderna do Rio, os braços cobertos de plástico.

"Esse é o trabalho mais difícil que já fiz", conta o artista, no caixa do posto de gasolina ao lado do museu. Ele compra chá gelado e batatas Ruffles para enganar a fome diante da obra monumental que faz numa sala com vista para o aterro do Flamengo.

Dois aviões parecem ter se embrenhado na copa de flamboyants ressecados. No andar de cima, enormes esferas de terra cospem para fora imagens de um diálogo estranho seguidas da projeção de um filme pornográfico, em que as falas são nomes de choros -"Brasileirinho", "Vibrações" e "Corta-Jaca".

São 20 toneladas de areia socada, sabão e fuselagem. Pelo menos 30 homens, um deles engenheiro calculista, trabalharam para terminar em tempo da abertura, hoje.

Enquanto isso, em São Paulo, um enorme viveiro de urubus é montado no vão central do pavilhão feito por Oscar Niemeyer, trabalho de Ramos na edição da Bienal que começa em dez dias.

Numa obra que costuma transitar entre a austeridade e a euforia, estruturas superlativas não escondem a delicadeza estranha do artista.

Entre berros, ordens e ajustes finais da exposição, Ramos falou à Folha nos jardins do MAM. Leia a seguir trechos dessa conversa.

Folha - Como a obra que você mostra agora no MAM se relaciona com o trabalho da Bienal de São Paulo? Há uma dimensão política nas duas?

Nuno Ramos
- Passei esse ano pensando na Bienal e aqui. Quis fazer uma peça de algum modo política, entender a capacidade imagética de carimbar uma época, alegorizar um tempo. Me lembrei dos urubus e dessa litania que o trabalho é, um trabalho de luto muito calado.

Tinha um repouso, não era a violência em ato, era uma coisa calma, aquelas canções, os bichos voando, uma espécie de desaceleração. A obra inteira tem algo entre velório e canção de ninar.

"Fruto Estranho" [trabalho com os aviões nas árvores no MAM] está no limite do cafona. Na Bienal é austero, esse é mais histérico. É outra fusão entre o vivo e o morto.

Acredita que isso tem a ver com o momento político e econômico atual do país?

É um momento de grande aceleração sem direção, um segundo desenvolvimentismo. Também há uma cegueira e falta de capacidade de projetar. É uma espécie de agora dilatado que o Brasil sempre vive. Somos o "nunca antes neste país" eterno.

Sinto que esse ufanismo só vai ter algum sentido quando enraizar. O Brasil não superou ainda essa vertigem superficial, o modo de operar a vida como se fosse acabar amanhã. É um pouco eufórico, não tenho tesão nisso.

E com o momento da Bienal?

Essa Bienal vem com uma força guardada. A "Bienal do Vazio" foi das coisas mais idiotas que o Brasil já fez. Essa vem suceder uma cagada monstruosa. Ainda assim, esse museu está caindo aos pedaços. O mundo institucional não é o que já foi, embora haja novas forças.

Sua obra parece bem menos abstrata agora, marcada por contrastes mais aguçados.

É o novo e o velho, a soda e a banha, o cachorro e o asfalto. Essa passagem entre matéria e sentido é o que parece estar acontecendo. A matéria foi criando raiz semântica, buscando uma linguagem.

Ponho tudo em fusão, cópula. Eu sou romântico, acredito na verdade que resulta disso. Quero que o choro e o pau duro transfiram de um para o outro alguma coisa em comum. Gostaria de equalizar o sublime da música e o grotesco de uma boceta.

RAIO-X NUNO RAMOS

VIDA E OBRA
Nasceu em São Paulo, em 1960. Sua obra é pautada pelos contrastes e pesquisa de materiais, empregando areia, vidro, vaselina, sabão, água, feltro, mármore, entre outros

CARREIRA

Esteve na 18ª Bienal de São Paulo, em 1985, na 2ª Bienal de Havana, em 1986, e na 5ª Bienal do Mercosul, em 2005

MOSTRAS ATUAIS
Abre hoje ao público individual no MAM do Rio, com obras inéditas, e está na próxima Bienal de SP, que abre ao público no dia 25

Posted by Cecília Bedê at 11:24 AM

O multiartista Nuno Ramos testa os limites do excesso na exposição ‘Fruto estranho’ no MAM por Suzana Velasco, O Globo

Matéria de Suzana Velasco originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 14 de setembro de 2010.

O multiartista Nuno Ramos testa os limites do excesso na exposição ‘Fruto estranho’, que abre hoje no MAM unindo natureza e tecnologia, vida e morte, sujeira e pureza

“VERME”: duas esferas de areia socada que projetam nas paredes vídeos de atores lendo um texto do artista

No alto de um andaime, o artista plástico Nuno Ramos se misturava aos cerca de 20 trabalhadores que inseriam sabão no molde de uma estrutura de seis metros de altura e mais de dez toneladas. Eram dez da manhã da última quarta-feira, e Nuno já estava na quinta operação de preenchimento de sabão. Seriam 33 até o fim do dia, todas exigindo total concentração da equipe, porque o líquido penetrava até nos parafusos dos dois aviões monomotores que o artista levou para o salão monumental do Museu de Arte Moderna (MAM). Cada um deles está embrenhado num tronco de árvore sem folhas, um como se fosse cair de vez, o outro como se ainda tentasse levantar voo. No fim de semana, já com o sabão endurecido, os moldes começaram a ser retirados para que a obra “Fruto estranho” seja revelada na exposição de mesmo nome, com curadoria de Vanda Klabin, que será inaugurada hoje, às 19h.

Após a quinta inserção de sabão, Nuno desceu e retirou a máscara cirúrgica e o plástico que envolvia seus braços, já cheios de queimaduras causadas pela soda cáustica, material corrosivo que dá origem a ao líquido que é símbolo de limpeza. Com as calças imundas, o “operário” deu lugar ao artista reflexivo, cujas obras têm origem em referências da literatura, da música — campos em que também atua com maestria —, do cinema e da própria arte. Ainda assim, o embate com a matéria é fundamental em seu trabalho, como se vê ainda nas duas outras obras da mostra. A também inédita “Verme” é formada por duas esferas de areia socada das quais são projetados nas paredes dois vídeos em que dois atores se intercalam na leitura do texto “Verme”, escrito pelo artista. Já em “Monólogo para um cachorro morto”, um texto é gravado na face interna de cinco pares de lápides de mármore. Numa delas, há um vídeo de um cachorro morto e o som do monólogo escrito por Nuno.

— Num primeiro momento da minha obra, os materiais se misturaram. Depois, eles se transformaram em códigos culturais, viraram literatura, poemas. Há uma cópula entre a matéria e o sentido — explica o artista plástico e premiado escritor.

Nuno cria diversas cópulas na mostra, até chegar à mais explícita, num vídeo pornô que finaliza as projeções de “Verme”. Em “Fruto estranho”, o artista une as ideias de natureza e tecnologia, vida e morte, sujeira e pureza. Soda cáustica pinga de duas ampolas acopladas às asas de cada um dos aviões, caindo em dois contrabaixos abertos e repletos de banha, que permanecerá sempre quente. A ideia surgiu depois que Nuno leu um poema de Pushkin sobre uma árvore que pinga veneno.

— A imagem de uma árvore coberta numa gordura é meio mística, e o avião é o oposto, algo muito do século XX. Os materiais também copulam quimicamente no sabão, que é feito de um líquido muito violento. Quando faço sabão, a sensação é que há uma reação de alergia que une os elementos — diz ele, atestando o caráter trágico da escultura. — Para mim, o lance não é a morte, mas a reconfiguração que a morte faz. Não é o desastre, mas a transformação.

Para reconfigurar seu desastre, o artista precisou de um engenheiro calculista, que garantiu que o MAM ficaria no lugar depois que se distribuíssem as cerca de 35 toneladas das obras pelos três mil metros quadrados do museu. Nuno conseguiu os troncos de flamboyant na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba. Comprou um dos aviões perto do aeroporto de Viracopos, em Campinas, e o outro em São Paulo. Os dois terão alguns pedaços aparecendo em meio à cobertura de sabão.

— Sobra uma energia do fato de os aviões serem de verdade — diz ele, admitindo ter tido receio durante a criação. — Fiquei com uma certa vergonha, pensando se seria muito excessivo. Tenho um problema com o limite. A falta de limite do Orson Welles, por exemplo, fazia com que ele não executasse os projetos. No meu caso, eu saio do limite e fico me matando para voltar para ele. Vou ficando culpado e penso: onde estou me enfiando?

A obra “Fruto estranho” é composta ainda de uma cena do filme “A fonte da donzela” (1959), de Ingmar Bergman, em que o personagem de Max Von Sidow balança uma árvore até derrubá-la. O som será a voz de Billie Holiday cantando “Strange fruit” (“Fruto estranho”), composta por Abel Meeropol após um linchamento de negros em Indiana, em 1936.

No salão monumental, os visitantes também poderão ouvir ecos dos sons vindos do mezanino, com as vozes dos dois atores “anunciando a visão do verme”, como diz Nuno. O espectador nunca conseguirá ver os vídeos ao mesmo tempo.

— É como se eles tentassem saber se são um ou dois, se foram cortados ao meio. Buscam uma unidade que não volta — diz Nuno, que se inspirou em textos de William Blake sobre anjos e vermes.

Posted by Cecília Bedê at 10:56 AM

setembro 14, 2010

Mercado da arte vive boom pré-Bienal por Mariana Barbosa, Folha de S. Paulo

Matéria de Mariana Barbosa originalmente publicada no caderno Mercado da Folha de S. Paulo em 12 de setembro de 2010.

Arte gera R$ 200 mi por ano e artistas brasileiros multiplicam valorização; centenas de estrangeiros vêm a evento

Bienal que começa na semana que vem pode render R$ 250 mi a SP, maior renda turística depois da Fórmula 1

Centenas de colecionadores estrangeiros e diretores de instituições internacionais de prestígio, do MoMa à Tate, chegam ao país na semana que vem para a abertura da 29ª Bienal de São Paulo.

As dezenas de jantares e de visitas guiadas a galerias que os esperam são apenas parte de um momento oportuno para a arte brasileira, que já movimenta estimados R$ 200 milhões por ano.

Desde o início da década, o mercado tem crescido a um ritmo de 50% ao ano. Diversas obras se valorizam a 30% ao ano, deixando para trás outras aplicações de risco. A força econômica do setor não passa despercebida.

"O Brasil está na moda e as pessoas percebem que ter arte em casa é um luxo", diz a galerista Luisa Strina, dona da mais antiga galeria de arte contemporânea de São Paulo. "Primeiro, as pessoas têm de ter casa, carro; depois, um carro melhor. A arte é o último luxo. Um luxo necessário, que te faz pensar."

Luisa afirma que, há menos de dez anos, vendeu um trabalho da série Metaesquema, de Hélio Oiticica, por US$ 5.000. Na última edição da SP Arte, feira que reúne galeristas de todo o país, um Metaesquema similar estava à venda por US$ 250 mil.

"A arte se tornou um ativo muito interessante. Tem muita gente querendo comprar e pouca gente querendo vender", avalia Jones Bergamin, da Bolsa de Arte.

Nem mesmo a crise internacional, que levou a uma retração do mercado de arte europeu e americano da ordem de 30% no ano passado, fez os preços dos artistas brasileiros caírem. "O mercado continuou crescendo, mas o ritmo de alta foi reduzido", diz Bergamin. Ele estima que o mercado deva crescer entre 10% e 20% neste ano.

VALORIZAÇÃO
Depois que a tela "O Mágico" (2001), de Beatriz Milhazes, alcançou a marca de US$ 1 milhão em um leilão da Sotheby"s, em 2008, o mercado de artes passou a atrair investidores interessados puramente no potencial de valorização das obras.

A Plural Capital, butique de investimentos formada por ex-sócios do Pactual, está estruturando um fundo de investimentos de R$ 50 milhões para artes plásticas -o Brazil Golden Art. Com prazo de cinco anos, o fundo pretende passar os três primeiros anos adquirindo obras de artistas contemporâneos, e os dois últimos vendendo.

Heitor Reis, um dos sócios do fundo, diz que já captou 80% do total. "Se analisarmos os últimos dez anos, os investimentos em arte tiveram uma valorização muito superior à da Bolsa." De 1999 a 2009, o Ibovespa subiu, em média, 26,03% ao ano. O BGA não foi às compras, mas Reis já pensa no lançamento de um segundo fundo.

No mundo das galerias, já começam a surgir histórias de especuladores, que compram na galeria e logo em seguida colocam a obra à venda em leilão.

Mas nem só de especuladores e investidores profissionais vive o mercado. Se há 20 anos dava para contar nos dedos o número de colecionadores sérios, hoje eles passam de mil.

Novas galerias surgem a todo instante -eram 50 no eixo Rio-SP no início da década. Hoje são 90. A arte está na abertura da novela da Globo ["Passione"], com trabalho de Vik Muniz.

A Bienal tenta aproveitar esse bom momento, depois de cancelar seu evento dedicado à arquitetura e sofrer o vazio na edição de 2008.

Sob comando de Heitor Martins, sócio diretor da consultoria McKinsey, a fundação arrecadou R$ 45 milhões.

O evento deverá movimentar a economia da cidade de São Paulo em mais de R$ 250 milhões em gastos de turistas -o segundo evento mais importante da cidade, atrás apenas do GP de Fórmula 1, que gira R$ 260 milhões.

Posted by Cecília Bedê at 4:14 PM

Além do Pavilhão, Bienal ocupará o parque do Ibirapuera, O Estado de S. Paulo

Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo em 14 de setembro de 2010.

Entre as novidades da 29ª Bienal Internacional de São Paulo, que será aberta ao público no dia 25, estão os chamados terreiros, espaços de convívio que serão usados para atividades como performances, leituras e projeções. Dos seis terreiros criados por artistas e arquitetos convidados, um deles será colocado no lado externo do Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera. Assinado pelo arquiteto Roberto Loeb e pelo artista plástico e grafiteiro Kboco, o espaço "Dito, Não Dito, Interdito" tem como tema a linguagem e será dedicado a debates e conversas.

"Dentro da nossa concepção, ele é um espaço de encontro, que será ativado pelos visitantes, no caso o próprio público do parque", explica Agnaldo Farias, curador-chefe da 29ª Bienal, ao lado de Moacir dos Anjos. "Nele ocorrerão algumas apresentações, ele funcionará como uma espécie de tribuna livre", afirma.

Ainda no entorno do Pavilhão da Bienal, 70 bandeiras de diferentes países serão hasteadas em mastros. Não se trata de uma forma de reforçar o caráter internacional do evento e, sim, da obra "Apolítico", do cubano Wilfredo Prieto. O estranhamento aparece ao se perceber que todas as flâmulas têm apenas duas cores - preto e branco -, o que anula parte importante dos elementos visuais que ajudam em sua identificação. A obra é composta originalmente por mais de 300 bandeiras, de todas as partes do mundo, mas o número apresentado varia de acordo com o espaço disponível em cada local onde é mostrada. A que nunca fica de fora é a bandeira do país anfitrião. Desde que foi criada, em 2001, "Apolítico" já foi apresentada em dez diferentes lugares ao redor do mundo. Entre eles está o Museu do Louvre, em Paris (2006), e o MoMA, em Nova York (2008).

No espaço da Marquise projetada por Oscar Niemeyer, a escocesa Susan Phillipsz vai exibir uma de suas instalações sonoras em que usa a própria voz. "Eu gravei três versões de uma canção e vou tocá-las a partir de três alto-falantes separados, que estarão a cerca de cem metros de distância da Marquise", conta. "O trabalho é organizado em um ''círculo'', no qual uma voz segue a outra, em uma polifonia de sons." A canção escolhida foi a singela "Hey Ho! To the Greenwood", escrita no início do século 17 pelo compositor inglês Thomas Ravenscroft.

Para completar a lista de obras externas, a 29.ª Bienal terá ainda a escultura "Fogueira de Gelo", do pernambucano Paulo Bruscky, que será exibida no dia 25/9, a partir das 11h. Com 3 m de altura, a peça é formada por barras de gelo entrelaçadas que derretem ao longo das horas até desaparecerem totalmente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posted by Cecília Bedê at 3:16 PM

Morre artista Wesley Duke Lee, aos 78 anos, em SP, O Estado de S. Paulo

Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 14 de setembro de 2010.

O "realista mágico à sua disposição", é como o artista paulistano Wesley Duke Lee brincava ao se apresentar para as pessoas. Criador provocativo e inquieto, ele morreu na madrugada de ontem, no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, aos 78 anos. Diagnosticado, há cerca de 3 anos, com o mal de Alzheimer, sua morte ocorreu por broncoaspiração e parada cardíaca em decorrência de sua doença, como afirma a sobrinha do artista, Patricia Lee. Segundo ela, não será realizado velório, mas cerimônia hoje, às 16 horas, no crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra. "Colocaremos na ocasião uma frase que ele sempre dizia, ''A verdade não pode ser dita, só revelada''", diz Patricia.

Desenhista, gravador, pintor e professor, Wesley Duke Lee nasceu em 21 de dezembro de 1931. A década de 1960 foi especial para o artista, um dos introdutores da Nova Figuração no Brasil. Na época, ele promoveu ações polêmicas que se tornaram emblemáticas de sua carreira, como a realização do happening O Grande Espetáculo das Artes, em outubro de 1963, no João Sebastião Bar, na Rua Major Sertório, em São Paulo - apresentou para uma multidão desenhos eróticos de sua famosa Série das Ligas vistos com lanternas em meio a um strip-tease -; a criação, em 1966, da Rex Gallery com os artistas Geraldo de Barros, Nelson Leirner, José Resende, Carlos Fajardo e Frederico Nasser; ou ainda de trabalhos/ambientes que são considerados as primeiras experimentações do que hoje conhecemos por instalação, como Trapézio (1966) e Helicóptero (1969).

Neste momento, duas iniciativas felizes homenageiam o artista. Em julho, o marchand Max Perlingeiro, diretor da Pinakotheke Cultural, inaugurou a mostra Wesley Duke Lee na sede da instituição, no Rio, com 65 desenhos, pinturas, "obras ambientais" e objetos realizados pelo criador entre 1952 e 1999 - acompanhando a exposição, foi lançado amplo livro. A mostra, que fica em cartaz no Rio até 2 de outubro, virá para o espaço da Pinakotheke em São Paulo, ficando em cartaz entre 23 de outubro (coincidentemente, a mesma data em que Wesley realizou O Grande Espetáculo das Artes, em 63) e 5 de dezembro.

Curioso ainda é que Perlingeiro emprestou uma das obras da exposição, o tríptico O Nome do Cadeado É: As Circunstâncias e Seus Guardiães, de 1966, para a sala com curadoria de Fernanda Lopes que a 29.ª Bienal de São Paulo vai dedicar ao Grupo Rex. A Rex Gallery movimentou a cena de São Paulo entre junho de 1966 e maio de 1967 com happenings, mostras e evocações de uma maneira alternativa de se fazer mercado. A última retrospectiva do artista ocorreu em 1992, no Masp e no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posted by Cecília Bedê at 3:13 PM

Arte pública, a nova cara do Parque do Ibirapuera por Marina Vaz, O Estado de S. Paulo

Matéria Marina Vaz originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 14 de setembro de 2010.

Nos últimos meses, surgiram diversos murais e agora o parque receberá uma nova escultura

Para Oscar Niemeyer, a arquitetura deve estar integrada às artes plásticas. Hoje, 56 anos depois da inauguração de seu projeto do Parque do Ibirapuera, essa integração pode ser vista na prática: o local conta com quatro museus (MAM, MAC, Museu Afro Brasil e Pavilhão das Culturas Brasileiras), além da Oca e do Pavilhão da Bienal. A vocação artística do Ibirapuera ganhou reforço, nos últimos meses, com a instalação de novas obras em espaços abertos do parque, incluindo murais de Tony de Marco, Carla Barth, Osgemeos e Chivitz.

Enquanto alguns artistas preparam suas criações que serão expostas ao ar livre na 29.ª Bienal Internacional de São Paulo, o artista Stephan Doitschinoff finaliza a escultura A Mão, o que reforçará ainda mais os números de arte pública no parque. A peça, de 1,80 m, será instalada perto da entrada do Museu Afro Brasil e tem inauguração prevista para outubro, em data ainda a ser definida.

A obra, que ali ficará exposta durante um ano, segue a linha de murais, telas e instalações do artista, sempre ligados ao sincretismo religioso.

Para compor a peça, Doitschinoff se inspirou no livro A Mão Afro Brasileira, de 1988, organizado por Emanoel Araujo, hoje diretor do Museu Afro Brasil. "O livro levanta de que maneira uma ‘mão negra’ contribuiu para a cultura brasileira", diz ele.

Paulista conhecido como Calma, Doitschinoff nasceu em 1977. Em 2005, mudou-se para Lençóis (BA) e pintou casas e muros da cidade. Em 2006, ganhou o prêmio Jabuti pelas ilustrações do livro Palavra Cigana (Ed. Cosac Naify). Em 2009, expôs no Masp e foi eleito artista revelação pela APCA. Doitschinoff fala ao Estado sobre o novo trabalho.

A figura da mão está sempre presente em sua produção. Como ela surgiu?

Tudo começou por causa da quiromancia. Sempre admirei muito adivinhação, de ver o futuro em borra de café, de jogar búzios, ler a mão. A base de tudo isso é ter fé em uma ação que é totalmente nonsense. Comecei a trabalhar com a imagem da mão, a dividi-la em linhas e a desenhar nelas. Isso foi na mesma época em que me mudei para a Bahia e comecei a estudar a cultura afro, o sincretismo, e como isso influenciou a cultura brasileira. Pouco depois, conheci a obra do Emanoel Araujo, A Mão Afro Brasileira. E aí juntei tudo.

Você sempre trabalha com muitas simbologias. Quais são as desta obra?

Há uma ampulheta com asas e duas tochas cruzadas e viradas para baixo. A ampulheta quer dizer "a vida é curta"; as asas, "o tempo voa"; e as tochas, "a morte é certa" - é um mantra que os monges pronunciavam, contemplando uma caveira. E as letras dos dedos são as iniciais de uma expressão em latim que significa "não procure do lado de fora, a verdade se encontra dentro do homem".

Você incorporou à peça símbolos da cultura afro?

Não há nenhum símbolo do candomblé, por exemplo. O meu estudo engloba o sincretismo, mas não uso esses símbolos porque, para usar um símbolo de poder, de fé, você tem de conhecê-lo de verdade. Estudo o cristianismo desde criança, então me sinto livre para usá-lo.

É a primeira vez que você trabalha com cerâmica. Por que a escolha desse material?

Quis fazer uma ligação com o popular, com a ancestralidade e também com a África em si. Acho que a cor da terra simboliza muito bem a África.

O prêmio que você ganhou por edital do Ministério da Cultura e que viabilizou a escultura A Mão também incluía um mural.

Ele foi feito em julho. O mural fez parte de um projeto com duas instituições de Osasco, uma de reabilitação de usuários de álcool e drogas e outra de inclusão social de pessoas em situação de rua. Eles acompanharam a confecção da minha escultura, fizemos visitas ao Museu Afro Brasil, eu falei sobre meu trabalho e eles falaram sobre o trabalho de artesanato deles. Pelo projeto, eles fariam um mural inspirado no meu trabalho em um local decidido por eles. E eles escolheram as próprias sedes das instituições que frequentam.

Na hora de criar a escultura, teve algum cuidado pensado especialmente para a interação com o público?

Geralmente, minhas peças são muito delicadas, mas nesta, de cerâmica, as pessoas podem interagir, tocar. Isso é importante porque fazer obras para dentro do museu é lindo e as possibilidades são maiores. Mas há uma coisa muito especial na obra pública, que é atingir o público de uma maneira até subliminar, porque as pessoas estão lá, jogando bola, passeando, namorando, e vão interagir com a obra.

Sua experiência em Lençóis (BA), onde viveu durante três anos e pintou casas, pode ser considerada um bom exemplo de arte pública. Em que ela influenciou seu jeito de fazer arte?

Lá, foi a primeira vez em que eu pensei nas pessoas que veriam aquela obra. Quando eu pintava em São Paulo, fazia coisas muito mais agressivas. Como a cidade é muito gigante, dificilmente quem faz uma obra pública vai conhecer quem mora ali. Em Lençóis, convivendo com as famílias e influenciado por suas crenças, comecei a levar isso em consideração. Aliás, muitas vezes, essa era a primeira coisa que eu levava em conta.

Posted by Cecília Bedê at 3:06 PM

Morre, aos 78, Wesley Duke Lee, iconoclasta da arte brasileira por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo

Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 14 de setembro de 2010.

Artista enfrentava o mal de Alzheimer há três anos e sofreu uma parada cardíaca anteontem

Morreu anteontem à noite, em São Paulo, o artista plástico Wesley Duke Lee. Ele tinha 78 anos e sofreu uma broncoaspiração seguida de parada cardíaca no hospital Beneficência Portuguesa. Lee também sofria do mal de Alzheimer há três anos.

Está marcado para a tarde de hoje uma cerimônia de despedida aberta ao público no crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra (SP).

Wesley Duke Lee foi um pioneiro da linguagem contemporânea nas artes plásticas no Brasil, ao realizar pinturas com colagens, "happenings" e criar ambientes instalativos, já nos anos 1960.

Sua ação "O Grande Espetáculo das Artes", no paulistano João Sebastião Bar, em 1963, costuma ser apontada como o primeiro "happening" no Brasil. A performance foi motivada pela dificuldade em expor gravuras da série "Ligas", consideradas muito eróticas, e foi um manifesto contra a crítica.

Na 29ª Bienal de São Paulo, que será aberta ao público no próximo dia 25, Duke Lee estará representado como integrante do Grupo Rex, que fundou junto com os artistas Nelson Leirner e Geraldo de Barros (1923-1998).

Apesar da curta duração, junho de 1966 a maio de 1967, o grupo foi um grande inovador da cena paulista, ironizando o sistema da arte, seus museus e galerias.

O grupo, que criou a Rex Gallery & Sons e editou o jornal "Rex Time", recuperou o espírito contestatório e anarquista dos dadaístas, além de criar performances afinadas com ações do grupo Fluxus, de George Maciunas e Yoko Ono, entre outros.

ATITUDE ICONOCLASTA
Um bom exemplo dessa atitude é uma das obras selecionadas de Duke Lee para a 29ª Bienal: "O Tríptico: o Guardião, A Guarda, As Circunstâncias", de 1996.

Esse trabalho foi realizado a partir de "O Nome do Cadeado É: As Circunstâncias", que havia sido censurado pela própria Bienal, alguns anos antes, pois era composto por placas móveis fechadas por cadeados, que podiam ser removidos, e uma delas continha um desenho de púbis com pelos reais.
Como crítica à Bienal, o artista criou o tríptico, que agora será exposto, composto por três pessoas: uma mulher com uma tarja preta nos olhos ladeada por guardiões.

Os censores seriam o fundador da Bienal, Ciccillo Matarazzo, que tem o rosto coberto por uma pintura de Almeida Júnior, e a secretária da fundação, Diná Coelho.

Publicitário no início de sua carreira, usando cores fortes e a imagem feminina, Duke Lee também costuma ser vinculado ao movimento pop, mas sua obra de fato está mais próxima da obra de Robert Rauschenberg (1925-2008), que o artista conheceu quando estudou em Nova York, nos anos 1950.
Duke Lee foi ainda professor de uma geração posterior, que inclui Carlos Fajardo, José Resende e Luiz Paulo Baravelli que, em 1970, fundaram a Escola Brasil. Apesar de sua obra vir ganhando visibilidade, não foram ainda dados os créditos à complexidade de sua produção.

RAIO-X
WESLEY DUKE LEE

VIDA E FORMAÇÃO
Nasceu em São Paulo, em 1931. Estudou desenho livre no Masp e depois cursou a Parson's School for Design, em Nova York. Foi aluno do pintor italiano Karl Plattner. Também trabalhou como ilustrador e publicitário

HAPPENING

Fez em 1963 no João Sebastião Bar, em São Paulo, o primeiro "happening" da história da arte brasileira, em que apresentou desenhos eróticos da série das "Ligas"

GRUPO REX
Fundou em 1966 o iconoclasta grupo Rex, do qual participaram Geraldo de Barros, Nelson Leiner, Carlos Fajardo, Frederico Nasser e José Resende. Por meio da publicação de jornais e exposições, questionava a lógica do mercado de arte. Teve sua obra recusada seis vezes pela Bienal de São Paulo

Posted by Cecília Bedê at 2:51 PM

setembro 13, 2010

Artistas circulam pela cidade, Diario de Pernambuco

Matéria originalmente publicada no caderno Viver do jornal Diário de Pernambuco em 12 de setembro de 2010.

Em exposições e performances, público tem a chance de se aproximar da arte contemporânea

Quer acompanhar o que está sendo produzido em termos de artes visuais? Prepare-se para a maratona. O Spa das Artes 2010 está com uma agenda repleta de exposições, performances, oficinas, intervenções. O Mamam no Pátio, por exemplo, a partir de hoje e até o dia 17, sempre das 10h às 18h, recebe a terceira edição do Territórios recombinantes. O projeto, que ocorre a cada dois anos, veio ao Recife graças a uma parceria do Spa com o instituto paulista Sergio Motta.

Foram selecionados os artistas Ricardo Brazileiro (que vai expor Híbrido ao pulso - Organismos e desequilíbrios), Jeraman (Exposição Internacional de Tecnologia e Arte, Porra! - Eita, porra!), Christiano Lenhardt (Papel sensível) e Grupo SYA (Casa de pão com acompanhamento). Com a curadoria de Daniela Castro e o acompanhamento de Mário Ramiro e Ricardo Carioba, os projetos serão desenvolvidos no local de exposição. Ricardo Carioba, aliás, faz uma performance, intitulada Doce luz obscura, no Pátio de São Pedro, às 18h30.

Também hoje começa um projeto de residência artística de Renato Valle. A residência, que será realizada no horário das 9h às 17h, no Sítio da Trindade, resultará no trabalho Conversa a muitos, um desenho em grande escala, grafite sobre lona crua, que será elaborado com a participação de alunos da rede pública.

Já quem passar pelo Bairro do Recife não pode daixar de olhar para os cartazes colados nos muros. Eles podem ter virado arte. É o projeto Lambe-lambe curativo, do Coletivo Una. O grupo explora os muros como galeria, num processo de curadoria coletiva, através da colagem de molduras impressas em papel, instigando o transeunte a um outro recorte no olhar. No Alto José do Pinho, na Zona Norte, das 9h às 17h, o foco também é arte urbana, com o grupo Acidum, do Ceará. Com desenhos, gravuras, grafite e impressos, eles vão promover ressignificações ao que já vemos nas ruas em cartazes, telas, placas. Se você é artista, não deixe de passar no Sesc do Cais de Santa Rita, das 9h às 19h, até o dia 17. O projeto de Murilo Maia é chamado Biblioteca de artista - Um espaço de catalogação de livros de artistas ou livros-objetos. Já estarão expostos trabalhos de artistas do Ceará e também da Argentina, mas os pernambucanos estão convidadíssimos a participar.

Para completar a programação neste início de semana, uma boa pedida é conferir a apresentação do projeto Coleções, do grupo Intrépida Trupe, nos jardins do Murillo La Greca, em Parnamirim, às 19h30. Só para ter a certeza que podemos nos aproximar das artes plásticas de várias formas. A entrada para a apresentação é gratuita.

Posted by Cecília Bedê at 1:53 PM

Rio traduz língua de Lenora de Barros por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 13 de setembro de 2010.

Artista revisita poesia concreta e linguagem pop em conjunto de vídeos dos últimos 25 anos em retrospectiva

Performances gravadas serviram de suporte para experimentos com carga visual extrema de herdeira dos concretos

Lenora de Barros lambe e mastiga o tempo e as palavras. Digere presença visual e dimensão sonora dos vocábulos com fome concreta.

Desde que bateu com a língua um poema numa máquina de escrever, no final dos anos 1970, a artista não perdeu a vontade de destrinchar no espaço e no tempo a reverberação de letras e versos.

"Meu conceito de antropofagia foi ter essa postura em relação a questões nossas, à poesia concreta", diz a artista à Folha no café do Oi Futuro, no Rio, onde abre hoje uma retrospectiva. "Era tentar esticar o tempo em palavras."

Nos fotogramas do vídeo, sequência por sequência, ela encontrou uma nova métrica para essa espécie de língua expandida. Essa parte de sua produção, ao longo dos últimos 25 anos, aparece revista agora em mostra no Rio.

"Nunca fui poeta concreta, nem poderia ser", conta. "Mas, a partir do momento em que comecei a trabalhar com palavras, a questão era levar para o espaço os aspectos sonoros e visuais delas."
Mas ela nunca faz tudo ao mesmo tempo. Barros articula um jogo de idas e vindas entre a sonoridade mínima e uma carga visual extrema.

Numa sala escura, uma gravação da voz da artista recita um texto em que alinhava palavras que encerram o termo "ver". É um vácuo visual cheio de som operando como alicerce da imagem.

Do lado de fora da sala, num espaço iluminado, as oito letras da palavra "silêncio" aparecem fotografadas sobre a língua da artista. Um vídeo mostra cada uma sendo pregada com toda a fúria de dentro para fora da boca.

"Essa questão da língua está na origem e dentro do meu trabalho, é a língua como símbolo de linguagem", resume a artista. "Queria fazer um poema em que a língua fecunda a linguagem, quase uma relação sexual."

PRESENÇA FÍSICA
Nesse ponto, ela precisa do corpo. Da boca e dos olhos à planta dos pés, a obra de Barros não se desassocia da presença física da artista.

Em seu primeiro vídeo, ela repete uma performance fotográfica em que escovava os dentes até a espuma da boca cobrir todo seu rosto. Fundia a análise da vida pautada pelos artistas conceituais a um imaginário pop que tinha no corpo um suporte plástico atraente para a época.
Mais tarde, faz quatro vídeos em que cobre o rosto com um gorro de tricô que vai desfiando ao som de um discurso. São falas que oscilam entre dizer e não dizer, o que ela chama de "tentativa de perseguir tempos absurdos".

Até que ela morde a língua. Numa fotografia que depois virou vídeo, ela mastiga a língua, expressando essa fome prensada entre os dentes. Mostra então que seu corpo não é presença carnal, mas uma espécie de pele da imagem desse discurso.
E, no fim, fica só a dúvida. No último vídeo da mostra, ela tira da boca um papel que diz: "Eu não disse nada".

Posted by Cecília Bedê at 1:42 PM

Traços de Cipis estabelecem harmonia entre as artes plásticas e a ilustração por Fábio Marra, Folha de São Paulo

Matéria de Fábio Marra originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 11 de setembro de 2010.

O universo das artes plásticas e visuais sempre teve camuflada e incômoda relação com a presença das ilustrações. Há quem defenda que a arte contemporânea e a ilustração não serão parte integrada jamais. Não para Marcelo Cipis. Aos 51 anos, o artista plástico e ilustrador desafia os contornos desse pensamento com traços que remetem à reflexão da harmonia possível, sim, entre as duas.

Sem querer o risco da fixação de outra tese, então "subjetivamente", podemos nos guiar pelos traços à sintonia entre o trabalho do ilustrador e a essência da arte contemporânea.

"Some Contemporary Art Themes" (alguns temas da arte contemporânea) é mais do que a síntese desse pensamento. Retrata a combinação de forma, cores, estética e plasticidade resultante do conflito permanente entre o ilustrador e o artista plástico.

A beleza tão relacionada às pessoas e à funcionalidade, tão diretamente associadas aos objetos, configura o eixo da narrativa, que, ao dispensar palavras e optar pela totalidade na linguagem visual, revela signos e imagens apresentados em cores quentes e tons pastéis.

Sacudido pela necessidade que a maioria dos artistas tem de se expressar sobre os problemas do mundo, Marcelo Cipis debate de maneira sutil, bem-humorada e por vezes irônica a beleza vista como não fundamental e a percepção de cada olhar sobre a arte.

Impressa em "off set" e com tiragem limitada, a revista traz desde a capa a dualidade entre arte e ilustração. A numeração, gravada manualmente, personaliza o comprador. "Some Contemporary Art Themes" pode ser encontrado nas livrarias Martins Fontes.

Cipis é autor de outros 14 livros livros, entre eles: "De Passagem", "A Interessante Ilha Dukontra" e "O Nosso Querido Amigo Kuki", todos editados pela Companhia das Letras.

Outros estão a caminho, segundo o autor. São eles: "Sinto Tudo" (título provisório, ed. Peirópolis, 2010), "O Pequeno Livro" (ed. Peirópolis, 2010), "O Livro Chic do Futebol (ed. Cosac Naify, 2010), "Super Zeróis" (ed. Cosac Naify, 2010) e "Move Tudo" (ed. Companhia das Letras, 2011).

Posted by Cecília Bedê at 1:30 PM | Comentários (1)