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maio 7, 2010
SP-Arte foi um sucesso de vendas, diz Fernanda Feitosa por Camila Molina, estadao.com.br
Matéria de Camila Molina originalmente publicada na seção Cultura do estadao.com.br em 7 de maio de 2010.
Com vendas na casa dos R$ 30 milhões, diretora do evento diz que não há crise no mercado de arte do País
SÃO PAULO - Pelos cálculos, fechados até esta quinta, 6, o volume total de vendas de obras na 6.ª SP-Arte - Feira Internacional de Arte de São Paulo, que ocorreu até domingo no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, ficou entre R$ 30 milhões e R$ 32 milhões. "É um balanço pendente", como diz a diretora do evento, Fernanda Feitosa, porque, segundo ela, há negociações de obras ainda correndo, um movimento corriqueiro pela natureza de feiras. De qualquer maneira, como Fernanda estima, o balanço de 2010 revela aumento de cerca de 15% em se comparando com a edição passada da SP-Arte, de 2009, que teve cerca de R$ 26 milhões (ou US$ 15 milhões) de vendas. Não existe mesmo crise nenhuma no mercado de arte brasileiro.
No mesmo fim de semana em que ocorreu a feira na Bienal, com participação de 80 galerias, nacionais e estrangeiras e visitada por 15.795 pessoas, a Bolsa de Arte do Rio de Janeiro realizou em São Paulo dois leilões, um de arte moderna e outro de arte contemporânea, design e fotografia. Como conta Jones Bergamin, diretor da Bolsa de Arte, cada leilão rendeu em torno de R$ 2 milhões de vendas - o grande destaque foi This Is a Canvas, This Is a Box, acrílica sobre tela de 1996 de Cildo Meireles, arrematada por R$ 400 mil.
Cálculos. "É um momento financeiro muito bom, graças a Deus!", festeja Alessandra d’Aloia, presidente da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abac), que agrega 20 galerias de 5 Estados e sócia da Galeria Fortes Vilaça, uma das mais importantes de São Paulo. Segundo cálculos da Abac, entidade criada em 2008, houve aumento de 30% de venda de obras de seus associados nesta 6.ª SP-Arte. "É um estrondo", define Alessandra. Pela primeira vez a Abac se dedicou a fazer um balanço de volumes vendidos.
Mas fazer cálculos de feiras é sempre complicado, ainda mais porque se misturam os chamados mercados primários e secundários no mesmo evento. No caso da SP-Arte, que reuniu cerca de 2.500 obras - e também promoveu cerca de R$ 190 mil em doações do Shopping Iguatemi, Banco Espírito Santo e da colecionadora Cleuza Garfinkel para aquisições destinados aos acervos da Pinacoteca do Estado, Museus de Arte Moderna de São Paulo e da Bahia -, há uma especificidade: ela é uma feira na qual colecionadores não arrematam peças de valores milionários ou mais caros. "Pode-se dizer que trabalhos de até US$ 50 mil se vendem bem", conclui Alessandra, exemplificando que foi A Coluna de Cinzas, de Nuno Ramos, vendida a US$ 90 mil, a peça de valor mais alto vendida no estande da Galeria Fortes Vilaça, que tem ainda em seu time nomes como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Ernesto Neto.
Max Perlingeiro, diretor da Pinakotheke Cultural, afirma que Figura em Azul, pintura moderna de cifra milionária de Ismael Nery e datada de 1928, considerada uma das mais caras desta 6.ª edição da SP-Arte, ainda está em negociação. "As obras de menor valor são vendidas, as de mais valor, demandam negociação", diz Perlingeiro. A escultura em bronze de 1945 de Maria Martins exibida no estande da Arte 57, que também seria um destaque do evento, cotada a R$ 1,5 milhão, saiu sem comprador. "Acredito que haja mais folclore do que realidade quando se fala de uma efervescência do mercado. Colecionadores interessados em coisas excepcionais estão negociando muito. A euforia existe para arte contemporânea de valor palpável", pondera Max Perlingeiro.
Números:
A Feira Internacional de Arte de São Paulo revela alguns dados
32 milhões de reais - foi o volume estimado de vendas na edição deste ano
15% de aumento de faturamento em relação a 2009, que movimentou R$ 26 milhões
190 mil reais foi o valor aproximado de doações para instituições de São Paulo e Bahia
15.795 visitantes em cinco dias de feira, 20% a mais que em 2009
maio 6, 2010
Mostra reúne trabalhos de artistas da galeria Gentil Carioca por Walter Sebastião, Estado de Minas
Matéria de Walter Sebastião originalmente publicada no jornal Estado de Minas em 22 de abril de 2010.
Arte contemporânea, mostrando o melhor da produção atual. A capacidade de revirar o cotidiano e encontrar, em paisagem dilacerante, alguma poesia. Assim é a mostra Uma gentil invenção, que será aberta amanhã, na galeria Arlinda Correia Lima do Palácio das Artes. Dezenove artistas cariocas trazem um jeito diferente de fazer arte, com produção que provoca o espectador, marcada pela urbanidade delirante e pela irreverência. Essa opção, não poucas vezes, valeu polêmicas e problemas aos autores. Cultivado desde a metade dos anos 1980, esse caminho está presente na exposição por meio de João Modé e Ricardo Basbaum, nomes históricos dessa prática.
O evento é mais que mera exposição. Traz a Belo Horizonte o trabalho da galeria Gentil Carioca, dirigida por artistas que decidiram enfrentar todos os problemas que afligem a cena das artes visuais – da falta de espaço à venda de obras. Somando programação regular, incentivo a novos nomes e programas educativos, o espaço ganhou respeito internacional. A importante revista nova-iorquina Flash Art pôs a Gentil Carioca entre os 100 espaços mais interessantes da arte contemporânea mundial.
Palestra
“É uma galeria diferente”, avisa a artista plástica Laura Lima. Ela vai fazer palestra com Márcio Botner, outro fundador da Gentil, amanhã, às 14h, no Cine Humberto Mauro. Desde 2003, o espaço funciona num sobrado do início do século 20, no Centro do Rio de Janeiro. Lá ficava o ateliê de Márcio Botner. Os bate-papos com o amigo dos tempos de cursos no Parque Lage trouxeram a ideia de transformar o ateliê em galeria. Márcio ouviu a proposta com curiosidade e, um mês mais tarde, topou, chamando Laura para sócia. A dupla convidou o artista plástico Ernesto Neto para a empreitada.
“Quem manda na Gentil são os artistas. Criar a galeria foi um gesto político numa época em que havia muita gente produzindo sem ter onde mostrar. Faltavam bolsas, projetos e investimento em arte”, explica Laura. “A gente gosta de arte. Então, batalhamos para apresentar os artistas, sejam ou não representados por nós”, observa.
Uma gentil invenção é o retrato do momento que a galeria vive. “O ideal é que se veja a mostra e se pesquise o que têm feito artistas”, recomenda ela. O evento surgiu do desejo do Sesc de promover mostra itinerante e foi transformado pela equipe da Gentil Carioca em experiência de formação de acervo público. O Sesc, inclusive, comprou as obras e viabilizou uma espécie de museu itinerante.
Projetos
Laura Lima conta que, aberta a galeria, chegaram-lhe dezenas de portfólios “de um monte de gente maravilhosa sem ter onde expor”. Criou-se então a mostra anual Abre-alas, dedicada aos novos. Uma exposição para crianças trouxe a certeza de que educação e convivência com a arte são questões importantes para a formação de público. A cada mostra, a Gentil Carioca passou a chamar artistas para conversar, além de bolar camiseta, sempre com a palavra educação, vendida a preço de custo. Atualmente, elas já são 20.
A equipe convenceu colecionadores a patrocinarem a Parede Gentil, na face externa do espaço, defendendo a ideia de que colecionar é construir pensamento, não apenas ter um objeto. “Fazemos o que uma boa galeria deve fazer: possibilitar que o artista e suas obras estejam no maior número de eventos possível. Galeria é só sede onde se tem informação sobre o artista”, defende Laura.
Há dramas nessa missão, concorda ela. “Não é fácil vender arte. O número de colecionadores está crescendo, mas eles ainda são poucos”, conta. Há solução para o problema? “Mostrar que coleção pode ter vários perfis”, responde ela. O acervo particular pode ser pequeno, grande, ter um tema ou ser dedicado a uma linguagem, por exemplo.
Atualmente, a Gentil Carioca representa cerca de 20 artistas, selecionados observando-se o respeito ao realizado e a afinidade dos proprietários com o que eles apresentam. “Não são só amigos. Se fosse assim, seriam duas mil pessoas”, brinca Laura. “Artista tem de sair do casulo, trabalhar melhor seu romantismo e cair no mundo”, conclui ela.
UMA GENTIL INVENÇÃO
Trabalhos de Alexandre Vogler, Carlos Contento, Ducha, Ernesto Neto, Jarbas Lopes, João Modé, Laura Lima, Márcio Botner & Pedro Agilson, Maria Nepomuceno, Marinho, Marssars, Paulo Nenflídio, Pedro Varela, Renata Lucas, Ricardo Bausbaum, Simone Michelin e Thiago Rocha Pitta. Galeria Arlinda Correia Lima do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Abertura sexta-feira, às 19h. O espaço funciona de terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h, e aos domingos, das 16h às 21h. Até 30 de maio.
maio 4, 2010
Picasso é a estrela na Christie's de NY por Tonica Chagas, O Estado de S. Paulo
Matéria de Tonica Chagas originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 4 de maio de 2010.
O óleo sobre tela Nu au Plateau de Sculpteur, obra-prima pintada por Picasso num único dia, em março de 1932, é a grande aposta de leiloeiros e marchands para novo recorde de preço para obra de arte adquirida em leilão, quando for à venda hoje à noite na Christie"s de Nova York, no primeiro leilão da temporada de primavera na cidade. A casa não revela a estimativa de preço, mas a expectativa é que o quadro alcance mais de US$ 100 milhões.
O recorde atual é da escultura de bronze L"Homme Qui Marche I (1960), de Alberto Giacometti, arrematada em fevereiro pela viúva do banqueiro Edmond Safra, a socialite brasileira Lily Safra, na Sotheby"s de Londres, por US$ 104,3 milhões. Nu au Plateau de Sculpteur (ou Nude, Green Leaves and Bust, título em inglês) retrata a amante do pintor Marie-Thérèse Walter, então com 22 anos, e é uma das grandes telas da série com mulheres adormecidas ou sentadas que Picasso produziu para sua primeira retrospectiva, exibida em junho de 32 pela Galerie Georges Petit, de Paris.
Até agora, o recorde em leilão para um Picasso era de US$ 104 milhões, pagos pelo óleo sobre tela Garçon à la Pipe, de 1905, vendido pela Sotheby"s/NY em maio de 2004. Mas é possível comparar o valor dele com outro da mesma série de 32, Le Rêve, que pertence a Steve Wynn, empresário do setor imobiliário e dono de cassinos em Las Vegas.
Nu au Plateau é o lote principal entre os 27 vindos da coleção do empresário californiano Sidney Brody (morto em 1983) e sua mulher, Frances Brody, que morreu em novembro. As obras compõem seção especial do leilão de arte impressionista e moderna que a Christie"s realiza hoje.
A coleção, iniciada nos anos 1940, tem outras preciosidades como o óleo Nu au Coussin Bleu (1924), de Matisse, estimado entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões, e o busto de bronze Grande Tête Mince (1954), de Alberto Giacometti, com estimativa entre US$ 25 milhões e US$ 35 milhões, além de obras de Renoir, Henry Moore, Bonnard, Modigliani e mais sete de Picasso. O casal adquiriu Nu au Plateau do agente do pintor, Paul Rosenberg, em 1951, pagando por ele pouco menos de US$ 20 mil.
Poesia visual por Marcos Sampaio, O Povo
Matéria de Marcos Sampaio originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 4 de maio de 2010.
Premiado do 61° Salão de Abril com uma bolsa de formação, o artista Jared Domício lança seu olhar sobre a mostra e a produção de arte contemporânea
Qual é o limite da arte? A pergunta é recebida como um soco pelo artista Jared Domício, fortalezense escolhido pelos curadores do 61° Salão de Abril, entre os 30 selecionados, para receber uma bolsa de formação. Ainda assim, ele respira e arrisca uma resposta. "O limite da arte é o limite do mundo onde ela vive". Tomando como exemplo os artistas da body art que chegam a se mutilar ou auto flagelar, Jared completa. ``Antes de chamar de absurdo, é preciso entender a ideia, o contexto onde ele vive. A arte lida com uma diversidade de olhares``.
Convidado pelo O POVO, Jared Domício fez um passeio pelo Salão, no último sábado, para expor suas posições sobre arte contemporânea, a proposta do evento e os artistas selecionados. Logo na entrada, ele assumiu estar surpreso com os trabalhos e com o alto nível da exposição. ``Alguns trabalhos aqui você pode classificar como pintura, performance. Mas, a maioria trabalha com o hibridismo``, comenta ele sobre a mistura de diversas linguagens. Dentro desse conceito, por exemplo, ele cita o Mesa de Luz: Cotidiano, obra do grupo brasiliense Mesa de Luz. Formado pelos artistas Hieronimus do Vale, Marta Mencarini e Tomás Seferin, o grupo realizou no dia 16 de abril um trabalho que misturava música, edição e performance usando tecido. Tudo foi captado por uma câmera que filmava por baixo do tampo de uma mesa de vidro. ``Fico surpreso por que a própria obra não é para um salão tradicional, com categorias``.
Outro trabalho que Jared aponta por ter lhe chamado a atenção foi o de Alice Lara. As duas pinturas da brasiliense, batizadas de Esperando para mais delícias e Sutileza Lasciva, mostram cachorros de boca escancarada e se mordendo. ``Me causou um certo incomodo``, explica Jared. ``Ela não trabalha de uma forma realista. Ao mesmo tempo que a imagem revela extrema violência, ela utiliza cores como o amarelo, que tem muita sutileza``. Para ele, os quadros lhe trouxeram a ideia da contaminação. ``É quando um trabalho, você goste ou não, ele vai contigo de alguma forma``.
Voltando ao hibridismo, que parece estar presente em boa parte dos trabalhos do 61° Salão de Abril, Jared se detém diante das pinturas Things ain´t what they used to be (Oscar Peterson and Jon Faddis) e Rockin chair (Joe Wilder), do paulista Roberto Bernardo, que traz fortes influências do grafite unido com a colagem. ``Nenhuma área hoje é tão pura e a arte é um filtro do mundo em que vivemos. É muito difícil um artista compreender o que é arte contemporânea``.
Horizontes
"Você nota que são artistas com uma pesquisa em desenvolvimento", analisa Jared sobre as obras do Salão como um todo. "O artista, hoje trabalha mais com questões do que com uma técnica". Essa observação é o mote para ele falar da própria obra, de nome Arquivos do Horizonte. Trata-se de 65 transparências representando a linha do horizonte (que separa um plano do outro) de diversas obras de artistas como Leonilson, Da Vinci e Picasso. Explicando como uma pesquisa sobre como as pessoas se relacionam com o espaço, ele conta fez uma seleção entre as mais de 100 transparências que já fez. ``Enquanto existirem artistas trabalhando a ideia de horizonte, eu vou continuar buscando essa percepção``.
Passeando pelo centro da cidade onde estão outras obras e onde foram realizadas performances, Jared não esconde o orgulho pelo prêmio no valor de R$ 10 mil que recebeu. ``É um prêmio não pelo trabalho, mas por um processo de pesquisa``. Ele lembra que já participou de várias edições do Salão e em outras foi recusado. ``Prova que o trabalho mudou e o Salão também``. Classificado, muitas vezes, como minimalista, ele explica sua criação pelo foco no espaço, na precisão e pela preocupação com o grafismo. ``Gosto de criar situações onde o espectador não percebe de imediato. O artista não pode entregar tudo de uma vez``.
EMAIS
- O 61° Salão de Abril fica em cartaz até 31de maio, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h e aos sábados, das 8h às 17h, no Centro de Referência do Professor (Rua Conde D-Eu, 560, antigo Mercado Central). Entrada gratuita.
- O artista Jared Domício nasceu em Fortaleza, em 1973. Começou a se interessar por artes por volta dos 12 anos. Graduado em Ciências Sociais, ele começou a expor durante os anos 1990. Em 2003, ele ganhou a Bolsa Pampulha, mudou-se para Belo Horizonte e fundou o projeto Casa da Passagem, com os artistas Paulo Nenflídio e Cristina Ribas. Seus trabalhos já estiveram em muitas cidades brasileiras como Belo Horizonte e Curitiba, além de Viena e México. Seus planos agora são dar continuidade à pesquisa sobre as linhas do horizonte utilizando o prêmio do Salão.
- "`Fortaleza tem um público em potencial muito grande``, comentou Jared Domício. ``O que ainda falta é educação. Uma maior interação entre os espaços culturais e as escolas``. E quando perguntado sobre quem seria o melhor público: ``para as artes contemporâneas são as crianças. Elas têm menos preconceito. Os adultos têm mais pudor``.
Impostos sobre obra de arte podem chegar a até 42% de seu valor em SP por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 4 de maio de 2010.
Na semana passada, uma agente do Ministério da Cultura recebeu uma ligação da Receita Federal. Diziam querer doar ao Iphan uma obra de arte apreendida em 2009 no aeroporto de Viracopos. A tela, que chegou numa caixa com valor declarado de US$ 1.200, é, na verdade, a obra "Claudius", do alemão Gerhard Richter, avaliada em R$ 3,6 milhões.
"Explicaram que era uma obra de um artista importante", conta Wivian Diniz, coordenadora de bens móveis do Iphan. "Quando vi que era uma tela do Richter, levei um susto."
Mais pelo valor do que pelo fato de a obra entrar no país de forma ilegal. Esse desvio que levou o quadro de Richter a ser apreendido é comum no Brasil, país que não concede isenção de impostos a obras de arte.
Quando o trabalho de um artista é importado, mesmo que o autor seja brasileiro, a soma de impostos que incidem sobre a obra pode chegar a 42% de seu valor, pelo menos em São Paulo, já que as alíquotas incluem o ICMS, uma tarifa estadual.
Segundo informou a Receita Federal, em nota à reportagem, não há uma diferenciação entre produtos importados. Ou seja, qualquer objeto que entra no país é passível de tributação se não for isento de impostos.
"O descaminho [sonegação de impostos] de obras virou regra, é absurdo", diz Luís Nader, consultor da Unesco que estuda a questão a pedido do MinC. "Qualquer pessoa desse mercado admite, sem constrangimento, que isso é feito assim."
A Folha teve acesso à pesquisa. O documento sugere que obras de arte sejam isentas de parte dos impostos e que também seja ampliado o prazo de importação temporária de obras, ou seja, período em que trabalhos ficam no país para participar de exposições, que hoje é de seis meses, prazo "ridículo" na avaliação de Nader.
Entre outros esforços, o MinC está em negociações com a Receita para isentar de impostos as obras de artistas brasileiros que estão fora do país.
"É danoso punir colecionadores brasileiros que estão às vezes tentando repatriar obras", diz María Bonta, diretora de arte latino-americana da casa de leilões Sotheby's, que deve enviar uma carta ao governo brasileiro sugerindo a isenção de impostos. "Isso limita o volume de negócios que podemos fazer no país."
Mercado opera em ritmo artificial por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 4 de maio de 2010.
Com escassez de obras consagradas no mercado, trabalhos de artistas ainda em ascensão entram em espiral de valorização
Estudo de investidores mostra que peças de Cildo Meireles, Adriana Varejão e Beatriz Milhazes valem 50 vezes o que valiam em 2000
Num mercado enxugado pela altíssima demanda, obras de artistas consagrados, em geral os mortos, estão cada vez mais escassas, abrindo um vácuo para que as bolas da vez da arte contemporânea se transformem mais cedo que nunca em fetiche de colecionadores.
Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Vik Muniz e Adriana Varejão viraram cifrões luminosos em cartelas de investimento. Na cola deles, nomes da novíssima geração, como Thiago Rocha Pitta, Tatiana Blass, Henrique Oliveira e André Komatsu já sofrem especulação.
"Poucos ativos têm potencial de valorização tão grande quanto arte brasileira", diz Rodolfo Riechert, da consultoria Plural Capital. "É um dos melhores campos para investir."
Junto de Heitor Reis, ex-diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia, Riechert criou um fundo de investimentos de R$ 40 milhões para arte brasileira. Um estudo que fizeram circula entre possíveis investidores e mostra que obras de alguns artistas hoje chegam a valer 50 vezes o que valiam há dez anos.
"Essa figura do investidor, que é comum lá fora, começou a aparecer também por aqui, gente que viu que comprar uma Beatriz Milhazes é um alto investimento", diz o galerista Oscar Cruz. "É sinal da evolução do mercado, é uma tendência."
No caso, tendência que leva o mercado a operar num ritmo artificial. A entrada de megainvestidores no circuito, às vezes mais interessados em lucrar com a revenda de obras em momentos estratégicos do que formar coleções, vem sustentando uma bolha especulativa e tornando menor o intervalo entre o momento em que o artista surge no circuito e a hora em que suas obras vão a leilão.
Espiral de valor
Trabalhos chegam a valer até cinco vezes sob o martelo do leiloeiro o preço que têm no cubo branco das galerias. Isso porque elas não têm "pronta entrega", nas palavras de Jones Bergamin, diretor da Bolsa de Arte, a casa de leilões mais importante do país. "Eles não têm como suprir a demanda do mercado, já que a rotatividade está muito intensa e o gosto muda muito rápido."
Dependendo desse gosto, séries específicas de alguns artistas, como as fotografias com diamantes, de Vik Muniz, ou as paredes que simulam charque, de Adriana Varejão, entram numa espiral descontrolada de valores. Isso pode estancar a demanda por esses artistas e levar a uma eventual desvalorização, ou seja, ao estouro da bolha.
"Tem gente que retira obra da galeria e manda entregar na casa de leilão", diz Márcia Fortes, da Fortes Vilaça. "É péssimo porque essas pessoas não representam o artista, só trabalham a especulação da obra", diz o galerista André Millan. "Mas não tem controle, a gente não comanda o espetáculo."
No máximo, galeristas tentam conter a alta excessiva dos valores comprando de volta obras de seus artistas que surgem no mercado. Até vão a leilões para resgatar suas obras e evitar que não sejam vendidas.
Mas, enquanto galeristas no país se assustam, esse movimento é normal no mercado internacional, sinal de que o país se aproxima de hábitos de consumo praticados lá fora. "Isso é bom, a gente tem de abrir a cabeça", diz Maria Baró, galerista espanhola radicada em São Paulo. "Isso de ficar marcando território é um erro."
Arte acelerada por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 4 de maio de 2010.
Estampado na capa do catálogo de um leilão paulistano, um trabalho de Adriana Varejão foi arrematado, na semana passada, por R$ 551 mil sob aplausos tímidos e um "parabéns" do leiloeiro. A quadras dali, colecionadores disputavam obras no pavilhão da Bienal, que pareceu pequeno demais no furacão da SP Arte.
Em dez anos, obras de Varejão, Cildo Meireles, Vik Muniz e Beatriz Milhazes chegaram a se valorizar até 5.000%.
A entrada de megainvestidores no mercado de arte também promete anabolizar preços. "É o ativo mais valorizado, mais do que ações, mais do que o dólar, mais do que o ouro", diz Heitor Reis, que está liderando um fundo de investimentos de R$ 40 milhões para comprar arte brasileira. "É superagressivo", diz a galerista Márcia Fortes. "Está demasiado acelerado."
FEIRA SP ARTE TERMINA COM MAIS VENDAS
Encerrada no último domingo, a sexta edição da feira SP Arte, no pavilhão da Bienal, reuniu 80 galerias com 2.500 obras à venda. Neste ano, o evento teve 16 mil visitantes, 20% a mais do que no ano passado, sendo 30% do público de outros Estados.
Não há ainda um número oficial de vendas, mas a diretora da SP Arte, Fernanda Feitosa, acredita que bateram a marca dos R$ 15 milhões, faturamento total do ano passado. "Com certeza, todo mundo superou a expectativa", disse Feitosa à Folha.
Não foram vendidas as obras mais caras da SP Arte, como "Puerto Metafísico", de Joaquín Torres-García, avaliada em US$ 3,5 milhões, e "Tamba-Tajá", de Maria Martins, de R$ 1,5 milhão, mas a venda de contemporâneos puxou a alta dos negócios. "São valores menores, mas o volume é maior."
maio 3, 2010
Adversários de Matarazzo colam rótulo de higienista por Mario Cesar Carvalho, Folha de S. Paulo
Matéria de Mario Cesar Carvalho originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 3 de maio de 2010.
Novo secretário da Cultura parece ter saudade de uma cidade que não existe mais, com um centro sem catadores, moradores de rua, camelôs e inferninhos
Num debate sobre políticas públicas para a região central de São Paulo, em 2006, catadores de sucata hostilizavam tanto Andrea Matarazzo que chegaram a gritar: "Pega! Bate!". A intenção era agredir fisicamente o então subprefeito da região da Sé na administração de José Serra. Eu, que mediava o debate, tive de falar alto com os catadores para demovê-los da ideia: "Debater pode, bater, não!".
O episódio ilustra o grau de animosidade que as políticas imaginadas por ele para a região central geraram em certos segmentos. Matarazzo parecia ter saudades de um centro sem catadores, sem moradores de rua, sem camelôs, sem inferninhos, sem bares mais heterodoxos, com uma Luz que lembrasse a exuberância dos anos 50. Ou seja, de uma cidade que não existe mais.
Seus adversários, um espectro que ia do PT aos padres católicos, conseguiram colar nele um rótulo de teor levemente erudito e altamente ofensivo: higienista. Era uma referência às políticas do século 19 e início do século 20 que removeram cortiços e prostíbulos do centro das cidades europeias.
A rampa para evitar que os sem teto dormissem no túnel no final da avenida Paulista era vista por seus adversários como a realização máxima dessa política. Virou a "rampa antimendigo" -caráter que ele negava com veemência. Dizia também que seus adversários nunca conseguiram provar que havia sido higienista.
Matarazzo tentou encarnar a versão paulistana de Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York entre 1994 e 2002. Buscou implantar uma versão local do tolerância zero, que não deu certo, entre outras razões, porque São Paulo não é Nova York.
A imagem que ele gostava de cultivar era a do xerife. Fechava bares sem alvará como se tivesse realizado um grande feito. O eleitorado mais conservador o aplaudia como se tivesse encontrado nele um Jânio Quadros sem as manias.
O resultado dessas políticas para a cidade foi insignificante. Dos projetos que previa para o centro, um dos poucos implantados foi a abertura dos calçadões para veículos, com resultados nulos.
A Nova Luz, mais um slogan do que um projeto urbano para uma área degradada, não saiu do papel. O projeto de demolir um quarteirão -e não colocar nada no lugar- degradou ainda mais a paisagem da região.
Quando deixou a prefeitura, em setembro do ano passado, a varrição das ruas e a coleta de lixo piorou muito. Matarazzo dizia que na época em que esteve no poder isso não aconteceu. Manter a cidade limpa talvez tenha sido seu grande feito.
Novo secretário é neófito na cultura por Fernanda Mena, Folha de S. Paulo
Matéria de Fernanda Mena originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 3 de maio de 2010.
Andrea Matarazzo, 53, carrega sobrenome de peso no meio artístico e não tem nenhuma experiência em gestão da área
O novo secretário de Estado da Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo, não é especialista no assunto, mas costuma se identificar, em relação à cultura, como um "apreciador".
Apesar de a mudança ainda não ter sido anunciada pelo governador Alberto Goldman (PSDB-SP), Matarazzo deve assumir a pasta ainda neste mês.
Neófito na área, o empresário e ex-ministro disfarça a falta de experiência em gestão cultural com um sobrenome de peso no meio artístico.
Nesse métier, ele é conhecido como sobrinho de Ciccillo Matarazzo, que foi criador da Bienal Internacional de São Paulo, do Museu de Arte Moderna (MAM) e da companhia cinematrográfica Vera Cruz.
Nos tempos de escola, Matarazzo e a irmã Claudia saíam do Colégio Dante Alighieri para almoçar na casa de Ciccillo, no Conjunto Nacional.
"Os almoços reuniam gente diversa e interessante da vida cultural paulistana. Eram conversas malucas de artista que só muitos anos depois eu fui entender", lembra Claudia Matarazzo, chefe do cerimonial do governo do Estado, para quem o irmão "é um esteta".
Vaidoso, Matarazzo gosta de ternos bem cortados. Manda fazê-los no mesmo alfaiate que atende ao apresentador Silvio Santos. Gosta de flores e cuida com preciosismo das gardênias e de um pé de limoeiro que tem no jardim de sua casa no Morumbi, construída ao estilo de uma vila italiana pelo arquiteto Gian Carlo Gasperini.
Do convívio com o tio, ele herdou o gosto pelas artes plásticas e os quadros que decoram a casa. É lá -entre obras de Lasar Segall, Luiz Paulo Baravelli e Paulo von Poser- que Matarazzo reúne amigos, políticos, artistas e ao menos dois membros da família para longos almoços de domingo.
O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB-SP), um dos melhores amigos de Matarazzo, é habitué dos almoços, quando vai da mesa direto para a frente da televisão. Ali, acompanha os jogos de futebol do dia, entre colheradas do suflê de chocolate com calda de baunilha que sempre faz sucesso com os convidados e o dono da casa, um chocólatra convicto.
Mais rara nesses encontros é a presença do também ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP). O trânsito fácil entre esses dois polos do tucanato paulistano, representados por Serra e Alckmin, é característica da atuação de Matarazzo.
A própria dança das cadeiras entre ele e o secretário da Cultura João Sayad tem sido interpretada como mais um episódio dessa costura.
"É surpreendente [a indicação de Andrea Matarazzo], por um lado, porque não sei o que esperar. Por outro, confirma que a cultura é uma área de negociação política, onde se acomodam determinados interesses numa determinada conjuntura", diz Ismail Xavier, crítico e professor de cinema na USP.
"Pior do que o Sayad é impossível", dispara o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa. "Tenho esperança de que Matarazzo descubra a cultura e seu potencial produtivo."
Para Emílio Kalil, diretor de produção da Bienal, Matarazzo "é um homem muito preparado para a coisa pública" e deve fazer uma boa gestão.
O novo secretário começou a carreira como estagiário do banco Bradesco, aos 18 anos. Atuou em negócios da família, como a Metalúrgica Matarazzo, e ingressou na carreira política.
Como ministro das Comunicações do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2000, censurou entrevista de João Pedro Stédile, dirigente do MST, à TVE. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) interviu para convencer Matarazzo, seu primo, de que a medida fora exagerada. "Temos diferenças de opinião, mas nos respeitamos mutuamente", disse.
Foi à frente da subprefeitura da Sé e da secretaria das Subprefeituras de São Paulo, entre 2005 e 2009, que Matarazzo anunciou projetos até hoje inconclusos: construção de garagens subterrâneas no centro, reforma da praça Roosevelt e revitalização do bairro da Luz.
Também nesses cargos que protagonizou suas ações mais contundentes. Primeiro, foi acusado de perseguir os desafortunados: moradores de rua e dependentes de crack foram alvos de operações policiais e da rampa "antimendigo". Depois, numa guinada, passou a mirar os bem-sucedidos: fechou bares, casas noturnas, escritórios e até um desfile de Cris Barros.
Tal atuação espelha a do protagonista do seriado de TV preferido de Matarazzo, "House": um médico se preocupa mais com doenças do que com seus próprios pacientes.
Andrea Matarazzo é o novo secretário de Cultura de São Paulo por Mônica Bergamo, Folha de S. Paulo
Matéria de Mônica Bergamo originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 1 de maio de 2010.
Ex-secretário das subprefeituras e ex-ministro de FHC, ele substitui João Sayad, que vai presidir a TV Cultura
Pasta estadual tem agora como principal vitrine a construção do Teatro da Dança, projeto na região da Luz orçado em R$ 300 mi
O empresário e ex-ministro Andrea Matarazzo assume neste mês a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. Trata-se de um dos mais próximos amigos do ex-governador José Serra (PSDB-SP) e também do candidato ao governo do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB-SP).
Procurado pela Folha, Matarazzo não se manifestou. Ele substituirá o economista João Sayad no cargo. Há uma semana, Sayad decidiu sair da pasta para concorrer à presidência da Fundação Padre Anchieta, que controla a TV Cultura, abortando a candidatura do jornalista Paulo Markun, até então considerado o nome favorito para o cargo.
Matarazzo é um dos principais quadros do PSDB. Foi ministro das Comunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso e secretário das Subprefeituras de São Paulo, um dos principais cargos da administração municipal, quando Serra ainda era prefeito. No momento em que assume a pasta, a Secretaria de Estado da Cultura tem como principal vitrine a construção do Teatro da Dança, projeto do escritório da dupla de arquitetos suíços Jacques Herzog e Pierre De Meuron na região da Luz, com orçamento de R$ 300 milhões.
Também estão na pauta a transferência, atrasada em quase um ano, do Museu de Arte Contemporânea da USP para o antigo prédio do Detran, no Ibirapuera, e a consolidação do programa Fábricas de Cultura, que tenta instalar oficinas culturais para jovens em nove regiões carentes de São Paulo.
A gestão do ex-secretário João Sayad à frente da pasta também foi marcada pela defesa do modelo das organizações sociais, em que entidades privadas recebem verbas públicas para gerir órgãos culturais no Estado, o que levou a um confronto direto entre a Secretaria da Cultura paulista e o Ministério da Cultura, que defende um modelo mais estatizante. Matarazzo está afastado da vida pública desde que entregou o cargo de secretário das Subprefeituras no meio do ano passado, em protesto contra cortes orçamentários do prefeito Gilberto Kassab.
No antigo cargo, Matarazzo ficou conhecido pelo que adversários políticos chamaram de política higienista e conservadora. Ele não teve até hoje nenhum envolvimento com a área da cultura. Em meio à crise na Fundação Bienal de São Paulo, no ano passado, Matarazzo foi cotado para presidir a instituição, mas recusou.
Rembrandt é tema de livro e mostra em Vitória por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 1 de maio de 2010.
Gravuras exaltam técnica rentável de luz e sombra
Na escuridão, surge um Cristo iluminado. Logo abaixo, fora do quadro, está explícita a inscrição: "gravura de 100 florins".
Rembrandt tinha graça, mas tinha também seus preços. Um livro recém-lançado destaca a relação do artista holandês com o mercado, já que foi notória sua transformação do ateliê em linha de montagem. Ao mesmo tempo, uma mostra agora em cartaz no Museu de Arte do Espírito Santo reúne gravuras que frisam sua produção em massa.
No livro "O Projeto de Rembrandt", da Companhia das Letras, a autora Svetlana Alpers destrincha o mundo que o artista recriou em seu ateliê. Dava ordens a um exército de ajudantes, limpava os pincéis na roupa, grosseiro como seus traços. Ela tenta mostrar como Rembrandt soube separar a luz das trevas em seus quadros para enriquecer no plano terreno.
Na verdade, as gravuras agora no país ajudam a entender que seu foco não era a distinção nítida de luz e sombra, mas a forma como figuras emergem da escuridão, aparição matizada por contornos luminosos.
Nas cenas bíblicas, como "Cristo Pregando", "A Escada de Jacó" e "A Adoração dos Pastores", Rembrandt arquiteta um emaranhado denso de traços que cede em alguns pontos para destacar a presença, bastante tímida, da luz.
Mergulha "O Sepultamento" num negror fuliginoso, com foco só para o rosto de Cristo. Dentro e fora de suas alegorias, instaura também um senso do cotidiano. A vida doméstica não cessa diante dos sermões, seus fiéis não disfarçam o ar entediado. Desenha mendigos nas ruas, velhas anônimas e se autorretrata à exaustão.
São fiapos de linhas apressadas que tentam dar estofo à rotina que recriava em seu ateliê. Vestia seus modelos com fantasias, exigia que declamassem até falas -um teatro da vida para vender como quadro.
SP Arte atesta ebulição do mercado por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 1 de maio de 2010.
Principais galerias comemoram "saldo azulzíssimo" com vendas de pelo menos 80% das obras nos primeiros dias da feira
Com 2.500 obras, evento vai até domingo no pavilhão da Bienal; vendas podem bater marca do ano passado, que foi de cerca de R$ 15 milhões
Podiam ser fogos de artifício o espocar das rolhas de prosecco, espécie de trilha sonora desta edição da SP Arte. "Deu uma sensação dos tempos áureos, está bombando em todos os sentidos", diz Ricardo Trevisan, da galeria Casa Triângulo, que entrou na feira com metade de suas obras já vendidas. "É um saldo azul, azulzíssimo."
Desde que abriu as portas na última quarta, a feira de arte no pavilhão da Bienal tem levado hordas de colecionadores ao Ibirapuera. Chegaram a se dividir em turnos para fazer compras nas 80 galerias representadas ali. Do primeiro para o segundo dia, Fortes Vilaça, Vermelho, Nara Roesler, Luciana Brito e Casa Triângulo já tinham esgotado pelo menos 80% das obras que levaram.
Na ressaca da abertura, galeristas correram para reabastecer seus estandes. A Fortes Vilaça mandou trazer obras da dupla Osgemeos direto do ateliê dos artistas -foram vendidas menos de duas horas depois de chegar ao pavilhão. Na Leme, uma série de Felipe Cama esgotou também na primeira noite e mandaram emoldurar mais obras às pressas.
"Vendeu tudo e colocamos edições no lugar", conta Eduardo Brandão, da Vermelho. "Por causa disso, vendemos também até o que está na galeria."
Uma obra de Julio Le Parc, vendida por 300 mil na Nara Roesler, já cedeu lugar a outra peça do artista, ainda mais cara. No mesmo estande, uma série inteira de Marcos Chaves foi comprada por R$ 425 mil. Só na abertura, a galeria avalia ter movimentado cerca de R$ 2,5 milhões -no ano passado, o faturamento total da feira, com 79 galerias, foi R$ 15 milhões.
Mas é difícil fazer as contas. Muitos valores não são declarados por medo de assaltos e sequestros e receio de fiscalização tributária, já que esse é um mercado de grande informalidade e, dependendo da origem da obra, impostos podem chegar a até 42% de seu valor.
Talvez por isso, não foram vendidas as obras mais caras da feira. "Puerto Metafísico", tela do uruguaio Joaquín Torres-García avaliada em US$ 3,5 milhões, "Tamba Tajá", obra de Maria Martins com etiqueta de R$ 1,5 milhão, "Morto", de R$ 1,1 milhão, de Portinari, e "Ruína e Charque - Porto", peça de Adriana Varejão com valor estimado em cerca de R$ 1 milhão, estão sem comprador.
Enquanto isso, obras de valor menor, como as pinturas de Mariana Palma e Eduardo Berliner, na Casa Triângulo, têm fila de espera de interessados.
Los sonidos del silencio por Celina Chatruc, lanacion.com
Matéria de Celina Chatruc originalmente publicada no lanacion.com em 24 de abril de 2010.
El lenguaje compartido en las obras de León Ferrari y Mira Schendel es el eje de una muestra del MoMA que llegó a Porto Alegre tras haberse exhibido en Nueva York y Madrid
En el principio no fue el verbo, sino el silencio. Al menos aquí, en la Fundación Iberê Camargo, frente a esta instalación de Mira Schendel. Que recuerda uno de los penetrables de Jesús Soto, salvo que no fue pensada para que el público caminara entre esas delicadas hebras blancas de nailon que cuelgan del techo, ni como una obra abstracta, ni como un estudio sobre el color. Si fue creada para evocar "el silencio de Dios en la historia", como afirma el curador Luis Pérez-Oramas (ver nota aparte), la artista logró lo que buscaba.
" Ondas paradas de probabilidad puede sacar a alguien de sus casillas", dijo sobre esta obra Roberta Smith, crítica de The New York Times , cuando la retrospectiva conjunta de Schendel y de León Ferrari fue presentada el año pasado por el Museo de Arte Moderno de Nueva York (MoMA), antes de seguir camino hacia el Museo Reina Sofía, en Madrid, y terminar su recorrido en Porto Alegre. Lo mismo opinó sobre El juicio final , de Ferrari, una reproducción de la obra de Miguel Ángel cubierta de excrementos de paloma. Y aunque aseguró que la exposición era "esencial para cualquier interesado en el arte del siglo XX", también dijo que la producción de Schendel era más "consistente" que la de Ferrari, reconocido en 2007 con el León de Oro en la Bienal de Venecia.
"Eso no hace más que confirmar que ella no conoce ni a Ferrari ni a Schendel", comenta ahora Pérez-Oramas a adncultura sobre Smith, a la que califica como "una crítica profundamente provinciana, que sólo maneja las categorías del arte estadounidense".
Video: León Ferrari y Mira Schendel en Brasil
Esto es sólo parte de la polémica provocada por una muestra que hace honor a su título, El alfabeto enfurecido , y que según Eduardo Costantini no llegará al Malba por razones de presupuesto.
Basada en la presencia de la palabra en la producción de ambos artistas, la exposición reúne 180 esculturas, pinturas, instalaciones y dibujos realizados desde 1960. Contrasta las delicadas obras sobre el silencio de Schendel (Zúrich, 1919-San Pablo, 1988), como una que refiere al Holocausto, con otras de Ferrari (Buenos Aires, 1920) que denuncian a gritos la violencia, el abuso del poder y la intolerancia. Por ejemplo, una caja de vidrio con pequeñas manos atrapadas en una maraña de finos alambres que simulan pelos y que parecen intentar aferrarse a la vida. Creada en 1964, anticipa el horror de lo que se viviría en la Argentina una década después, incluida la desaparición de uno de los hijos de León.
También hay muchos trabajos de Ferrari que abordan temas políticos y religiosos de una manera tan descarnada que tal vez para algunos resulte difícil de digerir. Basta recordar que en 2004 una retrospectiva sobre los 50 años de su producción en el Centro Cultural Recoleta, curada por Andrea Giunta, fue atacada por militantes ultracatólicos, clausurada por orden de una jueza y considerada "blasfema" por el cardenal Jorge Bergoglio.
Los collages que superponen iconografía católica con fotos de bombas atómicas y misiles e imágenes del Kamasutra sólo despiertan admiración aquí, en este impecable edificio frente al lago Guaíba que recuerda al Guggenheim de Nueva York, convertido con esta muestra en una auténtica Torre de Babel.
La nueva sede de la fundación que rinde homenaje al artista Iberê Camargo, fallecido en 1994, se inauguró hace dos años y fue construida a partir de un proyecto de Álvaro Siza que ganó el León de Oro en la Bienal de Arquitectura de Venecia en 2002. Además de las exposiciones temporales, aloja más de 5000 obras de Camargo y un taller de grabado en el que participaron artistas argentinos como Matías Duville y el propio Ferrari, cuando visitó la Bienal de Porto Alegre en 2003, cincuenta años después de que Schendel caminara por las empinadas calles de esta ciudad.
Aunque compartieron el exilio en Brasil, el rechazo al fascismo y un fuerte vínculo con Italia, Ferrari y Schendel prácticamente no se conocieron. Conversaron apenas diez minutos cuando coincidieron en una muestra colectiva con obras de ambos en la Pinacoteca de San Pablo. Fue en 1980, ocho años antes de que ella falleciera a raíz de un cáncer de pulmón.
Hoy, a los 89 años, León sigue tabajando a diario en su taller porteño. No recuerda mucho de su encuentro con Schendel aunque dice admirar sus trabajos, que no volvió a ver salvo en libros. Este dato vuelve a confirmar que, así como ocurrió con la muestra de Ferrari y Henri Michaux montada por Jorge Mara el año pasado, el arte es un lenguaje universal que se hace entender más allá de las culturas, del tiempo y del espacio, incluso sin palabras y en silencio.
SCHENDEL
(Zúrich, 1919-San Pablo, 1988)
Única hija de padres judíos, Myrrha Dub tuvo una educación católica. Vivió en Italia, emigró a Sarajevo para escapar del fascismo y de allí a Porto Alegre, en 1949. Estudió dibujo, escultura, filosofía y teología. Desde 1951 participó en varias ediciones de la Bienal de San Pablo, ciudad a la que se mudó en 1953 y donde conoció a su marido, Knut Schendel, con quien tuvo una hija. Realizó una retrospectiva en el Museo de Arte Moderno de Río de Janeiro (1966) y representó a Brasil en la Bienal de Venecia (1968)
FERRARI
(Buenos Aires, 1920)
Hijo de Augusto Ferrari, artista y arquitecto italiano que construyó varias iglesias, estudió en un colegio de curas al que consideró "el infierno". Artista autodidacta, trabajó como ingeniero durante décadas. Con Alicia Barros Castro tuvo una hija y dos hijos, uno de ellos desaparecido durante la dictadura militar. Vivió en Roma y Milán, y en 1976 emigró con su familia a San Pablo. En 1991 regresó a Buenos Aires, donde trabaja actualmente. Ganó el León de Oro en la Bienal de Venecia de 2007
O Alfabeto Enfurecido: León Ferrari e Mira Schendel
Curadoria de Luis Pérez-Oramas
9 de abril a 11 de julho de 2010
Fundação Iberê Camargo
Av. Padre Cacique 2.000, Porto Alegre - RS
51-3247-8000 ou site@iberecamargo.org.br
www.iberecamargo.org.br
Terça a domingo, 12-19h; quinta, 12-21h
Ver video en www.lanacion.com.ar
La palabra como voz por Celina Chatruc, lanacion.com
Matéria de Celina Chatruc originalmente publicada no lanacion.com em 24 de abril de 2010.
Luis Pérez-Oramas, curador de arte latinoamericano del MoMA, señala cuál es "el gran desafío crítico" de la región y analiza la obra de Schendel y Ferrari
Es "la pequeña estrella" del Museo de Arte Moderno de Nueva York según afirmó en Porto Alegre su director, Glenn Lowry. Eso convierte al venezolano Luis Pérez-Oramas en una de las personas más poderosas del mundo del arte. Sobre todo en América latina, ya que es el primer curador del MoMA dedicado en forma exclusiva a la región. Pero se lo toma con calma. Relajado y de buen humor, pide disculpas por llegar tarde a la entrevista y es generoso con su tiempo en medio de un arduo día de trabajo que incluirá, minutos después, la presentación en Brasil de una impecable muestra de León Ferrari y Mira Schendel (ver nota aparte) curada por él. Una exposición itinerante que no llegará a la Argentina, entre otros motivos, "porque ningún museo la pidió".
-¿Por qué reunir a León Ferrari y Mira Schendel?
-Yo te diría: ¿por qué no? El criterio que seguí fue, primero, de interés personal en la obra de ambos. Luego, de descubrimiento de puntos de contacto y diferencias que me parecieron interesantes y que no habían sido enfocados antes por nadie. Tercero, la necesidad de producir una exposición que fuese estructural y lógicamente diferente de la muestra de León que se haría obvia en la Argentina, y de la de Mira en Brasil. Creo que el gran desafío crítico que tenemos los latinoamericanos es escribir una historia del arte moderno y contemporáneo de América latina que responda a sus propias categorías. Para eso, tenemos que entender cuáles son los vínculos que existieron entre los artistas, independientemente de que se hayan conocido o no. Es decir, cuál es el contexto cultural, ideológico, que permitió que dos artistas absolutamente contemporáneos, con puntos originarios en común como la relación con Italia, pudieran producir sin conocerse, en dos inmensos países como la Argentina y Brasil, obras a partir de los mismos problemas. Los puntos de contacto son evidentes.
-Aunque en política y religión difieren bastante, ¿no?
-Difieren en muchas cosas. Difieren también en el uso del lenguaje, de la escritura, de las materialidades. La exposición, como yo la concebí, está basada en semejanzas. Pero toda semejanza tiene su sentido como diferencia. En cuanto al tema político y religioso, a mí me interesó en Ferrari y en Schendel la presencia de dos líneas comunes: ambos fueron artistas que nunca abandonaron la esencia de la palabra en sus obras, más allá de que hayan producido repertorios abstractos. El otro elemento común es la religiosidad. Independientemente de que la posición de León sea radical y militantemente antirreligiosa, la presencia de Dios en su obra como verbo, como nombre, como objeto de acusación, como presencia, como iconografía, es un hecho que la crítica de arte, a mi juicio, ha subestimado. Difícilmente se encuentra, en el programa del arte contemporáneo occidental, entre los artistas que produjeron desde 1950 hasta hoy, un artista en cuya obra haya más presencia del tema divino que León Ferrari. Lo que pasa es que el tema divino aparece en su obra como objeto de acusación, de denuncia, de desmontaje, de deconstrucción. En Schendel, el tema divino aparece como objeto de ansiedad, de pregunta existencial, de duda, de inquisición personal. Es un motivo de angustia.
-¿Y la política?
-Allí hay una diferencia obvia. León es un artista político y militante desde el principio. La civilización occidental y cristiana , los dibujos escritos son ya manifiestos políticos. Schendel nunca tuvo una posición política explícita en sus obras. Probablemente la diferencia es que el Holocausto haya provocado en Schendel una forma de silencio traumático. Que tiene a mi juicio dos manifestaciones que son dos de los momentos más álgidos de su producción, y de la producción artística en América latina durante ese período. Primero, una obra que se llama Trencito , de 1965, donde simplemente cuelga hojas vacías, arrugadas. Con el soporte en que hizo esa sobreproducción de repertorios escritos, hace este homenaje al silencio. Yo no puedo no pensar que en 1965 una artista como Schendel, extremadamente culta, conocedora de todas las implicaciones teológico-políticas de la discusión estética en Occidente en ese momento, no pensara en la pregunta que hizo Theodor Adorno pensando en el suicidio de Paul Celan: ¿cómo es posible la poesía después del Holocausto? El segundo momento álgido, que yo considero político, son las Ondas paradas de probabilidad . Es una instalación que Schendel produce para la Bienal de San Pablo de 1969, en el momento más crítico de la represión de la dictadura, en un momento en que el mundo intelectual y artístico brasileño había boicoteado la bienal. Ella recibe el consejo de ir y produce esa obra, que es sobre el silencio de Dios en la historia. Porque viene acompañada de un texto del Libro de los Reyes, donde el profeta dice: "Hubo un terremoto y no estaba Dios, hubo un incendio y no estaba Dios, hubo un ruido espantoso y no estaba Dios, y, de pronto, hubo apenas un murmullo". Ese murmullo, esa voz indescifrable, incodificable... Sólo podemos experimentar como silencio lo que esa obra está señalando. Es evidentemente una obra teológica.
-¿Por qué ambos artistas apelan a la palabra?
-Creo que lo que hacen Schendel y Ferrari es darle continuidad a un problema fundamental del arte visual occidental, que es su tensión con el verbo. Cuál es la relación de desproporción, de asimetría entre la posibilidad de representación visual y la posibilidad de nominación. Se ha dicho que Ferrari es el padre del arte conceptual latinoamericano... Yo creo que la de Ferrari no es una obra conceptual; tampoco la de Schendel. Y ello por dos razones: una, porque en sus obras la elaboración material es fundamental. Lo segundo es que la forma canónica del arte conceptual se refiere al lenguaje como un operador neutro de descripciones del mundo, sin sujeto. Lo propio de Schendel y de Ferrari es la presencia del lenguaje como acto de enunciación, no como enunciado neutro. Pero lo fundamental es que para Ferrari y para Schendel la utopía del arte es alcanzar a encarnar algo como la voz, que es algo completamente distinto de la palabra. La palabra escrita es como una voz cancelada. Es una voz que se silencia para dar lugar al signo escrito. En este caso, se trata de dejar el rastro, el síntoma, la presencia física, inscriptiva, de la palabra como voz en el soporte visual. Y creo que eso hace un mundo de diferencia con relación al conceptualismo y a otros artistas que hayan usado la palabra.
-¿Cómo definirías la obra de cada uno por separado?
-Yo diría que la de León es más enfurecida y la de Mira es más angustiada. En Mira, hay angustia y vacío; en León, hay acumulación y furia.
PÉREZ-ORAMAS
(Caracas, 1960) Historiador de arte, poeta y crítico, graduado en 1994 en la Escuela de Estudios Superiores en Ciencias Sociales (Ehess) de París. Desde 2006 es curador de arte latinoamericano del Museo de Arte Moderno de Nueva York (MoMA), gracias a un fondo aportado por la coleccionista de origen uruguayo Estrellita Brodsky. Curó la colección de Patricia Phelps de Cisneros desde 1995 hasta 2003, cuando ingresó al MoMA como comisario adjunto del Departamento de Dibujos