NESTA EDIÇÃO:
Fábio Carvalho na Léo
Bahia Arte Contemporânea, Belo Horizonte
Foto Arte 2003, Centro |ex|cêntrico no CCBB, Brasília
HOJE
Bettina Vaz Guimarães no Espaço Henfil de Cultura,
São Bernardo do Campo
O Efeito-Cinema na Arte Contemporânea, Mostra de Filmes
e Vídeo no CCBB, Rio de Janeiro
Lançamento Jornal INCLASSIFICADOS na Joaquim Nabuco,
Recife HOJE
Alfabeto
Visual de 26/06 - Se eu quiser falar com Deus por Rubens Pileggi Sá
Arte, política, e resultados improváveis por Patricia
Canetti
Abaixo-assinado contra o Guggenheim-Rio & por
Políticas Culturais Participativas
Fábio Carvalho
Belo Horizonte Turístico
1º de julho, terça-feira, 20h
Léo Bahia Arte Contemporânea
Av. Raja Gabaglia 4875
Santa Lúcia Belo Horizonte
31-3286-2055
http://www.bhturistico.hpg.ig.com.br
Exposição até 2 de agosto de 2003.
A exposição Belo Horizonte Turístico, de Fábio Carvalho apresenta
trabalhos inéditos realizados entre 2002 e 2003.
O núcleo central da exposição é a série Paisagem Assistida, constituída
de desenhos com caneta de retroprojetor sobre acrílico, que têm como
referência cartões postais e fotografias de revistas de pontos
turísticos de Belo Horizonte.
Há ainda na exposição quatro fotografias da série O Invisível na
Fotografia, realizadas com várias fotos batidas nas ruas de Belo
Horizonte.
Finalizando, há três mapas de Belo Horizonte na mostra: Cartografia
Subjetiva, que origina-se de um mapa impresso onde foi traçada com
caneta
esferográfica a rota dos deslocamentos do artistas pela cidade.
Cartografia Fragmentária, que foi realizado a partir de pequenos mapas
de localização de impressos e internet, colados em uma superfície
branca, do mesmo tamanho de um mapa real de Belo Horizonte, exatamente
na posição onde estariam neste mapa completo da cidade.
Paisagem Visitada é um "mapa/desenho" feito com alfinetes de mapa
pretos, afixados sobre uma superfície branca. Cada alfinete indica um
local de Belo Horizonte onde o artista já esteve desde a sua primeira
estada na cidade.
Estes trabalhos, que muito embora integrem séries distintas e se
apresentem de formas variadas, estão todos relacionados por um tema
único: a própria cidade de Belo Horizonte, mas não mais a metrópole
ofertada a todos de forma impessoal e genérica, mas sim uma outra
cidade, reconfigurada e transformada de forma ativa através daquilo que
o artista vê, registra e acumula, processados por sua experiência
sensível e afetiva.
FÁBIO CARVALHO
abril 2003
A exposição Belo Horizonte Turístico apresenta trabalhos inéditos
realizados entre 2002 e 2003. O núcleo central da exposição é a série
Paisagem Assistida (o retorno da aura), constituída de desenhos com
caneta de retroprojetor sobre acrílico, que têm como referência cartões
postais e fotografias de revistas de turismo, onde são mostrados pontos
turísticos de Belo Horizonte. As imagens referência dos desenhos estão
afixadas por baixo da placa de acrílico. Este trabalho é um híbrido
entre a fotografia e o desenho, uma combinação destes dois,
constituindo uma nova imagem, que depende de ambos.
Como o desenho acontece sobre uma placa de acrílico, ao invés de
diretamente sobre a imagem, ele flutuasobre a imagem, como se fosse a
aura perdidadas imagens técnicas reprodutíveis, conforme observado por
Walter Benjamin, no célebre ensaio A obra de arte na era de sua
reprodutibilidade técnica. Este trabalho, de uma forma nostálgica,
devolve à imagem reproduzida aos milhares, cansada, gasta, que já
circulou infinitamente, a possibilidade de integrar o mundo dos objetos
auráticos, dos objetos únicos.
Já cada trabalho da série O Invisível na Fotografia foi realizado com
várias fotos batidas nas ruas de Belo Horizonte, a partir de um ponto
de vista fixo, em intervalos de tempo variáveis. Nas cenas
fotografadas, havia sempre objetos em movimento (pessoas, carros,
etc.). Posteriormente, as
fotos foram digitalizadas e superpostas.
Ao se realizar esta fusão, cria-se uma simultaneidade entre os vários
tempos apresentados nas fotos. Não se pode mais dizer qual "objeto"
corresponde a qual "tempo" da seqüência original. Temos todos os tempos
juntos, num único instante novo, que nunca aconteceu. A foto, tida como
um recorte instantâneo do real, não se presta mais a este fim, não é
mais um testemunho de um
evento singular no tempo. Há uma dinâmica cinemática nestas imagens,
embora
tudo continue fixo, preso à superfície.
Os três "mapas" de Belo Horizonte, apresentados nesta exposição, são
complementares e opostos na natureza de suas origens e criação.
Cartografia Subjetiva - Belo Horizonte / março 2003 origina-se de um
mapa impresso em grande quantidade, para ser distribuído aos turistas
que chegam à cidade. Neste mapa, foi traçada com caneta esferográfica a
rota dos meus deslocamentos pela cidade, ao longo dos seis dias
passados em Belo Horizonte em março de 2003. Posteriormente, todo o
resto do mapa que correspondia às ruas não
atravessadas foi "apagado" com tinta branca.
Fez-se assim um recorte pessoal de um universo mais amplo e genérico; a
transformação de um objeto múltiplo e utilitário, que é uma carta
aberta a múltiplas possibilidades, em algo particular, único, em um
índice pessoal.
Cartografia Fragmentária - Belo Horizonte foi realizado a partir de
pequenos mapas de localização (hotéis, imóveis, parques, cursos, etc)
de
impressos e internet. Estes pequenos fragmentos da cidade foram colados
em uma superfície branca, do mesmo tamanho de um mapa real de Belo
Horizonte,
exatamente na posição onde estariam neste mapa completo da cidade.
A partir destes fragmentos, a cidade é reconstruída de forma incompleta
e imperfeita, numa releitura pulverizada, caótica e multidimensional da
cidade, mais próxima da experiência urbana atual. Um mapa tradicional,
com
apenas uma face e estático no tempo não consegue mais dar conta da
velocidade
e multiplicidade da vida contemporânea.
Paisagem Visitada - Belo Horizonte é um "mapa/desenho" feito com
alfinetes de mapa pretos, afixados sobre uma superfície branca. Cada
alfinete indica um local de Belo Horizonte onde já estive desde a minha
primeira estada na cidade. A posição de cada alfinete foi determinada a
partir de um mapa real de Belo Horizonte, exatamente onde estes locais
estavam no mapa original. O acúmulo de indicações de situações
rotineiras (como almoçar em um restaurante, visitar um amigo, fazer
compras, etc) acaba gerando um desenho que não foi orientado por uma
"vontade" estética, mas sim por necessidades alheias ao trabalho.
Estes trabalhos, que muito embora integrem séries distintas e se
apresentem de formas variadas, estão todos relacionados por um tema
único: a própria cidade de Belo Horizonte, mas não mais a metrópole
ofertada a todos de forma impessoal e genérica, mas sim uma outra
cidade, a minha Belo Horizonte, reconfigurada e transformada de forma
ativa através daquilo que vejo, registro e acumulo, processados pela
minha experiência sensível e afetiva.
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Foto Arte 2003
Centro |ex|cêntrico
Andréa Campos de Sá, Eduardo Frota, Jailton Moreira, Milton
Marques, Regina de Paula Walter Menon
Curadoria: Gê Orthof e Marília Panitz
30 de junho, segunda-feira, das 12h às 21h
Nova Galeria do Centro Cultural Banco do Brasil
SCES Trecho 2 lote 22
Brasília
61-310-7081 / 7227
ccbbdf@bb.com.br
http://www.cultura-e.com.br
Exposição até 3 de agosto de 2003.
Fotografia, escultura, instalação, vídeo na mostra que inaugura a nova
galeria do Centro Cultural Banco do Brasil-Brasília
A palavra “centro” aceita várias definições. Por centro pode-se
entender o ponto de convergência de todas as coisas ou o fundo, a
profundeza de tudo. Pode ser também o lugar eqüidistante de todos os
outros ou o meio de um
país, de uma região, de uma cidade. Centro geopolítico, centro
arquitetônico, centro poético. Já por “excêntrico” pode-se compreender
aquele que se desvia, que se afasta do centro. Como se daria, então, um
diálogo sobre a excentricidade dos centros? Foi pensando nesta
amplitude de significados e de abordagens que os curadores Gê Orthof e
Marília Panitz conceberam a exposição Centro |ex|cêntrico,
especialmente escolhida para inaugurar a nova galeria do Centro
Cultural Banco do Brasil. A mostra integra o mega-evento Foto Arte 2003.
Centro |ex|cêntrico reúne o trabalho de três artistas de Brasília –
Andréa Campos de Sá, Milton Marques e Walter Menon – e três artistas de
outras regiões do Brasil – Eduardo Frota, do Ceará; Jailton Moreira, do
Rio Grande do Sul, e Regina de Paula, do Rio de Janeiro. Todos já
bastante
inseridos no circuito da arte contemporânea brasileira, estes artistas
se
caracterizam por trabalhar questões e conceitos não muito recorrentes
na
produção contemporânea brasileira. Cada um deles foi provocado a
abordar,
com o próprio trabalho, a própria linguagem, sua poética, a idéia de
limiares,
de fronteiras, rotas, o centro como deslocamento ou apenas como margem.
Os seis artistas trabalharam obras específicas para a exposição. A
proposta feita pela curadoria foi estabelecer um diálogo entre os
participantes, levando-os a trabalhar em duplas, sempre unindo um
artista de Brasília a um nome de outro estado da federação. A idéia
foi, também nesta escolha, manter
a noção geográfica, dos quatro cantos do País, atuando sobre o
resultado da
tensão entre proximidade e distanciamento e procurando aproximar as
questões abordadas em cada trabalho. Os artistas dialogaram sobre elos,
sobre mapas, sobre pontos cardeais. “O mapeamento que une o
centro-aqui-e-agora-Brasília com suas bordas, Fortaleza, Rio e Porto
Alegre, partiu de uma prática também excêntrica às regras tradicionais
de uma curadoria. Em nossa rota imaginária, assumimos a estratégia do
turista que passeia com o dedo sobre o mapa buscando, quase
involuntariamente, um nome, um acidente geográfico ou um grafismo... “
– explicam os curadores Marília Panitz e Gê Orthof.
A nova galeria do CCBB é ocupada por obras que desenvolvem um elo entre
a rua e o espaço interior. Indicam o externo, sugerem percursos que se
complementam com as intervenções na área externa do próprio Centro
Cultural
Banco do Brasil e mesmo com outdoors e filipetas espalhados pela
cidade.
Uma forma de trabalhar a idéia de sair do centro para ocupar o espaço
externo.
“O Centro Cultural Banco do Brasil fica um pouco afastado do centro da
cidade; Brasília está fora do eixo Rio-São Paulo e os próprios artistas
convidados a participar desta exposição costumam ocupar espaços que não
são os tradicionais reservados às obras de arte”, explica Marília
Panitz. E acrescenta: “Esta proposta cria espaços significativos fora
do centro de tudo”.
Centro |ex|cêntrico foi concebida também para trabalhar a idéia de
materialidade e simultaneidade. O primeiro estágio da mostra está
focado na concretude da matéria. Walter Menon e Eduardo Frota
produziram suas poéticas em torno da idéia de margem, de construção de
divisores/conectores. Os muros de tijolos sobre rodas de Menon são
construções paradoxais de limites-para-nada. Neles, a mobilidade do
objeto talvez evoque a sensação de carregarmos nossas fronteiras que
nos garantem um contorno, um reconhecimento de nós mesmos em relação ao
outro. As construções tubulares de Frota parecem apontar (com fina
ironia) para um jogo de esconde-esconde. São discos circulares de
madeira, combinados e montados de forma geométrica, mas que mantêm o
centro oco. O centro vazio ou o vazio do centro.
Em seguida, chega-se à segunda dupla: a brasiliense Andréa Campos de Sá
e a carioca Regina de Paula, que utilizam a fotografia como base de
suas poéticas. Andréa constrói cabines que procuram remeter a fenômenos
espirituais, provocando a idéia de sair do centro de si mesmo. O
registro de personas
que Andrea constrói/recolhe para si (como espelho e fantasma ao mesmo
tempo), revisita o imaginário religioso. Já a série de Regina de Paula
parece desafiar o espectador ao focar um evento em suspenso, em off .
São fotografias em
grandes formatos – 1,90 x 2,30 m – que exibem espaços de passagem. A
transitoriedade e o vazio. Em Ressonância, série de fotografias em
pequenos formatos, impressas em folhas de acetato, as imagens são
detalhes arquitetônicos do atelier
da artista que dialogam com a própria arquitetura da galeria.
Por fim, chega-se ao terceiro e último estágio do percurso da exposição
– o da ausência da matéria, da imagem em movimento de fuga – que nos
leva às obras de Jailton Moreira e Milton Marques. Jailton trabalha a
partir
do registro de imagens em vídeo, colhidas ao longo de muitos anos,
durante
as constantes viagens que o artista empreende pelo Brasil e pelo
exterior.
Em cada lugar que chega, Jailton colhe uma panorâmica de 360º. Em
Centro
|ex|cêntrico elas aparecem todas juntas, editadas, uma colada à outra.
O
mundo circular. Em Dial, o horizonte visto da janela da galeria se
articula,
à imagem virtual de um looping de 360°, que registra o horizonte do
pampa
gaúcho. Já as imagens de Riobaldo e Panorâmicas são diários de bordo
visuais
de um turista|ex|cêntrico: no primeiro, os rios do mundo se unem em uma
circularidade ad infinitum; na segunda, um círculo completo desenhado
pela
filmadora registra as paisagens e as funde em um só improvável
horizonte.
Milton Marques desenvolve a sua poética, instalada na subversão dos
mecanismos
de máquinas, dos quais conserva basicamente a função de produzir
movimento.
Em Farol, o artista concebeu um universo de linhas traçadas por raios
infravermelhos,
que se entrecruzam, se sobrepõem, criam limites imaginários. Um outro
trabalho,
acionado por controle remoto, incorpora a sombra dos passantes. Em
ambos,
aparição efêmera... e desaparição.
Andréa Campos de Sá
Nasceu no Rio de Janeiro, mas vive e trabalha em Brasília. Mestre em
Arte e professora da UnB, é gravadora de formação, tendo editado álbuns
com seu trabalho pelo selo Edições de Arte. Participa de mostras
individuais e coletivas no Brasil e exterior, como Vice-Versa: Eixo
Brasília-Frankfurt. Nos últimos anos, tem desenvolvido um trabalho em
instalação, no qual a fotografia aparece como suporte. Sua poética
discute a estranheza da imagem diante do conceito do Eu e suas
representações.
Eduardo Frota
Natural de Fortaleza, onde atualmente vive e trabalha. Entre as décadas
de 70 e 90, estudou e trabalhou no Rio de Janeiro. Arte-educador e
curador, foi um dos criadores do Casa de Arte Pesquisa e Produção
Alpendre, um dos mais importantes espaços de arte contemporânea do
Ceará. Participa de importantes mostras coletivas (como a 25ª Bienal
Internacional de São Paulo) e individuais. Seu trabalho tensiona as
idéias de escultura e instalação, apresentando enormes peças montadas
com círculos de madeira que discutem a ocupação do espaço no sentido
material e simbólico.
Jailton Moreira
Natural de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, vive e trabalha em Porto
Alegre, onde atua como professor e curador de várias mostras, além de
coordenar um dos mais importantes espaços de arte contemporânea da
cidade, o Torreão. Expõe desde os anos 80 e suas videoinstalações têm
participado de mostras como a III Bienal do Mercosul e Território
Expandido III, do Prêmio Multicultural Estadão, em São Paulo. Seu
trabalho em instalação utiliza o vídeo como suporte.
Milton Marques
Nasceu em Brasília, onde vive e trabalha como arte-educador. Integrou o
Grupo Multimídia Corpos Informáticos, como artista pesquisador, e desde
1998 desenvolve um trabalho pessoal. Participa de individuais e
coletivas, como a mostra Vice-Versa Eixo Brasília-Frankfurt e dos
Salões do MAM da
Bahia e do II Salão Nacional de Goiânia, no qual foi premiado. Sua
poética
se expressa a partir da criação e recriação de mecanismos que articulam
imagens digitais e movimento mecânico.
Regina de Paula
Natural do Rio de Janeiro, viveu em Nova York, onde fez mestrado. De
volta ao Brasil, passou a atuar como professora da UFRJ, tornando-se
doutoranda em Linguagens Visuais pela mesma universidade. Tem
participado de exposições individuais e coletivas. Em 98, foi
selecionada para o XVI Salão de Artes Plásticas e premiada com
aquisição no Prêmio Brasília de Artes Visuais. Seu trabalho fotográfico
discute as questões do espaço vazio/ocupado, indiferenciando-os.
Walter Menon
Nascido em Curitiba, vive e trabalha em Brasília. Mestre em
Comunicação, é professor da Universidade de Brasília. Realiza mostras
individuais, como Catexia, pela qual é premiado com bolsa de pesquisa
em arte no Prêmio Brasília de Artes Visuais 98, e participa, dentre
várias outras coletivas, do Programa Rumos Visuais do Itaucultural
1999-2000. Seu trabalho cria espaços construídos que se fundem com a
idéia de paisagem como campo devastado.
Sobre os curadores:
Gê Orthof
Natural de Petrópolis, vive e trabalha em Brasília desde 1993.
Professor Adjunto da UnB, fez mestrado e doutorado em Nova York e é
pós-Doutor pela School of The Museum of Fine Arts, da Tufts University,
de Boston. Tem diversos textos publicados em revistas especializadas e
expõe desde 1979.
Marília Panitz
Nascida em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, vive em Brasília desde
1971. Mestre em Teoria e História da Arte, é professora da UnB.
Pesquisadora e coordenadora dos programas educativos de exposições,
atua como curadora em diversas mostras, como Felizes para Sempre, em
Brasília e São Paulo, e Lúdico Lírico, em Berlim.
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Artista selecionada no Programa Anual de Exposições 2003
Bettina Vaz Guimarães
Curadoria: Paulo Whitaker
1º de julho, terça-feira, 20h
Espaço Henfil de Cultura
Av. Getúlio Vargas 1457
Baeta Neves São Bernardo do Campo
11-4125-4755
Segunda a sexta, das 14h às 21h; sábados, das 9h às 14h.
Exposição até 2 de agosto de 2003.
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Movimentos Improváveis
O Efeito-Cinema na Arte
Contemporânea
Mostra de Filmes
e Vídeo
1º a 13 de
julho de 2003
Centro Cultural
Banco do Brasil
Sala de Cinema e
Vídeo
Rua Primeiro de
Março 66
Centro Rio de
Janeiro
21-3808-2020
Apresentação da Mostra
2 de julho, quarta-feira, 18h30
Sala de Cinema
Tema: Cinema e arte contemporânea com Ivana Bentes, pesquisadora de
cinema, professora da Escola de Comunicação da UFRJ, organizadora no
Brasil do projeto Movimentos Improváveis: o efeito cinema na arte
contemporânea
PROGRAMAÇÃO:
Os programas são compostos de filme: experimentais, filmes de artistas,
filmes de ficção, filmes de arte, documentários, curtas, longas ou
média-metragens, antigos e novos. Cada programa foi organizado em torno
de um tema específico.
Programa 1 : Movimento Primitivo (75’)
Paolo Gioli, Piccolo Film Decomposto, 1986, 15’
Jean Louis Gonnet, Filming Muybridge, 1981, 25’
Eros Bradley et Jeanne Liotta, The Dervisch Machine,1992, 10’
Paolo Gioli, Finestri Avanti a un Albero, 1989, 15’
Programa 2 : Maquinas de Manipular o Tempo (105’)
René Clair, Paris qui dort, 1923, 35’
Dziga Vertov, L’Homme à la camera, 1929, 70’
Programa 3: Sonhar em Câmera Lenta (67’)
Etienne Jules Marey/Lucien Bull, Eclatement d’une bulle au ralenti,
1892, 1’
Henri Chomette, Jeux des reflets et de la vitesse, 1926, 6’
Jean Epstein, Le Tempestaire, 1947, 20’
Bruce Conner, Crossroads, 1975, 40’
Programa 4 : Olhar em Câmera Lenta (98’)
Y. Gianikian et A. Ricci Lucchi, Du Pôle à l’Equateur, 1986, 98’
Programa 5: Pensar em Câmera Lenta (87’)
Jean Luc Godard, Sauve qui peut (la vie), 1979, 87’
Programa 6 : Desacelerar para Vibrar (90’)
Wong-Kar Waï, Chuncking Express, 1994, 90’
Programa 7: Filmar Imóvel(78’)
Chris Marker, La Jetée, 1962, 30’
Thierry Knauff, Sphinx, 1986, 13’
Raymond Depardon, Dix minutes de silence pour John Lennon, 1980, 10’
Agnès Varda, Ulysse, 1982, 22’
Raymond Depardon, Face à la mer, 1999, 3’
Programa 8 : Travelling (78’)
Frères Lumière, Panorama pris d’un ballon captif, 1’
Anonyme (American Mutoscope Biograph), Interior NY Subway, 14th st.
to 42nd Street, 1905, 6’
Michael Snow, Wavelength, 1966, 45’
Robert Frank, Conversation in Vermont, 1969, 26’
Programa 9 : Fazer a Foto Falar (106’)
Jean Eustache, Les Photos d’Alix, 1980, 18’
Hollis Frampton, Nostalgia (Hapax Legomena I), 1971, 36’
Chris Marker, Si j’avais quatre dromadaires, 1967, 52’
PROGRAMAÇÃO DE VÍDEO:
Programa 1 : Desequilíbrios (62’)
Peter Fischli & David Weiss, Der Laufe der Dinge, 1986-87, 28’
Peter Campus, Double vision, 1971, 14’
Joan Jonas, Vertical Roll, 1972, 20’
Programa 2: : Suspensão (53’)
Bill Viola, Reflecting Pool, 1977, 7’
Robert Cahen, Juste le temps, 1986, 13’
Programa 3: Vibrações (52’)
Jean Luc Godard, Puissance de la parole, 1988, 25’
Jean Luc Godard, Histoire(s) du cinéma 3A, 1998,26’
Programa 4 : Metamorfoses (57’)
Gary Hill, Happenstance, 1983, 6’30”
Karl Sims, Particle dreams, 1988, 1’30”
Robert Cahen, Hong Kong Song, 1989, 21’
Bill Viola, Chott El Djerid (Portrait in Light and Heat), 1980, 28’
Programa 5 : Impossível (56’)
Bruce Nauman, Revolving Upside Down, 1968, 10’
Bill Viola, Space Between the Teeth, 1976, 9’10”
Woody Vasulka, The Art of Memory, 1987, 36’
Programa 6: Panoptismo (84’)
Mikael Klier, Le Géant/Der Riese, 1983, 84’
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Lançamento
Jornal INCLASSIFICADOS
Debate
Carlos Mélo - artista participante da primeira edição do jornal;
Cristiana
Tejo - coordenadora de Artes Plásticas da FJN.
30 de junho, segunda-feira, 19h
Fundação Joaquim Nabuco
Rua Henrique Dias 609
Derby Recife
Como uma primeira ocupação do Teatro SESC Ginástico, espaço ainda em
reforma, mas que em breve será aberto ao público carioca, estaremos
realizando uma festa de lançamento do Jornal Inclassificados, jornal
que surgiu de
uma postura crítica diante dos jornais, que cada vez se assemelham mais
a um grande caderno de classificados, evocando também o sistema vigente
nas artes, onde estamos quase sempre a mercê de classificações ou de
inclassificações....Propomos então um espaço de ação e divulgação de
idéias. Realizamos paralelamente ao jornal uma exposição itinerante por
4 unidades do Sesc Rio no interior do estado, com a participação de 12
artistas.
Esta 1ª edição é parte integrante do Projeto INCLASSIFICADOS, que tem
por objetivo reunir as pessoas que atuam no circuito das artes visuais,
ampliando o diálogo entre os seus diversos segmentos, fomentando a
interlocução entre os extremos do país, estabelecendo um espaço não
hierarquizado de discussão e descentralizando o sistema de arte.
Para isto, contamos com a colaboração de artistas, historiadores,
professores, críticos e curadores, brasileiros e estrangeiros, que aqui
apresentam as suas propostas, sendo cada um inteiramente responsável
pelo seu espaço.
O jornal está sendo distribuído em pontos estratégicos do país e do
exterior, contribuindo para a instauração de uma rede de circulação de
informações. Nossa ambição é nos próximos números abranger
colaboradores de outros campos do conhecimento e de outras localidades.
Tivemos apoio do SESC Rio para a realização da exposição e do Jornal
Inclassificados.
O Projeto INCLASSIFICADOS
é coordenado pelos artistas
Rosana Ricalde e Felipe Barbosa.
Os Inclassificados
Ao longo dos anos, o SESC Rio vem atuando como pólo irradiador de
cultura tanto no sentido tradicional de divulgação dos trabalhos
consagrados e de formação do olhar crítico do público em vários campos
das artes plásticas, quanto no sentido de produção do conhecimento.
De fato, há muito as artes plásticas ultrapassaram a concepção de que
as obras devem ter sobretudo uma função estética na qual seria
admissível a discussão de questões específicas. Hoje uma obra de arte
interage não apenas com o ambiente em que é exposta, mas com o público,
a cidade e todos os
demais elementos que formam a complexa teia da contemporaneidade.
Isto não só alterou o conceito de valor, desvinculando-o do objeto
em si, e modificou o conceito de espaço, transformado em parte
integrante das exposições. Expandiu o espectro de atuação do artista
para muito além dos limites tradicionais, incorporando questões das
mais diferentes áreas e profissões, substituindo a verticalidade
anterior por uma horizontalidade que o mercado tem encontrado
dificuldade em reconhecer e assimilar, o que com relativa freqüência
fecha as portas aos que arriscam encontrar novos caminhos e
possibilidades.
Ao apresentar a exposição dos Inclassificados e apoiar a edição do
Jornal, o SESC Rio mais uma vez insere-se no cenário das artes
plásticas
fluminenses não apenas para abrir espaço a estes novos artistas, cuja
diversidade
de temas e materiais reproduz a complexidade contemporânea, mas com o
objetivo de investigar e trazer à luz as atuais formas e discussões
estéticas, as produções de diferentes estilos e grupos sociais,
contribuindo para o debate sobre a elaboração de uma nova política
cultural.
SESC Rio
Colaboradores desta 1ª Edição do Jornal:
Alexandre Vogler (Rio de Janeiro)
André Amaral (Rio de Janeiro)
André Santangelo (Brasília)
Atrocidades Maravilhosas (Brasil)
Canal Contemporâneo
Carlos Borges (Rio de Janeiro)
Carlos Mélo (Recife)
Chang Chi Chai (Rio de Janeiro)
Daniela Mattos (Rio de Janeiro)
Fabiano Gonper (Paraíba)
Felipe Barbosa (Rio de Janeiro)
Fernanda Lopes (Rio de Janeiro)
Fernando Baena (Madri)
Franz Manata (Rio de Janeiro)
Frederico Câmara (Alemanha)
Guilherme Bueno (Rio de Janeiro)
Inclassificados 0 (Brasil / exterior)
Jacqueline Belotti (Rio de Janeiro)
Jhone Mariano (Rio de Janeiro)
Jorge Macchi (Argentina)
Jorge Menna Barreto (Porto Alegre)
Júnior Almeida (Londrina)
Leonardo Videla (Rio de Janeiro)
Lina Kim (São Paulo)
Love Enqvist (Suécia)
Luciano Vinhosa (Canadá)
Luis Andrade (Rio de Janeiro)
Marcelo Campos (Rio de Janeiro)
Marcus Vinícius de Paula (Rio de Janeiro)
Marília Panitz (Brasília)
Marisa Florido (Rio de Janeiro)
Marta Neves (Belo Horizonte)
Mônica Rubinho (São Paulo)
Narda Fabiola Alvarado (Bolívia)
Neno del Castillo (Rio de Janeiro)
Nicholas Martins (Rio de Janeiro)
Paola Parcerisa (Paraguai)
Patrícia Canetti (Rio de Janeiro)
Paulo R.O. Reis (Curitiba)
Rachel Korman (Rio de Janeiro)
Rejeitados (Brasil)
Roosivelt Pinheiro (Rio de Janeiro)
Rosana Ricalde (Rio de Janeiro)
Sidney Philocreon (São Paulo)
Sonia Salcedo (Rio de Janeiro)
Linha Imaginária (Brasil)
Mergulho Na Superfície (*)
MARISA FLÓRIDO CÉSAR
MARCUS VINICIUS DE PAULA
“...Uma das primeiras medidas da reforma gráfica do Jornal do Brasil,
realizada por Amílcar de Castro e Reynaldo Jardim no final dos anos
50, foi a gradativa expulsão dos classificados que dominavam a primeira
página do primeiro caderno. A venda explícita de mercadorias foi sendo
relegada ao caderno de classificados, hoje, o apêndice bastardo de
qualquer grande jornal. A mercadoria manifesta foi substituída pela
dissimulada: muito mais sedutora e imaculada, a informação se disfarça
na aparência de uma dádiva generosa.
Com os classificados deixados à margem sob o controle do jornal, seu
caderno é underground em relação ao sistema de cadernos (como o
primeiro, o de economia, o caderno cultural) em que se insere. Todo
marginal só o
é em relação a um poder do qual se torna o modelo do Outro. E o Outro
é
aquele que expõe ao Mesmo sua face indesejada no espelho.
Ao assumir-se como Inclassificados, e não como um caderno cultural,
este jornal e esta exposição explicitam que a ambigüidade do seu nome
–
in como inserção e negação – é inerente à condição contemporânea:
fazemos parte da lógica de mercado, da industria da informação e do
espetáculo, ainda
que desejemos vazar suas classificações simplificadoras. Resta-nos a
interrogação: Como respirar em suas frestas?
O Inclassificados retira o classificado de seu contexto e do sistema
que o aprisiona para ressimbolizá-lo. Experimenta assim liberar o
fragmento, sem recuperá-lo em uma totalidade controlada, mas desejando
tecer uma rede aberta e não hierarquizada. Uma rede polifônica composta
de muitas teias, entrelaçada por camadas profundas e diversas.Uma rede
de trocas em que várias vozes são convidadas a falar, cada uma com seu
ponto de vista, cada qual em seu nome. Uma rede onde todos possam
dialogar e cada um construa seu
percurso de significação. Uma rede que minimize as distâncias, que nos
parecem intransponíveis, entre as muitas realidades do mundo, entre a
arte
e seu público, entre aquele que fala e o outro que o escuta. Uma rede
que
alcance as brutalidades e as delícias do dia-a-dia: que o jornal também
se aliene das falas, embrulhe o peixe da sexta, cubra o amor dos
mendigos
- “um pouco jogado fora, um pouco sábio demais”, como na canção. Todos
são bem-vindos a tecer os laços desta rede e os rumos desta prosa. ”
*o texto na integra, se encontra no Jornal Inclassificados
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Alfabeto
Visual de 26/06 - Se eu quiser falar com Deus
RUBENS
PILEGGI SÁ
Aproveitando o título da música de Gil, como título da coluna, falamos
com Deus ou falamos de Deus? Podemos tentar as duas maneiras. A
primeira seria uma comunhão com o sagrado e o divino. A segunda, uma
tentativa de abordagem sobre a criação. Um assunto que muitas vezes
confunde uma coisa e outra.
Quando Michelangelo pintou a cúpula da Capela Sistina, em Roma,
representou Deus e as cenas bíblicas, ao mesmo tempo em que aquela
pintura evocava o divino em sua maneira de se manifestar, pelas mãos de
um artista. A arte, depois de um longo período em que não se podia
pintar imagens - como aconteceu com a igreja ortodoxa no oriente, por
exemplo - transformou-se no principal meio de divulgação religiosa para
as massas que não sabiam ler. E não só as
imagens foram se sofisticando, as linguagens também. Não era mais só
falar de Deus, ou para Deus, mas também com Deus.
Imagina-se Giotto, Fra Angélico, ou qualquer destes monges/pintores
católicos em estado de graça, tirando de sua palheta de cores, cenas
bíblicas, que faziam (e ainda fazem) o espectador dobrar-se, de
joelhos, por admiração e
reverência ao que se apresenta diante de seus olhos. O artista se torna
o
criador, como o Criador teria criado sua criatura, chamando-a a recriar
as
cenas da gênese. Então, a própria criatura se torna criadora.
Hélio Oiticica, para quem o significado cosmológico, na arte, era de
fundamental importância, escreve em seu diário (6 de setembro de 1960),
transformado no livro Aspiro ao Grande Labirinto: “...Quero que a
matéria de que é feita minha obra permaneça tal como é; o que a
transforma em expressão é nada mais que um sopro: sopro interior, de
plenitude cósmica”.
Mircea Eliade, no
livro Mito e Realidade (1963), narra a história da origem de vários
mitos, em várias culturas, onde a criação artística é considerada
sagrada, tanto quanto qualquer atividade em que o homem se dedique com
atenção ao seu ofício. E nos apresenta a figura do xamã, que invoca a
origem do mundo, toda vez que faz um tratamento de cura para alguém
doente.
E para falar de Deus deste ponto de vista, é preciso romper com o
dogmatismo do cultivo de qualquer fanatismo monoteísta ou formalismo
litúrgico. Se Deus está em todos os lugares – do micro ao macrocosmo,
em uma infinitésima partícula quântica e no seio de uma galáxia
desconhecida – ele estará também em toda a religião capaz de ver na
transcendência do corpo, o espírito das manifestações materiais mais
evidentes ao nosso redor. Ou seja: matéria e energia como
estados de uma mesma unidade. E isso não é um privilégio de nenhuma
crença,
em particular, mas pertence à percepção de um mundo carregado de
divindades.
Para a cultura indígena, uma árvore (um pássaro, um trovão, um rio,
...)
é um Deus. O espírito que emana dela é ela própria. A árvore é, ao
mesmo
tempo em que representa todas as árvores da floresta.
Falar sobre isso para nossa “civilização”, em que o desperdício é visto
com olhar complacente e, muitas vezes, é até estimulado pelo
consumismo,
pode parecer algo inócuo. Mas estamos o tempo todo reelaborando o mundo
e
a idéia de mundo, dando-lhe novos significados, inventando novos
conceitos
simbólicos. Tudo se criando e recriando, ao mesmo tempo.
Ao invés de olhar a luz, diretamente, correndo o risco de cegar-se, ser
luz. Um trabalho de arte como aquele em que o artista enche uma sala de
tanta luz, que, se alguém se atrever abrir a porta deste ambiente,
correrá
o risco de cegar-se. Ou então, desligar-se, como um nefelibata que anda
nas nuvens, chamando Deus para uma conversa sobre criação.
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Arte, política, e resultados improváveis
PATRICIA CANETTI
Para mim, perderá o Rio e ganharão o provincianismo e a mediocridade —
disse Cesar. (O Globo, 26/6/2003)
Assim termina o lamento do prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, pela
manutenção da liminar que o impede de pagar as primeiras parcelas à
Fundação Guggenheim e ao arquiteto Jean Nouvel, e pode provocar a
interrupção do projeto do museu nesta cidade.
(O resultado da "neutralidade" da imprensa é dar força de verdade a
qualquer declaração rasa de efeito publicitário. Mesmo tendo sido
testemunha da falta de argumentos do prefeito, que em nenhum momento
respondeu às questões levantadas pela liminar do vereador Eliomar
Coelho, e às colocadas pelos desembargadores, preferindo tratar o
Legislativo e o Judiciário com a
mesma ladainha político-eleitoreira de sempre fazendo comparações com a Torre
Eiffel e o Maracanã, nossa imprensa não sente necessidade de relacionar
os fatos, abre mão de criar um diálogo entre os protagonistas desta
ação e promover algum tipo de profundidade em sua fala.)
Que projeção a sua, senhor prefeito!
Provincianismo e mediocridade foram os conceitos desenvolvidos e
aplicados exaustivamente nas cláusulas do contrato em questão, que o
senhor mesmo assinou com a Fundação Guggenheim, onde os deveres da
cidade do Rio de Janeiro estão objetivamente traduzidos em cifras
estipulando prazos e despesas, enquanto que os direitos são
imprecisamente mencionados por expressões como critério, esforço,
opinião, qualidade, termo ou acordo sempre acompanhadas por um
"razoável" ou "razoavelmente". Isso se repete 59 vezes no contrato!
Concluímos então, que provincianismo e mediocridade são as melhores
coisas que se pode pensar de quem assinou este contrato em nome da
cidade do Rio de Janeiro.
Dito isto, passemos ao que há de novo e perturbador para nós neste
episódio. Acho que pela primeira vez o engajamento de profissionais da
área de artes plásticas (artistas, pesquisadores, museólogos) -
apoiados por um abaixo-assinado atualmente com 500 nomes - que se
debruçaram para analisar com seriedade e profundidade um projeto do
governo, e produziram documentos críticos capazes de demonstrar ao
conjunto de nossa sociedade a verdadeira relação de custo-benefício
presente neste projeto, nos levou a corroborar com os poderes
legislativo e judiciário na busca de restabelecer o equlíbrio
democrático nesta questão específica. Abro um parêntesis para uma
citação que fala sobre a problemática da atuação da sociedade civil na
contemporaneidade, para depois continuar.
(..."Segundo Laymert, a evolução
tecnocientífica estaria começando a atropelar a arte e a confiscar-lhe,
através da ênfase na inovação e no domínio do virtual, a prerrogativa
da criação.
A suspeita de que isso esteja acontecendo se vê confirmada por uma
rápida comparação com o que ocorre em outros campos. Num seminário
recente sobre a sociedade civil e o espaço público, percebi que os
cientistas políticos estão muito incomodados. Segundo eles, até meados
dos anos 90, o conceito de sociedade civil era visto como a expressão
de uma força emancipatória que se afirmava confrontando-se com o
mercado e com o Estado, e nesse sentido o conceito tinha um valor
positivo, promissor, e até mesmo utópico", disse Laymert, lembrando
que, desde então, essa força começou a ser esvaziada. ³Tanto o Estado
quanto o mercado mostraram-se capazes de se apropriar do conceito e da
dinâmica que ele nomeava e de desvirtuá-lo inteiramente, pois a
sociedade civil passa a ser chamada a colaborar com o Estado e o
mercado para a execução de políticas delimitadas e determinadas por
ele", disse.
Assim, continuou o professor, o que era "processo emancipatório",
tornou-se "procedimento regulatório": "Os sociólogos costumam chamar
esse tipo de recuperação de racionalização das utopias. Mas o que os
cientistas políticos descobriram parecia ir além. Enquanto eles estavam
ocupados em teorizar
sobre o possível papel da sociedade civil como nova força social,
Estado
e mercado já haviam antecipado seu potencial, canalizando-o não para a
contestação, mas para a consolidação do status quo. O resultado é que
os cientistas políticos se viam agora obrigados a promover a crítica do
conceito de sociedade civil, tentando recuperar o tempo perdido."...
Retirado do texto de Fernando Oliva sobre o Trópico na Pinacoteca: A
Politização da Arte - http://www.uol.com.br/tropico/emobras_6_1623_1.shl)
Através de brechas inesperadas, exceções que confirmam a regra, e
promovem a quebra de padrão que tanto interessa a esta coletividade
(tema também abordado por José Arthur Giannotti no debate relatado
acima), o que se
viu foi um fato raro entre nós: além de artistas e intelectuais
geralmente
não serem muito afeitos a leitura de contratos, fomos obrigados a
pensar
em nossas estruturas de mercados de trabalho e em nosso sistema de
produção
para poder evidenciar os problemas contidos na contratação, construção
e
manutenção deste museu.
O dossiê que ajudei a organizar, que foi primeiramente entregue ao
ministro Gilberto Gil, e que depois passou a circular como documento
oficial
dos vereadores Mário Del Rei, responsável pela CPI, e Eliomar Coelho,
responsável pela liminar, teve nos documentos produzidos por esta
coletividade a construção de sua linha mestra de ação. Foram documentos
como os "Comentários sobre o Estudo de Viabilidade do Museu
Guggenheim-Rio" realizado pela museóloga, e diretora do Museu Imperial
de Petrópolis, Maria de Lourdes Parreiras Horta, em colaboração com a
historiadora Maria Inez Turazzi, e os documentos gerados no Grupo
artesvisuais_politicas (grupo de artistas e teóricos do Rio), "A Arte
contra o Museu-Franquia" e "O Guggenheim, a Lei Rouanet e outras
renúncias fiscais federais", e ainda o "Abaixo-assinado contra o
Guggenheim-Rio & por Políticas Culturais Participativas", promovido
pelo Canal Contemporâneo, juntamente com alguns artigos de revistas
nacionais e estrangeiras, que deram visibilidade aos principais pontos
negativos deste projeto da prefeitura do Rio de Janeiro.
Tudo isso ainda é muito recente, e ainda difícil de conectar causas e
efeitos, entender aonde isso nos toca, a nós, coletividades de artes
plásticas, e para onde isso nos leva. Como é dizer não ao governo,
suportar o racha
da própria comunidade, analisar os ganhos e as perdas de se movimentar
politicamente, para questionar (e não ter resposta, pois o governo de
Cesar Maia é incapaz de conversar e trocar idéias), se colocar e tomar
posição como artistas, profissionais, mas acima de tudo, cidadãos.
Cidadãos que hoje para escaparem de serem aprisionados num
padrão-grade-mãe formam redes de inteligência através da internet (ler
Pierre Levy - http://mikro.org/Events/OS/wos2/Levy-pp/liensIC.html
/ http://www.archipress.org/levy/cyberculture/art.htm), e de maneira temporária (ler
Hakim Bey - http://www.aredje.net/taz.htm
/ http://www.rizoma.net/) abrem brechas e fundam
territórios capazes de verdadeiramente promover mu-dança (ler e ouvir
Gilberto Gil - http://www.gilbertogil.com.br).
Patricia Canetti é artista plástica e criadora do Canal Contemporâneo.
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