NESTA EDIÇÃO:
Anna Maria Maiolino no
Raquel Arnaud, São Paulo
Individuais no MAMAM, Recife
Movimentos Improváveis, O Efeito-Cinema na Arte
Contemporânea no CCBB, Rio de Janeiro
Cristina Camara na Maria Martins, Rio de Janeiro
Héliophonia, de Marcos Bonisson no Ateliê da Imagem,
Rio de Janeiro
Debate sobre a exposição de Anna Braga no República,
Rio de Janeiro
Tadeu Chiarelli fala no Museus de
Arte: Vertentes da Pesquisa Contemporânea no MAC-USP, São Paulo
Resultado
do Projeto Portas Abertas/Thomas Cohn, São
Paulo
A quem
interessar possa por Cláudio Jorge
Só para Assinantes com Renata Pedrosa, Blumenau
Anna Maria Maiolino
Vestígios, Indícios & Outros
22 de maio, quinta-feira, 20h
Gabinete de Arte Raquel Arnaud
Rua Arthur de Azevedo 401
São Paulo
11-3083-6322
http://www.raquelarnaud.com
Segunda a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 14h.
Exposição até 26 de julho de 2003.
“Depois
de 4 anos sem expor individualmente no Gabinete de Arte Raquel Arnaud,
Anna Maria Maiolino selecionou uma série de trabalhos que intitulou
"Indícios, Vestígios & Outros". Esta exposição contará com o texto
de Paulo Sergio Duarte.
Suas últimas grandes exposições foram realizadas em 2002,
simultaneamente, no Drawing Center e no Art in General em Nova York.
Além disso, foi editado um lindíssimo livro "Vida Afora" de autoria de
Catherine de Zegher, diretora da primeira instituição.
Anna Maria Maiolino estará expondo trabalhos recentes em diferentes
técnicas (linhas sobre papel, cimento moldado, nanquim sobre papel
japonês) que formam um maravilhoso conjunto que, com certeza, superará
as expectativas dos nossos colecionadores e crítica:
Indícios – linhas sobre papel, 2000/2003
Vestigios - nanquim sobre papel, 2000/2003
Outros - cimento moldado, 2002/2003
Ausentes - cimento moldado, 1997
Marcas na Transparência - tinta acrílica sobre radiografia, 1998
Marcas da Gota - acrílica sobre papel (80 desenhos), 2000.”
Raquel Arnaud
Fazendo nascer um mundo
PAULO SERGIO DUARTE
O segredo de uma grande arte pode estar na manifestação pungente de
obras isoladas ou na força de um processo perseguido ao longo do tempo.
A arte de
Anna Maria Maiolino é, a meu ver, desse último tipo: é o conjunto da
obra, ao longo de quatro décadas, que nos coloca defronte da grandeza.
Anna, absolutamente contemporânea, senhora do seu tempo, repõe, no
presente, a questão da origem da arte. Não é uma simples tarefa, é uma
tomada de posição. Colocar-se nesse lugar custa caro, ela se isola dos
macetes do fazer fácil, e não pode desenhar nem esculpir como um
artista ingênuo. Anna está muito longe dos artistas que pensam num
encontro com uma suposta origem por meio da relação ilustrativa com o
primitivo. Essa busca da ancestralidade da arte é possível porque o
trânsito entre os diversos tempos que se superpõem nunca é surpreendido
por interdições absolutas, por barreiras definitivas. Esses tempos em
camadas estão sempre presentes, agora, e Anna escolhe os gestos
simples, primordiais, tantas vezes repetidos, para captá-los.
São tempos que se oferecem na dupla história: a da arte e a da artista
– aquela coletiva, esta individual. Dessa genealogia, das interseções
provocadas pelos fluxos dos diferentes tempos que se sucederam e se
superpuseram, coletivos e individuais, surge a matéria-prima da arte.
Para percebê-la e mobilizá-la é preciso estar disponível e, sobretudo,
despojado de toda a trama densa e
complexa que se apresenta como cultura – aquela que tanto provoca o
artista, quanto o imobiliza. Localizar essa posição existencial é o que
diferencia, hoje, os artistas dos produtores de artefatos, realizadores
de dispositivos inteligentes prontos a disparar linguagens, aqueles
conhecidos mecanismos que podem estar presentes tanto nas bienais de
arte como nos departamentos de criação das agências de publicidade.
A disciplina de Anna é moderna, entretanto toma liberdade diante dos
dogmas formais que se impuseram como nova academia ao longo do século
XX. Retorna sempre à câmara de contrição, na qual quem se confessa é o
trabalho, aquele encarnado que se encontra, como potência, no corpo que
desenha e esculpe e
que a artista transforma em ato sobre o papel e a argila. É claro que
há algo
de feminino nesta atitude. Entretanto, minha resistência a me
surpreender com as distinções de gênero na arte me obriga a ver na
solidão de cada um dos traços de Anna, de cada um dos seus vazios na
escultura, algo mais que uma posição própria da mulher. Tudo isso
também me pertence, às minhas tentativas cotidianas de suspender a
existência nos pequenos percursos que desenho sem lápis nem papel
andando no quarto ou na cidade, nos movimentos em que meu corpo percebe
a extração do ar do lugar em que entro e que esculpe a minha presença.
Anna sabe o cheio e o vazio; e resume tudo isso sem fórmulas ou
equações.
Nos desenhos, as pequenas linhas vacilantes que se repetem, que recusam
o mundo da exatidão geométrica, estão mais perto de mim que épuras
ideais
traçadas no espaço platônico. Já chamaram a isto de informe, na verdade
trata-se
de uma outra forma que não negocia com regras universais, já
catalogadas,
e se impõe pela franqueza do primeiro gesto, como se estivesse fazendo
nascer um mundo. Os outros desenhos, costurados, que tanto me falam de
um trajeto mínimo e delicado quanto do relevo de fronteiras num mapa
íntimo, não são rastros, são caminhos, percursos de um fazer que se
tornam roteiros do olhar.
Desenhar e esculpir são dois pólos da atividade de Anna Maria Maiolino
que monopolizam sua obra há algum tempo. Entretanto, hoje, designar
esses procedimentos não significa grande coisa. O balaio pós-moderno
conseguiu destituir o sentido mesmo de práticas milenares e alimenta a
ilusão do “resgate” do mundo perdido. A ancestralidade deste trabalho
não está resgatando nada, muito menos fazendo o relógio do mundo voltar
para trás. A saída encontrada por Anna é, também, um dos recursos da
arte no império das platitudes contemporâneas estabelecidas pelas
regras do mercado e do espetáculo. A artista vive para a obra e a obra
vive para si mesma, como um ser que não quer sair do seu casulo.
Subtrai toda
falsa tentativa de comunicação e, sobretudo, abstém-se de traficar com
as
imagens e reclames que o mundo lhe oferece. Esta seria uma diferença
entre a possibilidade de arte e a babel de linguagens contemporâneas
ansiosas por estabelecer territórios de intersubjetividades.
Paulo
Sergio Duarte é crítico e curador de arte
Rio de Janeiro, abril de 2003
volta ao topo
Brígida Baltar, Carlos Mélo, Carmela Gross, José Paulo,
Sandra Cinto
22 de
maio, quinta-feira, 19h
Museu de
Arte Moderna Aloísio Magalhães – MAMAM
Rua da
Aurora 265
Boa
Vista Recife
81-3423-2761
/ 3423-2095
Terça a
domingo, das 12h às 18h.
O Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães estará inaugurando 5
exposições individuais e simultâneas dos artistas Brígida Baltar,
Carlos Mélo, Carmela Gross, José Paulo e Sandra Cinto. Serão produzidos
5 pequenos catálogos com o registro das montagens e textos inéditos
sobre as obras em exposição.
Brígida Baltar irá mostrar o filme “A coleta da maresia” (2001), além
de uma série de 4 fotografias de mesmo título (100 x 150 cm cada). Este
trabalho faz parte de um conjunto de ações que a artista vem realizando
e registrando desde 1994, nas quais busca apreender, física e
simbolicamente,
o que não pode ser aprisionado (neblina, orvalho, maresia).
Problematizando
as supostas oposições entre a intencionalidade e a gratuidade do ato
artístico,
o visível e o impalpável, a vivência e o objeto de arte, essa série de
trabalhos
inclui-se entre as mais delicadas e instigantes produções visuais da
arte
brasileira contemporânea. Realizada durante um amanhecer na praia do
Arpoador
(RJ), “A coleta da maresia” teve a participação de Marta Jourdan e
Patrícia
Chueke (coletoras e câmara) e Juliana Rocha (fotos). Brígida Baltar
vive
no Rio de Janeiro e, dentre as últimas exposições em que participou,
destaca-se a XXV Bienal de São Paulo (2002).
Carlos Mélo apresentará a instalação inédita “Carnos” (2003), a qual dá
desenvolvimento a uma série de trabalhos em que busca dissolver a
materialidade do seu corpo nos lugares onde realiza ações. A instalação
incluirá um conjunto de 5 fotografias (120 x150 cm cada) e um vídeo que
registram uma ação realizada previamente pelo artista na mesma sala do
MAMAM onde as imagens estarão
sendo apresentadas. Nesta ação, Carlos Mélo promove um embate de seu
corpo
nu com o espaço institucional e físico do Museu, colocando-se em
posições
que parecem ora mimetizar o espaço, ora subverter ou apagar sua forte
presença.
O corpo do artista “encarna” o espaço e vira, por meio de um
“contorcionismo
semântico”, nome (“Carnos”) e lugar. Carlos Mélo vive no Recife e,
dentre
as últimas exposições em que participou, destaca-se o Salão de Arte da
Bahia
(2002), onde foi premiado.
Carmela Gross irá mostrar as instalações “O Fotógrafo” (2001) e
“Comedor de Luz” (1999-2000) – cada uma delas ocupando uma sala do
Museu –, além de uma série de “desenhos” feitos com elásticos fixados à
parede com o auxílio de tachas, os quais ocuparão uma terceira sala. As
instalações fazem uso de luzes fluorescentes (vermelhas em “O
Fotógrafo” e amarelas em “Comedor de Luz”), fios e estruturas metálicas
que lhes servem de apoio ou lhes dão articulação. São trabalhos
exemplares do interesse da artista pela “impregnação visual provocada
pelo ritmo dinâmico da luminosidade urbana”. Os “desenhos”, por sua
vez, remetem a planos arquitetônicos ou territórios reduzidos a quase
somente contornos, valores epidérmicos e superficiais de algo que, como
a luminosidade difusa das lâmpadas fluorescentes, é só sugerido e nunca
explicitado. Carmela Gross vive em São Paulo e, dentre as últimas
exposições em que participou, destaca-se a terceira edição do projeto
Arte Cidade (2002).
José Paulo irá expor a instalação inédita “Quimera” (2003),
desdobramento maduro de uma série de trabalhos recentes em que o
artista aborda, de modo crítico, a manipulação genética e os
procedimentos artificiais de reprodução humana. Numa grande superfície
de argila – acumulada num canto de sala sobre um plano inclinado – o
artista reproduz, carimbando o barro com formas de letras desenvolvidas
com esse intento, um trecho do Canto VI da Ilíada de Homero, onde, pela
primeira vez na literatura, aparece a figura da Quimera, ser mitológico
e híbrido, composto de partes de vários animais. Enquanto o barro
simboliza a gênese humana, o texto emerge como índice do poder da
imaginação criadora do homem. José Paulo faz, desse modo, um eloqüente
paralelo visual entre o sentido original da palavra quimera e seu
emprego recente para
designar construções artificiais de moléculas. José Paulo vive no
Recife e,
dentre as últimas exposições em que participou, destaca-se o Salão de
Artes
Plásticas de Pernambuco (2002).
Sandra Cinto irá apresentar uma instalação inédita incluindo
fotografias de pautas musicais desenhadas e afixadas sobre as paredes,
desenhos feitos diretamente sobre as paredes e objetos apoiados no piso
e sobre as paredes da sala. Os desenhos incluirão imagens saídas do
repertório conciso de símbolos que povoam a sua produção: escadas,
pontes, velas, candelabros, árvores. Por meio desses procedimentos e
suportes, a artista ocupa o espaço quase inteiro
com imagens reconhecíveis da experiência vivida sem engendrar narrativa
alguma.
São imagens que fazem somente a descrição de um mundo precário, próximo
da
inutilidade e do desmanche. Um mundo que a artista teima, contudo, em
preservar
a todo custo. E é justo dessa tarefa impossível que Sandra Cinto tece o
sentido
e a força de sua obra. Sandra Cinto vive em São Paulo e, dentre as
últimas
exposições em que participou, destaca-se a mostra Pele e Alma, no CCBB
São
Paulo (2003).
volta ao topo
Movimentos Improváveis
O Efeito-Cinema na Arte
Contemporânea
Coordenação geral
e curadoria no Brasil: Ivana Bentes, pesquisadora de cinema e novas
tecnologias da imagem, professora da Escola de Comunicação da UFRJ
Curador: Philippe
Dubois
20 de maio a
13 de julho de 2003
Centro Cultural
Banco do Brasil
Rua Primeiro de
Março 66
Centro Rio de
Janeiro
21-3808-2020
DEBATES
dias 20 e 21 de maio de 2003
Participantes: Alain FLeischer (França),
Emmanuel Carlier (França), Egbert Mitelstadt (Alemanha), Ronaldo Kiel
(Brasil-EUA), Philippe Dubois (curador França), Ivana Bentes (pesquisadora,
curadora Brasil).
No dia 20 de maio, será inaugurada, no Centro Cultural Banco do Brasil,
a exposição “Movimentos Improváveis – O Efeito-Cinema na Arte
Contemporânea”. Trata-se de um projeto inovador, tanto no tema quanto
na forma, com obras que transitam no limite entre as artes plásticas, o
cinema e a instalação.
A arte contemporânea lida com imagens híbridas, vindas do cinema, do
vídeo e da televisão. Até o final do século XX, ainda era possível
pensar de forma separada a fotografia, o cinema, as artes plásticas.
Com o surgimento do vídeo, as incertezas estéticas se aceleraram e logo
surgiram as instalações de vídeo nos museus, exposições, imagens
projetadas nas grandes telas de cinema
dos festivais, entre outros. Assim, o projeto "Movimentos Improváveis:
O
Efeito Cinema na Arte Contemporânea" trata da perplexidade diante do
mundo das imagens, trabalhando a partir de 3 diferentes áreas
integradas artes plásticas,
cinema e vídeo e debates.
O tema central das obras é o movimento no “interior” das imagens,
permitindo que o espectador pense na passagem da fotografia para o
cinema e vice-versa.
A exposição é composta de instalações de vídeo, instalações multimídia,
séries fotográficas, projeções de filmes e vídeo em looping em telas.
As
obras selecionadas são de artistas contemporâneos franceses e de outras
nacionalidades, que utilizam técnicas e materiais mistos como
diferentes mídias de suporte que criam ambientes visuais e lembram que
o cinema pode sair da sala convencional e ganhar o mundo. Também
acontecerão duas mesas de debates, e mostra de filmes e vídeos na sala
de Cinema e Video do CCBB.
A mostra traz ao Brasil, pela primeira vez, artistas de renome
internacional, como Alain Fleischer, diretor do Studio de Arte
Contemporânea Le Fresnois, na França e Thierry Kuntzel, renomado
fotógrafo e artista plástico francês e Emmanuel Carlier, um dos
artistas que criaram os efeitos especiais no filme Matrix, entre outros
artistas de diferentes nacionalidades, e com grande
presença da arte contemporânea francesa. Além disso, o público terá a
oportunidade de ver uma montagem de uma instalação inédita de Hélio
Oiticica da série
Cosmococa, 1973, “Quase-Cinema” um trabalho pioneiro dos anos 70 que
marca
a presença do Brasil na exposição, com uma obra histórica.
Parte desta exposição já foi montada nas cidades de Lyon, Lectoure e
Cherbour, na França, em 1999-2000, pelo curador Philippe Dubois. A
exposição é patrocinada e realizada pelo Banco do Brasil, tem apoio do
Consulado Francês, da AFAA- Associação Francesa de Ações Artisticas, do
Ministério das Relações Exteriores da França e apoio do Instituto
Goëthe do Rio de Janeiro.
Os artistas e as obras da exposição:
Thierry Kuntezel: “Tu”, 1998 – Instalação de fotografia e vídeo com 8
grandes fotos (de um mesmo rosto de uma criança repetido em fundo
branco
em diferentes posições) e 1 projeção de vídeo em grande formato, com
uma
animação em morfing a partir das 8 fotos. O computador calcula as
posições
intermediárias entre cada rosto e faz uma animação, cria uma falsa
continuidade
dando ao rosto da criança uma série de movimentos contínuos, mas
improváveis,
criando uma mímica impossível e perturbadora.
Emmanuel Carlier: “Temps Morts” – Instalação multimidia. Dispositivo
multimídia em que as imagens congeladas em instantes ou os instantes
congelados em chichés fotográficos se animam num movimento virtual.
Emmanuel Carlier explora o
aspecto “mortífero” dessa idéia de que os momentos furtivos desaparecem
se
não são fixados, mas fixados evocam um “tempo morto”. O autor, que
criou efeitos
especiais para o filme Matrix (as cenas de lutas congeladas), combina
fotografia
e cinema. Instala 360 câmeras fotográficas em torno de atores/modelos
num
espaço delimitado. Cria um efeito de suspensão do movimento e a rapidez
da
foto (instantâneo tirado numa alta velocidade) dá a impressão de um
tempo “suspenso”, sem duração, numa valorização triunfante dos copos e
dos instantes.
O vídeo da instalação foi realizado a partir de uma série de 360 fotos
tomadas exatamente no mesmo momento de uma ação em movimento (queda do
personagem, jato d'agua sobre um corpo). As fotos provêm de 360
aparelhos dispostos
em círculo em torno da ação. É o mesmo instante de tempo que foi
congelado
(num milionésimo de segundo). Por cada aparelho a partir de 360 pontos
de
vista ligeiramente diferentes (deslocados em 1 grau). O filme é o
resultado
da animação das 360 imagens. E cria um perturbador movimento
cinematográfico
no interior de uma pose fotográfica.
Emmanuel Carlier: “...Graph”- Instalação com tela de plasma. Um
mecanismo que lembra um scaner gigante desloca uma tela de plasma com a
imagem fragmentada de um homem nu em tamanho natural quer faz pequenos
movimentos, caretas e constrações. Parece que estamos diante do
personagem deitado diante de nós
e “escaneado” pelo mecanismo
Alain Fleischer: “Autant en emporte le vent” (E o Vento Levou)–
Instalação cinematográfica, com projeção em looping, de um filme 16mm
sobre as palhetas de um ventilador em funcionamento - criando uma
espécie de efeito estroboscópico artesanal.
Alain Fleischer: “Et pourtant, il tourne” (E entretanto, ele gira)-
Instalação cinematográfica, com projeção em looping sobre um
toca-disco. “A minha proposta é a percepção ambígua, híbrida, de um
toca-disco real, no qual roda somente a imagem filmada de um disco.”
Alain Fleischer : « Mer de Chine » - Instalação com projeção dentro de
uma bacia de água com fundo de espelho e contendo peixinhos vermelhos
vivos.”: A imagem atravessa uma densidade de água, atinge um espelho
localizado no fundo e sai novamente, depois desse rebatimento. Nessa
passagem, a imagem leva – ou é afetada por – os movimentos do líquido e
o que ele contém: no caso, peixes vermelhos que se transformam em
sombras chinesas, percorrendo a falsa densidade de um oceano
fotográfico.”
Ange Leccia : “La Mer”, 2001 projeção de vídeo. A espuma do mar, o
branco das ondas que batem contra as rochas são transformados em uma
tela sobre a qual se projetam imagens. Assim a imagem se forma e se
deforma como o fluxo e o refluxo das águas. Um trabalho lírico sobre a
visão e as imagens móveis.
O vídeo de 27 min. da instalção mostra contemplativamente ondas que se
deslocam lentamente numa praia vista do alto. Mas a imagem é mostrada a
90 graus, o que faz com que as ondas que vão e vem não apareçam
horizontalmente (da esquerda para a direita), mas verticalmente (de
cima para baixo). Essa oscilação do ponto de vista transforma
radicalmente a visão: as ondas aparecem como montanhas em movimento que
sobem e descem, movendo e dançando por toda a superfície da imagem.
Magnificamente lírico, sobretudo, se exibido em
uma projeção de tela grande.
Ange Leccia: “Orages”, 2001 projeção de vídeo em duas telas em ângulo.
Imagens de tempestades, raios e trovões mostrados de forma quase
abstrata e com um som potente, projetadas em duas telas. “Em latim,
três palavras designam o relâmpago, fulmen, fulgus e fulgor. Cada uma
propõe uma nuance suscetível de servir à análise do sentimento
experimentado diante do trabalho de Ange Leccia. Fulmen remete à idéia
de violência, é o atributo de Júpiter. Fulgus significa a rapidez, a
velocidade, a fulguração. Fulgor designa o
esplendor, o clarão, a beleza do que aparece. O relâmpago se torna,
assim, um modelo estético do Belo, no qual reconhecemos Orage
(Tempestade), que impressiona, surpreende, arrebata...”
Ronaldo Kiel: "CrerParaVer", 1997 – Instalação. Sala escura onde vemos
uma tela suspensa que mostra roupas secando num varal. A imagem
projetada parece ser animada pelo vento real que sai de um ventilador
colocado atrás da tela. Temos a impressão que é o vento do ventilador
que move as roupas virtuais e que se movem apenas no interior da imagem.
Wim Geleynse: "Spare Bedroom" 1996 – Instalação com projeção de um
filme de 16mm (em looping) sobre quadro (representando um interior de
um quarto). No quadro há um espelho (pintado) incorporado na decoração
do quarto. A projeção se ajusta exatamente sobre o espelho-tela, que
reflete o movimento fílmico no interior da cena fixa da pintura.
Hélio Oiticica: Sala Especial Quase-Cinema.
Montagem da instalação inédita CC6 da série Cosmococa.
A instalação montada será CC6 Coke Head’s Soup, de 1973 – Sala 5m x 5m
Projeção de Slides e trilha sonora. Nos trabalhos desta série
intitulada
“Quase-Cinema”, dos anos 70, o artista brasileiro (que morreu na década
de
80) será homenageado com uma sala especial pelo seu trabalho pioneiro
no
Brasil e no panorama internacional, ao pensar as imagens para além do
ambiente
convencional da sala de cinema. Nessa série Hélio Oiticica propõe tirar
o
espectador de sua passividade, ao projetar uma série de slides em
quatro
paredes simultaneamente, criando um “ambiente” (com imagens de slides
projetados
e trilha sonora gravada de rádios e selecionadas). Nesse ambiente
podemos
nos instalar, sentando no chão, deitando em colchonetes, vendo as
imagens
de uma forma pouco usual. A transformação de fotos fixas (slides) em
“quase-cinema”
se dá pelo ritmo da projeção das imagens junto com a trilha sonora. Na
instalação
CC6 Helio Oiticica trabalha em co-autoria com Thomas Valentin. Os
slides
projetados são fotografias de um anúncio de jornal do álbum Goats Head
Soup
, dos Rolling Stones, com o rosto de Mick Jagger redesenhado por Hélio
usando
cocaína.
Obras Fotográficas
Jeff Guess: "This and That" (Isso e Aquilo) 1989/1992 – Conjunto de 6
fotos em PB e 6 fotos em cores, tomadas em "stenotipia"/ sem objetiva
nem diafragma, nem obturador, somente com o avanço manual aleatório do
filme
no aparelho.
Bernard Bonnamour: "Touch of Evil” (A Marca da Maldade)– Fotografia
panorâmica realizada a partir do filme A Marca da Maldade, de Orson
Welles. Toda a primeira seqüência do filme é colocada em uma só imagem
panorâmica de 4 metros: o
tempo do cinema torna-se espaço na foto.
John Hilliard: "Façade (Fachada) 1982 – Dois dipticos panorâmicos, de
grande formato, sobre o movimento fotografado e fotografante. A partir
da figura do leque (móvel) e do rosto (fixo), o aparelho pode ele mesmo
mover-se durante a tomada das fotos ou ficar fixo.
Obras Videográficas– Trata-se de vídeos em geral bastante curtos
para serem apresentados em looping projetados no ambiente da própria
exposição e em diálogo com algumas das instalações.
Karl-Hartmut LERCH e Klaus HOLTZ: “36976 portraits” (36976 retratos).
Projeção de vídeo no ambinete. Várias durações, colorido, vídeo. 1981
Vídeo com uma sucessão de rostos diferentes (cuja origem são
fotografias) e que se sucedem de forma cada vez mais rápida. O
movimento acelerado faz com que o espectador acabe por não perceber as
diferenças entre os rostos, que se fundem numa espécie de imagem de
síntese em que as identidades são apagadas numa espécie de grau zero da
humanidade. O resultado é fascinante.
“O que ocorre se projetamos a uma grande velocidade milhares de
retratos de homens e de mulheres de idades e tipos diferentes, tirados
de um mesmo ângulo e com uma mesma iluminação? O que revela a fusão de
milhares de tipos humanos anônimos, escolhidos ao acaso, sem
preocupação psicológica ou sociológica? Foi um desejo de ver e de
revelar essa imagem fantasmática que estimulou Larch e Holtz, como uma
idéia de combinação alquímica, a fórmula de uma liga preciosa há muito
buscada, a busca do ouro do rosto. Durante três meses, por
ocasião da 11a Bienal de Paris, os dois artistas propuseram aos
visitantes do Centro Georges Pompidou serem “filmados”: eles bateram,
dos voluntários, três fotogramas a 1/8 de segundo, a partir de duas
posições, de frente e de
perfil, e de duas atitudes, fixa e em movimento. O resultado dessa
fusão pode
ser visto na instalação.”
Egbert Mittelstadt. “Elsewhere”, 1999/2000 Video projection
volta ao topo
Cristina Camara
22 de maio,
quinta-feira, 20h
Galeria Maria Martins
Universidade Estácio
de Sá - Campos Tom Jobim
Centro Empresarial
Barrashopping
Av. das Américas
4.200 Bloco 11
Barra da Tijuca Rio
de Janeiro
Exposição até 7 de
junho de 2003.
volta ao topo
Sob o Signo da Informação, o vídeo Héliophonia apresenta através de
um material em grande parte inédito do artista Hélio Oiticica (Filmes,
Fotos e Hélio Tapes) um universo Oiticiquiniano pouco conhecido do
público. O vídeo dá ênfase a idéias e proposições oriundas dos
Blocos-Experiências e Program in Progress iniciados pôr H.O no início
da década de 70 e a posterior também conhecido como Quase-Cinema,
leia-se filmes (Agripina é Roma Manhatthan etc ), fotos e instalações
(Neyrótika, Helena inventa Angela Maria e Cosmococa realizada em
parceria com o cineasta Neville D`Almeida). Obras estas de caráter
sensorial que percorrem o grande labirinto da Não-Narração.
A utilização da Voz-Verve do artista como elemento Sonoplástico e
Organismo vivo na Héliophonia, envolve e conduz o expectador para o que
talvez haja de mais vital nessa experiência Áudio-Visual : A idéia de O
Artista pôr ele mesmo. O número de telefone (212) 243-6355 que
pertenceu a H. O enquanto viveu em New York (1970 – 1978) é mantido na
lista telefônica de Manhattan pôr um de seus amigos como uma homenagem
póstuma, opera nesse projeto em sentido
dialógico e como mote de narrativa.
O vídeo também apresenta uma entrevista exclusiva do renomado artista
americano Vito Aconcci que reflete sobre o trabalho e participação de
H.O
na histórica exposição de Vanguarda INFORMATION realizada no MoMa em
1970
com curadoria de Kynaston McShine, na qual H.O apresentou sua obra
Ninhos.
Este projeto foi possível graças a Bolsa Rio Arte, o crucial suporte do
Projeto H.O sob a direção de César Oiticica e a colaboração de
cineastas
e artistas como Neville D`Almeida, Ivan Cardoso, Rogério Sganzerla e
Andreas Valentim entre outros, que disponibilizaram seus arquivos no
sentido de
expandir e comunicar através desse trabalho conhecimentos sobre a obra
de
um dos mais importantes artista brasileiros no panorama da arte
contemporânea
internacional.
Marcos Bonisson
volta ao topo
Debate
Ternas / Peles de Anna
Braga com
Anna
Bella Geiger e Fernando Cocchiarale
22 de maio, quinta-feira,
19h30
Museu da República
Sala de Multimidia
Rua do Catete 153
Rio de Janeiro
21 3873-5149 / 3873-5216
Segunda a sexta, das 9h às
17h; sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h.
Exposição até 7 de maio de 2003.
volta ao topo
PROGRAMAÇÃO
28 de maio de 2003
Saindo do Museu: Recepção, Inveja e Gratidão
João Frayse (IP USP)
4 de junho de 2003
O Museu na Era Eletrônica
Annateresa Fabris (ECA USP)
11 de junho de 2003
Cenografias na Exposição de Arte
Lisbeth Rebollo Gonçalves (ECA USP)
volta ao topo
Projeto Portas Abertas – São Paulo 2002/2003 - A Premiação
Debora Bruno
Helen Faganello
Maristela Cabello
Galeria Thomas
Cohn
Av. Europa 641
São Paulo SP
11-3083 3355 /
3085-0707
galthomascohn@terra.com.br
Com
algum atraso, motivado pelo exame de 250 dossiês de nível superior ao
habitual e por entrevistas a doze finalistas, tudo isso interrompido
por viagens ao Exterior, chegamos ao resultado deste "Portas Abertas"
que realizamos desde 1996 e pela segunda vez em São Paulo.
Com esforço, reduzimos os doze finalistas para seis. Com um esforço
muito maior os seis para três – e tivemos que parar por aí. Não há como
preferir entre uma pintora, uma fotógrafa e uma artista conceitual (que
usa elementos de pintura e fotografia). A idéia do PORTAS ABERTAS é a
de
criar oportunidades, finalmente se podem ser três, melhor!
Queremos agradecer a todos a participação. O Rio de Janeiro e o
Nordeste deverão ser os próximos alvos do Projeto.
volta ao topo
A quem interessar possa
Estive viajando pelo norte do Brasil, semanas atrás, quando pude
acompanhar pelo noticiário e pela internet todo o papo que rolou a
partir de uma contestação feita pelo cineasta Cacá Diegues, a linha
que o governo federal estava
querendo adotar com relação a patrocínios das empresas estatais a
cultura
brasileira.
Pelo que eu pude entender, a Secretaria de Comunicação Social, dirigida
pelo Sr. Gushikem, tava meio que passando por cima do Ministério da
Cultura e aí a rapaziada chiou e o governo voltou atrás, dirigindo a
discussão para o âmbito do Ministério comandado pelo nosso Gilberto Gil.
Tudo isso serviu pra me chamar à atenção para um ponto interessante:
É incrível a capacidade de mobilização do cinema na hora da defesa dos
interesses dessa classe. Uma mobilização que quase sempre dá
resultados.
Porque não acontece isso com a música? Na minha opinião, por conta de
um
detalhe que a gente quase não se toca. Quando a gente fala de cinema se
refere a “Indústria Nacional de Cinema”, “O Cinema Nacional”,
“Instituto
Nacional de Cinema” e por aí vai. No Brasil não existe uma “Indústria
Nacional
da Música”. A grande indústria e o mercado de música no Brasil está nas
mãos dos estrangeiros, são as empresas multinacionais, inglesas,
americanas,
japonesas e etc.
Por isso é que quando a nossa classe se organiza aos trancos e
barrancos internos para fazer vingar uma lei que nos proteja, como a da
numeração
de discos, por exemplo, ela não nos satisfaz plenamente, pois o poder
da
indústria internacional do disco é maior e nós músicos não contamos com
a cobertura do governo federal nessa hora. Ainda falando desse assunto
da
numeração de CDs, havia outra lei, melhor, aprovada no congresso,
sancionada
pelo ex-presidente Fernando Henrique e embarreirada na justiça pelas
gravadoras. Jogaram essa no lixo e colocaram outra que, no mínimo, tira
da esfera da Receita Federal o controle desse assunto.
Até agora quando falamos em leis de incentivo estamos falando de uma
papelada enorme que vai ser preenchida e carimbada pelo governo. “Teu
trabalho
pode ser patrocinado por uma empresa que receberá benefícios fiscais”.
Aí a gente sai com aquele papel, bate nas portas das empresas possíveis
patrocinadoras e fica esperando uma resposta pra ver se os caras querem
ou não. Só que quando eu mando os projetos para o patrocínio do meu cd
com os meus Sambas, lá também está o projeto daquele artista super
famoso,
querido por todos nós, que vende discos de montão há um montão tempo e
que
quer um patrocínio para sua excursão nacional ou mundial. Que artista
vocês
acham que a empresa vai patrocinar? Isso sem falar nas relações
pessoais
onde muita gente fina, amiga dos empresários, tem muito mais acesso às
empresas
para conseguirem as coisas do que outros. É o caminho inverso. O cara
já
tem o patrocínio e barateia tudo com a lei de incentivos.
Aproveito este momento que eu acho maravilhoso, que é o de se discutir
políticas culturais, para dizer que essa relação precisa mudar. O
governo precisa transformar essas políticas criando talvez um fundo de
cultura, onde as empresas colocariam recursos á disposição, se
beneficiariam dos
incentivos fiscais, mas o governo decidiria em que projetos aplicar
este
dinheiro. Acho, inclusive, que se as empresas já se beneficiam no
abatimento
de impostos com essas leis, o nome delas não tem que aparecer nos
projetos
a não ser que elas façam questão e aí pagam mais por isso.
Para terminar, precisamos acabar com o mito de que a classe musical é
desunida, não é verdade, ela é impotente, pois ela não detém os meios
de produção como o cinema detém. Seguindo neste raciocínio o governo
está atrasado por não ter ainda apresentado um plano de incentivos para
a produção musical alternativa, essa sim, a verdadeira “Indústria
Nacional da Música” e que vem carregando há anos o ônus de produzir,
com dificuldades para distribuir e divulgar, um acervo responsável pela
sustentação cultural musical dos
que estão agora começando e de muitos que já foram descartados pela
indústria multinacional.
Cláudio Jorge – Músico, 13/05/2003
volta ao topo
Só
para Assinantes
Roda de Ribana de Renata Pedrosa, Blumenau-SC, em 25 de abril de 2003.