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CE/MG/PR/RJ/SP Heterodoxia no MUMA / José Patrício no Dragão do Mar
ANO 3 N. 58 / 11 de maio de 2003




3º Salão Nacional de Arte de Goiás
ÚLTIMOS DIAS - até 14 de maio de 2003
http://www.salaonacionaldeartedegoias.com.br

NESTA EDIÇÃO:
Samson Flexor no Moreira Salles, Rio de Janeiro
José Patrício no Dragão do Mar, Fortaleza
Heterodoxia no MUMA, Curitiba
Cristina Canale encerra mostra na AM, Belo Horizonte
Fabiana Santos na Candido Mendes Ipanema, Rio de Janeiro
Crise do sujeito, crise da cultura, em debate no Parque Lage, Rio de Janeiro
Política e Patrocínio Cultural em debate na tv, Globo News
Inscrições para o 6 Prêmio Revelações de Artes PLásticas, Americana

Prefeito César Maia suspende o 8o Programa de Bolsas RIOARTE 2002

Os primos pobres do Guggenheim pedem socorro, jornal O Globo

 


Samson Flexor

Modulações

13 de maio a 20 de julho de 2003

Instituto Moreira Salles
Rua Marquês de São Vicente 476
Gávea  Rio de Janeiro
21-3284-7400
Terça a domingo, das 13h às 20h.
Visitas monitoradas pelo tel: 3284-7400

A mostra Modulações de Samson Flexor reúne mais de 80 obras do artista plástico, nascido em 1907 na Bessarábia, hoje República Moldova, e radicado no Brasil em 1948, onde viveu até sua morte, em 1971. Flexor fundou o Atelier Abstração três anos após sua chegada ao país, sendo professor durante longo período, além de manter constante atividade como pintor.
 
Detentor de expressivo currículo internacional, construído inicialmente na Bélgica, onde freqüentou a Academie Royale des Beaux-Arts, e depois na França, país em que viveu desde os 17 anos até imigrar para o Brasil, Samson Flexor expôs freqüentemente em mostras individuais e coletivas. Destaca-se sua participação na II Bienal de São Paulo, junto a cinco de seus alunos, há exatos 50 anos.
 
Seu trabalho vai da representação, presente no início da carreira, ao abstracionismo geométrico do pintor recém-chegado ao Brasil – opondo-se à vertente informal da abstração, que se afirmaria a partir dos anos 60 –, para voltar à figura nos anos finais de sua vida. A significativa obra plástica de Flexor praticamente caiu no esquecimento após sua morte e a última grande exposição de seus trabalhos, já póstuma, aconteceu há quase três décadas, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
 
No catálogo da mostra no IMS-Rio, que tem curadoria de Denise Mattar, estão reunidos textos críticos de autoria de Ferreira Gullar, Tadeu Chiarelli e da curadora, além de um depoimento de Leyla Perrone-Moisés, ex-aluna de Samson Flexor.
 
Em agosto, a exposição será apresentada na Galeria do Sesi, em São Paulo.


Meu Mestre Flexor

LEYLA PERRONE-MOISÉS

Depois de tantas páginas que escrevi e publiquei, ao longo dos anos, percebo que nunca dediquei nenhuma a meu mestre Flexor. Esquecimento? De modo algum. A recordação de Flexor está viva em mim como no primeiro dia em que subi a escada de sua casa na Alameda Santos, em 1952; mas parece a lembrança de outra vida, de outra encarnação.

Eu ainda era estudante secundária, usava rabo de cavalo, vestia o uniforme do Colégio Sion e meu projeto de vida era ser pintora. Embora ainda bem jovem, eu já havia feito breves passagens por duas escolas livres de “belas artes”. Da primeira, lembro-me mal: era um curso oferecido na Galeria Prestes Maia, num local bastante escuro e empoeirado. Naquele local, copiávamos a carvão, em grandes folhas pardas, objetos de gesso que pareciam ruínas de algum cemitério: cabeças de anjos com olhos vazados, capitéis de colunas e ornatos barrocos. Uma luz soturna e enviesada providenciava as sombras, objeto principal de nossa aplicação. Lembro-me também de uma garrafa verde, redonda e parcialmente empalhada (resto de alguma cantina?), cujo brilho fosco tentávamos reproduzir com bastonetes de pastel, que se quebravam e borravam a página. (Naquela época, num parque de diversões, uma cigana leu a minha mão e me disse que eu seria uma grande artista. Ao chegar em casa, vi que tinha cores variadas entranhadas nas unhas.).

A segunda escola livre que freqüentei deixou-me lembranças bem mais nítidas. Foi no Museu de Arte da Rua Sete de Abril, ainda brilhando sob os holofotes da recente inauguração. O professor era um italiano que se chamava Sambonet (só mais tarde vim a saber de seu valor como artista). O ensino aí também era tradicional, mas não empoeirado. Nas mesmas grandes folhas de papel pardo (eram blocos? usam-se ainda?), com o mesmo carvão, eu copiava objetos muito mais nobres: as estátuas do museu. Assim, aquela banhista robusta e negra de Renoir tornou-se minha conhecida íntima, retratada de todos os ângulos possíveis. Ainda hoje, quando a vejo no Museu, tenho vontade de lhe dar um tapinha conivente. Também no Museu de Arte havia aulas com modelo vivo. Era uma mulata nua que eu não achava bonita, mas que eu admirava por recriar aquela cena tantas vezes vistas nos quadros do século XIX: “interior de ateliê”.

Em 1951, um grande evento veio agitar a vida artística de São Paulo e mudar a minha vidinha de aspirante a pintora. Foi a 1ª Bienal. Toda aquela “arte moderna” ali exposta vinha precipitar minha aprendizagem de história da arte, realizada em cursos da Aliança Francesa e em livros comprados um a um e folheados infinitas vezes. Entre as obras que me impressionaram, havia alguns quadros religiosos que admirei intensamente. Anotei, num caderninho, o nome do artista: Samson Flexor.

Quando, e por intermédio de quem, fiquei sabendo que aquele artista residia em São Paulo, não sei dizer. Mas ainda me lembro da excitação com que comuniquei a meus pais que eu “precisava” ser aluna dele. Meus pais assentiram, primeiro porque eram muito receptivos a todo desejo de estudo dos filhos, e segundo, porque era uma troca. Eu planejava ir para a Escola de Belas Artes, quando terminasse o colegial, e eles achavam essa perspectiva quase tão indesejável quanto a de outra veleidade minha, ir estudar em Paris. Escola de Belas Artes e Paris eram lugares perigosíssimos para uma virgem dos anos 50 (é por coisas assim que me lembro dessa época como de outra encarnação). A “troca” seria a seguinte: meus pais bancariam o curso particular com aquele “pintor francês” e eu desistiria da Escola de Belas Artes, encaminhando-me para o Curso de Letras, de onde eu sairia professora, profissão muito mais adequada a uma mulher. As razões foram, assim, as mais equivocadas, mas o resultado não foi mau.  Não me tornei grande pintora (apesar da predição da cigana), mas aprendi muito e fui muito feliz nos seis anos que passei no Atelier Abstração.

Flexor me acolheu calorosamente, em parte porque esse era seu temperamento, generoso e sociável, mas creio que também por eu ser tão jovem. Os outros artistas que tinham aulas com ele eram mais velhos, tinham mais prática e personalidades artísticas já definidas. Flexor viu, em mim, a possibilidade de experimentar uma técnica de ensino que, segundo ele mesmo declarou, ainda não tinha tido oportunidade de testar. Além disso, a caçula do ateliê falava francês.

Fizemos tábula rasa de minhas experiências anteriores, partimos da estaca zero. Flexor colocou sobre uma mesa alguns objetos – um violão, um vaso, uma bandeja – e pediu-me, não que os copiasse, mas que observasse a relação entre as  formas e as dimensões, e procurasse as linhas ocultas que podiam ligar esses objetos uns aos outros, e às margens do papel. Para realizar esse trabalho eu só dispunha de um lápis n° 2, uma borracha, uma régua comprida e um esquadro. As linhas que eu ia traçando criavam, no interior dos objetos representados, numerosas formas menores, que eu devia “colorir” apenas com traços paralelos ou cruzados, mais claros ou mais escuros, sem preocupação com as sombras da realidade, apenas com a composição total que se ia formando. A essas diferentes intensidades de claro e escuro, Flexor chamava “valores”, e mais tarde vim a compreender sua importância.

Depois de algumas “naturezas mortas” realizadas com essa técnica, Flexor me promoveu ao uso do guache. Mas apenas dois tubinhos compunham minha paleta: branco e preto. As misturas desses dois elementos produziam os “valores” que antes eu produzia com riscos e quadriculados. Flexor me mostrou como as mínimas variações na dosagem do branco e preto, e dependendo da vizinhança, quase criavam cores. Tendo feito progressos nessa pesquisa, como prêmio, ganhei um tubinho de guache marrom. Ora, a mistura do marrom no branco e preto era capaz de criar verdadeiras cores, mais frias ou mais quentes, e a gama era espantosamente vasta!

Só depois de algum tempo nessa exploração, foram-me facultadas as outras cores do guache. Enquanto isso, eu aprendera algumas coisas com o mestre: o gosto do trabalho paciente e bem executado; a repulsa pelas misturas “sujas”, frutos do acaso e do descaso; a recusa dos “valores” mal definidos que, quando vizinhos, criavam efeitos desagradáveis ao olhar; a tendência a prolongar as linhas mestras, sem deixar pontas soltas. O que eu estava aprendendo era a tramar aquela teia geométrica que, aparente ou não, sustentava os quadros do mestre. Também estava aprendendo a tratar as técnicas com conhecimento íntimo e respeito por suas características: de quanta água necessita o guache, por quanto tempo ele permite mistura, em quanto tempo seca, etc.

Depois do guache, passei ao óleo. Foi a minha verdadeira promoção. Com a tinta a óleo se pode fazer tudo o que se quiser. Aprendi então o grande amor por todos os objetos da pintura: desde a tela, que Flexor ensinava a preparar, a esticar (nunca sem cunhas no chassi, para não empenar), até a moldura, feita de ripas que nós mesmos serrávamos, lixávamos e pregávamos; os diferentes pincéis, grandes, pequenos, chatos e duros, finos e macios; as espátulas; os tubos de tinta, alinhados na caixa de madeira, promessas de alegria; e aquele cheiro de terebintina envolvendo tudo como um barato ou um incenso. As cores tinham nomes lindos, às vezes mais bonitos do que o conteúdo do tubo: azul cerúleo, terra de siena, amarelo ouro, vermelho púrpura. Uma dessas cores era o objeto de desejo de todo o Atelier Abstração: o “vert de baryte”, que Jacques Douchez nos trazia de suas viagens à França. Bastava um toque desse verde no azul, para se obter uma cor turquesa inigualável.

Só usávamos branco de prata; o de chumbo, com o tempo, manchava. E o branco era muito importante, já que todos nós, uns mais, outros menos, mimetizávamos a predileção do mestre pelos fundos brancos. O preto tinha de ser importado, o nacional tendia a ficar brilhante ou fosco, sem mais nem menos. Flexor nos transmitia a formação européia clássica que era a sua, baseada no conhecimento aprofundado das técnicas e no repúdio à improvisação. Um exemplo: nada o indignava mais do que ver chamarem de afresco qualquer pintura em qualquer parede. Quando ele realizou seus belíssimos afrescos da Igreja do Perpétuo Socorro, cuidou de tudo, desde a preparação da parede até a última pincelada. Era coisa para durar. O mesmo conhecimento e o mesmo cuidado ele revelava na aquarela, na serigrafia. Era um mestre artista, e não um improvisador. E tudo isso íamos aprendendo na prática e pelo exemplo.

Seu ensino não era discursivo, embora os numerosos textos que ele deixou comprovem uma grande capacidade teórica e argumentativa. Seus comentários aos trabalhos dos alunos nunca eram totalmente negativos, e os conselhos, discretos. Lembro-me dele sempre atento, olhando por sobre meus ombros a tela que eu pintava. Fotografias dessa época o atestam. Sua presença silenciosa, denunciada pela fumaça de um charuto, era imponente mas não intimidante. Um “bípede” cordial, ao qual a mecha de cabelo caída na testa dava um ar de eterno adolescente. O brilho de seu olhar podia ser irônico, mas nunca maldoso. Para a adolescente que eu era, Flexor era uma figura paternal. Hoje, que sou mais velha do que ele jamais foi, vejo que, embora um tanto pesadão, ele era um homem bonito e sensual.

Quando passei à pintura a óleo, adotei naturalmente o abstracionismo geométrico. Flexor fazia a defesa obstinada do abstracionismo que, na década de 50, já era por assim dizer institucionalizado no mundo, mas ainda contestado no Brasil. A principal acusação era a de “desumanização” da arte. Flexor respondia que, se ao andar numa praia deserta encontrássemos um círculo perfeito desenhado na areia, saberíamos que por ali havia passado um homem. Também nos mostrava a relação íntima das formas geométricas com as formas naturais (conchas, cristais, etc.) e introduzia-nos nos cálculos matemáticos da “secção de ouro”. Ele não admitia que traçássemos nossas linhas com tira-linhas. Esboçávamos as formas na tela com a régua, mas a pintura da linha era feita com um pincel fino, à mão livre, e Flexor nos fazia ver que o leve tremor da mão tornava as linhas mais vivas, carregadas de uma discreta emoção. Sua briga com os concretistas decorria exatamente dessa opção pelo caráter “humano”, individual e lírico da abstração geométrica, oposta à “frieza” e à despersonalização do produto industrial. O desentendimento com os concretistas era, afinal, uma briga entre irmãos, porque no fundo estavam de acordo. No manifesto escrito por Flexor para a 3ª exposição do grupo, lê-se que as qualidades da obra abstrata são “essencialmente concretas”. O que era recusado era a representação acadêmica da realidade, a pintura figurativa “literária” e expressiva, surrealismo principalmente.

Tudo isso eu fui aprendendo, e com o primeiro quadro a óleo ganhei uma medalha de bronze num Salão Paulista de Belas Artes. Depois, já definitivamente integrada no Atelier Abstração, participei de várias exposições do grupo. Mas a satisfação do mestre com a discípula se manifestou em duas ou três ocasiões especiais. Uma delas foi quando, tendo aparecido por acaso no ateliê num dia em que ele, para complementar sua renda sempre apertada, dava aulas de desenho acadêmico a senhoras da sociedade paulista, pus-me também a copiar aquela mesma modelo nua que eu conhecera em outros tempos. O resultado foi infinitamente melhor do que os que eu obtinha antes da experiência com a abstração, porque meu olhar estava agora treinado para ver as estruturas e as proporções. Para Flexor, aquilo foi a comprovação da eficácia de seu ensino. Ele brandia meu desenho e o mostrava para todos, com entusiasmo. Outros momentos de satisfação do mestre foram os de minha participação na 3ª e 4ª Bienais, depois de passar pelo crivo de júris rigorosos, principalmente o da última.

Eu poderia me estender indefinidamente falando do ambiente do ateliê, dos colegas mais próximos e dos ocasionais, dos dias de festa, dos vernissages, das pessoas que conheci ou simplesmente vi em torno de Flexor, e que hoje são verdadeiros mitos da história da arte brasileira. Fui vivendo e assimilando tudo aquilo numa semiconsciência juvenil. Mas minha intenção, aqui, não é memorialística, é apenas dizer algo do que aprendi com o mestre.

Em 1958, o Atelier Abstração fez uma exposição na Galeria Roland Aenlle, em New York. Na volta, uma confusão alfandegária ocasionou a perda de todos os quadros. Esse acontecimento, e outros de ordem pessoal, marcaram o fim do grupo como tal. Logo depois, realizei uma exposição individual na Galeria da Folha de São Paulo. Eu havia abandonado o rigor geométrico e praticava então um abstracionismo tachista, aquarelado, fluido. Geraldo de Barros publicou uma crítica muito negativa da exposição, dizendo que minha pintura estava se esvaecendo. E, de fato, ela literalmente se evaporou porque, encerrada a exposição, não consegui recuperar nenhum dos quadros que a compunham  (sempre havia uma desculpa e um adiamento, até a minha desistência). Esse duplo episódio da perda de meus quadros (dos quais nem me lembro mais) foi concomitante com minha estréia como crítica literária no Suplemento Literário de O Estado de São Paulo.

Não foi uma ruptura total, e o ensinamento de Flexor permaneceu ativo em minha apreciação das obras literárias. Um romance ou um poema, como um quadro ou uma composição musical, são feitos de um arcabouço invisível de linhas de força, um jogo de valores, contrastes cromáticos, retomadas sutis de temas antes anunciados, etc. É bom que um crítico tenha uma experiência, mesmo que pequena, dos processos internos da criação. Minhas preferências literárias orientaram-se naturalmente para as obras em que a expressão é controlada por uma tendência construtiva: o novo romance francês, o estruturalismo, a poesia de linhagem mallarmaica. Ficaram-me, do ensino de Flexor, algumas disposições definitivas: a desconfiança da representação artística da realidade, o gosto pelo experimentalismo, um antiacademicismo visceral, o respeito pelo trabalho do artista que conhece seu ofício e uma grande paixão pela arte como algo maior do que o indivíduo artista. Toda uma concepção moderna da arte que era a do meu mestre, e que atualmente é vista como “ultrapassada”.

A última visão que tive de Flexor foi por ocasião de sua exposição de 1970. Vi-o vestido de branco, caminhando pela rua Augusta, já muito enfraquecido e apoiado em sua fiel Margot. Senti uma espécie de remorso por não ter realizado plenamente as esperanças que ele depositara em mim, como pintora. Entretanto, enquanto vários ex-colegas  cobravam de mim essa desistência, Flexor teve a suprema delicadeza de nunca me recriminar por ter abandonado a pintura, de nunca pedir nada em troca do muito que me deu.

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José Patrício
Ars Combinatoria / Cento e Doze Dominós

13 de maio, terça-feira, 18h

Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar
Rua Dragão do Mar, 81
Praia de Iracema   Fortaleza   Ceará
85-488-8600
Terça a quinta, das 9h às 21h; sextas, sábados e domingos, das 10h às 22h.
Exposição até 22 de junho de 2003.
Debate com o artista: dia 13 de maio, 19h
Patrocínio: Petrobras
Apoio: Lei de Incentivo à Cultura/Ministério da Cultura
Contatos do artista:
josepatricio@uol.com.br
http://www.josepatricio.com.br

A mostra do artista vai ocupar um andar inteiro do MAC


O jogo de dominó é utilizado pelo pernambucano José Patrício como ponto de partida para a discussão de diversos conceitos, desde o papel da obra de arte, sua relação com o artista e com o público, até formulações práticas e abstratas, como uma emblemática discussão do múltiplo. Servindo-se de um número superior a 97 mil peças de um dos mais tradicionais e populares jogos do planeta, o artista plástico apresenta, no Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, a partir do dia 13 de maio, 15 obras da série "Cento e Doze Dominós", a instigante instalação "Ars Combinatoria" e a obra "Duzentos e oitenta dominós".
 
A abertura da exposição acontecerá às 18 horas. Em seguida, às 19 horas, acontecerá debate do José Patrício com artistas cearenses sobre arte contemporânea, no auditório do CDMAC. A idéia é levar aos participantes discussões sobre o trabalho do pernambucano, que tem alcançado um resultado estético de rara beleza. A mostra tem o patrocínio da Petrobrás, com apoio do Minc, através da Lei de Incentivo à Cultura, da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará e Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. A mostra fica em cartaz até o dia 22 de junho.

Os dominós de José Patrício já cobriram o chão secular do Convento de São Francisco, na Paraíba; depois, em uma das instalações mais significativas já realizadas no Mamam, encobriram o piso por onde passaram ilustres freqüentadores do antigo Clube Internacional do Recife. Só a instalação do artista, utiliza 2.520 jogos de dominó coloridos (78.400 peças), montados diretamente sobre o piso, ocupando uma área de 83 metros quadrados. Já as obras da série Cento e Doze Dominós são compostas por 3.136 peças fixadas em suportes, de acordo com uma ordem formal pré-determinada.

 “Ao utilizar as peças de jogo de dominó, busco uma relação entre arte e jogo, ordem e acaso”, explica José Patrício, acrescentando que “este conjunto de obras nasce da necessidade de estabelecer novas categorias para a expressão visual, questionando os limites da arte, além de permitir a apropriação de objetos do cotidiano e sua incorporação ao domínio da experiência artística”.

Antes dos baianos, a instalação Ars Combinatoria já havia sido vista pelos conterrâneos do artista (Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães - Recife, 2000), por cariocas (Paço Imperial - Rio de Janeiro, 2001), paulistas (Paço das Artes - São Paulo, 2002) e baianos (MAM Bahia, 2002).

Agora, com o projeto plástico mais amadurecido a partir da inclusão da série Cento e Doze Dominós, José Patrício chega à cena cultural de Fortaleza graças ao patrocínio da Petrobrás, que selecionou o consistente trabalho do artista pernambucano para participar da segunda edição do programa Petrobras Artes Visuais, com apoio da Lei de Incentivo à Cultura/Ministério da Cultura e Secretaria de Cultura do Estado do Ceará.

Nascido em 1960, no Recife, onde vive e trabalha até hoje, José Patrício tem formação em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco. Porém, a criação artística está presente em sua vida desde muito cedo. Na metade dos anos 70, ainda adolescente, ele já estudava na Escolinha de Arte do Recife, onde teve contato com os primeiros fundamentos plásticos. O início de uma carreira muito prolífica.

José Patrício traz no currículo um número expressivo de mostras individuais e coletivas, tendo marcado presença em museus, galerias e salões de diversos estados brasileiros (Pernambuco, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba, Paraná, Brasília, Pará) e no exterior (Portugal, Alemanha, França, Porto Rico, Argentina, Venezuela, Estados Unidos). Sua obra também se faz presente em importantes coleções permanentes, como Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (Olinda-PE), Fundação Nacional de Arte – Funarte (Rio de Janeiro), Museu de Arte de Brasília, Museu de Arte Assis Chateaubriand (Paraíba), Museu de Arte Moderna da Bahia, entre outros.

Com apresentação do crítico Fernando Cocchiarale, a mostra de José Patrício é mais uma oportunidade para o público cearense estar em sintonia com a produção contemporânea do Nordeste e das idéias mais instigantes que permeiam a cena plástica nacional. Para José Patrício, abre-se mais uma vereda para que sua criação atinja seu objetivo de chegar às pessoas, levando beleza plástica, questionamentos, afirmações e, como soma de tantos elementos, inevitáveis inquietações – por que não?

Palavras do artista: “A concretização da idéia e a sua exposição ao público é o momento em que a obra, na sua existência efêmera, ocupa o espaço arquitetônico e enfrenta o real, cumprindo o seu destino de envolver o espectador e com ele dialogar”. E é justamente para estreitar ainda anda mais este diálogo com o público que o artista estará participando de um debate, aberto ao público, na terça-feira de abertura da mostra. Uma ótima oportunidade para ver, ouvir e falar de arte.


FERNANDO COCCHIARALE

José Patrício

Há uma analogia entre a natureza do jogo e o sentido da arte contemporânea. Enquanto o primeiro é regido por regras arbitradas em função das dificuldades que devem ser finalmente superadas pelo vencedor da partida, essa última convoca o público para uma experiência similar à do jogador.

O flerte da arte com os jogos, porém, não é novo. Do antigo Egito a Cézanne, por exemplo, o jogo vem sendo tratado como um tema da arte. Mais recentemente, de Duchamp ao universo contemporâneo, sua lógica aproximou-se dos métodos de fazer e  de fruir a arte atual. Esse é o caso das obras aqui apresentadas por José Patrício: uma versão da instalação Ars Combinatoria e as seis obras da série Cento e Doze Dominós.

Antes mesmo de trabalhar com dominós, Patrício já investigava as possibilidades poéticas da apropriação e da combinação de objetos de um mesmo tipo. Autorizados desde os readymade de Duchamp, mostrados pela primeira vez em 1913, passando pelas assemblages de Picasso (1914) e pelos combines de Rauschenberg, esses procedimentos buscavam alternativas à feitura artesanal da obra, na era industrial, e vêm permitindo a invenção poética de muitos artistas contemporâneos. 

Fundamentais na pesquisa de José Patrício desde 1998, a apropriação de objetos (as pedras de dominó) e sua rearticulação sob uma lógica diversa daquela das regras desse jogo vêm propiciando a criação de trabalhos de grande impacto visual. Em lugar de combiná-las a partir da junção de peças que possuem uma mesma quantidade de pontos impressos (conforme o padrão aritmético desse jogo), formando um percurso linear, Patrício reúne essas peças para criar situações, cromáticas e gráficas, que recobrem, qual um tapete compacto, áreas consideráveis do piso da galeria. Patrício criou um sistema de conversões. Entre o jogo e a arte, as peças do dominó produzem situações poéticas complexas.

Entretanto, é preciso admitir, as regras presentes em todos os aspectos de nossas vidas desempenham funções tão variadas e possuem significados afetivos tão diversos que devemos distingui-los. Freqüentemente sentimos as regras sociais como necessárias, mas limitadoras de nossa liberdade pessoal. As normas que regulam o cotidiano nos presídios, manicômios, fábricas e escolas parecem confirmar esses sentimentos, pois evidenciam sua articulação com o poder (Foucault). Mas nem toda regra ou limite desempenha uma função opressiva. Algumas podem até, inversamente, se tornar essenciais para a canalização de energias vitais, prazerosas, criativas.

Os jogos e a arte pertencem a essa última categoria. Suas regras os tornam inteligíveis como linguagem e exigem a combinação de competência, adestramento e acaso. A decisão de uma partida depende de escolhas precisas face a situações ambíguas e abertas, como ocorre no processo de invenção e criação de obras de arte. Nesse nível analógico, a lógica dos jogos e suas configurações — da postura corporal exigida do jogador, seu traje, o campo da disputa, seus instrumentos ou representantes no tabuleiro (peças, cartas, miniaturas, letras, números, peões e pedras de todas as cores) — podem funcionar como um produtivo parâmetro de ordenação estética e como um fio condutor do sentido comum e da significação específica dos trabalhos expostos.

Rio de Janeiro, junho de 2002

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Heterodoxia
Albano Afonso, Anna Bella Geiger, Beth Moysés, Carlito Carvalhosa, Divino Sobral, Eduardo Frota, Elder Rocha, Eliane Prolik, Enrica Bernadelli, Felipe Barbosa, Joaquim Paiva, José Cyrillo, José Rufino, Marcelo Solá, Paulo Whitaker, Shirley Paes Leme, Victor Arruda, Walton Hoffman

13 de maio, terça-feira, 19h30

Museu Metropolitano de Arte – MUMA
Centro Cultural Portão - Sala Célia Neves Lazarotto
Av. República Argentina  3430
Curitiba   Paraná   41-314-5065
Terça a quinta, das 13h às 19h; sextas, das 13h às 21h; sábados e domingos, das 13h às 17h.
Exposição até 29 de junho de 2003.


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encerramento
Cristina Canale
Paraísos

12 de maio, segunda-feira, 17h

AM Galeria de Arte
Rua Professor Moraes  476  loja 5
Funcionários   Belo Horizonte   MG
31-3223-4209
Segunda a sexta, das 10h às 19h; sábados das 10h às 13h30.

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Fabiana Santos
Exposição da Intimidade

12 de maio, segunda-feira, 20h

Galeria de Arte do Centro Cultural Candido Mendes
Rua Joana Angélica 63
Ipanema   Rio de Janeiro
21-2523-4141 r. 225 / 226
Segundas, quartas e sextas, das 15h às 21h; sábados, das 16h às 20h.
Exposição até 31 de maio de 2003.

Exposição da Intimidade

Na era do espetáculo, das mil janelas - palco - vitrine - telinha - telão - conduzindo o olhar para espaços externos, internos, reais ou virtuais e do tempo reduzido à simultaneidade, como expor um trabalho inimista, sem conceder à sedução da galeria-vitrine? A solução foi desenvolver o trabalho no local. Mostrar para a rua o artista em ação e levar para dentro da galeria a temporalidade dos processos de pesquisa no ateliê.galeria-ateliê. Ocupação sutil. Contágio gradual do inorgânico pelo orgânico. Situação híbrida. Processo: percurso no tempo, algo que se faz dia após dia até habitar o espaço. Constituição de uma presença. Até o último dia. Em exposição: o espaço-tempo íntimo do processo de trabalho. Exposição da intimidade.

Fabiana Santos

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Debate
Crise do sujeito, crise da cultura

Arte e cultura frente à crise do sujeito
Participantes: Márcio Tavares d’Amaral e Paulo Sérgio Duarte

12 de maio, segunda-feira, 20h


Galeria da Escola de Artes Visuais do Parque Lage
Rua Jardim Botânico 414
Rio de Janeiro
21-2538-1879 / 2537-7878


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programa de tv
Política e Patrocínio Cultural é pauta do Globo News Painel
William Waack entrevista os cineastas Zelito Vianna e Jorge Furtado, e o consultor de patrocínio empresarial Yacoff Sarkovas

11 de maio, domingo, 20h
12 de maio, segunda, 6h


Globo News Painel
Globo News - canal 40

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6º Prêmio Revelação de Artes Plásticas de Americana – 2003
Inscrições abertas a artistas brasileiros e estrangeiros legalmente residentes no Brasil, com idade mínima de 16 anos, que poderão se inscrever em apenas uma das modalidades - pintura, gravura, escultura, desenho, fotografia, vídeo, instalação ou objeto. Todos os artistas selecionados receberão R$ 250, como ajuda de custo para transporte dos trabalhos selecionados, pagos até o final da exposição. Haverá 2 prêmios-aquisição de R$7,5 mil cada,  e 5 referências especiais de R$ 1 mil  a artistas iniciantes com menos de 30 anos de idade.
 
Inscrições até 7 de junho de 2003
 
Museu de Arte Contemporânea de Americana
Praça Comendador Müller 172
Centro   Americana   SP   13465-289
Regulamento e ficha de inscrição: http://www.americana.sp.gov.br


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De novo!

Prefeito César Maia suspende o 8o Programa de Bolsas RIOARTE 2002 na última estapa do processo de seleção

O Globo de sexta-feira publicou uma pequena matéria na Editoria Rio sobre a suspensão das Bolsas, e cabe a nós, artistas das áreas atingidas por este golpe (arte e tecnologia, artes cênicas, artes visuais, dança, literatura, e música), conseguir que a imprensa dê espaço nos cadernos de cultura para a discussão da legitimidade deste ato do prefeito. Vamos usar a seção de cartas – cartas@oglobo.com.br - para exigir um debate público sobre a nova política cultural da prefeitura.

Precisamos defender a democracia de nossas instituições. Precisamos mostrar ao nosso Secretário de Cultura (leia a matéria do Globo reproduzida abaixo) que um processo democrático se constrói justamente pelo tempo de relacionamento com as coisas instituídas. O Programa de Bolsas chega ao seu 8o, e é justamente no decorrer desta trajetória que o seu processo evoluiu juntamente com a produção artística por ele financiado. Temos um diálogo em curso que está sendo revogado de maneira autoritária para dar espaço a uma nova política, que de cultural responde a muito pouco.

Artista, historiador, pesquisador, crítico, novamente enfrentamos o problema da falta de continuidade nas ações do governo municipal, e precisamos reagir...

Patricia Canetti

Secretaria suspende seleção da nova turma de bolsistas da Rioarte

Adriana Pavlova

A Secretaria municipal das Culturas decidiu suspender o processo de seleção da nova turma do Programa de Bolsas RioArte, em andamento desde o ano passado. Um aviso no Diário Oficial de terça-feira comunica o cancelamento do edital do concurso de 2002, referente à oitava edição do programa, em fase final de avaliação. A partir de agora, segundo o secretário municipal Ricardo Macieira, haverá um sistema de distribuição de bolsas por regiões da cidade.

O edital com os novos critérios para seleção e a quantidade de bolsistas por área do Rio será divulgado em junho. O número de bolsas aumenta de 25 para 30, mas o valor mensal deve continuar em R$ 1,5 mil.

— A intenção é democratizar, porque percebemos que 99% dos bolsistas das sete edições do programa eram moradores da Zona Sul, dando a falsa impressão de que não existe reflexão artística em outras áreas da cidade — diz Macieira. — Agora vamos garantir a distribuição igualitária de bolsas.

Macieira discorda, no entanto, de que, com a mudança, a secretaria esteja criando um tipo de sistema de cotas.

De acordo com as mudanças de critérios, os concorrentes não precisam mais comprovar notório saber.

— O edital era elitista. Nossa política é de lutar para acesso irrestrito do público a todas as ações culturais da prefeitura.

Macieira não vê nenhum problema no fato de o edital do concurso ter sido cancelado quando o processo de escolha estava na segunda e última fase. Nos bastidores do RioArte, sabe-se que os jurados já tinham feito a lista dos 25 selecionados, faltando apenas divulgá-la:

— Existe um momento em que é preciso mudar e não dava para continuar como estava.

Macieira anunciou ontem nome da nova presidente do RioArte, Rita de Cássia Gonçalves, que assume o cargo que estava sendo acumulado pelo secretário desde que Fábio Ferreira deixou a instituição, em janeiro. Ela é funcionária de carreira da prefeitura.

O Globo, Rio de Janeiro, 9 de maio de 2003.
http://oglobo.globo.com/oglobo/rio/107758373.htm

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Os primos pobres do Guggenheim pedem socorro

PAULO MARQUEIRO

...

No Museu Nacional de Belas Artes, parte da sanca da galeria do século XIX — onde estão expostas obras como a “Batalha de Guararapes”, de Victor Meirelles — despencou há cerca de um mês e ainda não foi reparada. Algumas paredes estão manchadas por infiltrações e há trechos — como na galeria do século XXI — com goteiras.

— Havia uma goteira a 20 centímetros do Vellázquez — confidencia o diretor do museu, Paulo Herkenhoff, referindo-se a uma mega-exposição realizada em 2000 com obras do pintor Diego Vellázquez.

As verbas, segundo ele, são insuficientes para a manutenção do museu. Para o diretor, seriam necessários US$ 10 milhões (cerca de R$ 29 milhões) para transformar o prédio num museu do século XXI.

— Vamos fazer um diagnóstico e, a partir daí, elaborar o plano diretor do museu — promete Herkenhoff.

No Museu de Arte Moderna (MAM), no Parque do Flamengo, a manutenção também é um problema concreto. Uma infiltração no teto do bloco-escola levou à interdição de metade da biblioteca de 25 mil volumes. Segundo o diretor do MAM, Helio Portocarrero, as obras de recuperação do bloco-escola estão orçadas em R$ 2 milhões.

LEIA A CONTINUAÇÃO no Globo, domingo, 11 de maio de 2003
http://oglobo.globo.com/oglobo/rio/107784434.htm

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