NESTA EDIÇÃO:
Monica
Barki na IBEU com texto de Luiza Interlenghi, Rio de Janeiro
Niura Bellavinha na Parque Lage com texto de Agnaldo
Farias, Rio de Janeiro
Marcus
Vinícius na 10,20x3,60, São Paulo
Lançamento da coleção de jóias-daguerreótipo na Vermelho,
São Paulo
Entre o
Mundo e o Sujeito, Visita comentada por Moacir dos Anjos, Recife
Cosem
convoca artistas visuais para reunião no MON, Curitiba
Debate:
Guggenheim-Rio na UCAM-Centro, Rio de Janeiro
Pró e Contras compareçam, por Patricia Canetti
Monica Barki
Monica Barki: Ana C
Curadoria
- Esther Emilio
Carlos
15 de abril,
terça-feira, 20h
Galeria
de Arte IBEU
Av.
N. Sra. de Copacabana 690 2º andar
Rio
de Janeiro
21-3816-9458
cultural@ibeu.org.br
http://www.ibeu.org.br
Segunda
à sexta, de 12h às 18h.
Exposição
até 16 de maio de 2003.
A exposição constará de uma
instalação com 11 bobinas de papel reciclado impressas em flexografia,
com imagens baseadas em gráfica popular brasileira e personagens do
teatro de mamulengos do Nordeste; duas sequências de 12 fotografias das
performances COCO BOBO e ANA C. (enfaixamento de um casal por atadura
impressa e enfaixamento da personagem “Ana C.”); e uma montagem com 8
serigrafias sobre borracha com imagens repetidas da "Ana C.".
As figuras presentes nos trabalhos tiveram, como ponto de partida, os
mamulengos: forma de teatro de bonecos enraizada em tradições populares
do Nordeste do Brasil. Monica Barki fotografou-os em recente viagem a
Pernambuco e trabalhou-as no computador. A artista incluiu, também,
fragmentos de
palavras reproduzidas de letreiros de vendedores de beira de estrada,
que
ao serem recombinados deram origem a novos significados.
Ana C. é a protagonista das histórias de Monica Barki. O retrato de
Ana C. aparece impresso em várias situações e em diferentes bobinas. A
partir do seu nome, Monica escreve poemas, que se repetem ao longo dos
280 m de bobina.
Com o desenvolvimento das bobinas, surgiu a idéia de imprimir a atadura
e enfaixar um casal, utilizando o desenho do Coco Bobo, que também já
havia sido impresso em uma das bobinas. Monica Barki tentou transmitir
a idéia de dependência entre marido e esposa, em um casamento e como
consequência, a perda da identidade, a incomunicabilidade e o
aprisionamento do indivíduo. Amarrado ao outro pela atadura, o corpo
vira um boneco sem individualidade, um “coco bobo”, diz a artista.
Ana C.
LUIZA INTERLENGHI
Mãos em posição de ação, cano, sexo que explode e um alvo, uma vítima:
mulher com a boca no cano-sexo, mulher-imagem-repetida cravada de
furos. “O CABRA BOTA REVÒLVER NO OUTRO, ELE NEGA O CORPO, RASPA O DEDO,
MAS A
SURPREZA TÁ EMBAIXO. AI AI AI”. Em O Cabra (Tiroteio 1), 2002 de Monica
Barki a frase mal escrita e em letras tortas reforça o conflito entre
os
personagens apresentados. A mais dramática da série de flexografias de
Monica, O Cabra, trata diretamente do agravamento da tensão entre homem
e mulher em conseqüência da pobreza e da exclusão social, tema
dominante
no conjunto de trabalhos apresentados na Galeria do IBEU.
Nas bobinas de papel fixadas na parede da galeria – ANA GANA ANA CANA;
COCO BOBO; QUITÉRIA; O CABRA (TIROTEIO 1) ou BOLINHO DE AIMPIN –,
Monica Barki exibe um fluxo contínuo de imagens e textos transformados
em longos padrões de estamparia. Alguns rolos destas flexografias
aparecem também
em suportes de mesa com um serrilhado que permite à artista cortar
pedaços
do padrão impresso. Cada fragmento passa então a circular como obra
autônoma.
Com o surgimento da litografia, diz Walter Benjamim em seu texto
seminal sobre a arte na era da reprodução, tornou-se possível ilustrar
a vida cotidiana com agilidade maior que a da pintura. A moderna
reprodução em massa e o
surgimento da fotografia quebram o valor de culto até então associado à
obra original. Ainda hoje o valor de culto da obra de arte não se
perdeu
completamente e Benjamim já observava a resistência deste valor de
culto
no retrato fotográfico que reverencia a expressão humana.
As matrizes das flexografias de Monica não são originais no sentido
pré-moderno, mas, padrões gráficos e fotos digitalizadas e editadas, já
destinados à
reprodução. Estas matrizes podem ser impressas em vários suportes e
aderem
a diferentes superfícies. O valor da arte é uma questão complexa que
envolve
a crítica, as instituições, patrocinadores e curadores. Mas na regra
capitalista,
que tudo regula pelo mercado, seja peça única ou reprodução, a arte tem
sempre um valor no mercado. A série de trabalhos de Monica Barki
reunidos
na Galeria do IBEU investe na reprodução máxima da obra como estratégia
de disseminação e resgate do Humano.
Na série de fotos que documenta a performance “Coco Bobo”, um casal
está enrolado e imobilizado por uma bandagem impressa com as mesmas
palavras, apropriadas de um letreiro de estrada. Se a crítica à
dependência no casamento é a questão geral neste trabalho, a artista
aponta a perda de identidade
como fator de aprisionamento. Amarrado ao outro pela bandagem, diz
Monica,
o corpo vira um boneco sem individualidade, um “coco bobo”.
Ana C., mulher-ícone, criada a partir da foto de uma boneca de
mamulengo, é o mote da exposição. A personagem reaparece nas bobinas,
bandagens, impressões em borracha e séries fotográficas. No início dos
anos 80, Monica pintava tradicionais retratos de família com irônicas
intervenções que deixam transparecer traços perversos da vida em
família. Nos trabalhos recentes a artista amplia o seu campo de
observação e muda a estrutura de organização da imagem.
Em Ana C., 2002, Monica retrata a personagem usando uma estrutura em
ciclos, própria das ladainhas e dos refrões do canto popular. A figura
de Ana C., o amarelo da cabeleira contra o preto do fundo e a cor clara
da face que
é o branco vazado do papel, se repete na própria imagem matriz. A
partir
do bloco de quatro imagens iguais sobe um arco que irradia linhas. No
interior desse arco, os instantâneos da mulher-mamulengo vão se
dissolvendo. Sem
a cor da cabeleira e com o contorno esmaecido, Ana C. vai deixando de
existir, a irradiar.
Monica manipula suas impressões como peças de um quebra-cabeça feito
com registros de viagens, estórias incompletas ou letreiros populares
de
vendas de beira de estrada. O registro fotográfico é manipulado com
tecnologia
digital. A artista monta estes fragmentos de diversas maneiras,
manejando-os
como se fossem os bonecos registrados na viagem a Pernambuco, até que
eles
comecem a formar novos sentidos, a contar outras estórias. Reeditadas e
impressas em diversos suportes – bobinas de papel, placas de borracha,
rolos
de bandagem – as imagens comentam os desdobramentos das formas de
dominação
econômica sobre o corpo, o sexo e a liberdade de ação.
Apresentadas sem o realismo formal dos seus retratos dos anos 80 as
personagens de Monica formam a outra face do noticiário policial e da
vida de todos
os habitantes dos grandes aglomerados urbanos. Falam de questões
sociais
mais ampliadas, tais como a violência contra a mulher e o machismo que
se
mistura com o crime a as rajadas de balas.
Não há um desfecho para a estória de Ana C., apenas a repetição da
própria estória. Cada uma das imagens-estória criadas por Monica, com a
economia de seus elementos – poucas palavras, partes de figuras, cores
chapadas –, recorta fragmentos de experiências do dia-a-dia da artista
e os reorganiza em uma totalidade, como uma parábola visual.
Luiza Interlenghi
Mestre em História Social da Cultura pela PUC-RJ e em Curatorial
Studies pelo Bard College, NY.
Fortaleza, março de 2003.
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Niura Bellavinha
Sabará
Mangueira
15 de abril a 29 de junho de 2003
Cavalariças
e Escola de Artes Visuais do Parque Lage
Rua
Jardim Botânico 414
Rio
de Janeiro
21-2538-1879 / 2537-7878
eav@parquelage.org.br
http://www.eavparquelage.org.br
Terça a sexta,
das 10h às 22h; sábados e domingos, das 10h às 17h.
Sabará
Mangueira
AGNALDO FARIAS
“A seco”
A sala maior, um espaço retangular de paredes altas e imponentes,
pertence agora ao laranja, ao rosa e a dois tons de vermelho. Foi
tomada
por elas de cima a baixo e agora entrar ali é o mesmo que atravessar
uma
piscina incandescente. Uma piscina a seco porque as cores foram
mantidas
em estado de pureza, quase sob a forma bruta com que são extraídas do
chão:
como pigmento em pó.
Curioso, em se tratando de Niura Bellavinha que durante anos fez da
água um instrumento da sua pintura. Seu pincel era a pressão da água e
do ar comprimido sobre a superfície da tela, fazendo a cor, através da
remoção e supressão, desfibrada em subtons, atingir os nervos do
tecido. Mas aqui não. A cor se mantém incólume. E para que elas fossem
capazes de redimensionar o ambiente e não apenas pintá-lo, e também
para impedi-las de se dissolverem no ar, a artista retirou-as dos
pequenos quadriláteros plásticos em que elas chegam das fábricas, fixou
essas sobras, as próprias embalagens impregnadas, nas paredes e
construiu faixas regulares verticais e horizontais que pendem e
atravessam o espaço. O visitante passeia contornando essas faixas,
evitando-as, assim como os sacos abertos colocados no chão, repletos
dos pigmentos, semelhantes aqueles de juta com que os antigos armazéns
ofereciam seus grãos
para o exame e compra dos fregueses e que adorávamos mergulhar as mãos.
O chão, como em São Paulo, estará recoberto em toda sua extensão pelo
pigmento e o visitante poderá caminhar, imerso num espaço de alta
potência cromática.
“A medida do impossível”
Situada logo à esquerda da entrada da sala maior, mas sem que se possa
entrar nela, o chão da segunda sala foi ocupado por centenas de
pirezinhos brancos. Em cada um deles, contrastando com a brancura
cintilante da porcelana, do piso recoberto pelo pigmento branco de
titânio e com o branco fosco das paredes, um montículo de cor que, como
no trabalho anterior, varia entre o laranja, o rosa, o vermelho e o
vermelho escuro. Os pires serão manipulados e os pigmentos soprados ao
ar numa performance, que será gravada e projetada. A constância desse
ritual de coloração do ambiente, a aura imaculada da
sala assim como o magnetismo da imagem incessante, tudo isso contraria
a
alta temperatura cromática da sala maior, no limiar da qual o visitante
o contempla. O olhar corre baixo pelo espaço sorvendo os bocados de cor
até ser freado pelo filme na parede. As cores retinem em torrões
regulares,
uma série correspondente às embalagens plásticas de onde foram
retiradas.
“Sabará | Mangueira”
A terceira sala das Cavalariças, conjunto das salas expositivas da
Escola do Parque Laje, possui entrada independente das outras duas. Sua
cor oscila entre o vermelho e o rosa. O mesmo pigmento vermelho que
marcou o barroco de Sabará e que era originário da China; o mesmo
pigmento rosa, marca registrada da Estação Primeira de Mangueira,
escola de samba que deve seu nome a uma fruta trazida da Índia. Essas
são as nossas raízes: amálgama de linguagens, matérias, coisas,
técnicas e etnias praticamente indiscerníveis. Somos constituídos de
despojos, a maneira da escultura de
pó cuja efemeridade mantém-se as custas de seu aprisionamento numa
câmara de vidro.
Espalhados pelo chão 44 caixas de acrílico contendo aparas e sobras dos
mesmos quadriláteros plásticos, as pequenas embalagens em que chegam os
pigmentos. Uma referência aos bólides de Oiticica, que fazia rimar
artista com passista, de resto filiado a Mangueira. Como os bólides de
Oiticica, essas caixas podem ser manipuladas. São, já se viu, despojos
também. Fragmentos impregnados da matéria prima da pintura – o pigmento
-, corpos que escaparam do descarte e que brilham indecisamente
convidando-nos ao tateio.
“A onda como o tempo – a construção do oceano”
Expandindo a vocação de seus trabalhos rumo ao espaço circundante,
nessa exposição Niura Bellavinha, transborda as cavalariças para ocupar
o pátio interno do majestoso prédio da escola e em cujo centro existe
uma
grande piscina. Metáfora da sobreposição dos tempos, a piscina
retangular, bordejada por uma galeria pontuada por colunas, é um chão
líquido impossível de ser trilhado. Esvaziando-a, a artista conduz o
visitante para dentro dela, para assistir ao processo de reconstrução
da água e do tempo.
A piscina traz um aquário em cuja água será projetado um vídeo com
imagens do fundo do oceano e outro vídeo estará, simultaneamente, sendo
projetado em uma das paredes menores internas da própria piscina.
O vídeo alterna imagens do oceano com imagens gravadas no próprio
pátio interno, onde aparecem referencias a Gabriela Besanzoni, cantora
lírica de renome, antiga proprietária do casarão onde agora funciona a
Escola do Parque Laje. Em quase todo o tempo do vídeo, do lado de
fora
da piscina, caminhando em sentido anti-horário, é a própria Niura
Bellavinha
quem destrava o tempo apos soprar um pigmento vermelho que vai dar o
tom
da cena ao som de Gabriela Besanzoni cantando Cármen.
São Paulo, 2003.
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Marcus Vinícius
seis
quadros horizontais
16 de abril, quarta-feira,
20h
10,20x3,60
Rua
Jaguaribe 262
Santa
Cecília São Paulo
11-3362-0468
www.dezevinte.com.br
Segunda
a sexta, das 12h às
19h, sábados, com hora marcada.
Exposição
até 9 de maio de 2003.
Nelas, Marcus, propõe a idéia do quadro como o objeto
retangular, disposto horizontalmente, que ligado à parede preserva seus
caracteres bidimensionais, cujos elementos podem ser estudados
separadamente e repropostos segundo uma ordem arbitrária. Dessa forma,
ao analisar os elementos do quadro e organizá-los, o artista não se
obriga a dispor de todos eles de uma só vez, mas usá-los de acordo com
a necessidade de cada trabalho.
Neste contexto, uma de suas maiores preocupações é estabelecer a
unidade objetiva, uma idéia que propõe a construção do espaço da obra
de modo que todos os seus elementos sejam significantes, ou seja, nada
nela é acessório, mas contribui para sua compleição. Quando se ocupa
com os elementos materiais – a tinta, a moldura, o pano, a madeira, o
papel, o vidro, as ferragens e os módulos, que fraturam a idéia do
plano da pintura, acentua muito mais a intenção de sua concreção do que
o caráter subjetivo da obra.
O espaço relacional é fundado aí, onde o trânsito do observador ativa
sua percepção do espaço físico expositivo, através do modo como são
organizadas e apresentadas as obras.
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lançamento da coleção de
jóias-daguerreótipo
Cris Bierrenbach, Hugo
Torre Curti e Letícia Scarpa
Colecionador
de Ossos
+
encerramento
da exposição
A'1346
METROS CÚBICOS; Andrezza Valentin SEM TÍTULO; Chiara
Banfi SEM TÍTULO; Cris Bierrenbach A OPERAÇÃO ILEGAL;
Rogério Canella O LUGAR DO HOMEM
música
p/ duo Incautos Tementes
15 de abril, terça-feira,
19h
Galeria
Vermelho
Rua
Minas Gerais 350
São
Paulo SP 11-3257-2033
info@galeriavermelho.com.br
http://www.galeriavermelho.com.br
Terça
a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 10h às 17h
Exposição
até dia 17/04, das 10h as 19h)
COLECIONADOR DE OSSOS:
A fotógrafa Cris Bierrenbach e os designers Hugo Torre Curti e Letícia
Scarpa, da HL6, desenvolveram uma coleção de jóias-daguerreótipo. A
coleção denominada Colecionador de Ossos, composta por 8 modelos com
tiragem limitada de 3 peças numeradas cada, expande o trabalho de
daguerreótipos da fotógrafa, transformando-os em jóias feitas a mão, de
prata 925 e couro, pela HL6.
As jóias-daguerreótipo poderão ser encomendadas na Galeria Vermelho
durante o lançamento, ou a partir do dia 16 na HL6.
HL6
Rua dos Chanés 293 - Moema
04087-031 SãoPaulo 11-5535-0289
http://www.hl6.com.br
hl6@hl6.com.br
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Entre o Mundo e o Sujeito
Visita
comentada por Moacir dos Anjos
15 de abril, terça-feira,
19h
Galerias
Baobá, Massangana e Memorial Joaquim Nabuco
Av.
Dezessete de Agosto 2187
Casa
Forte Recife PE
81-3421-3266
r: 421/422
artes@fundaj.gov.br
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Cosem convoca artistas visuais para
reunião
15 de abril, terça-feira,
às 14h30
Museu
Oscar Niemeyer
Curitiba
PR
A Coordenadora do Sistema Estadual de Museus da Secretaria de
Estado da Cultura, Clarete Maganhotto, convida os artistas visuais a
participarem de uma reunião dia 15, às 14h30, no auditório do Museu
Oscar Niemeyer. "Vamos trabalhar as propostas apresentadas na primeira
reunião ocorrida dia 4 e que tratam da linha de ação para as artes
visuais no Estado", adianta.
O trabalho participativo com os artistas faz parte da política de
democratização da Secretaria e deve abordar os salões de arte,
pesquisas, bibliotecas, oficinas e leis de incentivo. "Esses são os
assuntos que mais preocupam a maioria
dos artistas visuais. Vamos tentar resolvê-los", afirma a diretora da
Cosem.
Encontros com a
Cultura
Debate: Guggenheim-Rio
Paulo Casé - Arquiteto, autor do projeto de Revitalização do Cais do Porto
Ricardo Macieira - Secretário Municipal das Culturas
A Escola Candido Mendes de Marketing Cultural divulga a programação dos
" Encontros com a Cultura ", módulo de extensão universitária onde
acontecem debates e palestras com pessoas de destaque na cultura
carioca e do país.
PRÓS
E CONTRAS COMPAREÇAM!
Esta última mesa do debate sobre o Guggenheim-Rio, reunindo o autor do
Projeto de Revitalização do Cais do Porto, arquiteto Paulo Casé, e o
Secretário
Municipal de Cultura, arquiteto Ricardo Macieira, pretende esclarecer
diversos
pontos sobre o contrato atual com a Fundação Guggenheim, que foram
levantados
pelo Secretário Municipal de Urbanismo, Alfredo Sirkis, quando iniciou
esta
série de debates.
Alguns pontos omissos do contrato inicial para a construção e operação
do Guggenheim-Rio eram considerados prejuízos graves pelos Secretários
no
início deste processo. Questionado a respeito disso, Alfredo Sirkis nos
revelou que o estágio atual de negociação prevê exposições brasileiras,
e
a itinerância das mesmas pela cadeia de museus Guggenheim. Como nada
disso,
nem mesmo a formação de um acervo de arte brasileira ou arte latina, ou
a obrigatoriedade de pelo menos uma exposição de arte brasileira aqui
no
Rio, está previsto no único documento publicado pela Prefeitura até
agora,
gostaríamos de aproveitar a presença de Ricardo Macieira para conhecer
estes
novos detalhes tão importantes para o desenvolvimento da arte
brasileira.
Em seu debate, Alfredo Sirkis nos deixou um enigma ao repetir algumas
vezes que a Prefeitura, e sua Secretaria de Cultura, estavam abertas a
sugestões que acrescentassem melhorias ao projeto, mas também foi
enfático ao repetir que o museu, por ser fundamental para a captação de
recursos privados para a Revitalização do Porto, não toleraria mudanças
no modo já definido de
sua negociação (e é bom lembrar, sem nenhuma participação de qualquer
profissional da área, seja ele artista, historiador, museólogo, crítico
ou curador);
e em tom ameaçador completava nos dizendo que o museu se faria desta
maneira, ou não se faria.
Gostaria de pedir a presença maciça dos artistas neste debate, dos que
são a favor e contra o museu, para que seja possível costurar os prós e
contras desta iniciativa, e pleitearmos algum diálogo com a Prefeitura,
caso esta (remota) possibilidade realmente exista. Vamos exercitar pela
primeira vez na vida uma troca de idéias que possa beneficiar ao
conjunto
dos profissionais de arte no Brasil, e não, uma ou outra vertente,
região
ou facção de arte.
Temos uma marca de peso entrando no país, ao mesmo tempo forte por sua
história, mas combalida atualmente, como demonstram vários artigos da
imprensa
comum e das revistas especializadas americanas. (Seja por problemas
financeiros, ou críticas de toda sorte sobre a sua direção e atuação,
que vão desde vendas fraudulentas de obras de seu acervo permanente,
uma programação pouco respeitada pelos profissionais americanos e
europeus, até o uso comercial polêmico
da arte e dos artistas que expõe.)
Precisamos saber o que é importante para nós na vinda deste tipo de
museu, e se aquilo que imaginamos ser um ganho para nós como
profissionais está defendido
no contrato que será assinado, ou se estaremos jogados a própria sorte,
e
as eternas negociações, caso a caso, através de conhecimentos e
articulações
pessoais. Afinal, trata-se de dinheiro público, e de uma soma
considerável,
que deveria ser investido de maneira a melhorar as condições de nosso
mercado
de trabalho, e não simplesmente se omitir, e exacerbar as suas piores
características.
Patricia Canetti
Artista plástica, e criadora do Canal Contemporâneo
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