NESTA EDIÇÃO:
Efrain Almeida no Casa
da Ribeira, Natal
Victor Lema Riqué no Artes Unicid, São Paulo
Thiago Honório na 10,20x3,60, São Paulo
Fabio Cardoso na Nara Roesler, São Paulo
Oscar Niemeyer na Anna Maria Niemeyer, Rio de Janeiro
Andy Warhol no MAM, Rio de Janeiro
Encontro de artistas, críticos & simpatizantes no
Parque Lage, Rio de Janeiro HOJE
Novas
adesões ao abaixo-assinado
Efrain Almeida
instalação – pés
12 de março, quarta-feira,
às 20h
Diálogo com o artista na
sala Petrobras – artes visuais
Espaço Cultural Casa da
Ribeira
Rua Frei Miguelinho 52
Ribeira Natal RN
84-211-7710
Quarta a domingo, das 18h às
22h.
Exposição até 27 de abril de
2003.
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Victor Lema Riqué
REGULAR COFFEE - O poder de
um império
http://www.regularcoffee.com.br
12 de março, quarta-feira,
às 20h
Espaço de Artes Unicid
Universidade Cidade de São
Paulo
Rua Cesário Galeno 475
Tatuapé São Paulo
11-6190-1310 / 6190-1200
http://www.unicid.br
Segunda a sexta, das
10h às 21h; sábados, das 10h às 15h.
Exposição até 30 de
abril de 2003.
Patrocínio: Universidade
Cidade de São Paulo - Unicid
Apoio Institucional da
Prefeitura do Município de São Paulo- Lei 10.923/90
“Salió y se
ha puesto a la venta el rico y delicioso regular coffee"
Victor Lema Riqué
Roberto Imbriaco levantou a lapela de seu casaco e andou em direção ao
porto. O pouquíssimo dinheiro que era dedicado a uma dieta literalmente
a base de água e pão tinha chegado ao fim. Suportar a próxima metade de
um dos invernos mais cruéis do século, seria impossível consumindo tão
poucas calorias. Portanto, tinha chegado a hora de voltar para sua
terra natal, lá poderia morrer de tédio mas nunca de fome e também
voltaria a ser chamado de Beto e não mais de Bob como faziam seus
companheiros de “Car wash”.
Embarcaria essa mesma noite num moderníssimo navio de carga
dinamarquês,
onde ficaria encarregado de tirar o sal acumulado nos containers, um
trabalho
mais do que esgotador mas que pagaria sua viagem.Já próximo ao porto
decidiu
se sentar num banco de uma pequena praça. Enquanto observaba o intenso
azul do céu (que por intervalos era embaçado pelo vapor de sua
respiração),
se perguntou como seu corpo ainda era capaz de produzir energia
comsumindo
tão poucas calorias. Decidiu continuar rumo ao porto, porém no momento
em
que se levantava, um forte brilho o cegou; no primeiro instante pensou
que
fosse o brilho do sol refletindo em algum guindaste do porto, mas não,
o
intenso brilho vinha de um terreno baldio vizinho á praça. Protegeu a
vista
com a mão e caminhou em direção à fonte luminosa, percebeu que o brilho
era
causado pelo reflexo dos raios de sol sobre uma antiga máquina de café
abandonada, mas que se encontrava em perfeito estado de conservação, ao
lado se encontravam espalhadas uma dezena de caixas de café e mais de
uma centena de copos
plásticos. Algumas das caixas haviam esparramados café onde tinham
crescido
estranhas flores de cor turquesa. Roberto Imbríaco em seguida foi até o
bar mais próximo e pediu um pouco de água quente, voltou para o terreno
baldio e elaborou um “rico y delicioso” café. Enquanto bebeia um homem
se
aproximou e lhe pediu um copo de café, gentilmente Imbríaco lhe serviu
um, o homem elogiou muito o sabor e quando quis pagar, Imbríaco lhe
disse
que não era nada. Em seguida mais duas pessoas, atraidas pelo cheiro se
aproximaram querendo café, mais tarde havia uma longa fila de pessoas,
mas nesse momento o café já não era mais de graça, o copinhop simples
custava
20 centavos e o duplo 45 centavos.
Enquanto a voz de Imbríaco cantava repetidamente “Salió y se ha puesto
a la venta el rico y delicioso Regular Coffee”, o barulho de uma sirene
vindo do porto o
interrompeu, lá ;longe viu a bandeira da Dinamarca estampada em uma das
chaminés de um navio cargueiro que partia lentamente. Para que? A essa
altura, os bolsos da única calça que usava durante meses seguidos, já
estavam abarrotados de centavos.
Assim começou uma história que todos já conhecem...
O Império do Poder
Nancy Betts, curadora da exposição
O início foi um conto escrito pelo próprio artista. Depois, o caráter
que permeia as exposições de Victor Lema Riqué dominou o cenário: a
diversidade dos sistemas de representação. A partir da matriz verbal, o
artista dá
visibilidade ao corpo do trabalho nas linguagens visual e sonora e no
meio
digital. Intertextos que, apesar de terem seus referentes autônomos,
funcionam
como códigos em co-presença que dialogam e se complementam na
totalidade
da exposição.
Na figuratividade destes modos de expressão está implícita uma
ideologia, a crença de que hoje tudo é possível numa sociedade
capitalista movida
pela propaganda: enriquecer, ter acesso, status. O exemplo é a história
de Roberto Imbriaco e seu produto Regular Coffee. O título, na sua
simplicidade
e musicalidade, já é jogo estratégico e o logo é um sinal extremamente
eficiente em potencializar a fixação do produto na memória do
consumidor.
Nas pinturas, a divisão entre o “mundo real” e o “mundo da ilusão”
ganha significado por meio da manipulação da forma, da cor e do ritmo.
Revela-se um conjunto de traços formais que instaura o tom que
identifica
a maneira do artista habitar o espaço. As cidades globalizadas parecem
ter a mesma face, sejam antigas fábricas ou modernos arranha-céus,
todas
são construídas naquilo que se convencionou chamar de bad painting, a
tosca
linha e a pincelada escura e borrada são a estética propositalmente
escolhida
para produzir uma forma cujo efeito de sentido é de que a vida é o
âmbito
da incerteza, dos deslocamentos e da solidão. Nas faixas de propaganda,
a expressão se constitui na clareza e no brilho do dourado e na limpeza
das letras com hard edge. A palavra e a imagem, neste campo, são
ancoragens
de caráter analógico – pretendem ser cópia de uma “certa realidade”.
Aqui,
é o lugar da sedução, do glamour e da certeza, a garantia de poder-ter
ou
poder-ser.
Se a pintura valoriza o espaço e a permanência dos objetos aí fixados,
a linguagem do vídeo lida com a instabilidade do tempo e da imagem. Nos
vídeos, o conto é redesenhado e a narrativa ganha um tom irônico. A
fala irônica pode ser apreendida em mais de um sentido, devido a uma
subversão na coerência de valores estabelecidos pela introdução, na
linguagem ou
no gestual, de um elemento contraditório. Sem rechaçar acintosamente o
que
é dito, provoca uma ambigüidade na interpretação da história. Os vídeos
fazem uma ficcionalização do que os programas de TV apresentam como
real,
simulando a verdade. A verdade é assim. Qual verdade? A das palavras
ou
das ações? Que leitura deve prevalecer: o conselho ou o comportamento,
a cultura pasteurizada de Kelly Miller ou sua “falta de memória”?
Os mundos, na arte, são realidades construídas e o artista
deliberadamente aponta as fronteiras entre o real e a ilusão - os
complexos modos de presença no mundo contemporâneo.
O paradoxo é que, na vida, o conto é realidade.
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Thiago Honório
Saltando de Banda
11
de março, terça-feira, às 20h
Galeria 10,20x3,60
Rua Jaguaribe 262, Santa Cecília
01224-000 São Paulo SP
dezevinte@uol.com.br 11-3362-0468
Segunda a sexta, das 12h às 19h; sábados,
somente com visita marcada.
Exposição até 4 de abril de 2003.
Saltando de Banda – Thiago Honório
SÔNIA SALZSTEIN
Com uma agenda de exposições proposta e viabilizada pelos próprios
artistas que nela se apresentam, a Galeria 10,20 X 3,60 é um retângulo
recortado rente à calçada, separado desta apenas por uma porta de vidro
que se abre a um eclético e animado entorno urbano, longe das áreas que
concentram a maior parte das galerias e equipamentos culturais em São
Paulo.
Sugere, assim, tanto o aparecimento frágil e pitoresco do espaço de
arte
para uma situação urbana que tende a dissolvê-lo em sua própria
dinâmica,
feita do pequeno comércio de varejo, dos serviços e de uma malha viária
conectada
crucialmente à vida econômica da cidade, como a possibilidade inversa,
de
uma maior permeabilidade dos trabalhos a esse rico ambiente externo,
desembaraçados
de maiores mediações institucionais e de fato mais diretamente expostos
ao que se passa na rua.
É a inserção ambígua desse espaço na região de Santa Cecília –
oscilando entre uma escala familiar, que tende a assimilá-lo ao
cotidiano do bairro, como uma singularidade a mais no colorido local, e
o prolongamento tão
franco e natural para a rua, para a perspectiva da cidade - que
estimula
de maneira vital o trabalho de Thiago Honório. Não que o projeto da
10,20
X 3,60 esteja em questão para o artista. Ao interrogar a escala
pública
de um espaço que se propõe a acolher a produção artística de maneira
mais
informal e direta, a contrapelo do circuito de prestígio, a obra
defronta
situação cultural mais ampla, que diz respeito ao enfraquecimento da
idéia
de cidade na esfera de interesses do trabalho de arte, ao
desaparecimento,
no horizonte da arte contemporânea, da possibilidade de o trabalho
perceber-se
em escala, em relação à cidade.
O tremendo esforço mecânico que se consome na sustentação de duas
pesadas colunas de concreto armado num recinto de estrutura precária e
de dimensões exíguas, evidenciando a incongruência da relação entre
dois elementos
tão desiguais, tal como ocorre em “Saltando de banda”, é um indício
eloqüente dessa situação. A ela decerto corresponde, no pólo oposto, e
um tanto
paradoxalmente, a absorção permissiva e sem resistência das
manifestações
da arte na cidade contemporânea, e a universalização de uma modalidade
de ocupação do espaço que apequena a escala dos trabalhos,
desenraíza-os
e os leva a abordar a cidade como uma constelação de pequenos nichos
privados
e incomunicáveis. Numa visada mais funda, o trabalho depara-se com a
própria
desmaterialização contemporânea da noção de espaço. Não por acaso, nele
peso e gravidade são valores centrais.
A decisão de Thiago Honório, de ocupar a Galeria 10,20 X 3,60 não com a
numerosa produção em desenho a que tem se dedicado nos últimos anos,
mas com uma operação de engenharia envolvendo centralmente, num jogo de
forças e resistências, a estabilidade do prédio da 10,20 X 3,60, já
constitui, portanto, uma tomada de posição. A ação, de caráter
monumental, extremada em face
das dimensões relativamente modestas do local, situa de imediato a obra
numa escala que ultrapassa o retângulo da galeria, num gesto forte de
extroversão. Trata-se, para o artista, de garantir a presença do
trabalho da porta para fora, de fazê-lo comunicar-se com o fluxo da
vida material que corre na
rua, o que não significa que vá intervir no entorno urbano, mas que
esteja
empenhado em mudar drasticamente padrões habituais de escala. É isso
que
o levou a comprimir o interior da galeria, de modo que a extraordinária
reserva
de energia represada naquela situação empurra, necessariamente, o foco
do
trabalho para o exterior, para o sistema de relações que a ação
mobiliza.
As duas estacas de concreto armado instaladas no interior da galeria
pesam 500 quilos cada, têm 4 m de altura (contra um pé direito de cerca
de 4,30 m) e 28 cm de diâmetro, e são sustentadas sem qualquer fixação
no piso, por tirantes presos a uma pilastra de concreto, no alto da
única
parede que de fato pertence à estrutura do edifício – as duas outras
são
painéis de compensado de madeira, completando o retângulo o acesso
envidraçado
da 10,20 X 3,60. As estacas, pendendo fora da posição vertical,
alçando-se
de um incerto ponto de apoio no chão e tendo seu peso suportado pelo
único
componente “sólido” da construção protagonizam, de modo veemente, a
relação
desconfortável, desproporcional, entre o trabalho e a galeria, mas
também
o diálogo exasperado que este mantém com a cidade.
Considerando o desempenho de força e resistência à gravidade que a
obra concentra numa área tão diminuta do mapa da cidade, parece faltar
consistência material e enervação àquilo que se descortina para além
dela
como espaço público. Em vez de acolher o pressuposto tácito da
singularidade
e excepcionalidade daquela pequena galeria no bairro de Santa Cecília,
e a escala intimista que ela parece sinalizar, em vez, afinal, de
percebê-la
a partir de um ponto de vista interno, o trabalho afirma sua própria
exterioridade:
assume-se quase sem mediações formais como um fato técnico de impacto,
posto
para muito além de seus limites físicos – linguagem áspera e impessoal
–
a única capaz de tocar nos interesses que mobilizam a infra-estrutura
da
cidade.
Isso não significa que o trabalho se esgote na literalidade de sua
operação, em sua presença física acabrunhante. O desafio, para o
observador,
é precisamente detectar na economia de procedimentos de “Saltando de
banda”
uma narrativa etérea, de solidão e non sense, como se a obra fosse um
impossível ballet metafísico, em que colunas pálidas e corpulentas, a
que subitamente faltasse o chão, se imobilizassem num vazio lunar,
contidas
apenas pelo ar. É preciso notar que as duas estacas , destituídas de
sua
função estrutural de sustentação, ignoram a premissa da verticalidade
do espaço e a função estática das paredes; estirando ao limite a
possibilidade
de contenção da galeria, forçam o observador a circundá-las em
movimentos
sinuosos e envolventes, recusando-lhe a possibilidade da distância, ou
qualquer visão perspectiva. Rompe-se, assim, o entendimento tácito das
paredes como suportes, ou como lugares passivos de uma pressuposta
“exibicionalidade”
dos trabalhos. A obra reclama uma relação corporal com o espaço.
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Fabio Cardoso
NUAS E CRUAS
12 de março, quarta-feira, às 21h
Galeria Nara Roesler
Av. Europa 655
São Paulo
11-3063-2344
nararoesler@nararoesler.com.br
http://www.nararoesler.com.br
Segunda a sexta, das 11h às 20h; sábados, das 11h às 15h.
Exposição até 5 de abril de 2003
Preços: R$12 a R$22 mil.
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Oscar Niemeyer,
nasceu no Rio de Janeiro em 1907. Freqüentou o Curso de Engenharia e
Arquitetura na antiga Escola de Belas Artes, tendo se diplomado em 1935.
De
sua própria vida e de suas convicções sócio-políticas desenvolveu
diversas atividades paralelas à arquitetura: o desenho, a escultura e
belos textos. Carioca, apaixonado por sua cidade e seu país, escreveu:
(...) "gosto do meu
país; das suas grandezas e misérias; do Rio, das suas praias e
montanhas; dos cariocas, tranqüilos e desinibidos, como se a vida fosse
justa e eles a desfrutavam sem discriminação. Como gosto deste país
imenso! Do Norte ao Sul. Dos mais abandonados a fugirem da seca, sem
casa nem comida, marcados pelo desespero; dos meus irmãos favelados, a
ocuparem os morros com suas revoltas. Como tento desculpá-los quando a
vida os transforma e a justiça dos homens os cerca implacável."
É autor de mais de 500
projetos no Brasil e no exterior. Aos 95 anos, continua trabalhando
intensamente e no momento, após a inauguração do Museu Oscar Niemeyer
(ex-Novo
Museu) em Curitiba, desenvolve novos projetos: Caminho Niemeyer,
Niteroi;
Quadra da Escola de Samba Vila Isabel e Centro Cultural Duque de
Caxias,
Rio de Janeiro; Auditório Ibirapuera, São Paulo; Hyde Park
Pavillion-London, Inglaterra e Auditório-Ravello, Itália.
Inaugurada em São
Paulo, em 1998, no Pavilhão Manuel de Nóbrega (Parque Ibirapuera) a
exposição Oscar Niemeyer 90 Anos, depois de percorrer Rio de Janeiro,
Buenos Aires, Brasília, Lisboa e Paris renovada e intitulada Oscar
Niemeyer: A LEGEND OF MODERNISM estará aberta ao público de 1º de março
a 11 de maio de 2003, no DAM - Deutesches Architektur Museum,
Frankfurt, Alemanha.
Para esta exposição na
Galeria Anna Maria Niemeyer, Oscar Niemeyer apresenta desenhos, croquis
e algumas esculturas que pertencem a mesma série de trabalhos mostrados
em agosto de 2000, na Praia do Leme e comenta:
" Será uma exposição
de croquis, desenhos de arquitetura e crítica política. Algumas
esculturas e texto indispensáveis. Coisas minhas, tão sem importância
como a minha arquitetura. O importante é a vida."
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Andy Warhol
Fauna & Flora
12 a 26 de março de 2003
Museu de Arte Moderna - MAM-Rio
Av. Infante Dom Henrique 85
Parque do Flamengo
Rio de Janeiro 21 2240-4944
Terça a sexta, das 12h às 18h; sábados, domingos e feriados, das 12h às
19h.
Patrocínio: Bank Boston
A exposição que agora chega ao Rio de Janeiro traz um ângulo
aparentemente inusitado da obra de Andy Warhol. O mais famoso artista
pop do planeta costuma ser identificado como ácido cronista visual,
catalisador de imagens eloqüentes da cultura urbana da segunda metade
do século 20, época que soube expressar como poucos. Período marcado
pela ascensão dos valores do consumo exacerbado, cultura massificada e
mitos hollywoodianos.
Warhol vivia em uma megalópole, a milhares de quilômetros de distância
da natureza, longe da observação direta dos campos floridos e dos
animais selvagens que adotou como tema nas duas séries de serigrafias
desta mostra.
As imagens mais imediatamente reconhecíveis do repertório warholiano
tanto podem elevar ao status de arte algumas corriqueiras mercadorias
(sopas em lata e sabão em pó, por exemplo) quanto necropsiar a face
violenta da nossa cultura (a cadeira elétrica ou os acidentes de
carro).
As flores em exibição nesta mostra não foram colhidas de anotações do
real. Fiel à característica mais marcante de seu processo criativo, e
da arte pop em geral, Warhol apropriou-se de imagem fotográfica
recortada de uma revista.
Também são apropriações fotográficas as imagens de animais que serviram
de base para a série Espécies em Extinção.
A série de gravuras Flowers deriva de um conjunto de telas pintadas por
Warhol entre 1964 e 1965. A flor retratada é uma humilde variedade
de hibisco, sintomaticamente denominada de Hibiscus fragilis e
classificada pelos botânicos como espécie em grave risco de extinção.
Não há no planeta mais do que meia centena de exemplares dela.
Ao multiplicar o hibisco em numerosas tiragens de serigrafia, o artista
utilizou a reprodução em série não mais como reflexo e denúncia da
massificação banalizante da contemporaneidade mas como poética
alternativa para a sobrevida da planta. Transformada em arte, ela agora
é eterna. O mesmo resultado
foi alcançado com os animais selvagens, tema que abordou sob encomenda.
Um desses bichos, a águia americana, foi a imagem inaugural da série. A
espécie, que vivia no México e Estados Unidos, está quase extinta.
Os animais e flores de Warhol são totalmente artificiais. O artista
dramatiza essa artificialidade na escolha arbitrária e estridente das
cores, na insistência com que destaca contornos planares e anatomias
sem
espessura. Há uma magistral ironia contida nessa gramática visual. Ela
primeiro seduz pela beleza para depois conduzir à reflexão sobre o viés
perverso do mundo artificial construído pelo homem, a civilização como
origem da devastação ambiental.
Unidas pelo mesmo propósito, as duas séries de gravuras atingem aquela
aflitiva ambigüidade warholiana em que, quanto mais observamos, mais
nos vemos enredados nas duas faces da mesma moeda: para atingir as
retinas embotadas do homem urbano, Warhol precisa literalmente carregar
nas tintas. Para destacar a natureza selvagem precisa lançar mão do
recurso mais sofisticado da civilização: a artificialidade dos códigos
da arte.
As duas séries, no entanto, são formalmente bastante distintas.
Enquanto nas flores predomina um raciocínio alicerçado na pintura, nos
animais o que transparece de imediato é o sólido arcabouço do desenho.
Em Flowers, o talento colorista é o mais evidente. Utilizando uma
única imagem fotográfica como base (matriz) de toda a série, Warhol
cria
várias composições cromáticas que parecem flutuar sobre a imagem
referencial,
distorcendo-lhe os contornos pelo uso de impressões fora de registro.
Uma
das operações utilizadas é a de imprimir por último e levemente
deslocada
a cor que deveria estar no fundo. Outra é a saturação de tinta até
quase
o limite de transformar a forma em mancha. Há harmonias e contrastes
tonais
jogados com habilidade. Para muito além dos objetivos ecológicos,
desponta
então a arte que se sustenta como tal, em termos de superfícies
percorridas
com prazer retiniano.
Já em Espécies em Extinção, a concepção formal gira em torno dos
valores gráficos. Testemunho poderoso da intimidade de Warhol com o
desenho, o traço ágil e leve apenas sugere as formas essenciais da
figura. O artista, referindo-se à vivacidade dessas cores, dizia ter
criado "animais com maquiagem". Novamente nota-se aí o enfoque de
conceitos contrastantes: natural versus artificial, natureza versus
civilização, existência versus simulacro. A "maquiagem" se faz
principalmente pelos grafismos de tons variados mas também pelas bordas
de registro deslocado por vezes de modo radical, como no Elefante
Africano. Recortados sobre fundo neutro ou incorporando fragmentos do
ambiente natural como a textura da grama, os animais de Warhol se
inscrevem com propriedade entre os momentos altos da história da
gravura ocidental. Uma fauna sem qualquer risco de extinção.
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"Ó César, dai-me! Ó César, dai-me! Um pouquinho da bufunfa Que já foi pro Guggenheim!" na Terça de Carnaval em Ipanema, Rio de Janeiro - Fotos de Christina Bocayuva.
Encontro de artistas, críticos & simpatizantes
Política Cultural: qual o
papel das instituições no mercado de trabalho?
Imagens e textos do carnaval
Presença, talvez, do
Secretário de Audiovisual Orlando Senna
Audiência com o Ministro
Gilberto Gil / Vereador Mário del Rei
10 de março,
segunda-feira, às 19h
Escola de Artes Visuais do
Parque Lage
Rua Jardim Botânico 414
Rio de Janeiro 2538-1879 / 2537-7878
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NOVAS ADESÕES AO ABAIXO-ASSINADO
CONTRA O GUGGENHEIM-RIO & POR POLÍTICAS CULTURAIS PARTICIPATIVAS
(Os pontos originais
de nossa convocação: Discordamos dos atos de corte de verbas,
cancelamento de eventos e desmantelamento dos espaços destinados às
artes plásticas; Consideramos urgente e essencial uma prática
democrática por parte dos
representantes da Prefeitura, no sentido de ouvir a classe artística
antes
da tomada de decisões políticas, técnicas e orçamentárias para a área
da
cultura; Somos contra a construção do Museu Guggenheim com o uso
escandaloso
do dinheiro público, já que consideramos que um museu privado deve
instalar-se
com suas próprias verbas; A cultura deve ser usada pela sociedade como
uma
poderosa arma para potencializar mudanças no ensino brasileiro, e não
ser
diluída e alinhada ao nível precário e deficiente de nosso sistema
educacional;
A Prefeitura deve sintonizar-se com a nova realidade política do país,
agindo
de modo democrático e participativo.)
371
Alexandre
Sá artista Rio de Janeiro RJ
372 Alexis Azevedo Morais artista Belo Horizonte MG
373 Amanda Melo artista Recife PE
374 Ana Miguel artista Bruxelas, Bélgica
375 André Komatsu artista São Paulo SP
376 Angela Almeida Sousa Madri, Espanha
377 Angela Freiberger artista Rio de Janeiro RJ
378 Angela Santos artista plástica/paisagista São Paulo SP
379 Beatriz Santos de Oliveira arquiteta Rio de Janeiro RJ
380 Bianca Espinola Rio de Janeiro RJ
381 Carla Linhares artista Belo Horizonte MG
382 Carolina de Arruda Botelho artista São Paulo SP
383 Christina Bocayuva fotógrafa Rio de Janeiro RJ
384 Cleide Wanderley Rio de Janeiro RJ
385 Deise Marin artista Curitiba PR
386 Edneide Torres arte-educadora Recife PE
387 Eduardo Marin Kessedjian fotógrafo São Paulo SP
388 Eide Feldon artista São Paulo SP
389 Eliane Duarte artista Rio de Janeiro RJ
390 Elizabeth Titton artista / prof .de escultura da Escola de
Música
e Belas Artes do PR-Curitiba Curitiba PR
391 Fábio Carvalho artista Rio de Janeiro RJ
392 Guilherme Secchin pintor Rio de Janeiro RJ
393 Heros Kusano artista São Paulo SP
394 Léa Hasson Soibelman artista Rio de Janeiro RJ
395 Leila Franco artista Rio de Janeiro RJ
396 Lilian Fessler Vaz arquiteta e urbanista Rio de Janeiro
RJ
397 Lorena D'Arc Menezes de Oliveira artista plástica,
vice-diretora
da Escola Guignard-UEMG Belo Horizonte MG
398 Marcos PS. Almeida designer Rio de Janeiro RJ
399 Marcus Vinicius Fainer Bastos pesquisador São Paulo SP
400 Mozart Santos Inventor Recife PE
401 Naila el Shishiny artista Rio de Janeiro RJ
402 Natasha Barricelli artista São Paulo SP
403 Paulo Nenflidio artista São Paulo SP
404 Paulo Rafael artista Recife PE
405 Pedro Paulo Domingues artista Rio de Janeiro RJ
406 Rita Gusmão atriz / professora UFMG Belo Horizonte MG
407 Roberto Pereira professor e crítico de dança Rio de
Janeiro
RJ
408 Rodolfo Caesar músico e professor Rio de Janeiro RJ
409 Rodrigo Carneiro Campello jornalista Rio de Janeiro RJ
410 Sebastião Miguel artista visual, professor e gestor
cultural
411 Silney Costa e Silva artista Curitiba PR
412 Tadeu Chiarelli professor São Paulo SP
413 Valéria Dias Barzaghi Toloi arquiteta São Paulo SP
414 Vicente Duque videomaker e produtor cultural Rio de
Janeiro
RJ
415 William Golino historiador Vitória ES
416 Yolanda Freyre artista plástica e museóloga Rio de
Janeiro
RJ
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