MOSTRAS:
A Autonomia do Desenho no MAM, Rio de Janeiro
DA SÉRIE Brasil de Contrastes:
Fórum de Artes Plásticas no MARP, Ribeirão Preto
Reunião sobre a Rede Municipal de Teatros no Sérgio Porto,
Rio de Janeiro
É chegada a hora de enfrentar a subnutrição cultural por Helena Katz
A Autonomia do Desenho
Exposição apresenta de forma
inédita a faceta gráfica das Coleções MAM e Gilberto Chateaubriand
detendo-se sobre desenhos de grandes artistas brasileiros e
internacionais.
17 de janeiro a 9 de
março de 2003
Museu de Arte
Moderna do
Rio de Janeiro
Av. Infante Dom Henrique 85, Parque do
Flamengo
Rio de Janeiro 21 2240-4944
http://www.mamrio.org.br
Terça a sexta, das 12h às 18h; sábados,
domingos e feriados, das 12h às 19h.
Ingressos a R$8 e R$4; na
quarta-feira, meia entrada para todos.
Foi somente após a
segunda metade do século XIX que o desenho começou a adquirir autonomia
estética. Tradicionalmente subordinado à pintura, – sua função, por
excelência, era a de demarcar o espaço, as figuras e as formas do
quadro –, o desenho ganhou novo status com os movimentos modernistas e
a proliferação de revistas ilustradas com charges e caricaturas. Era a
hora de se avaliar seu enorme potencial
expressivo e, em muitos casos, inegável qualidade artística. No Brasil,
pode-se
acompanhar grande parte desta história através dos quase dois mil
desenhos
das Coleções Gilberto Chateaubriand e MAM. O visitante encontrará nas
exposições
uma seleção de desenhos brasileiros que vão do modernismo à arte
contemporânea,
pertencentes à Coleção Gilberto Chateaubriand, e uma série
impressionante
de desenhos de artistas estrangeiros e nacionais do acervo do museu. O
curador
do MAM, Fernando Cocchiarale, destaca o quase ineditismo de se
realizar
exposições que, em conjunto, traçam um panorama abrangente do desenho
no
século XX.
A Autonomia do Desenho ocupará oito salas. Em O Desenho na Arte Moderna
e Contemporânea Internacional estarão expostas mais de 40 obras de
autores internacionais como os franceses Camile Bryen, Hans
Hartung, André Lhote, Henry Michaux, Georges Mathieu e Maria Helena
Vieira Silva, o argentino
Jorge de la Veja e o norte-americano Jorge Oppenheim. Já O Desenho
Moderno Brasileiro: 1917/1950 reúne mais de 50 obras de artistas
brasileiros, que vão dos primórdios do modernismo até os anos 40. O
destaque da mostra fica por conta das seis salas especiais que oferecem
a possibilidade de o público entrar em contato com a obra de alguns dos
ícones do desenho no Brasil. O Desenho de Oswaldo Goeldi conta
com 32 obras do artista, das Coleções MAM e Gilberto Chateaubriand. O
Desenho de Amílcar de Castro presta uma homenagem ao artista
morto recentemente com a reunião de 12 de seus trabalhos, todos da
Coleção MAM. E, dentro de uma sub-divisão Desenho e Nova Figuração
Brasileira, foram criadas quatro salas especiais, com cerca de 70
obras, dedicadas
à produção dos anos 60 e 70 de Antônio Dias, Carlos Vergara,
Roberto Magalhães
e Rubens Gerchman.
A Autonomia do Desenho é mais um importante passo dado pelo MAM no
mapeamento de suas coleções e na tentativa de se solidificar uma
prática curatorial
que foge do óbvio de mostras estritamente históricas, lineares ou
cronológicas, e busca aspectos pouco usuais para explorar o rico acervo
do museu.
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FÓRUM DE ARTES PLÁSTICAS
Em DEBATE A PROPOSTA DE POLÍTICA CULTURAL para o Município de Ribeirão
Preto 2002 / 2020
Aberto aos artistas plásticos e interessados
18 de janeiro, sábado, às 14h30h
MARP - Museu de Arte de Ribeirão Preto
Rua Barão do Amazonas 323
Ribeirão Preto SP 14010-120
Informações: terça à sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 18h, pelo
telefone 16-610-2773.
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REUNIÃO DA CLASSE ARTÍSTICA
Em DEBATE A ATITUDE AUTORITÁRIA DA PREFEITURA DO RIO DE
JANEIRO NA MUDANÇA DA GESTÃO DA REDE MUNICIPAL DE TEATROS formada
por 11 teatros e seis Lonas Culturais: Armazém do Rio, Baden Powell,
Café Pequeno, Carlos Gomes, Carlos Werneck, Dulcina, Glória, Teatro do
Jockey, Maria Clara Machado/Planetário, Sérgio Porto, Ziembinski, Lonas
Culturais Elza Osborne, Carlos Zéfiro, Gilberto Gil, Hermeto Pascoal,
João Bosco e Terra.
Aberto à
classe teatral, de dança, de artistas plásticos, de músicos, e a todos
que se utilizam da Rede de Teatros do Rio para trabalhar.
HOJE, 16 de janeiro, quinta-feira, às 22h30
Espaço Cultural
Sérgio Porto
Rua Humaitá 163
(entrada pela Rua Visconde Silva)
Rio de Janeiro 21 2266-0896
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É chegada a hora de enfrentar a subnutrição cultural
HELENA KATZ
Especial para o Estado
Sexta-feira, 10 de janeiro de 2003
Vamos direto ao ponto. Não há momento mais propício para propor
que, além de inclusão social, se comece a falar, pensar, projetar e
realizar
a inclusão cultural. Quem vive no Brasil tem agora, além de um novo
ministro da Cultura, também novos secretários de Cultura em seus
Estados e, em cidades como São Paulo, também no município - o que
significará a oportunidade de viver uma troca simultânea nos três
níveis de gestão pública da cultura
existentes no nosso país. Essas trocas precisam significar, de fato,
mudança.
Pois que há uma ameaça grave que pode, a médio prazo, dificultar ao
ponto
da inviabilização o exercício da arte brasileira. É urgente esclarecer
os
limites da inclusão social que se utiliza de instrumentos artísticos e
diferenciá-los
do que aqui se nomeia de inclusão cultural.
Artista deve fazer prioritariamente o que sabe, isto é, sua arte e,
evidentemente, ter esse direito assegurado. Essa arte deve poder chegar
aos que dela estão apartados. De fato, ela não chega, mas não por culpa
dos artistas ou da
arte que produzem, mas sim porque os modelos econômicos em vigência
entre
nós produziram hordas de desassistidos, desamparados, desabrigados,
desempregados,
desinformados. Promover a urgente aproximação entre os produtos
artísticos
e aqueles excluídos do seu desfrute significa realizar a inclusão
cultural.
A inclusão cultural começa pelo estímulo ao nascimento de novos modos
de pensar a distribuição do que aqui se produz para fazer chegar aos
que foram postos à margem de tudo aquilo que nos faz cidadãos. Alguns,
pela continuidade dessa situação perversa, nem sequer sabem que também
têm fome de cultura. Não sofremos apenas de injusta distribuição de
renda, mas de injusta distribuição de tudo, inclusive de cultura.
Quando a fome se torna cotidiana, o organismo fica danificado, às vezes
irreversivelmente. Há também subnutrição e desnutrição cultural e tanto
numa fome como na outra, a solução é a mesma, ou seja,
precisa-se buscar modos de promover abastecimento e distribuição
amplos,
gerais e irrestritos. Todo cidadão tem direito a comer três vezes por
dia
e a tomar contato com a beleza e a poesia que estimulam, ao mesmo
tempo,
os sentidos e a reflexão. No Ano 1 da era Lula é indispensável não
esquecer
que a arte tem função social, sim, independente das formas explícitas
de
trabalho de inclusão social que a escolhem como instrumento. Tais ações
sociais são indispensáveis num país como o nosso. Não há cidadão de bom
senso que possa deixar de apoiar e, quando possível, se engajar em tais
iniciativas. Tais empreendimentos devem continuar a ser estimulados mas
não podem substituir a arte enquanto atividade-fim. O emprego de
atividades
culturais como programa de reparação social não deve ser priorizado ou
transformado
em cartilha única do que seja politicamente correto e/ou desejável em
termos
de gestão cultural. Afinal, foi com a música de Gilberto Gil que
aprendemos
que o copo vazio estava cheio de ar e que era preciso acatar o ato do
abacateiro
e toda uma geração aprendeu a pensar melhor na política e na natureza.
Gil
não precisou desenvolver uma atividade destinada especificamente aos
excluídos
para que sua música tivesse tal alcance.
A vinculação da concessão de verbas da cultura para atividades
explícitas de atendimento a populações carentes usando as
atividades-fim (artes cênicas, visuais, música, literatura, etc.) vem
produzindo distorções ameaçadoras. Talvez a mais grave seja a
veiculação subliminar de uma espécie de não-necessidade da arte, que
seria supérflua porque elitista e, assim, mereceria ser punida por tal
pecado. Como se a elitização fosse uma escolha e não um fardo difícil
de se livrar por ser mais um dos resultados continuados dos processos
globais de exclusão praticados no Brasil. Além disso, estimula uma
espécie de redenção via um assistencialismo despreparado porque
aplicado, na maioria, por quem não possui (e não lhe deve ser cobrado)
conhecimento especializado no assunto.
Quando se assiste a um espetáculo de dança, teatro, circo, música,
ópera, quando se vai à uma exposição, quando se lê, se ouve música, se
vai ao cinema, pratica-se uma educação dos sentidos. Entra-se em
contato com idéias que
nos levam a pensar melhor sobre o mundo que nos cerca. Um cidadão que
tem
acesso à produção artística do seu tempo consegue enfrentar com mais
clareza
a complexidade da sua vida e qualifica-se para aprender a reivindicar
melhor
a sua participação na sociedade. A arte é uma estratégia evolutiva que
o
homem desenvolveu para garantir a sua permanência no seu hábitat. Ela é
tão
indispensável quanto a alimentação, a saúde e a segurança. E é
realizada
por trabalhadores especializados, cujo produto final tem enorme poder
de
inclusão social. Para que eles próprios não se tornem o próximo nicho
de
excluídos, devemos implementar a inclusão cultural imediatamente.
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Esperamos que a exemplo da cidade de Ribeirão
Preto do ex-prefeito e atual Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o
Governo Federal abra o debate, e convoque as bases para um diálogo
permanente sobre a Política Cultural Brasileira. Posições políticas e
tecnocratas como esta do Prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, e do
Secretário Municipal de Cultura, Ricardo Macieira, só nos fazem andar
para trás (no tempo, na vida, na arte).
Artista, não deixe de participar dos debates que estão ocorrendo na sua
região!