NESTA EDIÇÃO:
Brandon LaBelle no Ybakatu, Curitiba
Alfândega
0.0 no Armazém do Rio, Rio de Janeiro
José
Tannuri no Museu da República, Rio de Janeiro
Tecendo o
Visível no ITO, São Paulo
Lançamento
do livro Operários na Paulista do MAC-USP no SESI, São Paulo
Estréia
da peça Pai no CCSP, São Paulo
Texto
sobre a NÃO-Política Cultural Brasileira de Yacoff Sarkovas
Brandon LaBelle
Transporte
& Reciclagem (proposta ao prefeito)
Os trabalhos que serão apresentados são áudio-instalações criadas entre 2002 e 2003 a partir de visitas do artista na cidade e na galeria.
15 de janeiro,
quarta-feira, às 20h
Ybakatu Espaço de
Arte
Rua Itupava 414
Curitiba PR 41 264-4752
http://www.ybakatu.com.br
Terça a sexta, das 14h às 19h; sábados,
das 10h às 13h.
Exposição até 1 de fevereiro de 2003.
Agradecimento: Fundação Cultural de Curitiba
Brandon
LaBelle
é artista e escritor de Los Angeles (EUA).
Trabalhando na área de
áudio-performance
e instalação desde 1993, sua produção utiliza o som como uma dinânima
social
e espacial. Através do uso performático de objetos, sons achados e
eletrônica,
o trabalho representa uma pesquisa de formas através da ênfase da
arquitetura
e do etéreo. Seu interesse em site-specific reflete o desejo de
considerar
as relações entre arte e um ambiente social amplo.
Desde o dia 06 de
janeiro o artista ministra a oficina "Instalação Sonora (elementos
alternativos)" na XXI Oficina de Música de Curitiba
dentro do Núcleo de Música Contemporânea, coordenado pelo músico Chico
Mello.
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ALFÂNDEGA 0.0
Adriano Melhem - Alex
Hamburger - André Amaral - Andrei Sakarov - Bob N - Cabelo - Celina
Portella - Centro de Mídia Independente - Clara Zúñiga - Daniela Mattos
- Dido
- Ducha - Fernando de la Rocque - Flávia Costa - Francini Barros -
Gabão
- Gabriel Muzak - Geraldo Marcolini - Gisele Ribeiro - Guilherme Levi -
Guilherme Zarvos - Hapax - Helio 'Scubi' Jenné - Jarbas Lopes - Joana
Csekö
- John Merrick Experience - Jorge Barreto - Julia Traub Csekö - Luis
Andrade
- Marcelo Cidade - Marcia X - Marcio Ramalho - Marilá Dardot e Cinthia
Marcelle - Marssares - Mauricio Negão - Mauricio Ruiz - Newton Goto -
Ricardo Basbaum - Ricardo Ventura - Romano - Ronald Duarte - Rubinho
Jacobina - Suely Farhi - Xico Chaves - Yoav Passy
15 de janeiro,
quarta-feira, de 20h até às 4 da madrugada
Armazém do Rio
Armazém 5 do Cais do Porto
Rio de Janeiro
Ingresso Simbólico Opcional:
R$1,99
Produção: Aimberê Cesar,
Alexandre Vogler, Guga e Roosivelt Pinheiro.
Apoio: Prefeitura do Rio,
Secretaria das Culturas e RIOARTE.
Para não perdermos a
tradição iniciada com o legendário ZONA FRANCA, estamos mais uma vez
lançando um evento multimídia, novinho em folha. Trata-se do ALFÂNDEGA, evento que
revolucionará a zona portuária carioca. Sua versão piloto, contará com a
participação de mais de 50 artistas, entre bandas, performances, dança,
artes plásticas, cinema, vídeo, arte digital, poesia, música
eletrônica, instalações, etc.
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José Tannuri
16 de janeiro,
quinta-feira, às 19h
Museu da República - Galeria
Catete
Rua do Catete 153
Rio de Janeiro 21-2558-6350
Segunda a sexta, das 9h às
17h; sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h.
Exposição até 16 de fevereiro
de 2003.
José Tannuri mostra duas instalações que fazem parte de um
projeto estético que pretende materializar a Linha do Equador através
de obras
de arte. Com o objetivo de questionar a convenção da linha imaginária
que
divide a Terra em hemisférios Norte e Sul, José Tannuri constrói um
elaborado
jogo de sistemas visuais que remete à reflexão sobre temas como
território,
direito, lugar, não-lugar, posse, desterritorialização, sociedade,
raças
e humanidade. "Ao centrar-se na Linha do Equador – linha imaginária que
divide o mundo em dois hemisférios: o pobre e o rico _ Tannuri nos
remete
às questões centrais de toda a arte feita no Ocidente como retrato de
uma
civilização, quer nos seus sistemas culturais, religiosos, raciais e
demográficos",
diz o curador Paulo Reis.
O suporte escolhido por José Tannuri para a materialização da Linha do
Equador é o jornal. O artista usa os jornais dos 10 países cortados
pela tal linha imaginária (Equador, Colômbia, Brasil, Gabão, Congo,
Zaire, Quênia, Uganda, Somália e Indonésia). Nas instalações montadas
para a Galeria Catete, os jornais são colados aleatoriamente e
recortados em uma faixa contínua
que atravessa toda a superfície do espaço. Os elásticos que unem essa
faixa
são tensionados até seu limite, como que nos lembrando das diversas
tensões
para se constituir um sistema de representação cultural.
José Tannuri é carioca, tem 44 anos e é formado pela Escola de Artes
Visuais do Parque Laje há 10 anos. Suas mais recentes exposições foram
em 2002 na galeria Laura Marsiaj Arte Contemporânea/RJ (coletiva) e no
10° Salão Paulista de Arte Contemporânea/SP (Instalação). Em 2001,
realizou
instalações no Salão Arte Pará-Fundação Rômulo Maiorana/PA, na galeria
Laura
Marsiaj Arte Contemporânea/RJ e no 57° Salão Paranaense - MAC
/Curitiba/PR.
José Tannuri recebeu o Prêmio Interferências Urbanas 3ª Ed./RJ em 2001.
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Tecendo o Visível
Alex Cerveny, Alexandre
Nóbrega, Cláudio Cretti, Edith Derdyk, Francisco Faria, Isaura Pena,
Marcelo Solá, Marilá Dardot, Nydia Negromonte, Roberto Bethônico
16 de janeiro,
quinta-feira, às 20h
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima 201
(Entrada pela Rua Coropés)
Pinheiros São Paulo
11-6844-1900
Terça a domingo, das 11h
às 20h, com entrada franca.
Exposição até 9 de março
de 2003.
Mostra que faz parte do projeto Vivências Culturais para
Educadores, iniciativa da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo,
reúne desenhos de dez artistas e evidencia o vigor desta linguagem
ancestral
e inesgotável das artes plásticas
Tecendo o Visível será também espaço de estudo para os professores
da rede pública municipal de ensino, a partir do dia 3 de fevereiro,
quando terão início as atividades do projeto Vivências Culturais para
Educadores que propõe novo modelo para aperfeiçoamento de professores.
A mostra, com curadoria de Agnaldo Farias, ilustra a vitalidade
e o alto nível de experimentação que o desenho propõe. “O horizonte do
desenho hoje, do qual se apresenta uma amostragem sumária, mas
significativa,
onde cada conjunto se destaca por pertencer a uma raiz poética bem
definida, ainda varia entre a tentativa de retenção do visível,
tentativa feita com a consciência de que o signo da coisa não se reduz
à coisa propriamente
dita, ao visível descarnado e reduzido até seus elementos essenciais”,
escreve Farias. Segundo o crítico, o nome da exposição é inspirado no
poema de
João Cabral de Melo Neto, Tecendo a Manhã - uma manhã construída a
partir
de fios de sol irradiados pelos cantos dos galos - pois a mostra, tal
como
sugere o poema, revela que o desenho é capaz de tecer o universo.
Marco introdutório da exposição é a projeção de Marilá Dardot, onde uma
mão escreve uma palavra para imediatamente apagá-la e assim
sucessivamente, numa operação infinita. Segundo Agnaldo Farias,
palavras são desenhos, signos abstratos, estruturas lineares que uma
vez riscadas resplandecem como talismãs. Francisco Faria apresenta
trabalhos que versam sobre paisagens cujas imagens vistas de longe
remetem à fotografia e de perto transformam-se em desenho. Ao lado
deste trabalho, o curador colocou as linhas desenoveladas no espaço de
Edith Derdyk que já não usa o papel como suporte, mas as paredes, os
cantos, a interseção entre parede e piso. O trabalho da artista atua
como
se o visível fosse subtraído até um de seus termos essenciais: a linha.
O conjunto de desenhos de Isaura Pena é capaz de produzir uma série de
ritmo e modulação musicais a partir de círculos negros e opacos em
nanquim sobre papel translúcido.O olho é obrigado a percorrê-los
horizontalmente, oscilando verticalmente a cada passo. De Cláudio
Cretti são os planos
densos e opacos que velam quase por inteiro o branco do papel, como se
a intenção do artista fosse encobrir o campo reservado à expressão com
toda a expressão possível. “O esforço do artista faz-se sentir na
matéria
preta depositada sobre o branco, uma pele cuja homogeneidade cede tão
logo nos aproximamos de cada desenho, revelando-se, ao contrário, uma
topografia acidentada que varia na razão da luz que ela captura do
ambiente”,
escreve Agnaldo Farias. Já Nydia Negromonte explora o próprio suporte,
o papel – redução violenta da madeira ao plano poroso embranquecido por
efeito de uma química aniquiladora – induzindo-o a produzir novas
camadas
ou intumescências, fazendo com que ele respire novamente. O trabalho de
Roberto Bethônico consiste em formas simples, construções pequenas e
emblemáticas,
realizadas com uma ponta seca sobre papel espesso, abrindo sucos
estreitos
e fundos sobre a superfície, coberta por pó de ferro.
Nos desenhos de Alexandre Nóbrega o branco do papel é arena de
expressão e o embate se dá com a intervenção da marca ou do risco,
evidenciando
as infinitas possibilidades que o branco, quando provocado, sugere.
Marcelo Solá é um cultor do desenho em escala diminuta ou monumental,
onde as palavras são presenças basilares e recorrentes. Elas entram no
trabalho do artista não só como narrativa, mas também pela força de sua
materialidade. O trabalho de Alex Cerveny é um amálgama de linhas,
cores, texturas e fragmentos
colados em suportes variados, do papel às páginas arrancadas de um
livro-caixa
antigo, dotado de números, letras e pauta, que interessa apenas porque
foi executado em caligrafia caprichada. “A obra de Alex Cerveny efetua
uma crítica à ordem das coisas visíveis, cujo número limitado o artista
compensa inventando uma mitologia particular”,escreve, ainda, Agnaldo
Farias.
Vivências Culturais para Educadores: Arte/Educação em novo formato
Propor um novo olhar e leituras atualizadas sobre a arte em suas várias
manifestações aos professores da rede pública municipal do ensino
fundamental foi o grande desafio deste projeto criado pelo Instituto
Tomie Ohtake, em arrojada iniciativa da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo, que reunirá, ao longo de seis meses, 4.160
professores. Vivências Culturais para Educadores foi concebido para
atrair, conquistar e sensibilizar seus participantes instigando-os na
formulação de um pensamento artístico de qualidade,
como fonte renovadora do sistema de ensino, capaz de inserir
efetivamente
a cultura em todo o ambiente escolar. “Familiarização com linguagens
contemporâneas, entendimento da relação arte/lazer e convivência em
espaços culturais são as questões que nortearam o desenvolvimento deste
projeto”, declara Ricardo Ohtake, diretor do Instituto Tomie Ohtake.
Os professores irão percorrer, no primeiro semestre de 2003, as Artes
Plásticas, a Literatura, o Cinema, a Música, a Dança e as Artes
Cênicas, pautados por profissionais respeitados e afinados com a
produção contemporânea. Além do Instituto, as atividades acontecem
também no Espaço Unibanco de Cinema, parceiros no projeto para a
realização da proposta de vivência cinematográfica e musical.
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lançamento
do livro
Operários na Paulista
MAC USP e artistas
artesãos
16 de janeiro,
quinta-feira, das 19h às 21h
Galeria de Arte do SESI
Avenida Paulista 1313
São Paulo 11-3091-3033
http://www.mac.usp.br
Preço: R$ 20 (R$15 no
lançamento)
Museu de Arte contemporânea da USP lança o livro Operários na
Paulista – MAC USP e artistas artesãos, primeiro volume da Coleção MAC
USP, que pretende apresentar reflexões e documentos resultantes das
atividades e pesquisas realizadas pelo Museu. A primeira edição da
Coleção MAC USP
acompanha a exposição Operários na Paulista, um painel da produção dos
artistas
que formaram o Grupo Santa Helena. Em 92 páginas, o livro traz os
ensaios
críticos que serviram de base para a exposição, além de textos e
fotografias
que contextualizam o Grupo Santa Helena e imagens das obras e dos
artistas.
Além das curadoras da exposição, Elza Ajzenberg e Daisy Peccinini,
o livro apresenta reflexões de Maria Cecília França Lourenço, Cristina
Freire, Helouise Costa, Lisbeth Rebollo Gonçalves, Kátia Canton, Ana
Cristina
Carvalho, Alice Brill e uma série de críticas escritas por Mario
Schenberg
sobre alguns dos artistas do Grupo Santa Helena.
O lançamento – com a presença dos autores - acontece na Galeria de
Arte do SESI que abriga a exposição Operários na Paulista até o próximo
dia 19 de janeiro. O livro poderá ser encontrado no próprio museu e, em
breve, nas livrarias da EDUSP – Editora da Universidade de São Paulo.
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PAI
Um espetáculo sobre o Brasil
contemporâneo
Para chegar às atrizes da
peça PAI o público terá que percorrer o caminho criado pela instalação
de Siron Franco – que mistura Teresa, as cordas feitas
pelos prisioneiros para a fuga das celas, e fotos de cadáveres plotados
no chão, com cenário sonoro de Túnica Teixeira, e assistir a um vídeo
de cinco
minutos, assinado por Izaías Almada, sobre a descoberta do cemitério
clandestino
de Perus, ao som da música Cálice de Chico Buarque. Ao final da peça
um
novo vídeo de 2min mostra fotos dos desaparecidos no regime militar. Direção de Marcelo Braga
16 de Janeiro,
quinta-feira, 21h
Centro Cultural São Paulo
Espaço Cênico Ademar Guerra
Rua Vergueiro 1000, Liberdade
(Próximo ao Metrô Vergueiro)
São Paulo 11-3277-3611
Temporada até 27 de março de
2003.
Duração: 60 minutos /
Lotação: 80 lugares / Ingressos: R$10 e R$5.
Na peça PAI do escritor e dramaturgo Izaías Almada o público é
confrontado com a história de duas mulheres que perderam um ente
querido, tido como desaparecido político. Um simples telefonema
desperta emoções e lembranças, causando uma transformação na relação de
mãe e filha.
Por se tratar de um tema intimamente ligado à nossa história mais
recente, e ao mesmo tempo expor as conseqüências dos fatos históricos
na vida privada dos cidadãos, a peça traz à tona a discussão sobre o
relacionamento familiar e a consciência social.
O espetáculo não começa no palco, mas sim na entrada do espaço cênico,
onde uma instalação do artista plástico Siron Franco envolve o público
e a cena, criando um clima propício à situação teatral.
Um vídeo jornalístico mostra o Brasil dos anos 60 e 70, memória e
imagem daqueles que viveram essa época, mas, sobretudo uma informação
aos mais jovens, sobre um pouco do que se passou naqueles dias. Um
projeto teatral de recuperação da memória do país.
A palavra do autor
A ação da peça se passa em São Paulo no ano de 1991, ano que – entre
outros da nossa história contemporânea – é para se esquecer. Nele
descobriu-se centenas de ossadas numa parte clandestina do cemitério de
perus, muitas de prisioneiros da ditadura. Usei o fato para escrever
uma peça em homenagem aos desaparecidos políticos do Brasil. Uma peça
que, no meu entender, vai ao encontro de um Brasil que parece renascer
neste início de 2003. um Brasil que se quer sem memória e que muitos
insistiram em calar, seja por interesses meramente pessoais, por
ingenuidade ou má fé ou por sentires vergonha de um dia terem lutado
por ideais que os arautos da exclusão social insistem em dizer que
foram enterrados pela História. A História, contudo,. Faz-se no
dia-a-dia, onde a esperança pode – de fato – vencer o medo e a
covardia. Depois do sucesso de Lembrar é Resistir, apresentada nos
prédios do antigo DOPS de São Paulo e do Rio de Janeiro em 1999 e 2000,
onde já se podia sentir o interesse dos jovens pela nossa história
política mais recente, Pai, retoma, quanto a mim, a trilha de uma
dramaturgia que andava afastada dos nossos
palcos, o drama de conflitos sociais e psicológicos motivados pela
alienação
política. Nos dias que correm, de promissoras esperanças, isto já é um
conforto.
Autor: Izaías Almada
Direção: Marcelo Braga
Elenco: Cinthia Zaccariotto e Claudia Tordatto
Instalação do artista plástico Siron Franco
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Os Caminhos e Descaminhos Culturais do Governo FHC
por Yacoff Sarkovas
publicado no jornal Valor Econômico em 3 de Janeiro de 2003
A oferta cultural, durante os oito anos do governo Fernando Henrique
Cardoso, foi abundante: com a retomada da produção audio-visual,
centenas
de filmes reocuparam parte, ainda que mínima, da cadeia de exibição do
país e reinseriram nosso cinema no mapa-mundi; surgiram diversos
centros
culturais privados, alguns deles administrados e programados com
competência
e recursos que faltam a quase todas as instituições públicas;
mega-casas
de espetáculos foram construídas para abrigar um show biz nacional e
internacional
ávido por grandes platéias; grupos e projetos cênicos independentes
continuaram
florescendo por todo o país garantindo a safra de teatro, dança e
circo;
a rede de artes visuais diversificou-se por circuitos alternativos e
popularizou-se
com mega-exposições que atigiram públicos superiores a campeonatos de
futebol; vicejaram suplementos literários impressos e eletrônicos;
nossa tele-dramaturgia manteve sua qualidade mesmo acossada pela
melo-dramaturgia mexicana; patrimônios históricos urbanos foram
recuperados; a música popular viveu nova onda
de reverência internacional, bafejada pela expansão da world music e a
nova bossa da bossa nova; a música erudita consolidou programas anuais
e atingiu excelência orquestral em uma experiência isolada na paulicéia.
Apesar dessa efervecência na cena cultural, o Ministério da Cultura de
FHC carregará para a história poucos méritos, porque vários destes
processos não foram decorrentes da ação do governo federal e os que
foram, são fruto de improvisação e desperdício.
A exuberância, no varejo, não redime uma grande omissão, no atacado:
em 8 anos de governo, FHC não formulou nem implementou nenhuma política
cultural. Ou seja, faltou o principal: uma visão estratégica do papel
do
Estado no campo cultural de uma sociedade inserida no mundo
globalizado,
traduzida em planos de ações gerais e específicos para os diversos
segmentos
culturais, populacionais, geográficos etc.
O governo FHC nunca teve um projeto de desenvolvimento cultural que
traduzisse seu respeito pela cultura. Acobertou a falta de idéias para
o setor com
um sistema de financiamento baseado na dedução integral no imposto, que
subverteu o princípio elementar do incentivo fiscal, que é o de usar o
dinheiro
público para estimular o investimento privado. Tornou as leis de
incentivo
repassadoras perdulárias do numerário público, condenando o meio
cultural
a peregrinar pelas empresas em busca de recursos do erário que deveriam
estar disponíveis em fundos de financiamento direto.
Há mais de uma década, fatores de mercado induzem as empresas a
associarem suas marcas a ações de interesse público em múltiplos
campos. O patrocínio tornou-se uma estratégia eficaz para atingir
objetivos institucionais,
promocionais e de relacionamento, canalizando recursos de comunicação
empresarial
para projetos comunitários, ambientais, esportivos e culturais. Em
2001,
os patrocínios no planeta movimentaram nestas áreas US$ 23,6 bilhões ,
sem contar os recursos das fundações e instituições empresariais.
Este investimento é impulsionado pelo desgaste da publicidade e da
promoção convencional que requer canais diferenciados e segmentados de
envolvimento; pela valorização das ações que irradiam atributos
desejados pelas marcas; pela expansão do senso de responsabilidade
social nas empresas que beneficia as formas de comunicação éticas e de
efeito residual positivo para os consumidores-cidadãos.
No Brasil, a combinação destes fatores já fazia florescer a
participação empresarial na cultura, antes mesmo da existência do
incentivo fiscal,
implantado pela Lei Sarney, em 1986, sucedida pela Lei Rouanet, a
partir
de 1991, ambas regidas pelo princípio da dedução parcial. Ou seja,
estimulavam
as empresas a investirem recursos próprios, permitindo que uma parcela
do patrocínio fosse resgatada pela redução do seu imposto de renda.
Até que surgiu a Lei do Audiovisual, em 1993, com a surreal alíquota
de 125% de dedução: a empresa não só podia abater integralmente o valor
investido na aquisição de cotas de filmes, como ainda lançá-lo como
despesa,
reduzindo, indiretamente, mais imposto. Por escapar a qualquer lógica,
era evidente que a fórmula foi implantada por ignorância: confundiu-se
dedução
da renda bruta com dedução do imposto a pagar. Mas como a aplicação, na
época, era limitada a 1% do imposto a pagar, a Lei "não pegou" e não
provocou
maiores danos.
Ao assumir em 1994, FHC herdou do governo Itamar o Ministério da
Cultura, antes extinto por Collor, e as duas Leis, até então
inoperantes.
Importante ressalvar que a Lei Rouanet não era uma mera lei de incetivo
fiscal. Ela instituia o Programa Nacional de Apoio à Cultura, com a
finalidade de captar e canalizar recursos para o setor por três
mecanismos: o Fundo Nacional da Cultura - FNC; o Fundos de Investimento
Cultural e Artístico -
FICART e o Incentivo a Projetos Culturais, este sim voltado ao
patrocínio. Ou seja, os formuladores da Lei Rouanet tinham consciência
que um sistema de financiamento à cultura não se sustenta em um único
pé. Primeiro, a Lei estabelecia o princípio do fundo público, o FNC,
essencial para viabilizar ações de mérito cultural que não encontram
abrigo no mercado. Na ponta oposta, estimulava, pelo FICART, as
atividades culturais lucrativas, proporcionando benefícios aos seus
investidores. E por último, oferecia incentivo fiscal para o patrocínio
e a doação privada, na parte da Lei que a tornaria conhecida.
O Ministério da Cultura de FHC manteve o FICART paralisado e não
regulamentou o acesso ao FNC, distribuindo os recursos deste fundo sem
critério e sem transparência. E na falta de programa e planejamento,
apostou todas as fichas no instrumento do incentivo fiscal. Aprimorou
pontualmente sua operacionalidade e ampliou seu limite de aplicação de
2% para 5% do imposto a pagar das empresas. Mas manteve a contrapartida
de recursos da empresa entre 70% e 60%, permitindo a dedução entre 30%
e 40% do valor patrocinado ou doado.
Em agosto de 1996, o MinC de FHC perdeu o rumo definitivamente. Sem
corrigir a aberração da dedução de 125% da Lei do Audiovisual,
colocou-a em movimento ampliando em 200% seu limite de aplicação, que
passou de 1% para 3% do
imposto a pagar. A soma da dedução fiscal com as comissões cobradas por
agenciadores e a revenda dos certificados promovidos legalmente pelas
empresas,
que perceberam que poderiam leiloar suas disponibilidades fiscais entre
os produtores interessados nos recursos, atingia mais de 50% do valor
da
operação. Pela aritmética da Lei do Audiovisual, para que R$ 60 cheguem
ao caixa do filme, se consomem R$ 125 de dinheiro público, sem qualquer
contrapartida privada (vide quadro).
Valor da
operação -
R$ 100
Dedução do imposto a pagar - R$ 100
Dedução como despesa operacional - R$ 25
Gasto de recursos públicos - R$ 125
Comissão para intermediação - R$ 10
Recompra do certificado - R$ 30
Valor final investido no filme - R$ 60
Foi por este
processo irracional que o governo FHC financiou o renascimento do
cinema brasileiro. E o pior estava por vir. Com a Receita Federal
limitando a soma dos incentivos fiscais a 5% do imposto a pagar e a Lei
do Audiovisual consumindo 3% de um número crescente de empresas,
restaram somente 2% para aplicação na Lei Rouanet, que cobria todas as
áreas culturais, incluindo o próprio cinema, que dela também se valia.
Sem referência histórica de financiamento público, nem compreensão da
lógica do patrocínio empresarial, grupos organizados de diversos
segmentos artísticos passaram a pressionar o governo para que a Lei
Rouanet oferecesse dedução integral no imposto. Mesmo ciente das
distorções da Lei do Audiovisual, o MinC decidiu estender seus vícios.
Em 1997 legalizou 100% de dedução
para o patrocínio em quatro segmentos e, em 2001, a praticamente todos
os demais.
Talvez por não dispor de um projeto de desenvolvimento para o setor,
o MinC de FHC renunciou à função de induzir processos culturais. Ao
transferir para as empresas recursos e responsabilidades do Estado,
cometeu múltiplos equívocos: investiu dinheiro público sem a efetiva
garantia de atender
o interesse público; não formou reais investidores privados, pois
ninguém
aprende nada gastando dinheiro alheio; deformou o mercado de
patrocínio,
incutindo na cultura empresarial a isenção sem contrapartida.
É necessário que as empresas apliquem seu próprio dinheiro e tenham a
liberdade de escolher os projetos que melhor atendam seus interesses.
Só assim esse investimento faz sentido. O patrocínio empresarial atende
um número
expressivo de ações, mas não contempla a diversidade e extensão das
demandas
culturais de uma sociedade. Por isso, é fundamental que o Estado
disponha
de linhas de investimento direto.
Assim, o novo governo tem diante de si a tarefa de redesenhar o sistema
de financiamento à cultura e desmontar, cuidadosamente, o modelo em
vigor. Não seria prudente revogar de forma súbita os instrumentos
existentes, uma vez que são a única fonte de financiamento disponível e
possibilitam a realização de centenas de atividades culturais que
envolvem profissionalmente milhares de artistas, intelectuais, técnicos
e administradores.
O fardo de distorções a corrigir é pesado: os investimentos estão
concentrados nos grandes centros econômicos do país e boa parte
beneficia uma parcela pequena da sociedade, mantendo à margem uma vasta
população de excluídos
culturais; dispende-se volumes expressivos de recursos em produções
artísticas
que não circulam e se esgotam em poucas exibições para poucos; a rede
de
instituições culturais públicas está estruturalmente insolvente,
sobrevivendo
com o "caixa dois" das "sociedades de amigos"; o patrimônio histórico e
artístico
nacional padece de sustentabilidade; grupos culturais independentes não
dispõem
de recursos institucionalizados para manutenção, pesquisa e
intercâmbio;
a produção editorial está confinada a uma ínfima rede de livrarias e a
uma
elite de leitores; o modelo de produção audiovisual é cronicamente
inviável.
O sistema perdulário de financiamento do Ministério da Cultura do
governo FHC ao menos re-comprovou nossa fertilidade cultural: em se
plantando,
dá. Os recursos ampliaram expressivamente a oferta cultural e
resultaram
em muitos projetos de qualidade.
O desafio do Ministério da Cultura de Lula será atingir os objetivos
estabelecidos, há mais de dez anos, no Artigo 1º do Programa Nacional
de
Apoio à Cultura:
- "facilitar, a
todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e o pleno
exercício
dos direitos culturais;
- promover e estimular a regionalização da produção cultural e
artística brasileira, com a valorização de recursos humanos e conteúdos
locais;
- apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e
seus respectivos criadores;
- proteger as expressões culturais dos grupos formadores da sociedade
brasileira e responsáveis pelo pluralismo da cultura nacional;
- salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar,
fazer e viver da sociedade brasileira;
- preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural e
histórico brasileiro;
- desenvolver a consciência internacional e o respeito aos valores
culturais de outros povos ou nações;
- estimular a produção e difusão de bens culturais de valor universal
formadores e informadores de conhecimento, cultura e memória;
- priorizar o produto cultural originário do País."
Como se vê, não há muito mais o que prometer. Só a fazer.
Yacoff Sarkovas
Presidente da Articultura Comunicação
e consultor de patrocínio empresarial
volta ao topo
Recebi do MinC a notícia de que o Ministro da
Cultura, Gilberto Gil, estava propondo "um grande mutirão da cultura
contra a fome e a miséria no Brasil". O ministro, que participou da
Caravana contra a
Fome em três cidades pobres no nordeste brasileiro, afirmou que é
possível
fazer uma mobilização de todos os artistas brasileiros para atender ao
chamamento do presidente Lula. O comunicado começa assim, e
termina com "o Brasil precisa de reformas políticas e medidas
estruturais, mas essas coisas pedem tempo, não acontecem da noite para
o dia. Quem tem fome tem
pressa e nós não podemos ficar apenas esperando. Temos de nos
movimentar",
esclareceu.
Sim, acredito que nós artistas tenhamos condições de dar uma enorme visibilidade ao FOME ZERO, e entendo que a área profissional de atuação do Ministro o leve a ter mais facilidades nesta área. E, entendo também que reformular políticas e legislação não são coisas fáceis. Mas será que não dá para rolar um tudo-ao-mesmo-tempo-agora? Não dá para termos uma divisão de tarefas que nos permita cuidar de ambas as urgências: a FOME e a FALTA DE TRABALHO? Vamos então fazer dois mutirões. O primeiro cuida de espetáculos e eventos para ajudar nas campanhas, e o segundo faz um Fórum Nacional para discutir as Leis de Incentivo, e também outras idéias que possam incrementar os vários mercados de cultura neste país. Pode ser?
E enquanto isso, não se esqueça de contribuir para a nossa campanha de assinaturas. Por uma semestralidade bem em conta, além de você receber notícias de todo o Brasil, ainda experimentamos novas formas de sustentar iniciativas artísticas.
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