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PE/RJ/RS/SP/Austrália Rodolfo Mesquita na Amparo 60 / Projeto Respiração na Fundação Eva Klabin
ANO 12 - N. 29/ 30 DE ABRIL DE 2012

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AGENDA DE EVENTOS
Danielle Carcav na Dumaresq, Recife
Rodolfo Mesquita na Amparo 60, Recife
Projeto Respiração: Maria Nepomuceno e Sara Ramo na Eva Klabin, Rio de Janeiro
Ricardo Becker na Galeria Laura Alvim, Rio de Janeiro
Juliana Kase + Renata Tassinari na Galeria Pilar, São Paulo
Dione Veiga Vieira no Goethe-Institut, Porto Alegre
CIRCUITO Marking Time no Museum of Contemporary Art Australia, Austrália
COMO ATIÇAR A BRASA
Por um fio de vida por Angélica de Moraes, Istoé
Lançamento traça panorama artificial e reducionista da arte do país no século 21 por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
México exibe retrospectiva do artista brasileiro Ernesto Neto por Fernanda Mena, Folha de S. Paulo

Danielle Carcav na Dumaresq
Danielle Carcav, Hora do almoço, 2009

Mês da artista
Danielle Carcav

2 a 31 de maio de 2012

Dumaresq Galeria de Arte
Rua Professor Augusto Lins e Silva 1033, Boa Viagem, Recife - PE
81-3341-0129 ou arte@dumaresq.com.br
www.dumaresq.com.br
Segunda a sexta, 9-18h; sábado, 9-13h

Leia o texto de Carolina Salles

Leia o resumo na agenda
english

Enviado por Beta beta@dumaresq.com.br
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Rodolfo Mesquita na Amparo 60
Rodolfo Mesquita, Mulher nua e figura em carro de mão, 2007

Rodolfo Mesquita

Curadoria de Clarissa Diniz

3 de maio, quinta-feira, 20h

Amparo 60 Galeria de Arte
Av. Domingos Ferreira 92A, Boa Viagem, Recife – PE
81-3033-6060 ou galeria@amparo60.com.br
www.amparo60.com.br
Segunda a sexta, 10-13h; 14-19h; sábado, 10-14h
Exposição até 2 de junho de 2012

Sobre a exposição

Leia o resumo na agenda
english

Enviado por Mariana Oliveira marianasoliveira@uol.com.br
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Projeto Respiração na Fundação Eva Klabin
Sara Ramo

15ª edição do Projeto Respiração
Maria Nepomuceno e Sara Ramo
O que não tem fim nem tem começo

Curadoria de Marcio Doctors

3 de maio, quinta-feira, 19h

Fundação Eva Klabin
Av. Epitácio Pessoa 2480, Rio de Janeiro - RJ
21-3202-8554/8550 ou cultura@evaklabin.org.br
www.evaklabin.org.br
Terça a domingo, 14-18h
Exposição até 1 de julho de 2012
Ingresso: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (estudantes e acima de 60 anos)

Sobre o evento
Leia o texto de Marcio Doctors

Leia o resumo na agenda
english

Enviado por Marcos Noronha marcos@cwea.com.br
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Ricardo Becker na Galeria Laura Alvim
Ricardo Becker, Vento abrigo, 2012 [penetrável]

Ricardo Becker
Projeto Cisco

Curadoria de Fernando Cocchiarale

2 de maio, quarta-feira, 19h

Galeria Laura Alvim
Av. Vieira Souto 176, Ipanema, Rio de Janeiro - RJ
21-2332-2017 ou lauralvim@gmail.com
Terça a domingo, 13-21h
Exposição até 17 de junho de 2012

Leia o resumo na agenda
english

Enviado por Meise Halabi meisehalabipr@gmail.com
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Juliana Kase na Galeria Pilar
Juliana Kase, Contencao II

Renata Tassinari na Galeria Pilar
Renata Tassinari, Amarelos

Juliana Kase
Andamentos para lugar sem sombra

+

Renata Tassinari
A pintura na caixa

2 de maio, quarta-feira, 19-23h

Galeria Pilar
Rua Barão de Tatuí 389, Santa Cecília, São Paulo - SP
11-3661-7119 ou info@galeriapilar.com
www.galeriapilar.com
Terça a sábado, 11h-19h
Exposição até 16 de junho de 2012

Leia o resumo na agenda: Juliana Kase / Renata Tassinari
english / english

Enviado por Sofia Carvalhosa Comunicação sofiahc@uol.com.br
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Dione Veiga Vieira no Goethe-Institut
Dione Veiga, Do Mar Purpúreo, 2012

Dione Veiga Vieira
Mar Purpúreo

2 de maio, quarta-feira, 19h

+

Performance de Laura Cattani

2 de maio, quarta-feira, 20h

Goethe-Institut Porto Alegre - Galeria
Rua 24 de Outubro 112, Porto Alegre - RS
51-2118-7800 ou programm@portoalegre.goethe.org
www.goethe.de/portoalegre
Segunda a sexta, 10h-20h; sábado, 10h-16h
Exposição até 9 de junho de 2012

Leia o resumo na agenda
english

Enviado por Mônica Schreiner - Goethe-Institut Porto Alegre prog@portoalegre.goethe.org
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Marking Time no Museum of Contemporary Art Australia
Rivane Neuenschwander, Um dia como outro qualquer

CIRCUITO
Marking Time
Daniel Crooks, Edgar Arcenaux, Elisa Sighicelli, Gulumbu Yunupingu, John Gerrard, Jim Campbell, Katie Paterson, Lindy Lee, Tatsuo Miyajima, Rivane Neuenschwender, Tom Nicholson

29 de março a 3 de junho de 2012

Museum of Contemporary Art Australia
140 George Street, The Rocks NSW 2000 - Australia
+61-2-9245-2400 or mail@mca.com.au
http://www.mca.com.au
Segunda a quarta, 10h-17h; quinta, 10h-21h; sexta a domingo, 10h-17h

Leia o resumo na agenda
english

Enviado por Stephen Friedman Gallery info@stephenfriedman.com
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COMO ATIÇAR A BRASA
Por um fio de vida

Matéria de Angélica de Moraes originalmente publicada na seção artes visuais da Istoé em 13 de abril de 2012.

Porto Alegre expõe o sempre surpreendente Arthur Bispo do Rosário, 23 anos depois de o ex-marinheiro ser revelado ao circuito da arte

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO: A POESIA DO FIO/ Santander Cultural, Porto Alegre/ Até 29/4

Para que serve a arte? A pergunta atravessa a história da civilização e já ocupou filósofos, semiólogos e uma enorme gama de intelectuais de todas as épocas. Uma das respostas mais cristalinas, daquelas que satisfazem o coração, e não apenas o intelecto, foi dada por um ex-marinheiro, boxeador e lavador de bondes, que acabou seus dias como interno da Colônia Juliano Moreira, instituição carioca dedicada a doentes mentais crônicos. Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), na solidão da cela, desfiava o uniforme azul e, com esse fio da cor do céu, envolvia os objetos do seu entorno e bordava estandartes, mantos e casacos. Classificava famílias de coisas. Construía pequenos navios embandeirados. Com o Manto da Apresentação, queria ser enterrado, para estar vestido com a história de sua vida ao chegar à presença de Deus.

Do mais fundo desamparo e abandono, Bispo do Rosário extraiu e teceu sua razão de viver, sua classificação detalhada do que entendia ser o mundo e a transcendência dele. Não conhecia Marcel Duchamp, mas, em processo análogo ao do grande artista e teórico da arte do século XX, usou objetos prontos (ready mades, na expressão emblemática para a arte contemporânea). Um conjunto emocionante desses objetos foi reunido na mostra individual em cartaz no mezanino do Santander Cultural de Porto Alegre. Um dos destaques é o Manto da Apresentação. Mesmo o mais cético e agnóstico visitante não deixará de se emocionar com essa bela e livre concentração de bordados, entrelaçamento de fios e signos que configuram a representação da existência de alguém que se manteve humano e capaz de articular desejos e objetivos mesmo diante do diagnóstico de insano. Reunindo fragmentos, de dentro e de fora de si próprio, Bispo do Rosário justificou em profundidade a função da arte.

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COMO ATIÇAR A BRASA
Lançamento traça panorama artificial e reducionista da arte do país no século 21

Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 16 de abril de 2012.

"Pintura Brasileira Séc. XXI" parte de um pressuposto conservador: traçar o panorama da produção nacional a partir de uma técnica, não por acaso a mais valorizada pelo mercado.

Desde o início da arte contemporânea, a partir de meados dos anos 1950 e 1960, tal procedimento é recorrente.

Após artistas ampliarem o entendimento do campo artístico, retorna-se à discussão do suporte, como a pintura, para a manutenção de uma reserva de mercado corporativa.

Como afirma o curador Paulo Herkenhoff no catálogo da mostra de Lygia Pape, em cartaz na Estação Pinacoteca, "elencar técnicas pode ser hoje uma solução retórica que quase sempre substitui a problematização dos fenômenos de arte da expansão do campo linguístico".

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COMO ATIÇAR A BRASA
México exibe retrospectiva do artista brasileiro Ernesto Neto

Matéria de Fernanda Mena originalmente publicada no caderno Ilustrada no jornal Folha de S. Paulo em 24 de abril de 2012.

"O Brasil não faz, mas o México fez", brincava o carioca Ernesto Neto nas últimas horas de montagem da mostra panorâmica de seus 25 anos de produção artística, aberta no último domingo na capital mexicana.

A brincadeira, no entanto, revela um desencanto comum entre artistas brasileiros contemporâneos: reconhecidos internacionalmente, eles são objeto de grandes exposições na Europa, nos Estados Unidos --e recentemente também no México-- que não chegam ao Brasil.

"São muitos os artistas brasileiros que tiveram suas primeiras grandes mostras panorâmicas fora do Brasil, como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Cildo Meireles, Lygia Pape e, agora, Ernesto Neto", enumera Adriano Pedrosa, curador da mostra mexicana "La Lengua de Ernesto Neto" (a língua de Ernesto Neto).

Ele reuniu mais de cem obras (esculturas, instalações e desenhos), algumas inéditas, em 2.000 metros quadrados do Antiguo Colegio de San Ildefonso, espaço mantido pelo governo federal num edifício do século 18, no centro da Cidade do México.

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TEXTOS DO E-NFORME
Texto - Carolina Salles

"Ao investigar a memória introspectiva de cada um, Danielle Carcav nos convida a adentrar na infância. Debruça-se sobre o passado lançando mão de suas próprias lembranças ou de vivencias alheias. Porém, mais do que revisitar pegadas já amareladas pela passagem do tempo, interessa-lhe construir um território psicológico, formado por imagens que assinalam um momento fugidio ou evidenciam um acontecimento iminente  - embora já presente - assim como o silêncio que antecipa uma fala reveladora. Engana-se, entretanto, quem espera encontrar uma infância idílica, paraíso perdido de outrora. Aqui, o paradoxo é companhia constante e o medo e as perversidades da meninice brincam de mãos dadas com o afeto e a imaginação particular dos primeiros anos. Com maestria, a artista provoca uma fenda na lógica crescida do universo adulto e nos convida a experenciar o estar no mundo livre do senso crítico que nos amordaça à medida que somos inseridos no jogo social. Capturados pelo seu traço, nos permitimos borrar os limites entre a fantasia e a realidade, entre o sonho e o devaneio num dialogo que nos aproxima do realismo mágico do escocês Peter Doig e sinaliza que o avesso da razão não é o absurdo, apenas poesia."

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Rodolfo Mesquita ocupa a Galeria Amparo 60

Depois de quase dez anos sem realizar uma mostra individual (sem título), o artista pernambucano Rodolfo Mesquita volta à Galeria Amparo 60. A exposição, que tem curadoria de Clarissa Diniz, vai apresentar sua produção mais recente, basicamente formada por pinturas em papel e MDF e desenhos. Os trabalhos exibidos denunciam o processo de transformação de sua obra, que parece ter esgotado seus personagens e narrativas e, em contrapartida, ter investido no crescimento da espacialidade de suas pinturas. Outro aspecto importante é como o espaço de seus trabalhos é, muitas vezes, instável. Até meados dos anos 1990, o trabalho de Mesquita estava às voltas com um esforço de engajamento social, mas aos poucos foi se direcionando para outro foco. Ostextos que ofereciam chaves de leitura de caráter habitualmente crítico e social; a paulatina ênfase sobre situações eminentemente corriqueiras, o surgimento de personagens menos demarcados e o crescente protagonismo do fundo diante da figura são aspectos que demonstram essa mudança, reforçando que a obra de Rodolfo Mesquita tem se lançado, atualmente, em um vazio-pleno.

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Projeto Respiração – Intervenção “O que não tem fim nem tem começo”

As artistas Maria Nepomuceno e Sara Ramo são as convidadas da 15ª edição do Projeto Respiração – Intervenção “O que não tem fim nem tem começo”, que abre no próximo dia 03 de maio, para convidados, e no dia seguinte para o público. Com curadoria de Marcio Doctors, o Projeto Respiração propõe, desde 2004, diálogos da arte contemporânea com o acervo da Fundação Eva Klabin, que cobre 50 séculos, da antiguidade ao modernismo.

“Há sempre uma negociação entre o artista e a casa, e é dessa negociação que surgem os trabalhos”, explica Marcio Doctors. “A casa é muito generosa com os artistas, e absorve bem todos os trabalhos, que ganham destaque”.

A ideia de convidar Maria Nepomuceno (Rio, 1976) e Sara Ramo (Madri, 1975), destacadas artistas de sua geração, foi a de “trazer duas linguagens muito distintas entre si, que percorrem diferentes caminhos”, observa o curador. “A contemporaneidade não busca a unidade da forma; busca formas nômades que se metamorfoseiam, e é isso que me interessa”, diz.

MARIA NEPOMUCENO – PULSO
Marcio Doctors sempre quis que o jardim, projetado por Burle Marx, fosse ocupado, e conta que ao pensar em Maria Nepomuceno viu essa chance. “Sempre achei que faltava natureza em torno de seu trabalho, e também faltava um artista que fizesse uma intervenção no jardim da Fundação”. A artista resolveu aceitar o desafio e criou uma obra para o lago, e propôs também ocupar a Sala Renascença, transformando o salão principal da casa em uma imagem que pulsa em azul. A intervenção é composta de grama artificial azul que recobrirá todo o piso, e formas feitas por contas e cordas sintéticas costuradas, na mesma cor, que se entrelaçarão aos móveis e objetos do acervo. “Nunca havia visto trabalhos dela nessa dimensão. É uma grande visão”, pontua o curador. Ele diz ter gostado muito de saber que, no encontro da artista com os índios Kashinawas – tribo situada no Rio Jordão, no Acre, visitada por Maria Nepomuceno, em março desse ano, por conta do edital de artes visuais da Funarte – eles perguntaram a ela sobre a origem de seu trabalho. “Perguntaram quando ela teria tido a visão dele. Achei perfeito. Foi isso o que ocorreu quando ela viu a Sala Renascença. Ela teve uma espécie de visão; como se tivesse vislumbrado alguma coisa. O princípio do seu trabalho é a espiral, que, como indica Louise Bourgeois, é a única figura geométrica, que pode ao mesmo tempo conter e expandir-se infinitamente. O que a intervenção “Pulso” (título dado pela artista ao seu trabalho) propõe é ocupar a casa, começando no jardim e entrando na Sala Renascença em um movimento de expansão como uma galáxia expiralada”.

SARA RAMO – PENUMBRA
Ao visitar a Fundação Eva Klabin, a artista se interessou pelo fato de a colecionadora trocar o dia pela noite, e isso a levou naturalmente a escolher o quarto de dormir, o closet e o banheiro – justamente as partes da casa reservadas ao universo da intimidade – para fazer a sua intervenção. O curador comenta que ao conversar com a artista percebeu que seu interesse era pelo lado hipnagógico da realidade, “esse momento entre o sono e a vigília, em que as imagens dominam a nossa mente e ficamos como que prisioneiros de um estado de passagem entre o mundo da realidade e o mundo dos sonhos”. “A obra de Sara Ramo é um ótimo contraponto ao trabalho solar da Maria Nepomuceno”, diz. Ele observa que Sara Ramo trabalha com a desnaturalização do cotidiano, transformando coisas banais em fatos surpreendentes. E é isto que ela está trazendo para a casa-museu de Eva Klabin, ao povoar o quarto com seus sonhos. Ela opera com as camadas subterrâneas das imagens, como se quisesse capturar o momento de sua emergência no mundo da realidade.

Sara Ramos diz que sua ideia “é que tudo esteja em penumbra, e que o espectador tenha que deixar sua visão habitual e se acostumar aos poucos, como em um quarto escuro quando acordamos e não distinguimos muito bem a natureza das roupas empilhadas. O que ele vai encontrar são situações pouco usuais e absurdas como a mudança dos móveis, vultos estranhos, esculturas espaciais que vamos mais adivinhar do que realmente ver”.

Ela ressalta que tem dificuldade em definir seu trabalho. “É um caminho, algo que se repete e muda ao mesmo tempo, uma experimentação com o espaço, os objetos”. Sara Ramo diz que seu interesse é que o espectador o habite: “que o faça seu”.

MARIA NEPOMUCENO – BIOGRAFIA RESUMIDA
Nascida no Rio, em 1976, Maria Nepomuceno já realizou treze exposições individuais, das quais oito internacionais, desde sua primeira mostra solo na galeria A gentil Carioca, em 2006. Depois da exposição na Fundação Eva Klabin, Maria Nepomuceno se dedicará a sua nona individual fora do Brasil, e a primeira em uma instituição inglesa, a Turner Contemporary. Lá ela fará uma grande instalação chamada "Tempo para respirar", e pretende criar uma ponte entre a tribo dos Kashinawas e a população de Margate, na Inglaterra, onde está a Turner Contemporary. A instituição lançará, no final do ano, um livro sobre o trabalho da artista. Em setembro, ela participará de uma coletiva no Grand Palais, em Paris, composta por 16 artistas mulheres, entre elas Shirin Neshat, Rosemarie Trockel e Valerie Belin.

Ela esteve, em março desse ano, na tribo dos índios Kashinawas, no Rio Jordão, no Acre, para onde foi ao ser contemplada pelo edital de artes visuais da Funarte. Admiradora da cultura indígena, uma das referências do trabalho de escultura que faz hoje, ela realizou lá um hapening junto aos Kashinawas, com a bola “AMOR”, trabalho que integra a série de proposições artísticas que desenvolve com a cineasta Louise Botkay, e que já havia feito na praia do Leme em 2003, e no bloco Cordão do Bola Preta em 2006.

Começou a estudar arte aos 14 anos em cursos livres de desenho, pintura, escultura e teoria na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e tem como curso superior Desenho Industrial. Há alguns anos, dedica-se principalmente à escultura. Suas obras estabelecem uma relação entre o corpo e a natureza do micro ao macrocosmos, e trançam as memórias de suas próprias origens e experiências, promovendo o encontro entre presente passado e futuro.
Em 2010 as obras da Maria foram expostas nas individuais: "Always in a spiral", no Museu Magasin 3, em Estocolmo; "New Work", Galeria Victoria Miro, Londres; na Art Basel Fair (Statements), Basel, Suíça. Também nas mostras coletivas “Touched” Galeria Lehmann Maupin, Nova York ; “A Gentil Carioca” IFA institut, Berlim, e IFA Institut, Stutgart, Alemanha; Frieze Art Fair, em Londres, entre outras. Outras individuais foram “Respiro”, na Galeria A Gentil Carioca, Rio (2006); Temporada de Projetos do Paço das Artes, São Paulo (2008); “Afectoflux”, Galeria Greve Karsten, Paris (2008); Volta Art Fair, Nova York (2009); Galeria Karsten Greve, Colônia, Alemanha (2009); “Esfera Dalva”, Galeria A Gentil Carioca, Rio (2009).
Entre as coletivas de maior destaque estão “A Gentil Carioca”, Daniel Reich, Nova York, EUA (2006); Salão da Bahia, Museu de arte Moderna Salvador – Prêmio Aquisição (2006); Galeria Studio Guenzani, curadoria de Rodrigo Moura, Milão (2007); “Conecting Thread”, Galeria Karsten Greve, Paris (2008); “Blooming” Florescendo Brasil, Toyota Museum of Contemporary art, Nagoya, Japão (2008); Salão do Paraná, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Paraná (2008).
SARA RAMO – BIOGRAFIA RESUMIDA
Nascida em Madri, em 1975, Sara Ramo se divide entre a capital espanhola e Belo Horizonte. Realizou seus estudos na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Entre algumas de suas exposições individuais se destacam “La Banda de los Siete”, no Espacio de Arte Contemporáneo, em Montevidéu (2011); “Simetrias”, na Galeria Estrany-de la Mota, em Barcelona, Espanha (2010); e “Movable Planes”, na The Photographer’s Gallery, Londres (2009). Entre as exposições coletivas estão “The Near and the Elsewhere”, na PM Gallery & House, Londres (2012); “H BOX: (Loops)”, Art Sonje Center, Seul (2011); 29a Biennal de São Paulo/ Há sempre um copo de mar para um homem navegar, Brasil (2010); “Fare Mondi // Making Worlds...”, 53 Biennale di Venezia, Itália (2009), e “Los Impoliticos”, PAN – Palazzo delle Arti Napoli, Nápoles, Itália (2009).

SOBRE O PROJETO RESPIRAÇÃO
O Projeto Respiração constrói uma ponte entre a arte contemporânea e o acervo da Fundação Eva Klabin, que cobre 50 séculos de história da arte. Artistas contemporâneos são convidados a criar intervenções especialmente para o espaço da casa, estabelecendo relações com as peças do rico acervo. Já participaram do projeto, em edições anteriores, os artistas Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Brígida Baltar, Carlito Carvalhosa, Chelpa Ferro (Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler), Claudia Bakker, Daniela Thomas, Enrica Bernardelli, Ernesto Neto, João Modé, José Bechara, José Damasceno, Lílian Zaremba, Marta Jourdan, Nuno Ramos, Paulo Vivacqua, e os portugueses Daniel Blaufuks e Rui Chafes.

A COLEÇÃO
A Fundação Eva Klabin possui um acervo com obras que remontam do Egito Antigo ao Impressionismo. As obras de arte, divididas por núcleos pelos espaços da casa, refletem a paixão da colecionadora Eva Klabin (São Paulo, 1903 – Rio de Janeiro, 1991) que reuniu um dos mais importantes acervos de arte clássica dos museus brasileiros, com mais de duas mil peças, procedentes de quatro continentes e cobrindo um arco de tempo de quase cinqüenta séculos.
Um dos destaques da exposição são as pinturas holandesas e flamengas do século XVII, o “século de ouro da Holanda”, com retratos, paisagens e uma natureza-morta de artistas como Govaert Flinck, Gerard Ter Borch, Willem Dubois, Herman Nauwincx, Hercule Seghers e Philips Wouwerman.
A coleção tem preciosidades da arte italiana dos períodos Renascentista e Barroco, com pinturas e esculturas de grandes mestres como Tintoretto, Bernardo Strozzi, Lucca e Andrea della Robbia, Benedetto da Maiano, entre outros. Outras atrações são objetos procedentes da Ásia, do Egito Antigo, da América pré-colombiana e da Europa.

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O que não tem fim nem tem começo
Marcio Doctors

O Projeto Respiração tem surpreendido no sentido de ter proposto algumas combinações inusitadas de artistas, em uma primeira aproximação, nem sempre compreensíveis ou de associação imediata e transparente. Mas, para além do discurso repetitivo das diferenças (já amplamente incorporado) da globalização, da multiplicidade e das misturas pós-modernas, é possível um pensamento que indique um substrato comum, que deve ser evidenciado pelo exercício perceptivo do curador, que não apazigua as diferenças, mas, ao contrário, as reinstaura na sua potência e ajuda a quebrar o raciocínio simplista e redutor que vem predominando na prática artística, que confunde a diferença com o inusitado.

O que busco evidenciar, então, para além do discurso das “diferenças democráticas”, quando proponho juntar duas artistas tão distintas entre si, como Maria Nepomuceno e Sara Ramo? Ao que me refiro quando escrevo substrato comum? Minha resposta é simples: o substrato comum é a liberação do campo da experiência. Mas que tipo de experiência? A simples experimentação pela experimentação? Não. O que me interessa é o plano da experiência como o lugar do acontecimento da liberdade. Da mesma maneira como quando Mário Pedrosa enuncia “a arte como exercício experimental da liberdade”. É no plano da experiência que a liberdade é possível, não como um valor subjetivo ou objetivo, nem como livre arbítrio, mas como um fluxo que permite a percepção do mundo como imanência. É através da potência da arte que conseguimos nos conectar de forma direta, sem intermediações ao “substrato comum”, que é o plano da experiência, e descobrir a imanência como o lugar onde, aí sim, a multiplicidade explode e nos faz perceber a densidade da existência. Por isso que as variações infinitas da forma não interessam como forma em si, mas como o vislumbrar de que ação e percepção são inseparáveis. E que, por essa razão, a forma na arte não se refere à ficção de uma subjetividade que imprime (ou molda) a matéria segundo as leis da forma ou aos impulsos da subjetividade, mas corresponde à percepção de que aquilo que denominamos subjetividade de um artista (ou seu estilo) não é outra coisa senão um desvio no tempo, uma densificação da ação e da percepção, conjugada à imaginação de uma singularidade atravessada pela sua posição no momento / instante em que atravessa o mundo. Com isso a forma torna-se passageira, no sentido de que é sempre a enunciação de sua transformação e por isso também a forma pode definir uma época, que corresponde a distintas densificações de ações e percepções de um dado tempo.

O que me levou a aproximar essas duas artistas foi a possibilidade de revelar os deslocamentos que a vida produz no plano da experiência, pelas contingências da vida de cada um, e que engendram a diferença como emergência da liberdade. Não se trata de formas diferentes, mas de localizações diferenciadas no plano da experiência que instauram obras distintas. Na realidade, o que impulsionou a 15ª edição do Projeto Respiração foi a pergunta sobre o campo comum que pode sustentar as diferentes possibilidades de manifestação da obra de arte.

Maria Nepomuceno e Sara Ramo fazem emergir, através de suas ações, pontos de densificação distintos no plano da experiência.

Para Maria Nepomuceno o fazer (tátil artesanal) é fundamental. É esse elemento que faz sua obra pulsar. Por isso denominou Pulso sua intervenção, referindo-se tanto ao pulso como uma parte do corpo humano importante no movimento do fazer das mãos, como também a pulso de pulsação das forças do universo. Ela parte de estruturas simples – a linha (as cordas) e o ponto (as miçangas) que, costuradas em forma de espiral, permitem que ela construa planos, que se desdobram em superfícies topológicas, que tendem à expansão infinita. Há no seu trabalho um movimento de contração e expansão. A contração é o próprio fazer e delimita o espaço e propicia a expansão, que é o território que está aquém e além do seu fazer e que se remete aos fluxos da natureza e da cultura. Por isso, ao entrarmos no seu trabalho, podemos ter a sensação de estar suspensos no espaço sideral, de uma quase ficção científica (como na Sala Renascença); ou em contato com formas da natureza que nos remetem às culturas dos povos indígenas ou do artista dito popular (como no Jardim). A artista busca, a partir de uma estrutura orgânica de uma forma que se metamorfoseia, dar conta dos fluxos da natureza e da cultura do nosso entorno, dando expressividade à questão entre o que é local e o que é global.

No segundo andar da Fundação está Sara Ramo, que ocupa o Quarto de Dormir, o Closet e o Banheiro, a área mais íntima da casa-museu de Eva Klabin. O ponto de densificação, onde sua ação e sua percepção se cruzam, é o cotidiano. É a partir dele, das pequenas ocorrências do dia a dia, que a obra de Sara Ramo se constitui, mergulhando no universo da imaginação, ao revelar revolvendo camadas de sensações que fazem emergir imagens de estranheza daquilo que nos parece natural. Assim que visitou a casa, visando à intervenção, o que lhe chamou a atenção foi o fato de Eva Klabin trocar o dia pela noite; de viver na penumbra e não na luz do Sol, numa cidade solar. O lugar da penumbra é também quando estamos mais próximos do sono, imersos nas fantasias hipnagógicas. É dessa sensação que surge a intervenção Penumbra, como se víssemos aquilo que normalmente não podemos ver quando as pessoas dormem. Nas palavras da artista: “essa parte da realidade que acontece enquanto dormimos”. Sara Ramo traz à superfície um cenário que revela camadas da realidade às quais só temos acesso na nossa intimidade e que, ao serem reveladas, criam um deslocamento que dá a dimensão real daquilo que nos aparece irreal. Ela desencadeia uma percepção fílmica ao revelar o negativo da casa, do museu e da manhã.

A proposta da 15ª Edição é a de radicalizar aquilo que de fato já acontece no Projeto Respiração: querer surpreender ou identificar, a partir das intervenções dos artistas, o processo da diferenciação, que é a chave do fazer artístico e que nos possibilita aproximar de um substrato metafísico não transcendental, que dá a espessura do existir. Ao enfatizar o território da casa-museu de Eva Klabin como plano de experiência, a relação sujeito-objeto é desmistificada, evidenciando a ação e a percepção como os elementos capazes de criar localizações no real que revelam a especificidade daquilo que é singular. O processo da arte trata disso.

Tanto a ação / percepção que a obra de Maria Nepomuceno manifesta no mundo, ao buscar a aproximação das forças da exterioridade com vistas à totalidade das energias cósmicas, partindo da mão que faz para atingir a dinâmica da natureza e da cultura; quanto a ação / percepção desencadeada através da obra de Sara Ramo, que parte do banal do cotidiano e nos dá a dimensão da vida na imensidão da intimidade, são um convite a entrarmos num mundo que não tem fim nem tem começo, onde o real pulsa na sua radicalidade imanente.

Marcio Doctors é curador da Fundação Eva Klabin

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