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www.canalcontemporaneo.art.br
ANO 8 - N. 124 / 5 DE NOVEMBRO DE 2008

NESTA EDIÇÃO:
Laura Erber na Novembro, Rio de Janeiro
Chang Chi Chai na 90, Rio de Janeiro
Nomadismos e territorializações na Matias Brotas e na Espaço Universitário, Vitória
Projeto Nova Arte Nova: Palestra com Briony Fer no CCBB, Rio de Janeiro
Roberto Magalhães no Canal Brasil/Globosat
CURSOS E SEMINÁRIOS
Aulões na Escola de Artes Visuais, Rio de Janeiro
Grupo de estudos com Shirley Paes Leme na FASM, São Paulo
Ciclo de Debates Olhos Vendados no CEEE e Pinacoteca do Instituto de Artes da UFRGS, Porto Alegre
SALÕES&PRÊMIOS  Selecionados XII Salão de Artes de Natal
CANAL INFOS&LINQUES





Laura Erber

O funâmbulo e o escafandrista

6 de novembro, quinta-feira, 19h

Novembro Arte Contemporânea
Rua Siqueira Campos 143 sobreloja 118, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
21-2235-8347 ou novembroarte@uol.com.br
www.novembroarte.com
Terça a sexta, 12-19h; sábados, 11-15h
A Novembro Arte Contemporânea produziu o site www.novembroarte.com/catalog_funambulist, que oferecerá ao espectador uma outra experiência da descoberta das imagens que compõem a exposição
Exposição até 10 de janeiro de 2009

Sobre a exposição

Enviado por Marcos Noronha marcos@cwea.com.br
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Chang Chi Chai

Devolver ao Sonho

6 de novembro a 31 de dezembro de 2008

Galeria 90 Arte Contemporânea
Rua Marquês de São Vicente 90 / 101-B, Gávea, Rio de Janeiro - RJ
21-2529-6588
Segunda a sexta, 14-19h; sábados, 12-17h

Sobre a exposição

Leia o texto Devolver ao sonho (ou uma iconologia das mediações), de Marisa Flórido

Enviado por Raquel Silva raquelsilva@alternex.com.br
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Nomadismos e territorializações
João Wesley de Souza, Júlio Tigre, Miro Soares, Monica Nitz, Paulo Vivacqua, Raphael Bianco, Raquel Garbelotti, Regina Rodrigues, Ricardo Maurício, Vilar

Curadoria de Lincoln G. Dias

7 de novembro a 18 de dezembro de 2008

Galeria Matias Brotas Arte Contemporânea
Av Carlos Gomes de Sá 130, Mata da Praia, Vitória - ES
27-3327-3344 / 6966 ou matiasbrotas@matiasbrotas.com.br
www.matiasbrotas.com.br
Segunda a sexta, 10-19h; sábado, 10-15h

Universidade Federal do Espírito Santo - Galeria de Arte Espaço Universitário
Av Fernando Ferrari 514, Goiabeiras, Vitória - ES
27-33352370
Segunda a sexta, 8-18h

Enviado por Matias Brotas matiasbrotas@matiasbrotas.com.br
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Projeto Nova Arte Nova
Palestra com Briony Fer

6 de novembro, quinta-feira, 18h30

Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março 66, Centro, Rio de Janeiro - RJ
21-3808-2020 ou ccbbrio@bb.com.br
www.bb.com.br/cultura

Enviado por novaarte.mi novaarte.mi@terra.com.br
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Segunda temporada da série Catálogo
Roberto Magalhães no Canal Brasil/Globosat

6 de novembro, quinta-feira, 20h15

Canal Brasil - Globosat Canal 66 NET
www.globosat.globo.com/canalbrasil

Catálogo é uma série criada e dirigida por Marcos Ribeiro e irá ao ar no Canal Brasil Globosat - 66 na NET. Os programas dão voz ao artista que revela seu processo de criação, mostra seu ateliê, suas obras e expõe sua visão da arte e são reprisados em horários diversos durante a semana.
Produção: Tv Imaginária Produções
Reapresentação: 7 de novembro, sexta-feira, 6h30

Enviado por Marcos Ribeiro mardear@terra.com.br
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CURSOS E SEMINÁRIOS
Aulões na Escola de Artes Visuais, Rio de Janeiro

6 de novembro – Escultura, Espaço, Paisagem, Nelson Felix
13 de novembro – Katie van Scherpenberg
4 de dezembro – Redes Virtuais - relações entre arte, tecnologia e o sublime, Giodana Holanda

Escola de Artes Visuais
Rua Jardim Botânico, 414, Jardim Botânico
Rio de Janeiro - RJ

Os aulões são aulas abertas, oferecidas a todos os alunos da EAV, com o objetivo de complementar sua formação. Têm entrada franca e abordam aspectos da arte considerados relevantes e de interesse de todos.

Informações:
21 2538-1091 / 2538-1879
www.eavparquelage.org.br

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CURSOS E SEMINÁRIOS
Grupo de estudos com Shirley Paes Leme
Sobre instalação e suas multiplicidades

Inscrições abertas
Os interessados devem enviar curriculum para pos-graduacao@fasm.edu.br até 5 de novembro de 2008

Faculdade Santa Marcelina
Rua Dr. Emilio Ribas 89, Edifício Monsenhor Biraghi, 3º andar, sala 332, Perdizes, São Paulo - SP
11-3824 5800/5808 ou fasm@fasm.edu.br
www.fasm.edu.br
Início: 12 de novembro de 2008
Horário: quartas, 19h

O grupo tem como proposta estudo direcionado sobre conceitos de instalação, site especific installation, instalação total, e earthworks trabalhando conceitos de espaço, tempo e lugar através das heterotopias

Publique seu comentário no Cursos e Seminários

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CURSOS E SEMINÁRIOS
Ciclo de Debates Olhos Vendados
Participantes: Ana Albani de Carvalho, Elaine Tedesco, Glaucis de Morais, Lenora de Barros, Lucas Bambozzi, Marco Arruda, Mariana Silva da Silva, Neiva Bohns, Ricardo Carioba

20 de novembro e 4 de dezembro de 2008

Centro Cultural CEEE Erico Verissimo
Rua dos Andradas 122, Porto Alegre - RS

Pinacoteca do Instituto de Artes da UFRGS
Rua Senhor dos Passos 248 / 1° andar, Porto Alegre - RS

Realização: Fundação Vera Chaves Barcellos

Veja a programação e publique seu comentário no Cursos e Seminários


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SALÕES&PRÊMIOS
Selecionados XII Salão de Artes de Natal
Alexandre Gurgel - Instalação
Edizia Lessa - Fotografia
Ilkes Rosemir - Desenho - Prêmio Aquisição
Jean Sartief - Fotografia - Prêmio Aquisição
Jean Souza Lopes - Fotografia
Kelton Wanderley - Arte Digital
Leandro Garcia - Arte Digital
Luiz Élson Dantas - Desenho
Manoel Fernandes Neto - Fotografia
Mariana Zulianelli - Arte Digital
Ricardo Serqueira - Pintura
Rodrigo César Cortez - Fotografia
Sofia Porto - Gravura
Tiago César S. Lima - Fotografia - Prêmio Aquisição
Vicente Vitoriano - Desenho
Zé Frota - Fotografia

Comissão de seleção: Eugênio Mariano, Everardo Ramos, Fernando Cocchiarale, Max Gurgel, Rodrigo Braga

Fundação Cultural Capitania das Artes
Rua Câmara Cascudo 434, Cidade Alta, Natal - RN
84-3232-8226
XII Salão de Artes de Natal: 13 de novembro de 2008 a 28 de fevereiro de 2009

Saiba mais e publique seu comentário no Salões & Prêmios

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TEXTOS DO E-NFORME

Laura Erber na Novembro

A Novembro Arte Contemporânea apresenta, a partir de 06 de novembro, a exposição “Laura Erber – O funâmbulo e o escafandrista”, com trabalhos da artista feitos em Paris, em 2007, durante um período de residência no Le Recollets, com uma bolsa da Prefeitura da capital francesa. São duas instalações multimídia e um conjunto de objetos que interrogam o impulso para a morte em suas manifestações ambivalentes e oblíquas. “Todos os anos, o Rio Sena recebe cerca de 180 corpos na região parisiense. Muitos deles retornam à superfície, alguns com vida, outros não. E os que não retornam se mesclam aos objetos que são ali despejados todos os dias, apodrecem juntos, conforme o ritmo de cada matéria. De geladeiras a estatuetas voodoo, o rio acolhe o que foi preterido. Corpos sem nome, objetos sem dono, dejetos, rebotalhos”, conta a artista.

A vídeo-instalação que funciona como eixo do trabalho é um tríptico com imagens feitas no Sena, com três projeções simultâneas sobre a parede, com 21 minutos de duração, em loop, com som. A outra instalação é composta por seis televisões, cada uma contendo um vídeo diferente, com durações variadas. Os vídeos mostram entrevistas feitas pela artista com dois oficiais da Brigada Fluvial parisiense, o diretor de teatro Pierre Antoine Villemaine, e o escultor Selim Abdullah, nascido em Bagdá, e criado próximo ao Rio Tigre. Outros vídeos mostram exercícios de leituras de textos do poeta de origem romena Ghérasim Luca (1913-1994), um dos objetos de estudo da artista. Esses vídeos terão fones de ouvido e as entrevistas serão legendadas. Haverá ainda dois objetos – animais transformados e taxidermizados – e uma colagem/desenho feita com dentes de coelho.

Os trabalhos de Laura Erber têm como ponto de partida dois suicídios no Rio Sena no século XX – um na última década, outro na primeira. No dia 03 de março de 1994, o corpo de Ghérasim Luca chega ao Instituto Médico Legal, após ter sido retirado do Sena pela Brigada Fluvial. Nos livros de Ghérasim Luca, “L’inventeur de l’amour e La mort morte”, ambos de 1945, o suicídio é tema recorrente, como forma de aniquilar o temor à morte por meio de sua possessão erótica. Em 1901, chegou ao Instituto Médico Legal de Paris o corpo da jovem a quem os franceses se referem como a “Desconhecida do Sena”, espécie de mito criado em torno da morte de uma garota com uma inquietante expressão de gozo no rosto. O seu estranho sorriso teria impressionado o médico legista a ponto de ele encomendar um molde em gesso do seu rosto. Réplicas da máscara da “Desconhecida” marcaram presença nos domicílios franceses até os anos 1950-60, intrigando muitos escritores e artistas. Maurice Blanchot, que possuía uma réplica da máscara diante da mesa de trabalho, contava que Giacometti (artista suíço, 1901-1966) vivia à procura de uma jovem capaz da mesma coragem, da mesma busca de gozo no encontro com a morte.

Fascínio e terror

Laura Erber ressalta que não pretende uma “apologia do suicídio”, mas antes trabalhar um tema que causa fascínio e terror. "O suicídio cria uma intimidade profanadora com a morte. Intimidade que é também abolição do limite que mantém vida e morte afastadas". “Não quis cristalizar o mito do poeta suicida”, diz ela referindo-se a Guérazim. “A questão é mais ardilosa”, ressalta, lembrando que ele não tinha 20, mas 81 anos quando morreu. O poeta, através de um humor corrosivo, propunha encenações da morte, em uma relação erótica, como força criativa contra a paralisia diante do medo que se tem da morte, como uma forma “de devorá-la”.

Ao ser indagada sobre a relação das imagens dos vídeos e os textos de Ghérasim, Laura Erber observa que “alguns, ou vários, dos meus trabalhos surgem da tensão/turbulência geradas pela leitura”. Para ela, o ato de leitura é “algo que vai muito além da interpretação, e demanda um gesto, uma entrega sensual, um outro modo de acessar o texto”. “Sou bastante contrária à idéia de simples tradução ou adaptação da matéria verbal para o campo visual”, ressalta. “O que me interessa são imagens que surgem de um certo embate com o texto, de uma leitura tensa e também intensa. Me interesso muito pelas possibilidades reverberativas de uma obra na outra, de uma linguagem na outra, de umartista no outro. Desta forma, o processo criativo revela um jogo de forças em tensão, ou seja, o interesse e a admiração pela escrita do outro, no caso Ghérasim, o abismamento nessa escrita, mas também a possibilidade de uma recriação em que a diferença e a tensão sejam incluídas; e possam talvez (tomara) ser medidas pelo olhar do receptor”.

Laura Erber cria uma abertura paródica por meio de imagens cúmplices da intimidade com a morte. Intimidade que se manifesta nos objetos que o rio devolve, no trabalho cotidiano dos escafandristas, nas fantasias de uma possível Lady Lazarus que reencena a própria morte como costumam fazer as crianças em certos jogos. Nestes vídeos, o Rio Sena é encarado como uma espessura ao mesmo tempo cênica, plástica e simbólica. O olhar ora recua, ora se deixa capturar pelos encantos, pela potência criativa do horror.

“A Bela Diacronia 1 e 2”, os objetos que vêm se juntar aos vídeos – um rabo de peixe que termina numa cabeça de coelho, e um peixe travestido em pássaro testando suas asas –, reafirmam a idéia de que o encontro com a morte “não deve ser entendido aqui como fechamento simbólico, mas como um índice de mutação, um princípio dinâmico que convida a outro consumo dos signos que a morte libera”. É essa a idéia que atravessa toda a exposição como um tremor que perturba e altera as formas de vida, fazendo surgir corpos que já não cabem dentro de seus limites físicos e que por isso se desfazem, inventam para si uma saída, uma outra plasticidade. As múltiplas projeções simultâneas enfatizam o acaso e sua capacidade de criar combinações inusitadas nas quais a construção de sentido já não se dá do mesmo modo que na montagem clássica. Em diferentes camadas visuais, diferentes texturas e materialidades, surgem também outros pactos entre o ficcional, o documental e o performático.

Website do projeto “O funâmbulo e o escafandrista”

A Novembro Arte Contemporânea produziu o site www.novembroarte.com/catalog_funambulist, que oferecerá ao espectador uma outra experiência da descoberta das imagens que compõem a exposição. O site, desenvolvido pela artista junto com o designer Marcos Wagner, foi pensando como um catálogo que, ao deixar a folha impressa para explorar a elasticidade do espaço virtual, intensifica a possibilidade de combinação entre imagens – agora pelas mãos do espectador – evidenciando o caráter fragmentário das seqüências de imagens e do sentido inacabado que mobilizam.

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Chang Chi Chai na 90

A Galeria 90 Arte Contemporânea inaugura a individual da artista sino-brasileira Chang Chi Chai. Será apresentado um conjunto de trabalhos feitos especialmente para o espaço da galeria. São oito pinturas em grande formato, dois grandes painéis, uma vídeoinstalação, uma projeção e 10 pinturas pequenas.

Entre os trabalhos, destacam-se a videoinstalação em que um mecanismo construído com o tambor de um revólver, faz repetir, a cada frame do antológico beijo entre Burt Lancaster e Deborah Kerr, em A um passo da eternidade, o estampido de um tiro, remetendo as pulsões e paixões humanas. Outra obra de grande impacto é o vídeo de Asas construídas com pólvora queimando, projetadas sobre um livro folheado a ouro. As pinturas de paisagens a têmpera-ovo sobre ouro, são uma técnica bizantina utilizada a séculos no oriente.

As obras da artista utilizam os materiais que marcam trabalho: pólvora e ouro, madeira e água, papel e têmpera a ovo. Chang utiliza a pólvora em seus trabalhos desde 1997, e procura com isso alertar para a necessidade de se conviver com diferenças e que esse convívio dificilmente deixa de ocorrer como conflito. A pólvora foi criada para as festividades e celebrações da vida, e teve sua função desvirtuada para a destruição e a morte. A ação de queima da pólvora pela arte pretende uma espécie de alquimia que a um só tempo desenhe e anule, com fogo, os conflitos e os desastres, devolvendo a pólvora ao universo a que um dia pertenceu: ao universo dos sonhos. O ouro também faz parte da simbologia da artista, na medida em que seu valor não se altera ao longo dos séculos e por isso é objeto de cobiça, ele exagera os conflitos.

Para Marisa Flórido, que assina o texto curatorial da exposição, os signos usados por Chang: anjos, grous, pontes, flores sagradas, ventos e mares, “são signos de ligação, intermediação, passagem. Poderíamos arriscar que Chang Chi Chai compõe, nesta exposição, uma iconologia das mediações. Mas uma iconologia em que se entrecruzam signos de várias culturas e elementos naturais, técnicas e materiais de tempos e lugares diversos. Afinal, Chang é chinesa brasileira ou carioca nascida na China, sua compreensão das palavras, das artes, da vida, encontraria, no confronto das culturas, a coexistência e a solidão dos mundos, seus exílios e suas contaminações.

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Devolver ao sonho (ou uma iconologia das mediações)

MARISA FLÓRIDO

Quem, se eu gritasse, entre a legião dos
anjos me ouviria? E se um deles me tomasse
inesperadamente em seu coração, aniquilar-me-ia
sua presença demasiado forte! (..) Todo anjo é
terrível!
Rainer Marie Rilke
Elegias de Duíno

Talvez um anjo. Vemos apenas as asas desenhadas em pólvora seca nas páginas de um livro aberto. Fogo ateado, labaredas correm em direção ao encontro das asas e das páginas como se o anjo ensaiasse sua Fuga. Como se, pela dobra – fronteira em que as páginas se espelham e a palavra sonha ser o duplo do mundo - escapassem as Vozes, os Anúncios, as Promessas. O anjo, mensageiro da instância do terrível como diria Rilke, encontra o silêncio das páginas emudecidas. Línguas de fogo em evasão, rastros e cicatrizes sobrevêm na pele de papel. São testemunhas de êxtases e aniquilamentos. A Beleza? “Esse grau do terrível que os humanos podem suportar”, disse o poeta.

Certamente um grou, ou dois. Aves migratórias, pássaros do paraíso. Para os orientais, signo de longevidade e renovação. As aves miram-se, especulares, no encontro dos quadros em uma dança suspensa, o ritual que evocaria a potência dos vôos e das viagens. Estão envoltas em flores sagradas e plantas alucinógenas: ficus religioso, cannabis, lírios, narcisos, papoulas, flores de lótus...Veículos de iniciação aos domínios do sagrado, de acesso às revelações. Pintadas à têmpera-ovo sobre folha de ouro em madeira, tecem sobre o díptico um paraíso labiríntico. Medievo às avessas, que promessas ainda podem nos trazer as frontalidades pictóricas, as epifanias artificiais?

Uma ponte. Apenas flutua sobre as águas da Lagoa carioca, talvez à deriva. Com ela, o olho gravita, sem ancoragem, sem fixação, como na pintura de paisagem de tradição oriental. Pura passagem, puro devir, pura miragem de quem a contempla da terra firme. Hiato entre mundos, a ponte é um ponto branco marcando-se por contraste com o vazio, o céu e o mar. Presença sutil, solitária e concisa, parece apagar-se ante os elementos: os ventos, as águas, as montanhas, o cosmos.

Os elementos. As águas e os ventos, as ondas e as nuvens. Na aceleração destes tempos sem densidade, circulam as imagens pelas mídias e as informações pelas redes eletrônicas, as mercadorias e o capital global. Indiferentes à velocidade do capital e da informação, circulam, todavia, os ventos e as águas. Trazem, decerto, notícias de fora, com suas temporalidades adiadas, com seu lento aproximar. Ondas e nuvens formam um mosaico aberto, sujeito a combinações variáveis. Difícil perceber, pelo traço semelhante que as desenha, de fundo também oriental, as delicadas passagens de uma imagem a outra, de um estado a outro da matéria.

Anjos, grous, pontes, flores sagradas, ventos e mares são signos de ligação, intermediação, passagem. Poderíamos arriscar que Chang Chi Chai compõe, nesta exposição, uma iconologia das mediações. Mas uma iconologia em que se entrecruzam signos de várias culturas e elementos naturais, técnicas e materiais de tempos e lugares diversos. Afinal, Chang é chinesa brasileira ou carioca nascida na China, sua compreensão das palavras, das artes, da vida, encontraria, no confronto das culturas, a coexistência e a solidão dos mundos, seus exílios e suas contaminações. Valendo-se de diferentes meios, desde pintura a vídeoinstalações e maquetes, os materiais e as técnicas que utiliza dialogam com a alta carga poética de seu repertório iconográfico: pólvora e ouro, madeira e água, papel e têmpera a ovo, são empregados e interrogados em sua espessura simbólica atravessada pelos séculos, pelas misturas e mudanças de sentido.

Devolver ao sonho. A frase que intitula a mostra é emprestada de um comentário de Fernando Cocchiarale sobre as invenções chinesas, como a pólvora, o papel, a bússola, as pipas. “Invenções voltadas para o sonho”, disse-nos o crítico. E é desse modo que devemos entender o uso que Chang faz da pólvora desde o ano de 1997. Criada para as festividades e celebrações da vida, a pólvora teve sua função desvirtuada para a destruição e a morte. A ação de queima da pólvora pela arte pretende uma espécie de alquimia que a um só tempo desenhe e anule, com fogo, os conflitos e os desastres, devolvendo a pólvora ao universo a que um dia pertenceu: ao universo dos sonhos.

Paisagens cordiais, pintura em que se cruzam a tradição oriental da paisagem e as técnicas da iconografia do ocidente, é desenhada com pólvora sobre madeira folheada a ouro. Na paisagem chinesa, o ritmo e o traço linear do pincel determinam a obra e seu espaço flutuante sugerido por uma visão progressiva. Os contornos das montanhas, das águas e dos seres do políptico de Chang seguem o ritmo cardíaco da artista, reproduzem a ecografia de seu coração, as acelerações e os picos de seu batimento. Cordial, do latim medieval, “relativo ao coração”. Paisagens cordiais transcende fronteiras entre mundos e afetos e reverte violências em cordialidades.

Ou paixões. Burt Lancaster e Deborah Kerr beijam-se apaixonadamente na praia. A tensão sexual, que emana da antológica cena do filme A um passo da eternidade, incitaria os desejos e sonhos de várias gerações. Um mecanismo de pré-cinema, construído com um tambor de revólver, faz repetir, ao movimento de rolagem do cilindro, cenas do filme. No lugar das balas, os fotogramas dos momentos anteriores ao antológico beijo. O beijo em suspenso, o que se repete acentua a tensão explosiva da sexualidade antes da consumação. Eterno retorno sempre a um passo dos gozos e dos júbilos da carne. Todo beijo é terrível.

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