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Cursos no Atelier Rio Comprido / O Estatuto da Pintura na Arte Contemporânea no Santander Cultural
ANO 3 N. 92 / 28 de julho de 2003




NESTA EDIÇÃO:
Mário Cravo Neto e Rosângela Rennó no CCBB, Rio de Janeiro
Iberê Camargo na Pinacoteca, São Paulo
O Estatuto da Pintura na Arte Contemporânea no Santander Cultural, Porto Alegre
A Verdade de Luiz Aquila na TVE, Rio de Janeiro
Cursos no Atelier Rio Comprido, Rio de Janeiro

Alfabeto Visual: Contra os que ainda são do contra por Rubens Pileggi Sá

 



Mario Cravo Neto

Na terra_sob meus pés
Curadoria de Ligia Canongia


Rosângela Rennó

Arquivo universal e outros arquivos
Curadoria de Adriano Pedrosa



29 de julho a 21 de setembro de 2003

Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março  66
Centro   Rio de Janeiro
21-3808-2020
Terça a domingo, das 12h30 às 19h30.

Rosângela Rennó
Arquivo universal e outros arquivos
Curadoria de Adriano Pedrosa


Uma das mais celebradas artistas contemporâneas brasileiras — representando o Brasil na Bienal de Veneza, ao lado da pintora Beatriz Milhazes — esta mineira radicada no Rio é uma fotógrafa que raramente fotografa. Rosângela se apropria de álbuns de família, arquivos públicos e privados, retratos para identidade e fichas penitenciárias, deslocando antigas fotografias de seus lugares de origem para que eles revelem novos sentidos subjetivos, históricos e sociais.

Os retratos da artista não têm a pompa do retrato de outros tempos, como as telas renascentistas.  E podem aparecer em muitos suportes além do papel (vidro, vídeo, grandes painéis), mas provocam, igualmente, um certo estranhamento no espectador.  Revisitando antigos arquivos, é como se a artista remexesse num cemitério de imagens, trazendo à tona fantasmas escondidos há muitos tempos: novas possibilidades de leitura de um mesmo retrato negligenciadas pelo curso da história oficial. Tanto no grupo de trabalhos batizado de Obituários (1991) quanto em obras mais recentes, como a Série vermelha (2001), que esteve em Veneza, ou Espelho diário (2001/2002) a artista está sempre lidando com a memória, o esquecimento e a identidade.  Também há uma relação com a história da fotografia, que não é citacionista (Rosângela não faz uma mera apropriação de fotos famosas), mas um diálogo. Em vários trabalhos, a artista usa e comenta diversas modalidades de retrato – o retrato burguês, tradicional, posado e até, ironicamente, a antítese do retrato para fins de identificação, ou seja, as fotos das cabeças dos presidiários, vistas por trás, do arquivo do Museu Penitenciário Paulista. A recuperação de antigos arquivos também serve para trazer à tona identidades e histórias esquecidas ou postas em segundo plano. Para criar este mecanismo, a artista muitas vezes usa o texto em contraste com a imagem, não necessariamente provenientes do mesmo repertório.  A foto de um soldado do século XIX pode, por exemplo, aparecer ao lado de uma notícia de jornal dos dias de hoje. O que importa é a associação de idéias.

Na série Obituários, ela lidava com a eliminação da diferença entre os rostos para carteiras de identidade, recuperados em estúdios populares de retrato do centro da cidade. Ao mostrar o contraste entre a pose do indivíduo fotografado e o seu subseqüente “anonimato” –já que os negativos das imagens eram destinados ao lixo – aponta para os mecanismos de “desidentificação” produzidos pela própria sociedade. Em Humorais (1993/1994), trabalhou a partir das teorias galênicas sobre os tipos classificatórios. Galeno era o nome pelo qual era conhecido o médico grego Nicon de Pérgamo (131-200), que acreditava que o humor humano era regido por quatro substâncias: sangue, fleuma, bile amarela e bile negra. Para fazer a série, Rosângela associou retratos de anônimos aos crimes listados no Código Penal Brasileiro, tomando por base as tipologias humanas criadas por Galeno. Em Imemorial (1994), recuperou, do Arquivo Público do Distrito Federal, 50 retratos de operários da construção de Brasília, entre trabalhadores mortos e crianças. Os retratos foram ampliados em negro sobre fundo negro e só podiam ser vistos de determinado ângulo. Com a série, a artista apontava para um episódio de amnésia histórica, milhares de vidas perdidas num esforço desmesurado para construir a capital idealizada por JK. A descoberta da identidade e da subjetividade também aparece em Cicatriz (1996/97) e Vulgo (1998), trabalhos feitos a partir da recuperação de algumas centenas dos  cerca de 10000 negativos de vidro do Museu Penitenciário Paulista. Entre os anos 20 e 40, a Penitenciária do Estado de São Paulo criou um vasto arquivo de identificação, nos moldes dos sistemas de documentação criminal europeus do século XIX, possivelmente associados às teorias positivistas de tipologias criminais.

Em Vulgo, a artista destaca em vermelho os redemoinhos e cicatrizes das cabeças dos presos. O redemoinho é tão individual e intransferível quanto a impressão digital, diferente em todos os indivíduos. Identidade e história pelo lado dos vencidos, dos esquecidos.

A Série vermelha (2000/2003), incluída na exposição do CCBB, compreende 16 retratos de militares, vaidosos em seus uniformes, ou crianças vestidas com uniformes de inspiração militar. Suas imagens são parcialmente veladas, como se estivessem sendo apagadas, sob um véu vermelho, cor de sangue, dos humores exaltados, cor da guerra.. “A Série Vermelha é um comentário sobre a tendência bélica da humanidade. Ao fazer com que os militares desapareçam no vermelho, é como se eu tingisse a inocência da imagem deles”, diz a artista. Com o trabalho, Rosângela afirma a impossibilidade de uma imagem neutra. E tenta mostrar que todo retrato é uma identidade construída. O questionamento da fotografia como “verdade” ou mera reprodução mecânica e química da “realidade” é uma das marcas da fotografia contemporânea que aparece não só na obra de Rosângela, mas de outros artistas brasileiros, como Miguel Rio Branco, Arthur Omar e Vik Muniz, e estrangeiros, como a americana Cindy Sherman.

O CCBB também apresenta uma espécie de falso auto-retrato da artista, numa obra em vídeo que é um híbrido de instalação e performance. Em Espelho diário (2001), a artista encarna uma série de Rosângelas. As personagens foram inspiradas em histórias reais de mulheres com o mesmo nome da artista, recolhidas ao longo de meses em notícias de jornal. Esse trabalho foi realizado através da Bolsa Vitae de Arte e da Bolsa Guggenheim.

Um grande destaque da mostra é Bibliotheca, instalação inédita no Rio só apresentada anteriormente na exposição que a artista realizou no Museu da Pampulha, em Belo Horizonte, no ano passado. A grafia latina remete, com ironia, a um arquivo antigo e à primeira biblioteca de que se tem notícia, criada em Bizâncio no século IX. Rosângela criou a obra a partir de uma coleção de álbuns de fotografia datados do século XIX à década de 80 do século XX. A maioria foi comprada por ela em brechós, sebos ou mercados de pulga do Brasil ou da Europa, mas alguns exemplares acabaram sendo doados por amigos ou conhecidos. Reinterpretados pela artista, os álbuns aparecem em vitrines arranjadas por cores. A divisão cromática estabelece códigos e uma espécie de “mapa de identidade” para estas imagens, também classificadas num arquivo de metal negro. Nas duas gavetas, Rosângela guardou as fichas que descrevem o conteúdo de cada álbum e também contém comentários sobre como as fotos foram agrupadas e conservadas. Ao lado do arquivo, uma fotografia de duas faces reproduz a frente e o verso de uma estante que armazena um conjunto de livros, possivelmente uma bibliografia para ajudar a entender a obra. Restante contém títulos sobre arquivo, biblioteca, museus, memória, fotografia, álbuns de família.
Outro grande destaque da mostra é a série Corpo de Alma (2003), totalmente inédita. Neste trabalho, a artista se apropria de fotos realizadas por fotojornalistas, publicadas em jornais no Brasil e outros países, nas quais se vêem pessoas carregando fotos de entes queridos, ausentes, ou de ídolos. São passeatas, enterros e manifestações em que a foto documenta uma outra foto. “É como se, para aquelas pessoas, a foto exibida fosse uma maneira de trazer a identidade daquele morto, ou desaparecido, de volta”, explica a artista.


Rosângela Rennó

ADRIANO PEDROSA

A fotografia é hoje um dos principais meios de expressão artística, dominando as grandes exposições contemporâneas em todo o mundo. O papel que a fotografia hoje desempenha não está distante daquele que a pintura figurativa um dia desempenhou, mediante fotografias de pequenos formatos ou de grandes dimensões cujos temas são antigos conhecidos: retratos, paisagens, interiores.

O fascínio da fotografia deve-se à nossa grande familiaridade com ela – afinal, quem de nós nunca tirou uma foto? Com quantas fotografias nos deparamos por dia? – o que nos permite estabelecer uma relação mais íntima com a obra, pois reconhecemos sua técnica, seu meio e forma de produção. O apelo que a fotografia exerce cotidianamente sobre nós e que os meios de comunicação disseminam fartamente parece trazer consigo uma verdade direta e imediata, a fotografia impressa como prova irrefutável da existência concreta do objeto fotografado. Entretanto, uma das críticas mais caras à fotografia está associada precisamente ao questionamento de seu poder enquanto documento fiel ou prova concreta. Como tantas outras técnicas e disciplinas que outrora acreditavam-se reveladoras da verdade (a antropologia, a etnografia, a história, entre outras), a fotografia é apenas mais um meio de expressão repleto de contaminações fictícias ou subjetivas – seja mediante as técnicas de manipulação de imagem, seja mediante inescapáveis escolhas de foco, ângulo, enquadramento, etc.

É nesse contexto que se insere a obra de Rosângela Rennó. Desde o final dos anos 1980, Rennó vem questionando, de maneira crítica e poética, dois temas centrais do estatuto da fotografia: o arquivo e o documento. Uma das principais estratégias da artista é a apropriação. Porém, não se trata de pôr em xeque dois dos grandes temas modernistas nas artes visuais, a autoria ou a originalidade, como o fizeram os norte-americanos Sherrie Levine ou Richard Prince, entre outros, no final dos anos 1970. Prince e Levine refotografavam fotografias de outros autores, estratégia identificadas por críticos da época como pós-modernista. A apropriação e a refotografia podem adicionar novos significados ao objeto fotografado, numa recontextualização que revisa, critica, questiona ou recarrega significados originais. Rennó utiliza tais estratégias em torno não tanto de obras de autores conhecidos, mas daqueles anônimos ou desprezados – fotografias, arquivos, álbuns e registros esquecidos, perdidos ou ignorados.

A noção de memória está associada à fotografia enquanto arquivo ou documento, tanto na dimensão pública quanto na pessoal ou privada. Rennó busca outros arquivos para desenvolver seu trabalho. Em Imemorial (1994), ela desenterra os arquivos da Novacap, a empresa que construi Brasília, selecionando e ampliando fotografias de identidade de trabalhadores que morreram na construção da nova capital, bem como de crianças ali empregadas. Cicatriz (1996), Museu Penitenciário/Cicatriz (1997-1998) e Vulgo (1998) constituem séries de trabalhos produzidos a partir dos arquivos de negativos do Museu Penitenciário Paulista. Ali, imagens de cicatrizes, tatuagens, marcas e pedaços de corpo são recuperadas e ampliadas em grandes dimensões. Em Cerimônia do Adeus (1997-2003), a matéria-prima são fotografias de casamento coletadas em Cuba. Na Série Vermelha (2000-2003), imagens de indivíduos vestindo uniformes foram colecionadas ao longo dos anos e ampliadas em tons de vermelho, quase em escala natural. Em Bibliotheca (2003), Rennó exibe em vitrines lacradas fotografias e slides pessoais e privados, de viagens ou de familiares, em arquivos de slides e álbuns, coletados ao longo de dez anos, ao lado de um arquivo com minuciosa descrição do conteúdo, estado e origem de cada “fonte”. Em Corpo e Alma (2003), fotografias retiradas da mídia – que de algum modo se relacionam com o ato ou conceito de fotografar (espécie de refotografias de refotografias) – são ampliadas, revelando o pontilhismo de sua estrutura de construção, típico dos meios de comunicação impressa.

No início de sua trajetória, Rosângela Rennó construiu também objetos tanto poéticos quanto críticos que de algum modo comentam o estatuto da fotografia: Paz Armada (1990), Os Homens São Todos Iguais (1991), Private Collection (1995), e Private Eye (1995). Trabalhou também com vídeo: em Espelho Diário (2001), a artista interpreta diferentes personagens com base em histórias de diferentes mulheres de nome Rosângela; e com a palavra escrita: como em Arquivo Universal, quando textos de algum modo ligados à fotografia são retirados da mídia e ampliados de diferentes maneiras.

Esta é a maior exposição panorâmica dedicada ao trabalho de Rennó, e oferece ao público a oportunidade de conhecer a obra da artista brasileira que questiona de maneira mais rigorosa e persistente o estatuto da fotografia, em suas dimensões pública e privada, enquanto arquivo ou registro. Rennó está sempre atenta a histórias e conceitos que pairam por detrás de fotografias comuns ou esquecidas, e seus trabalhos parecem apontar não para a revelação de uma verdade final, mas para os desafios desta revelação. As aparências enganam.

Mario Cravo Neto
Na terra_sob meus pés

Curadoria de Ligia Canongia

Mario Cravo Neto, 56 anos, estudou fotografia e escultura paralelamente em NY, no final dos anos 60. Foi com uma instalação de esculturas vivas realizadas em NY, que ele participou da Bienal Internacional de São Paulo de 1971, pela qual foi premiado. É a partir de 1975, que o artista aprofunda sua pesquisa em fotografia de estúdio em preto e branco que lhe deu reconhecimento no Brasil e no mundo. Sua obra está nas coleções do Museu de Arte do Brooklyn, NY, Museu Stedelijk de Amsterdam, Fundação Cartier, MAM-RJ, MAM-SP, MAC-USP, MASP, MAM-Bahia, museus de Houston, San Diego, Princeton, Santa Barbara, Frankfurt, Zurique, Helsinque, Tóquio, entre outros, e seus livros de fotografia ganharam edições na Itália e Suíça.

Desta vez, Cravo Neto não vai mostrar sua fotografia em papel. Ele escolheu projetar 14 imagens nas paredes de três salas, ocupando cerca de 300 m2, com projeções fixas, expandidas por lente grande angular em até 300 cm2 cada uma.

As fotos em preto e branco e em cor, feitas ou não em estúdio, dos anos 90 a 2002, estão colocadas lado a lado na instalação, que inclui trilha sonora assinada pelo artista. É um som ambiente, mixagem de batidas de vários orixás com ruídos que, embora muito sutil, quer estabelecer uma conexão do ritmo das imagens com o som. Ele argumenta que “a fotografia atua em diversas áreas de expressão. Não é simplesmente fotografia. No mundo contemporâneo, é uma coisa muito mais vasta do que aquilo que a sua técnica específica designa.”

Para Na terra_sob meus pés, Cravo Neto selecionou retratos – identificados ou anônimos e um auto-retrato, um altar, uma oferenda, um trilho do século XVIII, animais sacrificados, entre outras cenas. Parte das fotos foi feita na casa de candomblé Ilé Àse Ópó Aganjú, que Mario freqüenta em Salvador, cidade onde vive e trabalha. Outras foram feitas fora do Brasil.

Estas imagens, de recorte preciso e econômico, não têm caráter documental nem etnográfico. São instrumentos de registros poéticos. A instalação vai apresentá-las separadas ou em duplas. Por exemplo, ao lado da do rosto da mais famosa coreógrafa do Royal Danish Ballet, de Copenhagen, está a de animais sem cabeça; a foto de um homem de torso nu sombreado por folhas está justaposta à de uma escultura de pedra anônima, da cripta da catedral de Notre Dame de Paris. A intenção, neste caso, é cotejar a  “realidade efêmera da cultura afro-brasileira e a escultura de pedra, a permamência”, explica o artista.

As imagens em preto e branco de Cravo Neto são produzidas em estúdio, embora não dêem uma pista definitiva de onde foram feitas, através dos grandes close ups dos corpos humanos, alguns acoplados a animais, pedras ou objetos ritualísticos, em um amálgama de homem e mundo orgânico. A luz define o volume, destaca a qualidade escultórica do sujeito da fotografia e enfatiza a textura. É a herança da experiência do artista como escultor contaminando sua fotografia.  As fotos em cor desta instalação são instantâneos, em geral de exterior. Pode ser uma cena de cultos religiosos, um altar, seres humanos ou uma escultura.


Na terra_sob meus pés

LIGIA CANONGIA


Mario Cravo Neto iniciou sua carreira na década de 1970, dedicando-se à escultura, às instalações e a trabalhos realizados diretamente sobre a natureza, a exemplo da Land Art norte-americana.

Embora tenha estudado fotografia na Art Student League, em Nova York, 1968, só passou a desenvolver sua obra fotográfica a partir de 1975, após sofrer um acidente de automóvel. Sem o movimento provisório das pernas, lançou mão da fotografia de estúdio, onde podia compor com objetos de seu cotidiano, usando familiares como modelos. Foi a partir desse momento que a produção de Cravo Neto assumiu o perfil que hoje conhecemos e que o tornou consagrado no Brasil e no exterior.

Envolvido, poética e existencialmente, com a cidade de Salvador, o artista busca captar em suas imagens a pulsação social, étnica e religiosa que tanto caracterizam sua cidade natal.

Da liturgia católica aos ritos africanos arcaicos, do Santo Sudário aos orixás, do velho mundo europeu à África ancestral, Cravo Neto funde paisagens, raças e hábitos, preservando, ao mesmo tempo, suas identidades. Integrando natureza e cultura, mito e conhecimento, ele almeja uma unidade harmônica entre diferenciadas fontes que informam o homem moderno, em especial o povo baiano.
Em um campo dinâmico de forças, suas fotos reportam-se ao sincretismo afro-cristão e aos cultos do candomblé, mas também ao mundo do inconsciente e dos sonhos, onde os homens constroem seus fantasmas e seus símbolos.

Tanto as fotos em preto e branco quanto as coloridas reservam um acento sombrio, dramatizado pela luz, criando atmosferas enigmáticas, que nos conduzem ao universo dos deuses, dos orixás e dos mortos. Mas, à morbidez ele contrapõe a vitalidade e a sensualidade das imagens, tornando-as, ao mesmo tempo, lugar de magia e de realidade. Assim, ao lado de objetos religiosos e animais sacrificados, surgem corpos nus e volumosos, unindo o mistério ao erotismo.

Na exposição do CCBB - “Na terra_sob meus pés”- Mario Cravo Neto transforma sua fotografia em campo de pura energia, luz expandida em escala grandiosa no espaço, envolvendo o espectador no mesmo drama grave e obscuro das imagens. E, para estimular nossa presença em seu “ritual poético”, o artista traz música para o cerne da obra, estende os sons e toques dos orixás ao domínio das luzes, criando uma verdadeira experiência performática, transcendente e sensorial.

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Iberê Camargo
Iberê Camargo: Diante da Pintura
Curadoria: Paulo Venâncio Filho

Prorrogado até 10 de agosto de 2003

Pinacoteca do Estado
Praça da Luz 2
São Paulo
11-229-9844
Terça a domingo, das 10h às 17h30.
Ingressos: R$ 4; R$ 2 (meia); aos sábados, entrada gratuita.


O Mundo de Iberê Camargo na Pinacoteca
 
Na sete salas climatizadas da Piancoteca estarão expostas  pinturas, gravuras e desenhos, num círculo da produção do artista desde suas primeiras obras, na década de 40, até as últimas, realizadas às vésperas de sua morte, em 1994.

Através da retrospectiva será possível acompanhar o pintor em suas diversas fases e temas, e perceber a coerência de um dos maiores legados da arte moderna brasileira. “Toda a sua pintura, as primeiras paisagens, retratos, naturezas-mortas, passando pela produção abstrata que tem início no final dos anos 50, com a fase dos Carretéis, até sua volta à figuração nos anos 80, com os Ciclistas, estarão presentes, junto com as trágicas telas do final da vida e com o importantíssimo Iberê desenhista e gravador”, diz Paulo Venâncio.

Começando com “Solidão”, a última e impactante pintura de Iberê, a exposição não seguirá uma cronologia linear. O visitante poderá optar por continuar o percurso pelo corredor da direita ou da esquerda e, em cada lado, encontrará pontuação das várias fases do pintor. Para potencializar o caráter contemplativo da exposição, foi projetado grandes bancos, elemento que faz referência à obra de Álvaro Siza, arquiteto português que projetou para Porto Alegre o Museu Iberê Camargo. São longos bancos de madeira, pintados de branco, que se dobram suavemente, indicando continuidade de uma sala para outra.

A exposição terá um módulo dedicado ao projeto de Siza. Na ante-sala estarão os desenhos técnicos, os croquis e a maquete do museu. Ali também serão expostos objetos e fotografias que Iberê utilizava no ateliê. Esses materiais estarão dispostos em vitrines, cujo desenho também foi inspirado na obra de Siza. O arquiteto deverá visitar a exposição em julho. O projeto do futuro museu foi premiado na última Bienal de Arquitetura, em Veneza.


O catálogo
 
A Fundação Iberê Camargo entregou a produção do catálogo ao programador visual e artista plástico Carlito Carvalhosa. A peça, em quatro cores e formato horizontal (24cm x 27cm), terá 120 páginas e reproduções das obras que serão levadas à Pinacoteca, além de textos sobre a Fundação e outro, assinado pelo curador Paulo Venâncio.

Os estudantes poderão conhecer a retrospectiva do mestre do expressionismo, através de roteiros guiados.

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Ciclo de palestras e debates
O Estatuto da Pintura na Arte Contemporânea
Coordenação: Paulo Sergio Duarte
O olhar distante - A historicidade da pintura defronte à cultura pós-moderna
Participantes: Blanca Brittes, professora da UFRGS; Luiz Camillo Osório, crítico e professor de história da arte da UniRio

29 de julho, terça-feira, 19h

Santander Cultural
Sala Oeste
Rua 7 de Setembro  1029
Praça da Alfândega   Porto Alegre

Programação:

5 de agosto
A pintura contemporânea e suas relações com os novos meios
Participantes: Vera Chaves Barcelos, artista plástica; Ligia Canongia, crítica e curadora independente, Rio de Janeiro

12 de agosto
Territórios em disputa - Pintura e novas linguagens na arte contemporânea
Participantes: Niúra Legramante Ribeiro, mestre em artes pela ECA / USP, professora de História da Arte no Atelier livre e Feevale; Maria da Glória Ferreira, crítica e professora de história da arte, Universidade Federal do Rio de Janeiro / UFRJ

19 de agosto
A diversidade da pintura contemporânea no Brasil e na América Latina
Participantes: Paulo Sergio Duarte; Agustín Arteaga, crítico e professor de história da arte, curador assistente do Jeu de Paume (Paris), curador da exposição Orozco na Bienal do Mercosul

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Programa A verdade de
Luiz Aquila

29 de junho, terça-feira, 21h

TV Educativa
Canal 2 VHF/UHF
Rio de Janeiro

O vice-governador Luiz Paulo Conde e a escritora Ana Miranda foram algumas das personalidades que enviaram perguntas ao artista plástico, Luiz Aquila, no programa, da TVE. A variedade de assuntos abordados agradou Aquila, que pôde falar da importância do Parque Lage, do polêmico Guggenheim e ainda do mercado contemporâneo das artes plásticas.

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Cursos
Alex Hamburguer, Antonio Fatorelli, Cristina Pape, João Magalhães, Lia do Rio, Luiz Pizarro, Monica Mansur

Inscrições  abertas

Atelier Rio Comprido
Rua Santa Alexandrina 445
Rio de Janeiro
21-2502-9649/ 2504-1869
cursos@studio.art.br

 
1- Tendências da fotografia moderna e contemporânea – Antonio Fatorelli
11 de agosto a 29 de setembro
Segundas, das 19h30 às 21h30
Preço: R$ 280 (ou 2 x R$ 140)

Traçar, a partir dos conceitos de subjetividade e de máquina, uma linha de interpretação da história da fotografia que possibilite contextualizar a diversidade das práticas fotográficas atuais e a progressiva importância da imagem digital na contemporaneidade.

Antonio Fatorelli
fotógrafo e doutor em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ. Professor adjunto e coodenador do Laboratório de Fotografia da Central de Produção Multimídia da Escola de Comunicação. Pesquisador do Núcleo de Estudos e Projetos em Comunicação (NEPCOM) e autor de vários textos entre os quais Fotografia e viagem – entre a natureza e o artifício.

 
2- Panorama das artes nos anos 50 e 60 – Cristina Pape
5 de agosto a 9 de setembro
Terças, das 19h às 21h
Preço: R$ 210

A proposta do curso é fornecer um panorama das artes plásticas nas décadas de 50 e 60 no cenário internacional e no Brasil, apontando para semelhanças e diferenças.

A partir do momento em que a arte chamou o público a participar dela, tudo mudou. O mundo nunca mais foi ou será o mesmo. O que aconteceu? Onde estamos?

Cristina Pape
artista plástica, professora do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, doutoranda do Programa de Pós- Graduação em Linguagens Visuais da Escola de Belas Artes da UFRJ, colaboradora da Revista Eletrônica Polêmica/ Labore/ UERJ e restauradora de obras de arte contemporâneas.

 
3- Desenho – Luiz Pizarro
5 de agosto a 30 de setembro
Terças e quintas, das 10h às 12h30
Preço: R$ 180 (mensalidade)
 
O objetivo é a descoberta e aprimoramento do traço individual, o desenvolvimento da percepção visual e da personalidade no gesto gráfico através de exercícios de observação e de interferência no espaço. Estudo da linha e da cor enquanto elementos gráficos e pictóricos.

Luiz Pizarro
participou da Bienal Internacional de São Paulo em 1985 e 1991, expõe individualmente desde 1984, no Brasil e no exterior, foi professor do Parque Lage de 1986 a 1991, coordenou o Projeto Galpão das Artes em 1990/1991, e em 2001 foi professor de pintura no Centro Cultural da UERJ.


4- O tridimensional em arte – Lia do Rio
Julho a dezembro (curso corrido)
Segundas e quartas, das 9h às 12h
Preço: R$ 120 (mensalidade)

O curso lida com colagens, objetos, esculturas, montagens, instalações, apropriações, intervenções, land-art, discutindo as questões trazidas pelos alunos, respondendo suas indagações para levá-lo a refletir sobre seu processo de criação e o caminho a seguir, respeitando sua individualidade.

Lia do Rio
artista plástica, professora da EAV/Parque Lage de 1994 a 2003, do Centro de Artes Calouste Gulbenkian e da Universidade Estácio de Sá. Expõe no Brasil e no exterior, tendo sido premiada em diversas ocasiões.

 
5- Ver gravura: a imagem re-produzida – Monica Mansur
16 de setembro a 21 de outubro
Terças, das 19h às 21h
Preço: R$ 210

Conhecer um pouco da história da gravura.  Aprender a ver diferentes técnicas de impressão: saber reconhecer, no produto final, suas características técnicas essenciais. Compreender a autonomia conceitual do meio: reprodutibilidade como ação. A arte contemporânea e a reprodutibilidade, sua conscientização nos anos 50 e 60, sua manifestação nos dias de hoje.

Monica Mansur
artista plástica, com formação principal em gravura em metal, especialização em História da Arte na PUC/RJ e Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes/UFRJ. Expõe no Brasil e no exterior, concebeu, coordenou e realizou inúmeros projetos de artes plásticas, inclusive publicações de artes plásticas.

 
6- Performance: arte e anti-arte – Alex Hamburguer
21 de agosto a 20 de novembro
Quintas, das 19h às 21h
Preço: R$ 120 (mensalidade)

Situações e simulações, ambiências, interfaces eletrônicas, corpo/objeto, reencetamento, clichês retinianos, etecetara...

Alex Hamburguer
artista interdisciplinar, graduado em Ciências Econômicas. Residiu dois anos em Paris e Londres, onde fez estudos. Realizou inúmeras performances, publicações e mostras, participou da Bienal de Veneza em 1993 e da Antologia Internacional de Poesia Sonora de Kaliningrado, Rússia.

 
7- Pintura e contemporaneidade – João Magalhães
Setembro a novembro
Quartas, das 19h às 21h
Preço: R$ 120 (mensalidade)

Atelier Livre
Os trabalhos de cada aluno serão analisados em aula, a partir de suas propostas iniciais. Serão sugeridos textos específicos, para discussão em aula, além da prática.

João Magalhães
artista plástico, com Mestrado em Linguagens Visuais (EBA/UFRJ), professor da EAV/Parque Lage, Da Universidade Estácio de Sá e da EBA/URRJ. Expõe no Brasil e no exterior, tendo sido premiado em diversas ocasiões
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Henri Matisse: la joie de vivre (1906)
 
Alfabeto Visual 25/7 - Contra os que ainda são do contra
Rubens Pileggi Sá
Especial para a Folha 2

 
No livro “Física e Filosofia”, seu autor, o alemão W. Eisenberg, pai da física quântica,  dizia que para novos conceitos, nova linguagem. Ou seja: não adianta detectar todos os problemas do mundo, desejar o novo e tentar criá-lo com ferramentas antigas; não se pode querer pensar a física quântica com as definições da física newtoniana, que tem como referencia a gravidade da terra; que não é possível uma crítica revolucionária sem uma prática revolucionária; revolução da forma sem revolução do conteúdo, como sempre disseram os poetas concretos;  revolução social sem revolução comportamental, como colocam os pensadores mais lúcidos, em política. Enfim, não há revolução comportamental sem mudança do eu. Sem conhecimento pleno do eu. Sem primeiro a transformação do eu. Sem colocar em risco velhos paradigmas.

Todo mundo está cansado de saber os problemas da sociedade moderna: que o advento da industria gerou a necessidade de se criar o consumo, de se investir em uma sociedade de massas, manipulada pelos meios de comunicação, nascendo daí um consumidor passivo, subordinado às exigências do mercado. E que o interesse único e exclusivo dessa sociedade é o lucro.

Acontece que isso faz gerar, a cada dia, mais e mais gasto de energia e matéria, em um ritmo cada vez mais veloz, esgotando as reservas naturais do planeta, artificializando a vida, tornando tudo descartável, frívolo, como se vivêssemos uma realidade virtual, um jogo na frente do computador. Onde as mortes se tornam necessárias, desde que tudo fique limpo e asséptico sobre o tapete. Como nas guerras que vemos pela tevê,  um procedimento cirúrgico.

E todo mundo tem história para contar: que a televisão aliena as pessoas; que o carro prejudica o passeio a pé; que a família corre riscos, que a tradição e a propriedade estão ameaçadas.

Assim, vemos surgir, cada dia mais, especialistas em auto-ajuda, ou, o que é mais irônico: pessimistas oficiais de plantão faturando alto sobre a desgraça humana. Enganando os outros ao falarem da guerra como horror, mas, no fundo, promovendo-a. Lobos em peles de cordeiros. Urubus sobre a carniça que, ao venderem idéias contra o trabalho alienado, utilizam os mesmos expedientes “alienantes” que condenam. Para esses “filósofos de olhar obliquo”, a crítica lhes é suficiente como prática revolucionária, porque podem convencer a todos sobre os efeitos nefastos da “crise”. Porque se aproveitam dela. Não apontam saídas, só mostram as injustiças do irracionalismo racionalista em que vivemos. Acabam justificando o que analisam como problema: a submissão às leis do mercado. Por mais que se critique um empreendimento que polui um rio, por exemplo, todos concordam que é preciso gerar recursos, desenvolver tecnologias, investir em empregos. Manter as coisas como estão.

O filósofo alemão F. Nietzsche dizia que o homem tem três fases na vida: o camelo, o leão e o menino. É hora do menino brincar. Mas em nossa sociedade, brincar tornou-se proibido, assim como o trabalho, o carregar o fardo, transformou-se em algo sagrado. E a maioria prefere ser regida pelas leis do mercado e do sistema neoliberal e imperialista do qual fazemos parte, do que aceitar as possibilidades de mudanças profundas. Mas inadiáveis.

Família, pátria, propriedade, religião: qual o lugar dessas instituições tão fortes para o Homem Livre do Novo Tempo? O Homem Livre do Novo Tempo? A mudança parte de cada um primeiro. E a criatividade é o motor dessa mudança. “Poesia é risco”. Experimentar esse risco é  o modo de sentir seu efeito direto correndo nas artérias do corpo social. Esse um primeiro passo para uma longa caminhada. E nesse percurso o que conta é a alegria de estar vivo. Vamos dançar e cantar, pois.

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