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maio 2007
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"(In)formação", por Marília Sales / 2 Pontos Arte Contemporânea em Pernambuco
"Close Up", fotografia de Mario Grisolli "Fotolinguagem: Ação Social na Arte Contemporânea", trabalho de Adriano Casanova "O que pode ser feito", por Lúcia Gomes "O esclarecimento 'obscuro' sob o signo da indústria cultural", artigo de Patrícia Valverde "Fábrica de concreto", web-arte de Jaime Lauriano e Alexandre Rotten "Recreaction", série de Duda Valle A mobilização contra o Guggenheim no Canal Contemporâneo Resposta de Daniela Labra ao texto "O que pode ser feito? (transformação)" O que pode ser feito? (transformação) por Patricia Canetti |
março 19, 2007"(In)formação", por Marília Sales / 2 Pontos Arte Contemporânea em PernambucoDesde o século 18, quando os museus se tornaram uma instituição pública, Essa instituição encontra-se paradoxalmente aberta a todas as pessoas e, Apesar das importantes iniciativas transformadoras, observamos que o papel Em entrevista ao Caderno Mais! (Folha de São Paulo, 22/02/2004), Glenn D. Lowry, diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York, comentando o Para o público leigo, museu (poderíamos estender à arte contemporânea) é Precisa, sim, construir um setor educativo sistematizado, inserido numa O museu não se restringe ao espaço físico, ele pode -e deve- tomar novos Num período em que a produção artística só cresce em volume rapidez e, na É fundamental ampliar as redes de ações de formação não pelas certezas, Marília Sales é arte-educadora do Portal 2ptos e assistente de galerista
Posted by Leandro de Paula at 11:26 AM
março 9, 2007"Close Up", fotografia de Mario GrisolliMario Grisolli
Posted by Leandro de Paula at 4:18 PM
março 7, 2007"Fotolinguagem: Ação Social na Arte Contemporânea", trabalho de Adriano Casanova"Fotolinguagem: Ação Social na Arte Contemporânea", trabalho de Adriano Casanova da Rosa RESUMO O trabalho "Fotolinguagem" parte da discussão de experimentar manifestações artísticas com grupos em fragilidade social, a partir da produção de fotografias digitais. Com a participação de um grupo de cinco moradores do cortiço da Vila Itororó1, propõe-se um conhecimento criativo através da arte como um instrumento de informação e aprendizado. No trabalho, o artista assume a função de facilitador de espaços colaborativos, pesquisando a intersecção entre a arte, a tecnologia e os espaços sociais. Durante a elaboração deste trabalho foram produzidos: um jornal comunitário, fotografias digitais, website e uma exposição realizada em janeiro de 2007, no Paço das Artes, SP. Palavras-chave: arte, tecnologia, fotografia, espaços sociais, Vila Itororó INTRODUÇÃO A evolução da arte no futuro seguirá de uma crescente fusão com a vida, quer dizer, com a produção, com as férias populares, com a vida dos grupos. O projeto Fotolinguagem se propõe a uma ação artística que promova espaços de colaboração e produção em arte contemporânea; pesquisa a função social da arte que é apresentada de forma a promover conhecimento, inserido em um contexto urbano da cidade de São Paulo, com características de fragilidade social, desinformação cultural e precário senso comunitário. Ele foi desenvolvido através de três ações conjuntas com a comunidade: Festa Junina na Vila Itororó, Varal de exposição de fotografias e Oficina de fotografia Fotolinguagem; sendo que a última foi dividida em três etapas, composta por sete aulas: - Etapa I - 'Perceber': desenvolvimento perceptivo de cada aluno em relação a Vila Itororó. Nesta etapa, os alunos entraram em contato com exercícios que estimularam suas sensações espaciais e sensoriais do olhar (olho como lente). - Etapa II - 'Produzir': formada pela produção das imagens-linguagem e pela pesquisa dos suportes tecnológicos utilizados, como: máquina de fotografia digital e analógica, colagens, composições, entre outros. As imagens obtidas no decorrer das aulas foram digitalizadas produzindo as fotografias finais de cada aluno. - Etapa III - 'Expor': nesta etapa, diferentes formatos expositivos e midiáticos foram gerados através das fotografias. Jornal comunitário publicando textos e documentação da oficina, website do projeto (http://paginas.terra.com.br/arte/fotolinguagem) e a exposição "Sobre.Posições", realizada entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007 no Paço das Artes. O projeto, realizado entre maio e novembro de 2006, pesquisou a produção de obras de arte coletiva e individualmente; dialogou, experimentou e criou linguagens técnicas e artísticas que se inter-relacionaram através dos espaços sociais colaborativos. Com a proposta de utilizar uma metodologia interdisciplinar, as ações e os produtos criados uniram a comunidade em torno da obra de arte como instrumento gerador de conhecimento. A utilização da tecnologia digital como instrumento essencial na investigação da linguagem através da fotografia destaca-se como principal ferramenta para a produção artística do trabalho, além de ter auxiliado na pesquisa dos conceitos e das técnicas da arte contemporânea. A arte, usada como estratégia de experimentação em grupos, oferece ao artista o espaço criador de relações colaborativas e livres produções de conhecimento, tendo a obra como um processo de ação social e interdisciplinar, como exemplifica Joseph Beuys: "[...] a criatividade não é monopólio das artes. [...] Quando eu digo que toda a gente é artista eu quero dizer que cada um pode concentrar a sua vida nessa perspectiva: pode cultivar a artisticidade2 tanto na pintura como na música, na técnica, na cura de doenças, na economia ou em qualquer outro domínio [...]. O nosso conceito de arte deve ser universal, terá que ter uma natureza interdisciplinar com um conceito novo de arte e ciência" (1979 - entrevista a Franz Hak. BEUYS, 2005) O conteúdo fundamental desta produção surge a partir da necessidade de tratar a arte de maneira abrangente, dentro de vertentes contemporâneas que fortaleçam a função do artista criador como um ator da sociedade, interlocutor de ações que dialogam cada vez mais diretamente com grupos sociais: "Deve haver uma relação entre o criador e o que usufrui - viver é criar com e para a humanidade." (1979 - entrevista a Franz Hak. BEUYS, 2005). Baseando-se na "escultura social"3 dita por Beuys, o projeto parte do pressuposto de inserir a produção da obra fora do museu, trabalhando o espaço social como um laboratório, realizando paulatinamente ações em comunidades, criando espaços de convívio e apreciação da obra de arte na contemporaneidade. Seu conceito de "escultura social" explicita a idéia de que o processo não necessita produzir objetos, e sim realizar ações, comunicar pensamentos, despertar a consciência do povo em relação à arte, que tem em sua base uma troca imaterial na mente dos indivíduos, sendo, por si só, a própria escultura social. Assim, no projeto Fotolinguagem, os objetos gerados a partir das ações nele produzidas não significam simplesmente uma produção física de uma obra, mas sim aplicações da obra em um contexto social e político, pois ela cria redes de colaboração em sua produção, estabelece relações sociais e propicia experimentação de percursos criativos utilizando-se de várias linguagens, tais como fotografia, colagens, sobreposição de imagem, utilização do olho como lente, entre outras. A aplicação do conceito de Beuys no trabalho prende-se ao fato de que os objetos artísticos gerados exerceram funções complementares no sentido documental e estético, de maneira que os resultados do trabalho, tais como: o jornal, o website, as fotografias e as ações decorrentes, carregam em si o background do processo do trabalho, deixando livre a possibilidade de representar a imaterialidade da obra produzida. O projeto Fotolinguagem utilizou como amostragem um grupo de cinco alunos na faixa de 12 e 17 anos, onde a fotografia digital serviu de expressão criativa, trabalhando a imagem gerada como meio de informação e linguagem, inserindo a plataforma artística pesquisada dentro do contexto das tecnologias digitais. Mas em torno desse sistema criado com as ações do projeto, a resposta para "O que poder ser feito" é, dentro deste contexto social pesquisado, a possibilidade de os artistas, juntamente com diversos espaços sociais, trabalhar na investigação conjunta da obra de arte, resgatando a função de mudança social como de experimentação estética e social na contemporaneidade. No projeto Fotolinguagem, a pergunta sobre o que pode ser feito é pensada em seu sentido micro e macro, o primeiro na ação direta e por base de um determinado grupo, e a segunda em sua investigação midiática, no momento em que a mesma surge desta primeira ação, atingindo neste segundo momento não só a comunidade mas como também os diversos grupos sociais que se relacionam com as mídias e os produtos produzidos em seu processo. A escolha do espaço social atuante no projeto Fotolinguagem, a Vila Itororó, se deve a: a) à comunidade estar ameaçada de despejo pela prefeitura da cidade de São Paulo; A partir da freqüência à comunidade, foi iniciada a realização das ações contínuas, tendo, como passo seguinte, agregar os valores de organização da tradicional Festa Junina ao projeto Fotolinguagem; nesta festa, grupos de coletivos artísticos4 atuaram juntamente com a AMAvila para constituição do evento. Estava claro que população local poderia, se estimulada, passar a exercer funções mais definidas de atores participativos, revelando e qualificando seus desejos, criando expectativas passíveis de assimilação da sua identidade cultural através da arte e do senso colaborativo e comunitário do espaço social. A fotografia que, na contemporaneidade, exerce funções como a de representação, de alusão e de mudança da realidade, desperta no grupo pesquisado o desejo de se inserir no âmbito da imagem representativa. Com isso, a posteriori, montou-se um varal de fotos, na comunidade, que relacionava a Vila Itororó com a cidade, trabalhando essa temática a fim de estimular o grupo a participar das aulas de fotografia propostas pelo projeto. A palavra de ordem foi - Manifestar-se, principalmente quando perceberam a possibilidade de um projeto próprio, inserido na idéia de realizar eventos para unir a comunidade em oficina de fotografia para jovens. Durante o percurso metodológico da pesquisa, apresentou-se extrato das obras de artistas e fotógrafos contemporâneos, os quais dialogam com a proposta do projeto de inserir a atuação colaborativa na estrutura social da Vila, sendo assim possível acessar livremente a arte como um instrumento de conhecimento. A tecnologia digital exigiu, no decorrer das aulas, um exercício de retrospectiva do modo de atuação operacional com uma máquina fotográfica, já que a relação do olho do fotógrafo é diferente com uma câmera analógica e uma câmera digital. Em uma câmera analógica, o olho é convidado a imergir no visor da máquina, fazendo os ajustes manualmente; enquanto na digital a própria câmera nos fornece a composição necessária para realizar a operação. A câmera digital possibilita uma melhor visão do entorno representado, eliminando, assim, a possibilidade de uma falha comum nas máquinas analógicas, que era o corte de parte dos objetos fotografados. Demonstrada a base da captação de imagens e explicitada a possibilidade de criação de espaços colaborativos na comunidade, a arte enquanto "escultura social" apresenta infinitas possibilidades de formatos expositivos, uma vez que sabemos ser ela feita por uma dada sociedade (MARTINS, 1948). Outra maneira de investigar novas plataformas de atuação é atrelar a arte a uma realidade, desenvolvendo e aprimorando a obra em determinados espaços sociais, pois "[...] o artista deve participar da luta de seus semelhantes" fazendo com que a arte seja uma luta permanente contra a alienação humana (MENDES, 1948). O desenvolvimento da arte como forma de conhecimento e também como investigação de técnicas artísticas é aplicado no projeto por meio de estratégias que vão desde a percepção do espaço retratado até a utilização de aparatos tecnológicos no auxílio e na produção das fotografias. Os produtos artísticos assumem características contemporâneas, com fotografias que, ao serem contempladas, não se finalizam somente em imagens bem fotografadas, mas em sua história, seu contexto e processo, inserindo diferentes formatos midiáticos para divulgação das imagens, da metodologia processual e das reflexões alcançadas em sua produção. O grupo produziu assim, dentro do projeto, a articulação entre o homem urbano, a arte e a sociedade. As manifestações decorrentes do projeto, copiladas no anexo deste estudo, poderão provar essas afirmações. Enfim, considera-se absolutamente pertinente a colocação de Rubio: "podemos imaginar perfeitamente uma sociedade sem arte [...] mas dificilmente podemos admitir a hipótese de uma arte sem sociedade, a arte é de certo modo para a sociedade como o peixe para a água". (RUBIO, 1980, p. 48) ARTE E SOCIEDADE A ação da arte é mais importante que a obra de arte. A preocupação social nas artes emerge mais claramente na América Latina a partir da década de 20, somada à intensificação dos nacionalistas de todo mundo com a preocupação que surge a partir da Revolução Russa de 1917 (AMARAL, 2003). Portanto, não é de hoje que as inquietações do artista perante seu contexto político social existem, influenciadas por seus precursores, e transparecem nas ações e métodos de sua produção artística. A obra de arte hoje não se resume somente na representação do belo ou nas inquietações do ego do artista, ela é composta por definições e conceitos gerados através de um desenvolvimento histórico de sua expressão em relação a um determinado contexto, cultura ou história. O artista contemporâneo busca se relacionar com a sociedade, deparando-se com diferentes problemáticas: [...] como fazer que o produto de seu trabalho tenha uma comunicação com um público mais amplo; que sua obra possa refletir uma participação direta em seu contexto social; e, eventualmente, a participação dessa obra para uma eventual ou desejável mudança da sociedade. (AMARAL, 2003, p. 18) O artista inquieto por questões relacionadas a seu processo de criação deve construir narrativas para comunicar algo, indagar, questionar e expressar questões, utilizando o coletivo com um discurso aberto, transformando a obra de arte em uma arte pulsante de informação que mescla seus diversos caminhos, gerando conhecimento ao mesmo tempo em que percebe os diferentes contextos sociais. A constatação na sociedade contemporânea da dificuldade de acesso à arte é, entre outros, um fator que leva a produção atual a necessidade de criar redes sociais que se inter-relacionem e a perceber a comunidade com o propósito de resgatar a arte e a vida, buscando, através da obra, uma "eventual ou desejável mudança da sociedade" (AMARAL, 2003). Haja vista exemplos de artistas e pesquisadores contemporâneos que, a partir do conceito de escultura social, criam redes colaborativas que atuam diretamente com grupos sociais na promoção da arte. O trabalho idealizado desde 2003, "Eloísa Cartonera", apresentado na 27a. Bienal de São Paulo, dos artistas argentinos Javier Barilaro e Washington Cucurto, tem a proposta de agir conjuntamente com grupos sociais criando redes colaborativas. "Eloísa Cartonera" é um atelier aberto, montado no pavilhão da Bienal, onde, no período da exposição, a produção coletiva de livros é realizada juntamente com catadores de papelão da cidade de São Paulo. Os artistas definem seu projeto como: Quando começamos a fazer livros, era uma iniciativa desconectada da situação urgente em que a Argentina se encontrava (2001). Foi então que surgiu a idéia de utilizarmos o papelão do cartonero [catador de rua]. Com a experiência adquirida nos demos conta de que a escultura social se modela no tempo presente e que um refinamento conceitual, sem a participação real daqueles que de fato nunca chegariam a freqüentar uma aula de arte, seria antiestético para nós. No entanto, este é um projeto, e não um resultado preciso - cada limite é repensado no dia-a-dia, inclusive as descobertas conceituais de si mesmo -, nem a estética proposta é solene. (BARILARI apud LAGNADO; PEDROSA, 2006, p. 66) Nota-se, no entanto, que a atuação artística com grupos sociais, em sua grande parte, são propostas laboratoriais de pesquisa e investigação estética e conceitual, sempre atreladas à função de produzir conceitos nas redes colaborativas: "a rede de colaboração (no projeto Eloísa 'Cartonera') é ampla e difícil de sintetizar. Muitas pessoas participaram da formatação do projeto, de maneira espontânea e desordenada. Tudo se expõe, quem se interessa pode participar: escritores, catadores de papelão, artistas". (BARILARI, apud LAGNADO; PEDROSA, 2006, p. 66) Dentro do contexto de atuar juntamente com a sociedade na produção e investigação de trabalhos artísticos, a promoção de redes colaborativas tem o objetivo de produzir ações e documentações que agem de forma experimental e processual, tendo em vista a necessidade de inserir coletivamente a obra como um instrumento de conhecimento. Já nos anos 60, o idealizador do conceito de escultura social, Beuys, atuava na identificação de grupos sociais e momentos políticos nos quais ações artísticas apresentavam a obra como uma estrutura participativa, construída com o propósito de: "[...] ver na arte um meio de formação e educação do ser humano, atribuindo a ela um papel de reconciliação do homem com o mundo". (OSÓRIO, Luís Camillo. In: REIS, 2006) Beuys, no projeto "7000 Oaks in Kassel" (7000 árvores em Kassel), que começou em 1982 na Documenta 7 - grande exposição internacional de Kassel, na Alemanha - teve como objetivo plantar sete mil árvores na cidade, cada planta com uma coluna de pedra com aproximadamente 1 metro de altura. Com o suporte da Dia Art Foundation e da Free International University (FIU), o projeto seguiu adiante durando 5 anos - a última árvore foi plantada na abertura da Documenta 8 em 1987. Beuys, no projeto de Kassel, teve a intenção de este ser um primeiro estágio de seu método, de plantar mudas de árvores com o propósito de estender a ação para o mundo, como parte de uma missão global de afetar o meio ambiente e uma mudança social agindo em direção a uma possível renovação urbana. "I believe that planting these oaks is necessary not only in biospheric terms, that is to say, in the context of matter and ecology, but in that it will raise ecological consciousness-raise it increasingly, in the course of the years to come, because we shall never stop planting. Thus, 7000 Oaks is a sculpture referring to peoples' life, to their everyday work. That is my concept of art which I call the extended concept or art of the social sculpture". (BEUYS; NORBERT, 1986) CONSIDERAÇÕES FINAIS O cansaço de ser útil é uma primeira morte. As estratégias de atuação do projeto Fotolinguagem partiram da experimentação da obra de arte em espaços sociais, realizando ações colaborativas e criando espaços de encontro, apreciação e produção da arte contemporânea. A tecnologia mediou a produção das obras do grupo social investigado, a fotografia funcionou como produto documental e artístico trazendo liberdade de criação para o processo. O trinômio: arte, tecnologia e espaço social gerou conhecimento e informação sobre os temas levantados, possibilitando, através da experimentação da linguagem fotográfica, promover redes de ação social e artística. O método laboratorial de pesquisa e atuação do projeto apresenta caminhos e conceitos desenvolvidos no decorrer de sua aplicação, atingindo os objetivos específicos de criar trabalhos em arte contemporânea, repensar a função do artista na sociedade, intitular a obra de arte como expressão e apropriação de linguagens, proporcionar espaços midiáticos de exposição e contemplação da obra e experimentar plataformas de atuação social para a arte. Aplicadas essas estratégias, verificou-se que o projeto documentou e analisou a expressão artística pesquisada inserida em um contexto social que serviu como base conceitual para a obra produzida. Apresentado o resultado estético encontrado no trabalho, as fotografias e a documentação processual, pode-se responder as questões problematizadas: Como aplicar a arte como geradora de conhecimento e ação? E, como pensar a combinação entre o artista, a obra, e a sociedade na história da arte? A pesquisa conclui-se assumindo um caráter político, científico, artístico e social, sendo sua continuidade essencial para: aprofundar os conceitos trabalhados, identificar novas situações sociais e fomentar seu conceito ao compará-lo com pesquisas e projetos já realizados. Por fim, o projeto vem demonstrar uma discussão sobre a funcionalidade da arte e do artista na contemporaneidade, inseridos em uma sociedade cultural e tecnológica, onde a promoção de encontros entre a arte e a vida são fundamentais para inserir a educação social e digital através da arte. NOTAS 1 A Vila Itororó é uma comunidade localizada na cidade de São Paulo, no bairro do Bexiga. Serão explicitadas durante o trabalho informações complementares.volta ao texto 2 A artisticidade de Beuys é o quotidiano, acessível a toda a gente, processo contínuo, obra aberta para todos os imaginários que, na participação, no debate e na ação solidária, vão criando mudança de vida (RODRIGUES, Jacinto. http://www.a-pagina-da-educacao.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=1373).volta ao texto 3 Escultura social - consiste em discussões com numerosos grupos de pessoas de todas as tendências, propensas a estender a definição de arte e ciência. A rigor, não só a definição, mas a própria prática fora dos âmbitos específicos de cada ramo. A Teoria da Escultura Social parte dos conceitos de obra enquanto processo, mutação, evolução. Como moldamos e esculpimos o mundo em que vivemos. (BEUYS, Joseph. In: STACHELHAUS, Heiner, 1990).volta ao texto 4 O AMAvila tem, em seu corpo de "amigos", grafiteiros, artistas, arquitetos, jornalistas, pesquisadores, estudantes universitários, entre outros; que ajudam na elaboração de eventos e encontros na comunidade.volta ao texto
Bibliografia ALONSO, Rodrigo. Muntadas CON\TEXTOS Antologia Crítica. Buenos Aires: Editora Simurg, 2003. ARACY, Amaral. Arte pra quê? A preocupação social na arte brasileira. 3. ed. São Paulo: Editora Studio Nobel. 2003. BEUYS, Joseph. Par la presente, je n'appartient plus à l'art. França: Ed. L'Arche, 1995. BEUYS, Joseph; NORBERT, Scholz. Joseph Beuys-7000 Oaks in Kassel. Dia Art Foudantion, Anthos-Suiça, n. 3, 1986. BHERIBG, Heloisa Martins. El arte como asistencia social. Revista ARCHIPIÉLAGO - De la muerte del arte y otras artes, Madrid, n. 41, 2000. COLI, Jorge. O que é Arte?. São Paulo: Brasiliense. 1982. COTTON, Charlotte. The Photograph as contemporary art. London: Ed. Thames & Hudson LTD, 2005, 224 p. LAGNADO, Lisette; PEDROSA, Adriano. (Eds.) Guia 27a Bienal de São Paulo. São Paulo: Fundação Bienal, 2006. LUNTS, Lev. Jornal Literário We. São Paulo: Editora Anima, 1983. MARTINEZ, Vicente. A linha vivida de Lygia Clark: o caminhando. Capítulo A Arte Pesquisa II. Brasília: Universidade de Brasília, 2003. MARTINS, Ibiapaba. A mesa-redonda realizada na exposição retrospectiva de Di Cavalcanti. São Paulo: Fundamentos, 1948. MENDES, Murilo. Exposição retrospectiva de Di Cavalcanti. Fundamentos, São Paulo, (6), p. 475-84, nov. 1948. NUNES, Benedito. Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo: Ática. 1989. REISEWITZ, Caio. Periferia. São Paulo: Editora BDA, 2002. RODRIGUEZ, Vitor. Vitor Rodriguez. EUA: Editora Jorge Pinto Books Inc., 2004. RUBIO, Javier. La razón ética. In: COMBALIA, Victoria; JAPNE, George; MARCHAN, Simon. El descrédito de las vanguardas artísticas. Trad. A. A. Barcelona: 1980. STACHELHAUS, Heiner. Joseph Beuys. Barcelona: Ed. Parsifal, 1990.
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Posted by Leandro de Paula at 11:00 AM
março 5, 2007"O que pode ser feito", por Lúcia GomesLucia Gomes
Posted by Leandro de Paula at 9:00 PM
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fevereiro 21, 2007"O esclarecimento 'obscuro' sob o signo da indústria cultural", artigo de Patrícia ValverdeCentros urbanos. Paisagem caótica que a propriedade compactada, em logos e marcas, ocupa. As interferências no meio urbano poluem, mas seguem o entendimento lógico capitalista: o outdoor mostra um sapato gigante para vendê-lo; a placa do restaurante pisca para chamar clientela; há fila no comércio para que todos paguem na justa ordem de chegada etc. Segundo expressão usada por Sloterdijk, esse quadro está organizado "na mente do sujeito urbano" para liberá-lo de questionar a fim de correr livremente o desenvolvimento político, econômico e social planejado. Sendo que o aspecto social trata do espaço de convivência da realidade física, geográfica e moral, portanto, atingida por todas as áreas dinâmicas co-existentes neste texto. Esses objetos de massa, que ocupam nosso espaço, são vendidos sob o cunho artístico por se tratar de uma produção humana. Isso incomoda? As ferramentas para essa produção se adaptam de acordo com o objetivo de esclarecer idéia, intenção, indução ou entendimento sobre qualquer coisa. Um livro, por exemplo, carrega a cultura de esclarecimento mesmo que seu conteúdo corrompa o espírito original que procura ser entendido. Uma peça teatral carrega o compromisso de promover o entendimento sobre algum tema ou linguagem. A novela na TV é um veículo formado por artistas, que se escora na promoção do desenvolvimento cultural de sua audiência etc. Esses são alguns registros da história na qual participamos. Se voltarmos ao que conhecemos de História, como apenas a ficção do imenso potencial de realidade que se manteve sob a razão dos próprios sujeitos da ação narrativa e autobiográfica, pergunto agora, o que é que você está contando?1 O descentramento, fragmentação e instabilidade são respostas à formulação constante de uma "nova síntese desenvolvida livremente com o objetivo de compreender o [próprio] caos da modernidade"2. E a partir daí, temos imageticamente, zilhões de títulos poéticos boiando ao mar , como se fossem restos de uma tempestade mitológica sob a guerra dos homens e dos deuses, porém sem testemunhas. Para continuar, sugiro pensar que esses títulos boiando ao mar não estão afundados e sim, à deriva. Sem território, sem raízes, contemplando sua contemporaneidade. Sustento essa imagem porque me traz duas possibilidades: a) O estado de deriva que mapeia a banalidade/ obviedade do real e evidencia o que antes era invisível. b) E a falta de território e lugar firme no inconsciente coletivo representado pelas águas em alto mar. Encontrar frestas que provoquem a desmecanização que tende a vida nas grandes cidades, procurar capacidades evolutivas do corpo como célula do corpo social, conhecer o espaço/tempo que a vida exerce através de registros sensíveis e de valorização individual e coletiva etc são as alternativas para o respiro da sensibilidade social e para o processo de formação do sujeito com engodo para intervir e participar na coletividade. A força motora dessas ações reside na subjetividade, sendo esta um requisito necessário na mente do sujeito urbano, incentivado pelas ferramentas midiáticas, para definir a verdade e o belo. E nessa adoção da subjetividade pelos objetos e veículos de massa, está inserido "também" um discurso "pretensamente" esclarecedor através da produção artística. Disse também porque a subjetividade exercida com princípios éticos e através de uma necessidade vital completa o registro mais cúmplice e fidedigno de nossa História, mesmo que através dos objetos e veículos de massa. E frisei a palavra pretensamente porque contribui para seu oposto: um esclarecimento "obscuro", cristalizando o que foi consumido pela massa como qualidade imperial. Cujo congelamento e satisfação do discurso sob a égide de alcançar a natureza dos sentidos aniquila uma qualidade orgânica e mutante. O sujeito esclarecido [obscuramente], salta à esfera do entendimento pela confirmação midiática, tolhido da liberdade expressiva e movido pelo anseio de integração social. A arte que elabora a linguagem para esta sociedade midiática e obscuramente subjetiva depende de interlocutores, do próprio mercado em que a arte está inserida, para ser entendida. Por outro lado, as obras cujo consumo é perturbador, comunica ou toca em estruturas recônditas da sociedade, [tabus], na subjetividade inconsciente [coletivo] re-modelando diversas frentes de progresso. Ou seja, creio no uso indispensável do pensamento fundado na intuição [ao invés de crer em perspectivas globais] para o lado prático da vida. Essa intuição é alimentada pela comunicação e capacidade de ler e entender as obras de arte do tempo vigente e, portanto, não tem característica religiosa, ainda que considero um religar ontológico e transcendental. A produção artística e os processos de formação objetivam a emancipação de tutelar a própria interpretação ao ativar a faculdade da auto-intervenção3. A arte que se mantiver cúmplice das afirmações midiáticas de desejo, de controle, de mercado etc, construirá um inferno hermético para a inquietude, para a mobilidade e para a eterna busca do ser humano pela plenitude.
2 Ibid volta ao texto 3 Ibid, p. 39 volta ao texto
SLOTERDIJK, Peter. Mobilização Copernicana e Desarmamento Ptolomaico. São Paulo: Ed. Estudos Universitários, 1998.
Posted by Leandro de Paula at 10:37 AM
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fevereiro 16, 2007"Fábrica de concreto", web-arte de Jaime Lauriano e Alexandre RottenEm meio a tantas homenagens e retrospectivas pela comemoração dos 50 anos da poesia concreta, "Fábrica de Concreto" procura trazer à tona um espaço para o visitante experimentar uma das formas de criação poética introduzidas por este movimento. É um trabalho interativo, no qual o visitante é convidado a construir seus próprios "versos", utilizando-se de cores para diferenciar e guiar a leitura dos mesmos. "Fábrica de Concreto" não visa ser um gerador de poesias ou de poetas, mas desmitificar e aproximar o público da poesia concreta e do seu legado para as diversas áreas da comunicação.
Posted by Leandro de Paula at 7:47 AM
janeiro 15, 2007"Recreaction", série de Duda ValleDuda Valle, 35 anos, vive, trabalha e estuda no Rio de Janeiro.
Posted by Leandro de Paula at 7:58 AM
outubro 31, 2006A mobilização contra o Guggenheim no Canal ContemporâneoA mobilização contra o Guggenheim no Canal Contemporâneo O abaixo-assinado do Guggenheim, como ficou conhecida essa mobilização, em resposta a uma nova política cultural do Prefeito do Rio de Janeiro, que, na virada de 2002 para 2003, interrompia um dos projetos mais democráticos já propostos em nossa cidade - um banco de projetos culturais enviados por artistas e produtores de todas as áreas que iria alimentar as ações do RioArte (fundação extinta agora em 2006 pelo alcaide/algoz da cultura do Rio de Janeiro). Um grupo de artistas e teóricos começou a se reunir para discutir as estratégias possíveis contra as políticas culturais ditatoriais, populistas e eleitoreiras, entre elas a construção do museu Guggenheim, e publicou no Canal Contemporâneo uma convocação contra tudo isso. As reuniões continuaram no AGORA e depois no Parque Lage ; uma lista de discussão, artesvisuais_politicas, conectava o grupo do Rio, enquanto o Canal Contemporâneo ampliava o alcance desta movimentação local . Grupos de estudos destrincharam o Estudo de Viabilidade do Guggenheim-Rio, a Análise desse último e o contrato que seria assinado entre a prefeitura do Rio e a Fundação Guggenheim, listaram os possíveis danos ao mercado de trabalho e ao contexto culturais brasileiros e escreveram um documento, que tratava do uso de recursos públicos federais, através da Lei de Incentivo à Cultura. Pela primeira vez, profissionais da área se uniam para analisar e se posicionar perante uma postura leviana de governo, que afetaria diretamente o seu mercado de trabalho. É claro, porém, que não havia um consenso. Alguns profissionais acreditavam que de qualquer maneira a vinda do Guggenheim para o Rio de Janeiro impulsionaria a arte contemporânea brasileira, tanto nacional, como internacionalmente. A sociedade civil representada pelo abaixo-assinado veiculado pelo Canal e nas ações do grupo artesvisuais_políticas encontrou eco junto ao poder legislativo. Juntos, produziram um extenso dossiê, que passou a circular em várias esferas da sociedade, chegando à imprensa que até aquele momento se mantinha omissa. Ainda assim, o prefeito da cidade do Rio de Janeiro assinou o contrato para a construção do Guggenheim. Nesse ponto, o poder legislativo acionou o judiciário que, através de uma liminar, suspendeu os primeiros pagamentos do referido contrato. Pela primeira vez, pelo menos na história recente do país, o meio de arte ativava o equilíbrio democrático: conectou-se aos dois poderes, legislativo e judiciário, para barrar uma atitude leviana e ditatorial do poder executivo. Histórico das publicações no Canal e seus respectivos linques: Os e-nformes listados vão de 13 de dezembro de 2001 a 24 de novembro de 2005, sendo que a mobilização se inicia apenas em 28 de janeiro de 2003. Os e-nformes anteriores servem para demonstrar o progresso do tema e também o contexto político à época e os posteriores dão conta da continuação do assunto na comunidade e na imprensa. 13/12/2001 09/03/2002 03/05/2002 05/10/2002 31/10/2002 02/01/2003 03/01/2003 10/01/2003 18/01/2003 20/01/2003 21/01/2003 28/01/2003 31/01/2003 31/01/2003 03/02/2003 03/02/2003 04/02/2003 07/02/2003 12/02/2003 19/02/2002 16/02/2003 19/02/2003 23/02/2003 25/02/2003 24/02/2003 07/02/2003 10/03/2003 13/03/2003 17/03/2003 17/03/2003 17/02/2003 21/03/2003 25/03/2003 31/03/2003 01/04/2003 05/04/2003 09/04/2003 12/04/2003 15/04/2003 03/05/2003 04/05/2003 06/05/2003 07/05/2003 09/05/2003 12/05/2003 23/05/2003 26/05/2003 23/05/2003 02/06/2003 02/06/2003 10/06/2003 13/06/2003 29/03/2003 30/06/2003 09/07/2003 09/07/2003 14/07/2003 16/07/2003 18/07/2003 23/07/2003 24/07/2003 29/07/2003 06/11/2003 11/09/2003 27/09/2003 23/10/2003 03/04/2004 20/07/2004 02/09/2004 29/11/2004 19/01/2005 28/01/2005 30/01/2005 08/02/2005 05/06/2005 17/10/2005 24/11/2005
Posted by Patricia Canetti at 11:03 PM
outubro 25, 2006Resposta de Daniela Labra ao texto "O que pode ser feito? (transformação)"Resposta ao texto "O que pode ser feito? (transformação) DANIELA LABRA Como comentário ao texto de Patricia Canetti (clique apertando a tecla shift para abrir o texto em outra janela), gostaria de registrar algumas impressões que venho discutindo enquanto profissional das artes que trabalha de modo autônomo com projetos de arte contemporânea. Me perdoem se os tópicos parecerem superficiais, mas a intensão aqui é adensar o debate já levantado por Patrícia e levantar as mesmas lebres porém sobre outros ângulos.
Posted by Patricia Canetti at 1:42 PM
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outubro 11, 2006O que pode ser feito? (transformação) por Patricia CanettiO que pode ser feito? (transformação) Palestra apresentada por Patricia Canetti no Encontro Transregional da documenta 12 magazines no Instituto Goethe, em São Paulo, na segunda-feira passada, 8 de outubro de 2006. Nada. Ou alguma coisa. Fazer alguma coisa em relação a algo, significa transformá-lo. Transformação exige análise, conhecimento, crítica, desejo, energia... O terceiro tema principal da documenta 12 tem sido o motor da criação e processo do Canal Contemporâneo. "O que pode ser feito? (educação)" surge no questionamento constante sobre o que somos, o que queremos (discurso) e o que podemos ser (ações), equacionado na vivência cotidiana da comunidade digital do Canal Contemporâneo. Um foco - a arte contemporânea brasileira - e uma mídia digital traçam o início desta comunidade, que se forma na comunicação e no sentimento de pertencimento estabelecidos nas relações que vivenciamos. A definição deste corpo social / sujeito coletivo formado dinamicamente pelos integrantes da comunidade, por suas características e anseios, se delineia e se torna visível através de suas ações e reações. Ao analisar este corpo social, percebemos células individuais e coletivas - formadas por agrupamentos múltiplos que respondem a características objetivas (funções no contexto artístico) e subjetivas (conceitos artísticos) -, que trazem desejos diversos, muitas vezes conflitantes, revelando espaços e temporalidades díspares que coabitam na profundidade deste espaço cibernético. Profissionais diversos (artistas, críticos, curadores, pesquisadores, educadores, professores, dirigentes de instituições, galeristas, marchands, colecionadores, patrocinadores, jornalistas, etc.) e apreciadores agregados no Canal Contemporâneo são atores/agentes da cena de arte contemporânea brasileira, que forma o nosso mercado de trabalho e se reporta aos contextos históricos e internacionais, ordenando um encadeamento de conjuntos e subconjuntos. É sobre este todo complexo e dinâmico que se estrutura o Canal Contemporâneo, refletindo e atuando sobre as suas características sociais, políticas e econômicas com o objetivo de criar um coletivo vivo e saudável capaz de um desenvolvimento crítico e transformador. Do tripé estrutural do coletivo humano, o lado econômico é o que apresenta a maior defasagem entre a sua importância na vida global contemporânea e o seu desempenho nesta coletividade, e talvez por isso seja o que apresenta maior dificuldade em ser abordado: se criar estratégias, receber respostas, provocar desdobramentos e realizar avanços efetivos. Herdamos da histórica da arte duas características fortes no âmbito econômico: o mecenato e o valor da obra relacionado não apenas a oferta e procura mas também a sua presciência. Ambas afastaram a nossa economia de mercado da realidade comum aos outros mercados e, conseqüentemente, nos moldaram a padrões antigos que perduram até hoje. No Brasil atual, mecenato denomina um mecanismo público de incentivo fiscal para a cultura. Ou seja, ao invés do significado anterior relacionado à proteção das artes, passou a vigorar o novo sentido relacionado ao marketing cultural, tanto para o estado como para a iniciativa privada. A proteção que nos chega agora via mecenato é, antes de tudo, negócio. Mudou o significado da palavra, já incluído nos dicionários, e mudaram também as relações econômicas de financiamento à arte. E, passados 20 anos, desde a criação desta nova forma de negócio, que nos demanda novos conhecimentos e novas formas de atuação, nós ainda apresentamos um total despreparo perante esta "nova realidade". O mecenato de hoje atualiza a arte em relação à economia contemporânea, colocando a prestação de serviços em prioridade de crescimento, no lugar da venda de produtos. O que no nosso mercado de trabalho significa, ao menos teoricamente, uma certa equiparação entre instituições culturais e galerias na sua atuação como agentes econômicos; ambas poderiam atuar como produtoras e editoras, o que certamente viria ao encontro das demandas da produção artística contemporânea, ao invés de se limitarem a seus papeis tradicionais: guardar e mostrar acervos e vender produtos, respectivamente. Somando-se à manutenção desses papeis tradicionais e à recusa de trabalhar o marketing cultural de nossos agentes econômicos, temos também uma incompatibilidade com a economia contemporânea cujo desenvolvimento se dá no volume de troca. A economia da arte insiste em trabalhar, mesmo que artificialmente, os grandes valores em detrimento do volume de distribuição. O que pode ser feito? O movimento inicial do Canal Contemporâneo é muito simples: comunicar e dar visibilidade ao que somos a partir do material que nos é enviado pela comunidade. Na seqüência, analisamos resultados e desdobramentos, propomos ações, novos espaços de visibilidade, e seguimos aprofundando as transformações possíveis. Vamos relatar aqui alguns casos do Canal para exemplificar as dimensões tratadas na complexidade e simultaneidade do nosso campo de ação, que se esconde atrás de cada comunicação, com o objetivo de investigarmos um pouco mais as nossas questões econômicas e encontrar algumas direções para possíveis transformações. No terceiro convite eletrônico disparado pelo Canal Contemporâneo, em março de 2001, anunciava-se um novo salão de arte, que conseguiu, com a nova forma de comunicação, atrair mais de 1500 inscrições, quando a média para salões na época girava em torno de 400. Maior número de artistas concorrendo aos prêmios; maior diversidade da produção originada em diferentes partes do país e do exterior e, certamente, mais trabalho para a comissão julgadora... Cinco anos depois, o Canal passa a veicular banners publicitários dos maiores prêmios realizados no país e ao mesmo tempo publica informações para o artista sobre o custo-benefício dos editais no seu informativo eletrônico e no blog Salões&Prêmios. Com o uso de publicidade amplia-se ainda mais a divulgação destes eventos e com a publicação das informações sobre custo-benefício amplia-se também a conscientização do meio a respeito dos altos custos e poucos ganhos que cabem aos artistas nestes concursos (muitas vezes responsáveis pela programação anual de importantes instituições culturais). Os editais de arte - salões, programação anual de exposições, bolsas e prêmios - são os principais mecanismos destinados a dar visibilidade a produção artística emergente no Brasil, a democratizar o acesso dos artistas ao espaço de exposições em instituições públicas e conseqüentemente exercem um importante papel na circulação de capital entre os responsáveis diretos pela produção de arte no país. Com a visibilidade proporcionada pelo Canal Contemporâneo, aumentamos o acesso aos editais, mas também geramos uma saudável concorrência entre eles, gerando benefícios para artistas, instituições e patrocinadores envolvidos. Este exemplo dos editais de arte demonstra claramente o quanto as transformações na esfera coletiva entrelaçam as instâncias sociais, políticas e econômicas. E reforça a importância do âmbito econômico que, mesmo sendo o lado mais poderoso deste tripé na vida global contemporânea, revela-se como sendo a parte mais fraca na nossa coletividade. A falta histórica de mídias especializadas em arte no Brasil nos levou a um embotamento no desenvolvimento de nossa economia de mercado. Não usamos publicidade, por isso não temos publicações periódicas. Ou, não temos publicações e por isso não temos o hábito da propaganda. O ovo ou a galinha, não importa, o resultado é um mercado que não faz uso de uma ferramenta essencial para o seu crescimento. Outro ponto a ser ressaltado trazido pelos editais de arte é a falta de cachês pagos aos artistas, que compromete gravemente o ponto de partida de nossa cadeia produtiva. Os artistas investem seus próprios recursos para promover a programação das instituições culturais, que não tem verbas suficientes para o orçamento básico de seu funcionamento. Rubricas como transporte, seguro, equipamentos especiais, passagem, hospedagem e diárias para montagem do trabalho são normalmente atribuídas aos artistas. Algumas vezes, convites e coquetéis de inauguração também. Sem falar na falta de um cachê adequado ao trabalho do artista. Estes recursos investidos nas instituições faltam aos artistas na hora de bancar a produção de certos trabalhos dispendiosos, como ampliações digitais e vídeos, resultando na necessidade de suas galerias subsidiarem a produção. O dinheiro gasto com a produção de obras deixa de ser aplicado pelos galeristas em marketing e publicidade, em publicações e feiras, o que fragiliza e muitas vezes impossibilita a existência destes mecanismos de comunicação e mercado. A falta de publicações e feiras deprime o mercado de trabalho que poderia, de outro modo, render demandas de textos críticos, curadorias, montagens, serviços fotográficos e tantos outros serviços que fazem parte de nossa cadeia produtiva. Concluindo: Os recursos não pagos aos artistas no início desta cadeia vão acarretar perdas para todos os profissionais e para o sistema de arte em si, que, aliás, por sua natureza própria de sistema, não poderia deixar de sofrer as conseqüências. De volta ao mecenato. O Canal Contemporâneo lançou o projeto de sua participação no documenta 12 magazines e, com ele, uma campanha para arrecadar recursos, junto a pessoas físicas, através da Lei de Incentivo a Cultura. A mesma lei que deu um novo significado ao mecenato, ainda mantém um viés da proteção da arte na doação de recursos por indivíduos e vai além; ao agregar um caráter plebiscitário a esta manifestação. Mas, estranhamente, esta via nunca vingou... É muito comum ouvir de pessoas ligadas à área, de todos os níveis, de profissionais a apreciadores, que deveria haver um maior investimento na cultura. Mas estas mesmas pessoas são incapazes de fazer uso de um direito que esta lei lhes reserva; deixam de exercer o mecenato e perdem a oportunidade de apontar ao governo as suas áreas prioritárias. Dentro deste novo contexto de financiamento da arte, que se configura como uma onda de privatização global, com a retirada do estado e a entrada de empresas, ditando uma nova configuração de negócio com o marketing cultural e com a interferência nos conselhos de instituições culturais, temos efetivada uma mudança de "patrões" da arte. Não mais a Igreja, o Rei ou o Estado, mas o conglomerado que rege o Capital. E enquanto não assumimos esta mudança, não somos capazes de reagir, de influenciar as regras do jogo, nem individualmente, nem coletivamente. Quando o Canal Contemporâneo mobilizou a sua comunidade contra o uso de recursos públicos na construção e manutenção (durante 10 anos) do museu Guggenheim no Rio de Janeiro, através de um abaixo-assinado e da publicação incessante de encontros, ações e textos, conseguimos levar a nossa insatisfação para o resto da sociedade. Da imprensa, que se mantinha omissa, ao poder legislativo, obtivemos o êxito de promover a ação do judiciário, que impediu o primeiro pagamento, mesmo depois da furtiva assinatura do contrato pelo prefeito da cidade. Algumas mobilizações políticas realizadas no Canal alcançaram resultados favoráveis para a comunidade. Mesmo com dificuldade de atuar politicamente, seja devido a ainda recente comunicação estabelecida nesta coletividade ou pela herança da ditadura militar vivida em nosso país, ainda conseguimos mais resultados no âmbito político do que no econômico. (Talvez por ser a ditadura econômica ainda mais perversa.) Transformação. Como enfrentar este desafio, como nos reeducar economicamente face à ditadura econômica vigente? A realidade da sobrevivência do Canal Contemporâneo levou-nos a pensar a sua autosustentabilidade e, depois de um ano e meio de vida, a recorrer aos integrantes da comunidade por contribuições em forma de assinaturas semestrais. Indivíduos e organismos passaram a contribuir com valores diferenciados, os primeiros pagando bem menos que os segundos, para a manutenção ainda deficitária do Canal. Outros três anos se passaram até a entrada do primeiro patrocinador nesta comunidade, a Petrobras - maior incentivadora da cultura brasileira, que agora passa para o segundo ano de patrocínio. O Canal Contemporâneo é a única iniciativa cultural patrocinada que mantém uma política de autosustentabilidade a partir de seus próprios integrantes. Além da questão básica da sobrevivência econômica, estendemos o trabalho cooperativo responsável pela comunicação na comunidade para a área econômica, com o objetivo de refletir sobre ela coletivamente e como forma de manter a nossa independência política junto às outras fontes de recursos (anunciantes e patrocinadores). Lidamos com a interdependência dos vários integrantes e ações de nossa coletividade e acreditamos que a melhor maneira de manter a nossa liberdade de pensamento crítico está em desenvolver o crescimento econômico junto à própria comunidade, a partir do sistema do qual fazemos parte. Mantendo sempre a prática de dar visibilidade ao sistema para gerar reflexão sobre o seu reflexo em todos os âmbitos. Dentro deste contexto de uma comunidade participativa economicamente, tratamos o patrocinador como mais um integrante, criando um relacionamento de contágio próprio de relações de sistema. Como conseqüência desta postura, já evidenciamos algumas transformações no relacionamento com a Petrobras. Desenvolvemos contatos com várias áreas da empresa, não apenas com a de patrocínio cultural, que resultou no primeiro encontro de alguns sítios patrocinados pela empresa com representantes de vários departamentos para trocar idéias sobre os projetos e o uso da internet. Esperamos com esta troca aprender mais sobre marketing cultural, educar o patrocinador a respeito de comunidades digitais e sobre as características específicas da internet, e, ainda, interagir com outras áreas culturais também patrocinadas pela empresa. Mais do que a sobrevivência financeira e a liberdade de ação, buscamos gerar, com a participação da comunidade na sustentabilidade do Canal, um debate sobre os caminhos econômicos existentes e a criação de novos direcionamentos, que promovam o desenvolvimento econômico da coletividade para potencializar transformações sociais e políticas. Trabalhar o Canal Contemporâneo significa trabalhar a arte contemporânea brasileira e a comunidade formada a partir deste foco através das novas possibilidades de ação e formulação do coletivo engendradas na internet. A partir do biobot de Eduardo Kac obtemos a imagem de nosso funcionamento: um ser tecnológico movimentado pela multiplicação e movimentação de organismos vivos - indivíduos conectados à rede da internet e também às infinitas conexões das coletividades que os formam, culturalmente e geneticamente. Trabalhamos o todo e cada elemento, as várias camadas que nos formam e, principalmente, as nossas diferenças que compõem as dinâmicas dos padrões das coletividades na construção das individualidades e a dos padrões das individualidades na construção das coletividades. Estas duas dinâmicas em movimento constante, este estar um dentro do outro, constituem uma relação de tempo e espaço que promovem a profundidade no espaço cibernético e desenham este veículo-lugar vivo e dinâmico. Transformação exige análise, conhecimento, crítica, desejo, energia... estar vivo, sempre. Como agir sobre as condições atuais? Como participar nesse organismo pode representar mudanças ou apontamentos quanto ao sistema de arte brasileiro e a formulação e aplicação das políticas públicas de cultura? Associar-se ao Canal significa apenas esperar pelo seu conteúdo? Como interferir sendo um agente nessa dinâmica que pretende pensar, criar alternativas e modificar o contexto da produção da cultura no Brasil? Na fase atual do capitalismo contemporâneo e da pauta política brasileira - que ignora ou desconhece as políticas culturais como representantes do universo simbólico do país - como posso atuar politicamente? Responda e comente o texto publicando um comentário ou envie sua colaboração para ser publicada neste blog para doc12@canalcontemporaneo.art.br.
- Acesse a seção A Comunidade e conheça os Associados Individuais e Organismos Associados. - Acesse a seção Faça parte do Canal para conhecer as formas de participação. - Leia sobre Como incentivar o Canal Contemporâneo na documenta 12 magazines, projeto aprovado na Lei Rouanet e já parcialmente patrocinado pela Petrobras.
Posted by Patricia Canetti at 10:57 AM
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