"(In)formação", por Marília Sales / 2 Pontos Arte Contemporânea em Pernambuco
Desde o século 18, quando os museus se tornaram uma instituição pública,
sua função social tem sido discutida, avaliada e construída. Atualmente, o
conceito de museu, segundo o Conselho Internacional de Museus, é o de uma
"instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de
seu desenvolvimento e aberta ao público, que adquire, preserva, pesquisa,
comunica e apresenta, para propósitos de estudo, educação e satisfação,
evidência material dos povos e de seu meio ambiente".
Essa instituição encontra-se paradoxalmente aberta a todas as pessoas e,
ao mesmo tempo, interditada à maioria. Para se garantir o acesso, é
preciso a construção de códigos, que ocorre lentamente e prescinde de
envolvimento e dedicação, investidas ainda mais complexas quando se trata
da linguagem da arte contemporânea. Os museus são grandes potências de
conhecimento, de formação, são mediadores, no sentido de estar entre, de
perceber as necessidades dos pólos e interceder na articulação para a
construção de um todo significativo.
Apesar das importantes iniciativas transformadoras, observamos que o papel
do museu aparece, muitas vezes, contraditório dentro de sua proposta
conceitual. Sua função educativa ainda se mostra introvertida, com ações
geridas do meio para o próprio meio. Muitas vezes, o seu interesse pelo
público está centrada na preocupação de um registro elevado de
freqüentadores, por ser uma forma de atender a suas demandas econômicas
através de rubricas destinadas aos "serviços educacionais". Além ainda da
realização de "grandes exposições" transitórias , que são verdadeiros
espetáculos de mídia.
Em entrevista ao Caderno Mais! (Folha de São Paulo, 22/02/2004), Glenn D. Lowry, diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York, comentando o
fenômeno do crescimento vertiginoso dos museus em diversas cidades do
mundo e da conseqüente necessidade que esses têm de atrair mais e mais
visitantes, declarou que "os museus de arte não devem tornar-se centros de
espetáculos, pois eles são antes de tudo espaço para o desenvolvimento da
experiência e da educação".
Para o público leigo, museu (poderíamos estender à arte contemporânea) é
objeto de temor e desejo. Apenas através de um projeto educativo poderá
cumprir sua tarefa , tornar -se instrumento de ação cultural. E, para
tanto, não precisa de uma política de incitação para visitas, ou de ações
publicitárias - o que seria o mesmo que imaginar que para sermos bem
compreendidos por um estrangeiro bastasse gritar. Nem mesmo de ações
paternalistas nas relações com as parcerias construídas com as escolas,
por exemplo.
Precisa, sim, construir um setor educativo sistematizado, inserido numa
lógica maior de formação implementada pela instituição. Lógica que
perpassa pela curadoria, pela montagem e pode aproximar-se de outros
espaços de extensão e reverberação de uma proposta. Como a Internet, por
exemplo.
O museu não se restringe ao espaço físico, ele pode -e deve- tomar novos
espaços, ocupar novas mídias, experimentar suas vivencias em outros meios,
em lugares fora de seu muro. Ter consciência de que, as parcerias são
fundamentais.
Num período em que a produção artística só cresce em volume rapidez e, na
contrapartida, as estruturas artísticas vêm sendo postas em cheque,
torna-se indispensável repensar e redefinir nossas relações com a
(in)formação, para que possamos fazer frente às tendências de
democratização, contextualização e apropriação destas mudanças.
É fundamental ampliar as redes de ações de formação não pelas certezas,
mas pelo que há de mais rico, a incerteza, o estranhamento e o desejo. É
fundamental que se tenha como norte a construção de novos espaços para o
diálogo comprometidos com o contexto sociocultural, com a problemática do
conhecimento, da cultura e da arte. Iniciativas comprometidas com a
consolidação de convergência entre produção, formação, fruição e
discussão. Espaços onde diálogos, enfim, sejam criados a partir da soma de
olhares de artistas, educadores, críticos, curadores, público participante
e em potencial. Um processo de formação pela informação, falada, ouvida,
trocada.
Marília Sales é arte-educadora do Portal 2ptos e assistente de galerista
da Galeria Mariana Moura.
Posted by Leandro de Paula at
11:26 AM