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Tema 3

Resposta ao texto "O que pode ser feito? (Transformação)"

Daniela Labra
Como comentário ao texto de Patricia Canetti, gostaria de registrar algumas impressões que venho discutindo enquanto profissional das artes que trabalha de modo autônomo com projetos de arte contemporânea. Me perdoem se os tópicos parecerem superficiais, mas a intensão aqui é adensar o debate já levantado por Patrícia e levantar as mesmas lebres porém sobre outros ângulos.
 
Acho muito interessante a percepção sobre a mudança da palavra Mecenato e de sua noção, que passa, no Brasil, a significar algo relacionado mais com marketing cultural do que com patronato. O mecenato faz com que a arte seja avaliada por especialistas de marketing, os quais descartam propostas que valorizam pesquisa e processos criativos que não são oportunos para a divulgação massiva da marca de algum patrocinador corporativo.
 
Nesse sentido, o fortalecimento e valorização da instituição de arte, pública ou privada, é fundamental. Porém a dificuldade em fazer a arte contemporânea circular começa no próprio museu, posto que frequentemente há uma inadequação conceitual ou até mesmo física para com os processos artísticos atuais. A maioria dos museus de arte contemporânea neste país são espaços modernos adaptados o que muitas vezes gera um descompasso entre a proposta artística e o lugar que a recebe.
 
Diante da debilidade de nossas instituições, percebemos que o mercado de arte continua sendo supervalorizado como via fundamental para a circulação artística, e impondo ao artista a condição de vender bem para que passe a ter valor dentro de um sistema do qual a questão mercadológica é na verdade uma parte e não o todo. O artista, ainda que tenha um trabalho interessante e pague alto para produzir um exposição consistente não necessariamente terá o merecido reconhecimento. Porém, se ele for garimpado por um bom marchand e se vender para algum colecionador de arte importante, terá sua obra circulando em catálogos diversos, nas tais feiras de arte e aí entrará para a história.
 
O outro ponto a ser alertado, e que faz parte de toda a cadeia precária de nosso sistema de circulação da arte, é a dificuldade para lidar e formar profissionais, incluindo-se curadores, críticos, produtores e até montadores, o que se agrava quando saímos dos grandes centros urbanos que tem certa variedade de atividades que forçam a profissionalização na base da prática. A cultura, em capitais brasileiras menos centrais, ainda é vista como artigo de terceiro escalão, sem que haja uma percepção de que suas atividades e produtos - entre eles a arte contemporânea e seus processos imateriais - estão inseridos num sistema de mercado, que educa e gera emprego e renda.
 
Por último, encontramos as iniciativas independentes de profissionais das artes que mantém espaços de arte e realizam exposições, publicações, sites e até simpósios nacionais. Estas iniciativas ganharam fôlego nos últimos 10 anos como uma alternativa clara à precariedade institucional e à imposição do mercado. É importante perceber, ainda, que tais iniciativas já deixaram de ser apenas uma atividade underground, off circuito, e atualmente já configuram um terreno forte para a circulação de processos artísticos, documentos e projetos, e pode-se afirmar que frente à precariedade institucional o alternativo vem se institucionalizando a passos largos.
 
Mas seria a 'Instituição de Arte' então substituível pelas galerias comerciais e pelo circuito independente? Não acredito. Há de se entender que o Museu tem fundamental papel educador e formador de público e de profissionais da arte, e que é principalmente através dele que podemos vislumbrar um projeto de democratização do entendimento e da circulação da arte, moderna ou contemporânea neste país. É ali, na instituição e não nas galerias e nas feiras (veja bem o nome,"feiras"), que se deve dar a maior circulação de produtos artísticos (não objetuais, no caso da produção atual) e processos/ projetos como residências artísticas, seminários, publicações, mostras, entre outros. Porém, um espaço contemporâneo para a arte no Brasil, que não se limite ao suporte tecnológico como categoria artística, lamento perceber que ainda não existe.
 
Daniela Labra é curadora independente.
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